segunda-feira, julho 22, 2024
Medalhas de Honra Municipal 2024 (3): Rui de Carvalho Castro Pita, a título póstumo
Nota biográfica que acompanhou o vídeo de apresentação:
Nasceu em Coimbra a 14 de Julho de 1916. Durante os seus primeiros anos viveu em Penacova, uma vez que seu pai exercia as funções de Conservador do Registo Civil e Advocacia em Penacova.
Formou-se em Engenharia Civil na Universidade do Porto.
Durante as décadas de cinquenta, sessenta e setenta do século passado, com inegável espírito de iniciativa e amor à terra, envolveu-se em várias acções e projectos, tendo sempre como objectivo o desenvolvimento e promoção de Penacova. Eis alguns exemplos: alcatroamento da estrada para o Penedo do Castro, obra inteiramente financiada pelo Comendador Abel Rodrigues da Costa, foi fundador juntamente com outros penacovenses, da Sociedade de Propaganda e Progresso de Penacova, entidade que foi responsável pela recuperação da Filarmónica de Penacova, a criação do Rancho Infantil de Penacova, a construção das primeiras infra-estruturas da Praia do Reconquinho, incluindo o Parque de Campismo, em colaboração com a Câmara Municipal, a Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo e o Clube de Campismo de Lisboa, organização de diversos eventos de Beneficência para instituições locais da vila, nomeadamente Cortejo de Oferendas , Saraus Musicais, Teatro e Festas Populares em honra de Nossa Senhora da Guia.
Pelo facto de, à época, finais da década de sessenta, as Barcas Serranas terem desaparecido totalmente do rio Mondego, promoveu, em parceria com Carlos Simões Dias Leitão, a construção de um exemplar da barca serrana. Promoveu, junto do pintor Tóssan, a elaboração do 1º cartaz de promoção turística de Penacova.
Faleceu em Coimbra em 31 de Maio de 1988.
Palavras de Pedro Pita, seu filho, em representação da família:
"De facto o meu pai viveu, para além da família e da sua actividade profissional, exclusivamente para Penacova.
Penacova era para ele o sexto filho. Dedicou todo o seu tempo, todo o seu esforço, a Penacova. Punha-nos a trabalhar para Penacova: queríamos ir para o café a seguir ao jantar e ficávamos ali a escrever boletins, cartas, para este e para aquele, na altura das grandes festas.
Na verdade, o meu pai tinha uma devoção por Penacova. Numa altura em que o Turismo no Centro se circunscrevia a Coimbra, Bussaco, Figueira da Foz, Penacova era assim como que um “patinho feio”.
O meu pai sempre lutou contra isso. E daí começar estes eventos, esta divulgação, começando pelo célebre cartaz da paliteira de Tóssan, nascendo essa conhecidíssima ideia.
Acho que é uma homenagem sincera, uma homenagem muito justa. Como ele, haverá inúmeros penacovenses. Poderia ter tido mordomias, poderia ter sido presidente da Câmara antes do 25 de Abril, poderia ter sido presidente da Câmara depois do 25 de Abril.
Termino, como o meu pai terminava muitas das suas intervenções: Viva Penacova, Viva Penacova, Viva Penacova!
domingo, julho 21, 2024
Concurso de Pintura e Desenho Martins da Costa
De acordo com nota do Município, publicada na página oficial no Facebook, a edição deste ano teve como vencedores José António Stréna, Carolina Correia, Mariana Nunes e Raquel Oliveira.
Na categoria de “Público em geral”, conquistaram menções honrosas as artistas Cristina Maria Margalho Martins e Maria Vitória Alves Correia. Vencedor José António Stréna.
Na categoria “Alunos do 3º ciclo”, o júri atribuiu menções honrosas às obras apresentadas por Laura dos Reis Pereira e Juliana Capela e o primeiro prémio a Carolina Correia.
Na categoria “Alunos do ensino secundário do curso de Artes Visuais”, foram atribuídas menções honrosas a Camylle Palheiros e a Inês Fernandes. A vencedora foi Mariana Nunes.
Na categoria “Alunos do ensino superior artístico e artistas plásticos em geral”, o júri distinguiu, com menções honrosas, Diogo Miguel Soares e João Carlos Gonçalves Sobreira. A vencedora foi Raquel da Silva Oliveira.
A exposição, de acesso livre, vai estar patente ao público, na Casa das Artes Martins da Costa até final de Setembro.
Medalhas de Honra Municipal 2024 (2): António Ralha Ribeiro
Na década de oitenta inicia a carreira profissional na EDP. Em Maio de 2004 foi nomeado Director da Rede de Condução da Rede Eléctrica da Região Centro, tendo-se aposentado em 2010.
A nível autárquico desempenhou as funções de Vereador, nos mandatos de 1994 a 1997 e de 2005 a 2009.
Na vida associativa o seu percurso é assinalável, principalmente na entrega e dedicação de décadas ao clube da sua terra, o União Popular e Cultural de Chelo.
