terça-feira, julho 09, 2024

Personalidades (5): Domingos de Lemos (1693-1753)

Foi no Colégio Jesuíta da Baía que Domingos de Lemos mais se notabilizou

Domingos de Lemos nasceu no ano de 1693 em Gondelim. Ao pesquisarmos nos livros de Registos Paroquiais encontramos o assento de baptismo de “Domingos, filho de Pedro Rodrigues (?) e de Antónia de Lemos”, baptizado a 27 de Maio de 1693. A tratar-se da mesma pessoa, o que pelo apelido Lemos da mãe parece ser, há um desfasamento nas datas, em relação à síntese biográfica inserida na obra “Artes e ofícios dos Jesuítas no Brasil (1549-1760)”, publicada em 1953, que refere o seguinte:

“LEMOS, Domingos de (1694-1753). Natural de Gondelim (Penacova), onde nasceu a 27 de Maio de 1694. Entrou na Companhia [de Jesus] na Baía, com 25 anos, a 13 de Julho de 1719 (Cat. de 1725). Farmacêutico («pharmacopola»). Já o devia ser quando entrou, porque em 1722 aparece no Colégio de Olinda no exercício do cargo. Em breve voltou para o Colégio da Baía e aí residia em 1732, com o qualificativo de «insigne» em sua arte. Em 1746 e 1748 tinha dois ajudantes, donde se infere a importância do Laboratório baiano e a sua categoria de mestre. Faleceu no mesmo Colégio da Baía, depois duma actividade ininterrupta de mais de 20 anos, a 7 de Fevereiro de 1753.”

A Companhia de Jesus, apesar de se ter dedicado desde a sua fundação principalmente ao trabalho missionário e educativo, também se evidenciou na actividade farmacêutica. As más condições sanitárias com que se depararam em terras do Brasil levaram os jesuítas a serem mais do que “médicos da alma” assumindo também a missão de serem “médicos do corpo”.

Os medicamentos “importados” da Europa, eram insuficientes. Assim, os Jesuítas procuraram muitos outros nas plantas autóctones, com a ajuda dos conhecimentos das populações indígenas. Passaram a cultivá-las e a aprofundar o seu estudo. Os colégios dos jesuítas tornaram-se, deste modo, detentores de um riquíssimo receituário particular, que incluía não só as fórmulas dos medicamentos, mas também os processos de preparação.


As boticas jesuíticas eram dependências especiais dos colégios, anexas às enfermarias. A elas se recorria quando as populações eram atingidas por epidemias ou quando ocorriam casos de calamidade pública. A botica do Colégio da Baía, onde Domingos de Lemos se evidenciou, revelou-se como a mais bem estruturada de todas as que existiam na rede jesuítica, tornando-se um centro distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos colégios do Brasil. Da reunião dos saberes e medicamentos produzidos em cada Colégio resultou (em 1776) uma importante compilação (260 receitas) intitulada Colecção de várias receitas e segredos particulares da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil. Compostas e experimentadas pelos melhores médicos e boticários mais celebres que tem havido nestas Partes.

Estas receitas, prescritas para um grande número de doenças, demonstram o importante contributo dos Jesuítas, em especial o Colégio da Baía, na história da medicina brasileira. Quando este colégio foi saqueado e sequestrado em Julho de 1760, por ordem do Marquês de Pombal, o desembargador incumbido da acção judicial logo comunicou superiormente que havia feito as diligências necessárias para se apoderar da botica do Colégio e de algumas receitas particulares.

Pode Gondelim orgulhar-se de ter sido uma importante villa onde existiu um Paço que pelos anos de 984-985 estava na posse de netos de Munia Dias e Alvito Lucides1 e, ter sido também, morada de Príncipes2 e berço de figuras importantes da nossa história. A José Pereira Baião, figura insigne das Letras e da Oratória, podemos juntar Domingos de Lemos, um penacovense ilustre inteiramente desconhecido de muitos de nós.