No começo dos anos setenta do século passado, ajudou a criar a Associação Desportiva de Chelo e, dez anos mais tarde, foi um dos impulsionadores da criação da União Popular e Cultural de Chelo, que resultou da fusão do Ginásio Recreativo de Chelo, do Chelo Recreativo Clube, da Associação Desportiva de Chelo, do Chelo Futebol Clube e do Rancho Folclórico, entretanto criado.
Em 1980 foi eleito, pela primeira vez, presidente da Direcção. Na época de 1980/81, a UPC foi campeã distrital de futebol, sem derrotas. Em 1996 voltou a presidir à Direcção até Julho de 1998, altura em que foram iniciadas as obras do Polidesportivo.
Reassumiu a presidência do clube em várias ocasiões: Julho de 2000, Outubro de 2004 e Setembro de 2005, mantendo sempre uma forte ligação ao clube. A ele fica ligada a construção e melhoramento das infraestruturas do clube: polidesportivo descoberto, pavilhão, instalação de bancadas, beneficiação dos balneários, bar de apoio e, mais recentemente, eficiência energética.
O Futsal tem sido a modalidade em que o clube mais se tem evidenciado com a conquista de 12 títulos nos escalões seniores, juniores e juvenis, e a participação em várias competições nacionais.
Palavras do homenageado:
"Queria agradecer esta distinção a todo o Executivo na pessoa do Senhor Presidente da Câmara Municipal, meu amigo Álvaro Coimbra. Agradecer também aos restantes Vereadores sem excepção.
Dedico e agradeço esta distinção à minha família, principalmente à minha mulher pela sua paciência e compreensão, quer durante a minha vida profissional, quer nestes últimos 20 anos em que estive de corpo e alma nas actividades do clube em prol do desenvolvimento da comunidade local e da região, que sempre defendi. Para ela o meu grande abraço, muito obrigado, a medalha também é tua, é vossa, dos meus filhos também.
Um agradecimento especial a um conjunto de pessoas que contribuíram, colaborando comigo ao longo dos anos na minha actividade social e associativa, para que eu esteja hoje a receber esta distinção. Sem eles nada disto acontecia. É também deles uma boa parte desta medalha. Não posso de maneira nenhuma esquecer aqueles que desde 1980, ano em que foi fundada a UPCC, constituíram o núcleo duro que iniciou esta caminhada. Refiro aqui alguns nomes que merecem ser publicitados: Rogério de Almeida Ferreira, Fernando da Fonseca Ribeiro, Armando da Fonseca Bem-Haja e Eugénio Madeira de Carvalho (estes, infelizmente, já não estão connosco, por isso, e por força disso, entendi que os devia mencionar), Manuel Ribeiro dos Santos, Amável da Fonseca Ferreira, Teodoro Ralha da Fonseca, Manuel Ferreira da Fonseca, Valdemar Saraiva Marques e Aurélio Manuel Almeida Ferreira. Estes ainda estão no activo, com excepção de Manuel Ribeiro dos Santos, que infelizmente se encontra com poucas possibilidades de mobilidade.
Pelo trabalho desenvolvido desde então, levou Chelo, levou a freguesia de Lorvão, o nome de Penacova a todos os cantos deste país, através do Futsal, do Futebol de Onze, inicialmente, e do Rancho Folclórico. Foram eles os grandes divulgadores da nossa região. Para todos eles e para vós o meu muito obrigado em nome do povo de Chelo e de Chelinho, a quem dedico igualmente esta distinção.
Muito obrigado!
sábado, julho 20, 2024
Medalhas de Honra Municipal 2024 (1): Alfredo Santos Fonseca
Nota biográfica que acompanhou a projecção de um pequeno vídeo:
Entregou-se à vida autárquica e foi presidente de Junta de Freguesia durante 3 mandatos: 1980 a 1983; 1983 a 1985 e de 1994 a 1997, ficando ligado à actividade autárquica mais de trinta anos.
São deste período obras marcantes para S. Pedro de Alva o saneamento básico, a Escola Básica Integrada, a s ede da Junta de Freguesia, Jardim de Infância, o Vimieiro, e várias acessibilidades por toda a freguesia.
Em 2007 assume a direcção da Casa do Povo de S. Pedro de Alva, onde se manteve até 2014. Fica ligado à ampliação e requalificação das instalações daquela instituição.
Ao longo dos anos entregou-se à escrita e é autor de mais de uma dezena de publicações sobre os mais variados temas: a guerra colonial, a diáspora, costumes, tradições e histórias de S. Pedro de Alva e das terras de Mondalva."
"Quando se trabalha voluntária e afincadamente em prol do bem comum, fazemo-lo sem ser em vista a qualquer reconhecimento. O bom trato do povo que sempre acreditou em mim foi suficiente para me motivar a fazer cada vez mais e melhor, se possível, pela minha querida S. Pedro de Alva.
Em 1981 começou a minha longa caminhada autárquica:três e meio (por minha opção) mandatos de Secretário, um de membro da Assembleia, três de Presidente da Junta, e um de Presidente da Assembleia de Freguesia. Nesta longa caminhada que não foi interrompida pela alterações políticas alcançadas com o 25 de Abril de 74, reuni uma vontade férrea de me sacrificar até ao extremo para satisfazer os anseios e carências daquele bom povo que vivia miseravelmente, quase sem dar por isso, com falta de alguns meios de comunicação rodoviária entre a povoação do cavaleiro e a sede de freguesia, Laborins-Hombres, Hombres-Vimieiro -Paradela, Vimieiro-Friúmes, arruamentos dentro das povoações, sem asfalto ou calçada, água ao domicílio, electricidade em parte da freguesia, saneamento básico na vila, criação e construção da EB 2,3 para garantir o ensino do Segundo Ciclo até ao 9º ano, uma magnífica sede da Junta de Freguesia, com Pré-primária anexa, etc, etc, estendeu-se ao longo de 32 anos onde dediquei os melhores anos da minha vida, entre os 27 e os 59 anos, ao progresso da minha freguesia.
As soluções destas carências não seriam possíveis sem o apoio incondicional de ex-presidentes da Câmara do meu tempo que foram o Dr Joaquim Leitão Couto, já de saudosa memória, e o Eng.º Manuel Estácio Flórido a quem São Pedro de Alva muito deve.
Quem conheceu S. Pedro de Alva nesse tempo e a vê hoje notará uma grande diferença, também porque os executivos que me sucederam souberam pegar nos indícios que lhes deixei e têm prosseguido com o desenvolvimento da freguesia, pelo que são merecedores da minha estima, respeito e consideração.
Pouco depois de me libertar das lides autárquicas, reformei-me, entreguei os bens aos meus filhos e passei a gastar a maior parte do meu tempo a escrever. Até este momento já escrevi e publiquei onze livros cujos textos têm por missão registar e perpectuar para a história acontecimentos e pessoas que foram autores do vasto património que hoje desfrutamos e que na falta destes registos cairiam no esquecimento. Entendo que esta actividade a que voluntariamente me entreguei se reveste de grande significado, pois quem não respeita o passado não merece ter futuro.
Resta-me humilde e modestamente “agradecer quem teve o ensejo de agraciar este “Zé Ninguém" que cerca de metade da sua vida dedicou em benefício do bem comum e do progresso da freguesia de S. Pedro de Alva.
Muito obrigado a todos os proponentes deste galardão com especial destaque para o senhor Presidente da Câmara e seus Vereadores por terem reconhecido e avaliado esta pequena árvore com ela ainda de pé, sim, porque depois de tombada, já é mais fácil a sua avaliação...
Esta valiosa medalha que com muito agrado e respeito recebo, porque me foi entregue pelo município, peço licença ou autorização para a repartir pela minha família aqui presente a quem tantas vezes faltei com o devido carinho e apoio por andar a resolver os problemas da freguesia.
Não pedi nem esperava esta distinção, mas se me foi atribuída, aceito-a com muito agrado porque transforma este dia num dos mais felizes da minha vida.
A todos o meu muito obrigado!
sexta-feira, julho 19, 2024
𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: a América em contra-ciclo
Estamos, por estes dias, “afundados” em tudo o que se passa ou acontece relacionado com as eleições presidenciais nos Estados Unidos da América.
Ao longo da vida, as pessoas da minha idade (70 anos, já velhos, portanto) foram tendo posições diversas relativamente àquele país que muito ajudou o mundo, nomeadamente a nossa Europa, no post guerra; ou o prejudicou, numa outra visão radicalmente diferente.
E, ainda hoje, se têm algumas certezas e, também, muitas dúvidas.
As certezas:
- é um grande país, uma economia muito forte, uma grande potência e tem sido uma grande democracia.
As dúvidas:
- serão assim tão inteligentes como já foram, tão fazedores, tão solidários com os mais pobres?
- ou passaram a gozar do prestígio que acumularam e estão a adormecer à sombra da bananeira?
- fora das questões das guerras e das indústrias de armamento, praticam assim tantas parcerias desinteressadas; ou são iguais às outras economias?
Ora bem,
Começo por afirmar que ser exemplo nas questões da Democracia, para mim, tem um inestimável valor, sobretudo quando isso se projecta como bom exemplo no mundo.
Os EUA permitem que um ser humano -independentemente das suas origens- com cabeça e trabalho, atinja patamares absolutamente ímpares de satisfação em sociedade e isso não é normal em qualquer outro local do mundo; nós, em Portugal, conhecemos muita gente que por lá singrou.
Mas começa a perceber-se que o fenómeno da imigração faz dependê-los quase em absoluto dos que ali chegam em condições dramáticas e assim permanecem por muito, muito tempo.
A emigração (tal como as armas) estão a atingir foros do descrédito internacional da América.
Uma grande potência (ainda a maior, indubitavelmente), não pode permanecer assim por muito mais tempo, sob pena de ser ameaçada pelos seus concorrentes mais directos!
Só que, na minha modesta opinião, as coisas (em política pura) só se conseguem mudar através das pessoas (geração) que sejam portadoras de mensagens e de conhecimentos e de práticas e de tempo para que as mudanças possam operar com a necessária rapidez e consolidação.
Esses atributos não reciclados, só nas gerações mais jovens (e preparadas) podem surgir.