1 - Cf. Manuel Luís Real: “O significado da basílica do Prazo (Vila Nova de Foz Côa), na alta Idade Média duriense”
2 - Aqui se terão criado, de acordo com o Portugal Renascido, os Príncipes de Leão, Ramiro e Bermudo.

sexta-feira, julho 05, 2024

𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆: a Procissão


A Procissão

O som das solas rijas das botas
Do Corpo Activo dos Bombeiros
Ecoava rua abaixo, voluntária
… e vagarosamente
Anunciava a Procissão do Enterro do Senhor
Aquela que percorre as nossas ruas em amor
Transmitindo, ao mesmo tempo, muita dor
A minha cabeça, à minha janela
Percepcionava o sentido da batida
Persistente … até eloquente
A chuva caía copiosamente
Abençoando o ajuntamento
Que não parava na ambição
De continuar a espalhar a fé
Era dia de Sexta-feira Santa
Os crentes acompanhavam-no
Mesmo sem chapéu ou manta
Concentrados … tranquilos
[Todos, todos, todos]
Em ritual sagrado já perdido no tempo
Com organização reverente
O Estandarte ia ali à frente
Levado pelo Paulo, da Ferradosa
E ladeado pelo Agrupamento 1079
Dos Escuteiros de Penacova
A Cruz (do Primo Bécas) a seguir
Curvando a cabeça na paixão
Em representação familiar, secular
A Verónica Maria, de Ribela
Parou, olhou, respirou
E cantou solenemente:

“O vos omnes
Qui transitis per viam
Atendite, et videte
Si est dolor similis sicut dolor meus”

A sua representação
Levou-nos ao encontro com Cristo
Na Via Crucis
O Padre João, de Benguela
Vinha lá, logo ali atrás dela
Em introspectiva oração
E o Povo emocionou-se
E suspirou d’enlutamento
… até a Casa Azul se arrepiou!


Luís Pais Amante
Casa Azul

A propósito de uma Procissão [que é histórica em Penacova] a que assisti com a minha Família, nesta Páscoa.

quinta-feira, julho 04, 2024

Efemérides (1): 120º aniversário da morte de Alves Mendes


Falamos hoje, 4 de Julho, de Alves Mendes, passados que são 120 anos após a morte deste penacovense ilustre que, no nosso entender, a seguir a António José de Almeida, mais longe levou  o nome de Penacova.  

António Alves Mendes da Silva Ribeiro nasceu em Penacova no dia 19 de Outubro de 1838, filho de Joaquim Alves Ribeiro e Joaquina Mendes da Silva. Faleceu no Porto no dia 4 de Julho de 1904.

Em Coimbra frequentou o Liceu (1853 a 1858) e o Curso Superior do Seminário (1856 a 1858). Também nesta cidade cursou Teologia na Universidade (1859 a 1863), formando-se a 8 de Julho de 1863.

Em 17 de Novembro do referido ano foi nomeado Cónego da Sé do Porto. No Seminário Diocesano da Invicta foi professor durante doze anos, regendo a cadeira de Pastoral e Eloquência Sagrada.

“Do modo como ele aí ministrava o ensino há ainda saudosa memória em quantos foram seus discípulos” – escreveu Manuel M. Rodrigues na revista O Ocidente de 21 de Julho de1888. Também J. Alves das Neves (in Autores da Beira Serra) refere que os seus discursos, “românticos pelo verbalismo”, eram “clássicos pela correcção linguística”. Também Mendes dos Remédios reconheceu que Alves Mendes fora um “burilador de frases e um joalheiro de linguagem”.

Por ocasião da trasladação dos restos mortais de Alexandre Herculano para o Mosteiro dos Jerónimos (1888), que se encontravam no jazigo da família Gorjão, em Santa Iria da Azóia, o jornal Pontos nos ii, escreveu sobre Alves Mendes que “o verbo entusiástico do eloquentíssimo orador elevou-se correcto, artístico, literário, ora bramindo de vibrações metálicas, ora suspirando de maviosíssimos acordes, assombrando quantos o ouviram, petrificando quantos o escutavam, crentes e não crentes – os apóstolos da religião de Deus, como os apóstolos da religião do Belo!”