E isso não está a acontecer na América do mundo novo; na América estão 2 velhos a tentar manter linhas de governação esgotadas: um com quase 82 anos e outro com 78…
Naturalmente que eu fico estupefacto com esta falta de capacidade regenerativa. Serei só eu?
terça-feira, julho 16, 2024
O(s) porquê(s) do 17 de Julho...
Foi na sessão de 28 de Maio de 1977 que a Assembleia Municipal de Penacova, no uso da faculdade prevista no Decreto n.º 394/74 de 28 de Agosto, deliberou que o feriado municipal, que em tempos longínquos teria sido o Dia de S. João, fosse o dia do aniversário do nascimento de António José de Almeida.Aquele órgão do Poder Local, onde estavam representadas todas as correntes políticas mais significativas do concelho, aprovou por unanimidade a data de 17 de Julho, proposta pelo Executivo Municipal.
Em declarações ao Notícias de Penacova, em 1977, o Dr. Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, à época Presidente da Câmara, apresentou alguns dos motivos da predileção por aquela efeméride, referindo que a Câmara entendera ser aquela data “como a mais capaz, não só de reunir um consenso geral como também mais capaz de realçar um importante factor histórico da luta em Portugal pela República e pela Democracia.”
Explicou ainda que haviam sido consideradas outras datas como o dia de S. João e o dia de Nossa Senhora do Monte Alto, mas que haviam sido “postas de parte” pela circunstância de serem “Dias Santos para a Igreja Católica e que sendo um Feriado uma data histórica ou política”, se entendera “não fazer coincidir os dois poderes.”
Outras datas foram equacionadas, por exemplo a data de atribuição do foral por D. Sancho I “mas foi impossível conseguir descobrir a data em que se processou tal acontecimento.” Ainda a data da batalha do Buçaco, parte da qual se desenrolou no nosso concelho, foi alvitrada,”mas julgou-se que diria mais respeito ao concelho da Mealhada”.
“Chegou-se assim à data de 17 de Julho que representa o aniversário de nascimento de António José de Almeida que foi o mais ilustre penacovense no processo político que desde a monarquia tem procurado instaurar e consolidar a República e a Democracia em Portugal. Orador brilhante e político esclarecido, foi um homem ouvido e respeitado aquém e além fronteiras, admirado e considerado por todas as correntes de opinião que tinham e têm por base a instauração de um regime republicano e democrático”, justificou Artur Coimbra, ao mesmo tempo que vincou o facto daquela proposta da Câmara Municipal pretender ser “uma homenagem do Povo deste concelho, sem dúvida, democrático e republicano, à mais alta figura de sempre”, ao mesmo tempo que visava ainda “um chamar de atenção a todos os penacovenses para essa época histórica, reavivando o nome do Dr. António José de Almeida no espírito de cada um de nós e no conhecimento de todos aqueles a quem não foram dadas as possibilidades de pelo menos terem estudado um pouco de história de Portugal.”
segunda-feira, julho 15, 2024
Efemérides (2): Manuel Emídio da Silva (18.10.1858 - 15.7.1936)
Manuel Emídio da Silva faleceu há oitenta e oito anos: foi em 15 de Julho de 1936.
Por vontade expressa só no dia do funeral (11 horas do dia 16) nos jornais da manhã foi noticiada a sua morte. A Emissora Nacional deu a notícia ao meio dia e meia. Foi, assim, através da rádio, que Penacova teve conhecimento. O Presidente da Câmara, (e director do Notícias de Penacova) José de Gouveia Leitão, mandou içar a bandeira em sinal de luto nos Paços do Concelho.
O Diário de Notícias escreveu o seguinte: “Em matéria de turismo deve-se-lhe ainda, por exemplo, a vila de Penacova, uma das mais pitorescas do país, larga campanha em seu favor. Em troca, a um mirante que ali se erigiu e de onde se descortina sobre o Mondego uma paisagem deliciosa, deu a vila o nome de Manuel Emídio da Silva. Dos "Emídios" se chama também a estrada que liga os vértices Luso-Penacova-Coimbra, do chamado triângulo turístico do centro do país, em louvor popular do seu nome e de Emídio Navarro, o primeiro que deu fundos para a sua construção."
"Manuel Emídio da Silva - regista o jornal Notícias de Penacova, de 25 de Julho, nº 210- era inteiramente desconhecido em Penacova há pouco mais de trinta anos. Vindo a esta vila de passagem para visitar o Convento de Lorvão ficou de tal maneira extasiado com as paisagens de Penacova que poucos dias depois iniciava no DN uma intensíssima propaganda em favor delas. Por influência sua, incluiu a Sociedade de Propaganda de Portugal a vila de Penacova no número das terras do país que mereciam ser visitadas."
Adianta ainda : "Promoveu ele a abertura de uma subscrição entre os Penacovenses para a construção do Mirante que projectara. Foi o principal subscritor e ofereceu ainda a planta para a construção que foi elaborada a seu pedido pelo notável arquitecto Nicola Bigaglia."
Mais tarde, em 1916 veio do Luso a Penacova acompanhado do engº Vasconcelos Correia, então director da Sociedade de Propaganda de Portugal. Esta visita estará relacionada com o facto de, algum tempo depois, vir a Penacova o grande arquitecto Raul Lino escolher o local para a construção da Pergola "que a expensas daquela benemérita sociedade foi construída no largo Alberto Leitão e inaugurada em 1918."
Sobre a influência de Emídio da Silva, recorda o NP que também no Governo Provisório (1910), sendo Brito Camacho Ministro das Obras Públicas, foi dotada com verba de 3 000 escudos a estrada de Penacova para Corta Montes. "Sempre a instâncias de Emídio da Silva esta obra foi sendo dotada e quando se deu o golpe de 1926 faltavam apenas construir cerca de dois quilómetros. A parte do concelho da Mealhada já estava construída a instâncias de Emídio Navarro." A título de curiosidade acrescente-se que a Câmara Municipal "em testemunho do reconhecimento resolveu colocar na sala nobre dos Paços do Concelho os retratos daqueles dois beneméritos" - Emídio da Silva e Emídio Navarro.
quarta-feira, julho 10, 2024
𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: a Estrela
terça-feira, julho 09, 2024
Personalidades (5): Domingos de Lemos (1693-1753)
Foi no Colégio Jesuíta da Baía que Domingos de Lemos mais se notabilizou
Domingos de Lemos nasceu no ano de 1693 em Gondelim. Ao pesquisarmos nos livros de Registos Paroquiais encontramos o assento de baptismo de “Domingos, filho de Pedro Rodrigues (?) e de Antónia de Lemos”, baptizado a 27 de Maio de 1693. A tratar-se da mesma pessoa, o que pelo apelido Lemos da mãe parece ser, há um desfasamento nas datas, em relação à síntese biográfica inserida na obra “Artes e ofícios dos Jesuítas no Brasil (1549-1760)”, publicada em 1953, que refere o seguinte:
“LEMOS, Domingos de (1694-1753). Natural de Gondelim (Penacova), onde nasceu a 27 de Maio de 1694. Entrou na Companhia [de Jesus] na Baía, com 25 anos, a 13 de Julho de 1719 (Cat. de 1725). Farmacêutico («pharmacopola»). Já o devia ser quando entrou, porque em 1722 aparece no Colégio de Olinda no exercício do cargo. Em breve voltou para o Colégio da Baía e aí residia em 1732, com o qualificativo de «insigne» em sua arte. Em 1746 e 1748 tinha dois ajudantes, donde se infere a importância do Laboratório baiano e a sua categoria de mestre. Faleceu no mesmo Colégio da Baía, depois duma actividade ininterrupta de mais de 20 anos, a 7 de Fevereiro de 1753.”
A Companhia de Jesus, apesar de se ter dedicado desde a sua fundação principalmente ao trabalho missionário e educativo, também se evidenciou na actividade farmacêutica. As más condições sanitárias com que se depararam em terras do Brasil levaram os jesuítas a serem mais do que “médicos da alma” assumindo também a missão de serem “médicos do corpo”.
Os medicamentos “importados” da Europa, eram insuficientes. Assim, os Jesuítas procuraram muitos outros nas plantas autóctones, com a ajuda dos conhecimentos das populações indígenas. Passaram a cultivá-las e a aprofundar o seu estudo. Os colégios dos jesuítas tornaram-se, deste modo, detentores de um riquíssimo receituário particular, que incluía não só as fórmulas dos medicamentos, mas também os processos de preparação.
As boticas jesuíticas eram dependências especiais dos colégios, anexas às enfermarias. A elas se recorria quando as populações eram atingidas por epidemias ou quando ocorriam casos de calamidade pública. A botica do Colégio da Baía, onde Domingos de Lemos se evidenciou, revelou-se como a mais bem estruturada de todas as que existiam na rede jesuítica, tornando-se um centro distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos colégios do Brasil. Da reunião dos saberes e medicamentos produzidos em cada Colégio resultou (em 1776) uma importante compilação (260 receitas) intitulada Colecção de várias receitas e segredos particulares da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil. Compostas e experimentadas pelos melhores médicos e boticários mais celebres que tem havido nestas Partes.
Estas receitas, prescritas para um grande número de doenças, demonstram o importante contributo dos Jesuítas, em especial o Colégio da Baía, na história da medicina brasileira. Quando este colégio foi saqueado e sequestrado em Julho de 1760, por ordem do Marquês de Pombal, o desembargador incumbido da acção judicial logo comunicou superiormente que havia feito as diligências necessárias para se apoderar da botica do Colégio e de algumas receitas particulares.
Pode Gondelim orgulhar-se de ter sido uma importante villa onde existiu um Paço que pelos anos de 984-985 estava na posse de netos de Munia Dias e Alvito Lucides1 e, ter sido também, morada de Príncipes2 e berço de figuras importantes da nossa história. A José Pereira Baião, figura insigne das Letras e da Oratória, podemos juntar Domingos de Lemos, um penacovense ilustre inteiramente desconhecido de muitos de nós.