Era habitual ser Alves Mendes a fazer os grandes discursos nas comemorações anuais da Batalha do Buçaco. Conta-se que passou a ser tradição, no final daquelas cerimónias, montado na égua branca do “ti Joaquim Cabral Velho” e acompanhado pelo compadre José Craveiro, rumar a Penacova, onde no dia seguinte “abria as quatro sacadas da sua casa” para receber os seus conterrâneos e admiradores que lhe iam apresentar as boas-vindas. Igualmente, sempre que ia pregar ou participar em cerimónias no Algarve, no Alentejo ou em Lisboa, aproveitava para, na passagem, descansar uns dias na sua terra natal, onde vivia a irmã Altina. Eram frequentes as visitas aos “Ribeiros”, seus primos, que viviam na Chã, e, de passagem, aproveitava também para entrar na Capela do Monte Alto.

Desta “figura eminente das letras portuguesas”, deste “burilador de frases” e “joalheiro da linguagem”, para citar as palavras de Alexandrino Brochado, além dos sermões, outras obras se encontram publicadas: Itália. Elucidário do Viajante (1878); O Priorado da Cedofeita (1881); Os Meus Plágios (1883); Tomista ou Tolista? (1883); Um Quadrúpede à Desfilada (1884); D. Margarida Relvas (1888) e D. António Barroso: Bispo do Porto (1899). Colaborou em imensas revistas literárias: Anátema, Caridade, Nova Alvorada, Correspondência do Norte, Braga-Bom Jesus, Cáritas, A Federação Escolar, Sobre as Cinzas, Kermesse, A Máquina, Filantropia e Fraternidade, entre outras. De referir ainda as suas interessantes crónicas de juventude publicadas na imprensa regional. No jornal O Conimbricense (nº 575, 29 de Agosto de 1857) escreveu, quando estudante em Coimbra, um interessante folhetim com o título “Umas Férias em Penacova”.

O Cónego Alves Mendes foi Provedor da Irmandade das Almas, na Rua de Santa Catarina, no Porto, e pertenceu às Ordens da Trindade e do Carmo e às principais Irmandades daquela cidade.

Do Rei D. Carlos recebeu, em1902, a Mercê de Arcediago de Oliveira [do Douro]. Conta O Primeiro de Janeiro que, foi no final do Discurso no Mosteiro da Batalha que aquele monarca, ao endereçar-lhe felicitações, lhe comunicou também que o promovia, de Cónego da Sé Catedral do Porto, à dignidade de Arcediago da Sé portuense, com o título de “Arcediago de Oliveira”. Noticiou igualmente o Jornal de Penacova que na sua casa, na vila de Penacova, muitas pessoas o felicitaram por aquele reconhecimento. Na ocasião, também a Filarmónica Penacovense “executou, à sua porta e em casa, alguns trechos de música, surpresa que muito o penhorou e comoveu”.

Alves Mendes privou com Camilo Castelo Branco tendo, inclusivamente, desempenhado um papel decisivo no casamento tardio do escritor em 1888 e tendo mesmo sido testemunha oficial do acto.

De 1935 a 2001 foi Presidente Astral da Filial de Petropolis (Brasil) do Racionalismo Cristão. Daquela filial, onde se encontra a “Sala de Estudos Alves Mendes”, é também Patrono Espiritual (in racionalismocristao.org, acedido em 30/5/2011).

Morreu na Rua Alexandre Herculano, no Porto, onde residia, no dia 4 de Julho de 1904, sendo sepultado no cemitério do Prado do Repouso. No seu testamento deixou escrito que queria ter um funeral discreto, “sem o menor aparato fúnebre” que, conforme escreveu, “é uma vaidade miserável e vazia de sentido elevado e ponderoso.”

Escreveu o Primeiro de Janeiro, por ocasião da sua morte, que a fama de eminente orador se generalizara e radicara, podendo ser, com toda a razão, considerado como “uma das maiores ilustrações do púlpito português”.

O reconhecimento de Penacova consubstanciou-se, em1902, sendo Presidente da Câmara o Dr. Daniel da Silva, com a atribuição do seu nome a uma das principais ruas do centro histórico da vila: Rua do Arcediago Alves Mendes. 


terça-feira, julho 02, 2024

Notas para a história dos Bombeiros de Penacova (1): artigo de António Casimiro em 1928


Formalmente constituída em 1932, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Penacova começara a germinar alguns anos antes, tendo como principal mentor António Casimiro Guedes Pessoa. Este grande penacovense, já em 1928, testemunhava isso mesmo num seu artigo no "Jornal de Penacova". Na memória dos penacovenses estava a tragédia de Sernelha que vitimara 7 crianças e o mais recente incêndio na residência do Pároco, padre António Pinto. 

Escreveu António Casimiro: 

"A organização de uma “Corporação de Bombeiros” já de há muito se vinha impondo como necessidade máxima e urgente.

O fogo é um perigo terrível, uma ameaça pavorosa e uma desgraça tremenda. Há uma dúzia de anos em Sernelha, de aqui bem perto , na freguesia de Figueira, sete criancinhas ficaram carbonizadas nos escombros da casa em que dormiam. E quando não é casual, quando não é motivado por uma imprevidência, por um descuido, por um desastre ou por uma alucinação doentia, o fogo é a mais preversa e traiçoeira de todas as armas do crime.

O fogo queima e devora fortunas, vidas, alegrias, afectos e relíquias, não poupa altares nem ? Apaga vestígios e põe sempre um grito de angústia em todos os peitos.

Em frente do fogo não há inimigos e só dedicações se registam. Pode não suceder assim em toda a parte. Mas em Penacova, na nossa terra, é um facto comprovadíssimo.

Tomei a iniciativa de por mãoa à obra e logo de princípio tive a felicidade estimulante de encontrar decidido auxílio e franco apoio dos srs Drs daniel da Silva e José Albino Ferreira, ou seja, das Câmaras de suas presidências. Para o material de incêndios foram já destinados 5.200$00.

Recrutei, satisfeito, um punhado de rapazes valentes e creio ter organizado um grupo que não recuará em frente do perigo. Dezoito penacovenses de verdade, firmes e dedicados até ao sacrifício.

Já temos 12 capacetes; 6 cintos completos com espias, mosquetões e machadas; um depósito de zinco para 2000 litros de água e 6 baldes e 6 cântaros também de zinco.

Vão agora ser construídas as escadas indispensáveis e adquiridos os machados de bico,e , pouco a pouco, havemos de chegar ao fim cantando vitória. A generosidade particular ainda se não manifestouporque ainda não foi acordada; mas estou certo de que não demorará. O Dr. Sales Guedes e o novo e esperançoso Presidente da Câmara e Administração do Concelho, José de Gouveia Leitão, decerto me não voltam as costas na ocasião palpitante. Acaricio, pelo menos, esta convicção, e não devo estar enganado.

Uma coisa porém, nos é essencialmente necessária: a aquisição de uma NORTHERN BALLOT.

Apelo, por isso, para todos vós. Apelo para a vossa generosidade comprovada e para o vosso amor a este encantado torrãozinho que é a nossa terra.

Por meio de subscrição entre os vossos amigos, entre as melhores relações, creio estra conseguida a nossa aspiração dourada. Aí, por longe, estão amigos que aqui são nossos vizinhos- Daniel Martins Ferreira, Alípio de Sousa Ferreira, Henrique Novais, Francisco de Oliveira Casaca e tantos outros que à memória agora não me acodem – e que pelo seu trabalho honesto e inteligente conseguiram situação de conforto que hoje desfrutam. Ricos, riquíssimos de sentimentos e de amor pátrio, usufruem também a riqueza financeira que os tem habituado a rasgos magníficos de generosidade e caridade. Ide, meus amigos, também procurá-los, entregar-lhes o meu abraço de vivo afecto e contar-lhes da nossa aspiração. Por certo sereis bem recebidos e fidalgamente atendidos.