1 - Cf. Manuel Luís Real: “O significado da basílica do Prazo (Vila Nova de Foz Côa), na alta Idade Média duriense”
2 - Aqui se terão criado, de acordo com o Portugal Renascido, os Príncipes de Leão, Ramiro e Bermudo.
sexta-feira, julho 05, 2024
𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: a Procissão
A Procissão
quinta-feira, julho 04, 2024
Efemérides (1): 120º aniversário da morte de Alves Mendes
Falamos hoje, 4 de Julho, de Alves Mendes, passados que são 120 anos após a morte deste penacovense ilustre que, no nosso entender, a seguir a António José de Almeida, mais longe levou o nome de Penacova.
António Alves Mendes da Silva Ribeiro nasceu em Penacova no dia 19 de Outubro de 1838, filho de Joaquim Alves Ribeiro e Joaquina Mendes da Silva. Faleceu no Porto no dia 4 de Julho de 1904.
Em Coimbra frequentou o Liceu (1853 a 1858) e o Curso Superior do Seminário (1856 a 1858). Também nesta cidade cursou Teologia na Universidade (1859 a 1863), formando-se a 8 de Julho de 1863.Em 17 de Novembro do referido ano foi nomeado Cónego da Sé do Porto. No Seminário Diocesano da Invicta foi professor durante doze anos, regendo a cadeira de Pastoral e Eloquência Sagrada.
“Do modo como ele aí ministrava o ensino há ainda saudosa memória em quantos foram seus discípulos” – escreveu Manuel M. Rodrigues na revista O Ocidente de 21 de Julho de1888. Também J. Alves das Neves (in Autores da Beira Serra) refere que os seus discursos, “românticos pelo verbalismo”, eram “clássicos pela correcção linguística”. Também Mendes dos Remédios reconheceu que Alves Mendes fora um “burilador de frases e um joalheiro de linguagem”.
Por ocasião da trasladação dos restos mortais de Alexandre Herculano para o Mosteiro dos Jerónimos (1888), que se encontravam no jazigo da família Gorjão, em Santa Iria da Azóia, o jornal Pontos nos ii, escreveu sobre Alves Mendes que “o verbo entusiástico do eloquentíssimo orador elevou-se correcto, artístico, literário, ora bramindo de vibrações metálicas, ora suspirando de maviosíssimos acordes, assombrando quantos o ouviram, petrificando quantos o escutavam, crentes e não crentes – os apóstolos da religião de Deus, como os apóstolos da religião do Belo!”
Era habitual ser Alves Mendes a fazer os grandes discursos nas comemorações anuais da Batalha do Buçaco. Conta-se que passou a ser tradição, no final daquelas cerimónias, montado na égua branca do “ti Joaquim Cabral Velho” e acompanhado pelo compadre José Craveiro, rumar a Penacova, onde no dia seguinte “abria as quatro sacadas da sua casa” para receber os seus conterrâneos e admiradores que lhe iam apresentar as boas-vindas. Igualmente, sempre que ia pregar ou participar em cerimónias no Algarve, no Alentejo ou em Lisboa, aproveitava para, na passagem, descansar uns dias na sua terra natal, onde vivia a irmã Altina. Eram frequentes as visitas aos “Ribeiros”, seus primos, que viviam na Chã, e, de passagem, aproveitava também para entrar na Capela do Monte Alto.
Desta “figura eminente das letras portuguesas”, deste “burilador de frases” e “joalheiro da linguagem”, para citar as palavras de Alexandrino Brochado, além dos sermões, outras obras se encontram publicadas: Itália. Elucidário do Viajante (1878); O Priorado da Cedofeita (1881); Os Meus Plágios (1883); Tomista ou Tolista? (1883); Um Quadrúpede à Desfilada (1884); D. Margarida Relvas (1888) e D. António Barroso: Bispo do Porto (1899). Colaborou em imensas revistas literárias: Anátema, Caridade, Nova Alvorada, Correspondência do Norte, Braga-Bom Jesus, Cáritas, A Federação Escolar, Sobre as Cinzas, Kermesse, A Máquina, Filantropia e Fraternidade, entre outras. De referir ainda as suas interessantes crónicas de juventude publicadas na imprensa regional. No jornal O Conimbricense (nº 575, 29 de Agosto de 1857) escreveu, quando estudante em Coimbra, um interessante folhetim com o título “Umas Férias em Penacova”.
O Cónego Alves Mendes foi Provedor da Irmandade das Almas, na Rua de Santa Catarina, no Porto, e pertenceu às Ordens da Trindade e do Carmo e às principais Irmandades daquela cidade.
Do Rei D. Carlos recebeu, em1902, a Mercê de Arcediago de Oliveira [do Douro]. Conta O Primeiro de Janeiro que, foi no final do Discurso no Mosteiro da Batalha que aquele monarca, ao endereçar-lhe felicitações, lhe comunicou também que o promovia, de Cónego da Sé Catedral do Porto, à dignidade de Arcediago da Sé portuense, com o título de “Arcediago de Oliveira”. Noticiou igualmente o Jornal de Penacova que na sua casa, na vila de Penacova, muitas pessoas o felicitaram por aquele reconhecimento. Na ocasião, também a Filarmónica Penacovense “executou, à sua porta e em casa, alguns trechos de música, surpresa que muito o penhorou e comoveu”.