Vasco Viseu e Artur Rodrigues de Oliveira, vós que fazeis parte do nosso grupo de valentes, dizei a todos o nosso esforço heróico, combatendo e vencendo o fogo da noite de 17 para 18 de Agosto do ano passado em casa do nosso Reverendo Prior e amigo António Pinto.

António Casimiro Guedes Pessoa"
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SOBRE ANTÓNIO CASIMIRO ver AQUI o nosso artigo publicado no Penacova Actual

domingo, junho 30, 2024

“Aristas”: sabe quem criou esta designação tão característica de Penacova?

Recortes do JP 

Não é estranho a qualquer penacovense o termo “arista”. Igualmente para muitos dos que ao longo dos anos têm visitado Penacova esta palavra não é desconhecida. Poderíamos até falar de um “neologismo” se a designação não existisse, de todo, na língua portuguesa. Os dicionários (salvo a Infopédia da Porto Editora) contemplam-na, mas com um sentido que nada tem a ver com turismo.

O Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa define “arista” como “pessoa que se desloca para determinado lugar a fim de se tonificar com ar puro”, que é, afinal, o mesmo sentido que se atribui em Penacova. Em todos os dicionários que consultámos o termo “arista” está relacionado com a botânica e também com a zoologia: “ponta filiforme de alguns órgãos vegetais”; o mesmo que aresta, pragana; “estrutura semelhante a uma cerda, existente na ponta das antenas dos animaís dípteros” ou ainda “peça óssea ou espinhosa do esqueleto de um peixe”.

Terá sido em Penacova que na década de 20 do século passado “nasceu” um significado muito diferente. O termo, mesmo por aqui, acabou por cair em desuso, até ao momento em que há poucos anos o Município recuperou a ideia, criando o “Roteiro do Arista”, selecionando oito locais de grande expressão turística, tantos quantas as letras que formam a palavra PENACOVA. Os visitantes são convidados a  a “apreciar cada um dos locais, e a desfrutar dos bons ares e da natureza, transformando-se assim em verdadeiros Aristas".

Sublinha o site da Càmara Municipal que “no início do século XX, Penacova era um local de eleição para aqueles que genericamente ficariam conhecidos como “aristas”. Pessoas que atraídas pela qualidade do ar que aqui se respirava, bem como pelas paisagens, permaneciam longas temporadas nesta vila.”

Quando se fala no início do séc. XX devemos ter em conta que foi só na primeira década que Penacova começou a ganhar alguma notoriedade nacional, principalmente pela mão de Emídio da Silva, Alfredo da Cunha e Simões de Castro, à volta da Sociedade de Propaganda de Portugal e do “Diário de Notícias”. Apenas nas décadas seguintes a presença dos tais “aristas” mais se fez sentir, prolongando-se até aos anos sessenta.

Mas voltemos à questão de saber como surgiu a designação de “arista”. Ora, no Jornal de Penacova, nº 1251, de 19 de Julho de 1930, podemos ler, sob o título “Penacova – Hotel” o seguinte: “Principiaram já a chegar os «aristas», vocábulo já velhote que deve vir de 1922 ou 1923. “Aristas” são os felizes mortais que vêm até nós provar a pureza magnífica dos nossos ares. Assim o decretou o famoso hoteleiro de Penacova-a-Linda, sr. José Alves de Oliveira Coimbra, numa fuga feliz da sua prosa proverbial. E o que é certo é que as bichas pegaram e agarraram-se com firmeza. O «Penacova Hotel”, já tem «aristas» e já são nove. Alves Coimbra espera mais por estes dias. Não tem vindo porque as caretas de este verão esquisito os traz indecisos, de pé no estribo (…).

Quem escreveu esta nota teria perfeito conhecimento do que estava a afirmar. A fazer fé nessa informação, ficamos então a saber que a designação de “arista” no sentido de veraneante que procurava a nossa vila para tonificar os pulmões (numa época em que grassava a tuberculose, não esqueçamos), foi José Alves de Oliveira Coimbra, personalidade carismática em Penacova no mundo do comércio e também da política local.


Quem foi José Alves de Oliveira Coimbra? Nasceu em Gavinhos, Figueira de Lorvão, no dia 19 de Julho de 1883. Filho de José Alves Marques e de Maria Manuela de Oliveira Coimbra,

Além de farmacêutico e comerciante em diversos ramos, fez parte do núcleo mais activo do movimento republicano em Penacova.

Integrou o grupo que no dia 6 de Outubro de 1910 percorreu a vila “convidando os cidadãos para assistirem à proclamação da República nos Paços do Concelho”, e fez parte da primeira Comissão Administrativa. Assumirá a Vice-Presidência da Câmara por diversas ocasiões.

José Alves de Oliveira Coimbra também se distinguiu no Jornal de Penacova do qual foi proprietário, editor e director durante quase toda a década de vinte. Em 1920, quando Amândio Cabral, já no Brasil, cedeu a propriedade daquele jornal, foi a empresa "Alves Coimbra & Cª Lda" que o comprou, passando a ser impresso na “Tipografia Alves Coimbra”.

Também foi farmacêutico, tendo mesmo, depois de “oito anos de boa prática farmacêutica”, feito exame para Farmacêutico de 2ª classe, em Julho de 1905 , na Escola de Farmácia de Coimbra.

Sócio principal da Firma Alves Coimbra & Cª Lda, mudou, em 1908, o comércio de mercearia e ferragens da Rua Alves Mendes "para o prédio no Largo Alberto Leitão, ainda em construção, propriedade de Augusto Leitão". Nos finais da década de vinte foi também proprietário e gerente da do Penacova-Hotel.

Faleceu em Penacova no dia 3 de Outubro de 1936, com 53 anos de idade.


quarta-feira, junho 26, 2024

Casa do Concelho de Penacova em Lisboa assinalou 30º aniversário


A Casa do Concelho de Penacova (CCP), em Lisboa, comemorou mais um aniversário, desta vez o 30º,  promovendo um almoço - convívio que teve lugar no Restaurante Caravela de Ouro, em Algés.

Na mesa de honra tiveram assento: presidente da Câmara Municipal de Penacova, Álvaro Coimbra, e esposa; presidente da CCP, Adelino Marcelo; presidente da ACRL (Associação. das Casas Regionais em Lisboa), Elísio Chaves; presidente dos Bombeiros VP, Ricardo Simões; presidente da Mesa da Assembleia Geral da CCP, Armando Pimentel; e ainda o delegado em Penacova da CCP, José Alberto Costa.

O presidente da direcção, Adelino Marcelo, agradeceu a presença de todos e, em especial, do Presidente da Câmara Municipal de Penacova, Álvaro Coimbra, e do Presidente da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Penacova, bem como dos representantes das Casas Regionais de Alvaiázere, Arcos de Valdevez, Arganil, Castanheira de Pera, Ferreira do Zêzere, Sertã, Tondela, Valença e Vinhais.

No uso da palavra, Álvaro Coimbra, começou por manifestar a satisfação por estar presente neste 30º aniversário, “importante data simbólica”,  saudando “todos os penacovenses que fazem parte desta instituição, que durante trinta anos, contra ventos e marés, têm lutado para que a mesma continue a existir”, com uma palavra especial para todos os que fazem parte dos órgãos sociais.


Salientou, de seguida, a importância do movimento regionalista na manutenção dos “elos de ligação entre as várias comunidades, entre Lisboa e as terras natais”, espalhadas pelo país.