Alves Mendes privou com Camilo Castelo Branco tendo, inclusivamente, desempenhado um papel decisivo no casamento tardio do escritor em 1888 e tendo mesmo sido testemunha oficial do acto.
De 1935 a 2001 foi Presidente Astral da Filial de Petropolis (Brasil) do Racionalismo Cristão. Daquela filial, onde se encontra a “Sala de Estudos Alves Mendes”, é também Patrono Espiritual (in racionalismocristao.org, acedido em 30/5/2011).
Morreu na Rua Alexandre Herculano, no Porto, onde residia, no dia 4 de Julho de 1904, sendo sepultado no cemitério do Prado do Repouso. No seu testamento deixou escrito que queria ter um funeral discreto, “sem o menor aparato fúnebre” que, conforme escreveu, “é uma vaidade miserável e vazia de sentido elevado e ponderoso.”
Escreveu o Primeiro de Janeiro, por ocasião da sua morte, que a fama de eminente orador se generalizara e radicara, podendo ser, com toda a razão, considerado como “uma das maiores ilustrações do púlpito português”.
O reconhecimento de Penacova consubstanciou-se, em1902, sendo Presidente da Câmara o Dr. Daniel da Silva, com a atribuição do seu nome a uma das principais ruas do centro histórico da vila: Rua do Arcediago Alves Mendes.
terça-feira, julho 02, 2024
Notas para a história dos Bombeiros de Penacova (1): artigo de António Casimiro em 1928
Formalmente constituída em 1932, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Penacova começara a germinar alguns anos antes, tendo como principal mentor António Casimiro Guedes Pessoa. Este grande penacovense, já em 1928, testemunhava isso mesmo num seu artigo no "Jornal de Penacova". Na memória dos penacovenses estava a tragédia de Sernelha que vitimara 7 crianças e o mais recente incêndio na residência do Pároco, padre António Pinto.
Escreveu António Casimiro:
"A organização de uma “Corporação de Bombeiros” já de há muito se vinha impondo como necessidade máxima e urgente.
O fogo é um perigo terrível, uma ameaça pavorosa e uma desgraça tremenda. Há uma dúzia de anos em Sernelha, de aqui bem perto , na freguesia de Figueira, sete criancinhas ficaram carbonizadas nos escombros da casa em que dormiam. E quando não é casual, quando não é motivado por uma imprevidência, por um descuido, por um desastre ou por uma alucinação doentia, o fogo é a mais preversa e traiçoeira de todas as armas do crime.O fogo queima e devora fortunas, vidas, alegrias, afectos e relíquias, não poupa altares nem ? Apaga vestígios e põe sempre um grito de angústia em todos os peitos.
Em frente do fogo não há inimigos e só dedicações se registam. Pode não suceder assim em toda a parte. Mas em Penacova, na nossa terra, é um facto comprovadíssimo.
Tomei a iniciativa de por mãoa à obra e logo de princípio tive a felicidade estimulante de encontrar decidido auxílio e franco apoio dos srs Drs daniel da Silva e José Albino Ferreira, ou seja, das Câmaras de suas presidências. Para o material de incêndios foram já destinados 5.200$00.
Recrutei, satisfeito, um punhado de rapazes valentes e creio ter organizado um grupo que não recuará em frente do perigo. Dezoito penacovenses de verdade, firmes e dedicados até ao sacrifício.
Já temos 12 capacetes; 6 cintos completos com espias, mosquetões e machadas; um depósito de zinco para 2000 litros de água e 6 baldes e 6 cântaros também de zinco.
Vão agora ser construídas as escadas indispensáveis e adquiridos os machados de bico,e , pouco a pouco, havemos de chegar ao fim cantando vitória. A generosidade particular ainda se não manifestouporque ainda não foi acordada; mas estou certo de que não demorará. O Dr. Sales Guedes e o novo e esperançoso Presidente da Câmara e Administração do Concelho, José de Gouveia Leitão, decerto me não voltam as costas na ocasião palpitante. Acaricio, pelo menos, esta convicção, e não devo estar enganado.
Uma coisa porém, nos é essencialmente necessária: a aquisição de uma NORTHERN BALLOT.
Apelo, por isso, para todos vós. Apelo para a vossa generosidade comprovada e para o vosso amor a este encantado torrãozinho que é a nossa terra.
Por meio de subscrição entre os vossos amigos, entre as melhores relações, creio estra conseguida a nossa aspiração dourada. Aí, por longe, estão amigos que aqui são nossos vizinhos- Daniel Martins Ferreira, Alípio de Sousa Ferreira, Henrique Novais, Francisco de Oliveira Casaca e tantos outros que à memória agora não me acodem – e que pelo seu trabalho honesto e inteligente conseguiram situação de conforto que hoje desfrutam. Ricos, riquíssimos de sentimentos e de amor pátrio, usufruem também a riqueza financeira que os tem habituado a rasgos magníficos de generosidade e caridade. Ide, meus amigos, também procurá-los, entregar-lhes o meu abraço de vivo afecto e contar-lhes da nossa aspiração. Por certo sereis bem recebidos e fidalgamente atendidos.