“A Casa do Concelho de Penacova continua bem viva” – reconheceu - sendo prova disso a recente participação no Encontro de Associativismo e Regionalismo que teve lugar na Alameda D. Afonso Henriques, “promovendo os produtos de Penacova, os palitos, os produtos regionais, o mel, os licores”. Renovou o seu apreço e reconhecimento pelo trabalho que ao longo destas três décadas a Casa do concelho tem vindo a realizar. Enalteceu ainda os “grandes dirigentes” que a Casa do Concelho tem tido, nomeadamente o Sr. Adelino Marcelo, o Sr. José Bernardes (que por razões de saúde não foi possível participar neste almoço comemorativo) e o Sr. António Pimentel.


Algumas imagens publicadas na página do facebook da CCP:



















Recordemos alguns aspectos da história da Casa do Concelho:


“A Casa do Concelho de Penacova é uma associação regionalista, sem fins lucrativos, composta por pessoas singulares e colectivas ou equiparadas.

Foi fundada em 9 de Junho de 1994, por escritura pública realizada no 20º Cartório Notarial de Lisboa, publicada no “Diário da Republica” nº 174 / 94 (III Série) de 29 de Julho de 1994.


Foram fundadores José Bernardes de Oliveira, natural de S. Pedro de Alva, e António Pimentel, Carlos Augusto Luís Simões e António Vicente Cabral, naturais de Penacova.

Tem a sua sede em Lisboa, na Calçada de Carriche, nº 47 B, freguesia da Ameixoeira. Logo que foram conseguidas instalações, sucedeu à LACP (Liga dos Amigos do Concelho de Penacova ) que, com esse objectivo, tinha sido fundada em 15 de Junho de 1985 pelos mesmos penacovenses, e outro, José Fernandes.

A Casa do Concelho de Penacova tem como principal finalidade promover culturalmente os seus associados; desenvolver a solidariedade entre os naturais do concelho ou que a ele se sintam ligados por laços familiares ou de amizade; divulgar as suas belezas paisagísticas, o seu património cultural e artístico, a sua gastronomia, o seu artesanato e o seu folclore; participar no desenvolvimento do concelho e prestar apoio possível ao seu comércio e à sua indústria; defender o concelho de tudo o que possa causar-lhe danos morais ou patrimoniais; organizar eventos culturais, recreativos e outros de carácter regionalista, entre sócios e simpatizantes; favorecer a prática de modalidades desportivas; colaborar com as associações similares e com as autarquias do concelho; auxiliar, dentro do possível, os penacovenses que se encontrem carenciados.

A Casa do Concelho de Penacova é sócia fundadora da ACRL – Associação das Casas Regionais em Lisboa.”

Fonte: Página oficial da CCP no Facebook

segunda-feira, junho 24, 2024

𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆: a Educação



A Educação


Tenho escrito - e pensado muito - sobre a temática da Educação, lactu senso considerada; acima de tudo porque é neste nosso sistema educativo que tive os meus filhos e que, agora, tenho os meus netos, em vários níveis, já.

As minhas conclusões levaram-me a expressar um enorme desencanto pelo “estado desta nobre arte de ensinar e de aprender”, pelo modo quase arregimentado como se tem passado, ano após ano, sem se resolverem os problemas, sendo alguns de lana caprina, mas outros com impactos brutais na criação de uma Juventude saudável, culta, empenhada, ocupada, capaz de saber produzir as alterações - muitas - que o nosso País precisa e que tardam demasiado a chegar.

Acho que os problemas [a partir de certa altura] passaram a ser mais políticos do que outra coisa qualquer, sinceramente. Tipo birra, daquelas que nos saem caras.

Caso contrário não teríamos uma plêiade de gente diferente a não saber querer resolver um problema a que chamo já “chaga nacional”!