Vasco Viseu e Artur Rodrigues de Oliveira, vós que fazeis parte do nosso grupo de valentes, dizei a todos o nosso esforço heróico, combatendo e vencendo o fogo da noite de 17 para 18 de Agosto do ano passado em casa do nosso Reverendo Prior e amigo António Pinto.
SOBRE ANTÓNIO CASIMIRO ver AQUI o nosso artigo publicado no Penacova Actual
domingo, junho 30, 2024
“Aristas”: sabe quem criou esta designação tão característica de Penacova?
O Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa define “arista” como “pessoa que se desloca para determinado lugar a fim de se tonificar com ar puro”, que é, afinal, o mesmo sentido que se atribui em Penacova. Em todos os dicionários que consultámos o termo “arista” está relacionado com a botânica e também com a zoologia: “ponta filiforme de alguns órgãos vegetais”; o mesmo que aresta, pragana; “estrutura semelhante a uma cerda, existente na ponta das antenas dos animaís dípteros” ou ainda “peça óssea ou espinhosa do esqueleto de um peixe”.
Terá sido em Penacova que na década de 20 do século passado “nasceu” um significado muito diferente. O termo, mesmo por aqui, acabou por cair em desuso, até ao momento em que há poucos anos o Município recuperou a ideia, criando o “Roteiro do Arista”, selecionando oito locais de grande expressão turística, tantos quantas as letras que formam a palavra PENACOVA. Os visitantes são convidados a a “apreciar cada um dos locais, e a desfrutar dos bons ares e da natureza, transformando-se assim em verdadeiros Aristas".
Quando se fala no início do séc. XX devemos ter em conta que foi só na primeira década que Penacova começou a ganhar alguma notoriedade nacional, principalmente pela mão de Emídio da Silva, Alfredo da Cunha e Simões de Castro, à volta da Sociedade de Propaganda de Portugal e do “Diário de Notícias”. Apenas nas décadas seguintes a presença dos tais “aristas” mais se fez sentir, prolongando-se até aos anos sessenta.
Mas voltemos à questão de saber como surgiu a designação de “arista”. Ora, no Jornal de Penacova, nº 1251, de 19 de Julho de 1930, podemos ler, sob o título “Penacova – Hotel” o seguinte: “Principiaram já a chegar os «aristas», vocábulo já velhote que deve vir de 1922 ou 1923. “Aristas” são os felizes mortais que vêm até nós provar a pureza magnífica dos nossos ares. Assim o decretou o famoso hoteleiro de Penacova-a-Linda, sr. José Alves de Oliveira Coimbra, numa fuga feliz da sua prosa proverbial. E o que é certo é que as bichas pegaram e agarraram-se com firmeza. O «Penacova Hotel”, já tem «aristas» e já são nove. Alves Coimbra espera mais por estes dias. Não tem vindo porque as caretas de este verão esquisito os traz indecisos, de pé no estribo (…).
Quem escreveu esta nota teria perfeito conhecimento do que estava a afirmar. A fazer fé nessa informação, ficamos então a saber que a designação de “arista” no sentido de veraneante que procurava a nossa vila para tonificar os pulmões (numa época em que grassava a tuberculose, não esqueçamos), foi José Alves de Oliveira Coimbra, personalidade carismática em Penacova no mundo do comércio e também da política local.
Quem foi José Alves de Oliveira Coimbra? Nasceu em Gavinhos, Figueira de Lorvão, no dia 19 de Julho de 1883. Filho de José Alves Marques e de Maria Manuela de Oliveira Coimbra,
Além de farmacêutico e comerciante em diversos ramos, fez parte do núcleo mais activo do movimento republicano em Penacova.
Integrou o grupo que no dia 6 de Outubro de 1910 percorreu a vila “convidando os cidadãos para assistirem à proclamação da República nos Paços do Concelho”, e fez parte da primeira Comissão Administrativa. Assumirá a Vice-Presidência da Câmara por diversas ocasiões.
José Alves de Oliveira Coimbra também se distinguiu no Jornal de Penacova do qual foi proprietário, editor e director durante quase toda a década de vinte. Em 1920, quando Amândio Cabral, já no Brasil, cedeu a propriedade daquele jornal, foi a empresa "Alves Coimbra & Cª Lda" que o comprou, passando a ser impresso na “Tipografia Alves Coimbra”.
Também foi farmacêutico, tendo mesmo, depois de “oito anos de boa prática farmacêutica”, feito exame para Farmacêutico de 2ª classe, em Julho de 1905 , na Escola de Farmácia de Coimbra.
Sócio principal da Firma Alves Coimbra & Cª Lda, mudou, em 1908, o comércio de mercearia e ferragens da Rua Alves Mendes "para o prédio no Largo Alberto Leitão, ainda em construção, propriedade de Augusto Leitão". Nos finais da década de vinte foi também proprietário e gerente da do Penacova-Hotel.
Faleceu em Penacova no dia 3 de Outubro de 1936, com 53 anos de idade.