Outros, até, que mudaram de opinião de um dia para o outro…

Mudaram-se Governos vários e o diacho da Educação lá continuava na mesma: sem arte na negociação, canalizando-a só para a discórdia; com alegações de sem dinheiro para pôr no problema; sem respeito nenhum por um Direito que até é Constitucional…

Sim, a nossa Constituição prevê no seu art. 74: “Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar”.

E, se assim é, devemos - mais próximo do que longe - chegar ao momento de pedir contas a todos aqueles a quem pagámos para tratar dos problemas básicos do nosso País, que se tenham mostrado relapsos, como se faz nos países adultos.

Não é mais possível permanecer a sucessão dinástica das ideias, o controle nefasto do pensamento crítico, a permanência de um estado de “tudo à bulha”, com os Alunos a roçar as calças e as saias nas escadas dos Estabelecimentos de Ensino, os Professores em autocarros pró trabalho ou pra Lisboa, os Funcionários aborrecidos por falta de motivação e os Pais sem saber bem o que fazer, p’além de pagar impostos. Se a Educação está tão em perigo nesse mundo em guerra, porquê imitarmo-lo cá, em paz. Seremos masoquistas?

A paz que é preciso (urgente) trazer à Comunidade Educativa (toda); dar fio condutor lógico ao ensino e empenho ao enriquecimento curricular…e cívico; e dar estabilidade às Famílias.

E concordar que este desiderato não pode ser visto, nunca, como um custo, mas sim como um investimento existencial.

!… e, já agora, transferir orçamento para as novas responsabilidades dos Municípios, sobre a matéria, o que estes não podem deixar de exigir, para poderem garantir qualidade …!

A instabilidade na Educação é mesmo crítica para o nosso País e para o nosso futuro próximo.

Luís Pais Amante

sexta-feira, junho 14, 2024

Coral Divo Canto nas Comemorações do Dia de Portugal em Londres

 


Comemorações do Dia de Portugal, em Londres!


O Coral Divo Canto, deslocou-se a Londres de 7 a 10 de junho, onde participou nas celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a convite da Associação Diáspora por Portugal Sem Fogo - UK e da The Anglo-Portuguese Society, que em articulação com a Embaixada de Portugal organizaram as comemorações.

O programa incluiu um espetáculo no sábado, dia 8, dedicado a Luís de Camões, comemorativo dos 500 anos do seu nascimento, e a participação nas comemorações oficiais, no domingo, dia 9 de junho.

No concerto de sábado, designado “Entre a Poesia e a Harmonia da Língua Portuguesa” decorreu na The Actor’s Church - St. Paul’s Church Covent Garden – a igreja dos atores, em Londres, o Coral Divo Canto juntou a poesia de Camões, pela voz de Ricardo Coelho, com a música coral de Fernando Lopes-Graça, José Afonso, Eurico Carrapatoso, Fernando Lapa, José Firmino, Celestino Ortet, Augusto Mesquita, entre outros, onde o nosso Fado também teve um lugar de destaque, interpretada pelo Coral Divo Canto, sob a Direção do Maestro Pedro André Rodrigues, com acompanhamento ao piano pelo pianista João Guerra.

Este concerto, contou com a presença das associações Diáspora por Portugal Sem Fogo - UK, APS- Anglo-Portuguese Society, do Adido Social e do Primeiro Secretário da Embaixada, que teceram os maiores elogios ao Coral Divo Canto e ao programa apresentado e se confessaram surpreendidos pela qualidade do espetáculo.

No domingo, dia 9 de junho, decorreram as comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, bem como do 300° Aniversário da Embaixada Portuguesa, na Church of Our Lady of The Assumption and ST Gregory, Warwick St, – o local onde foi instalada a Embaixada em 1724 e onde funcionou até 1947.

Nestas comemorações, o Coral Divo Canto atuou nas cerimónias religiosas, em conjunto com o grupo coral da Igreja, alternando a direção entre os Maestros dos dois grupos corais, assim como dos pianistas, tendo terminado com os hinos nacionais de Portugal e da Inglaterra.

A cerimónia contou com a presença do Senhor Embaixador de Portugal, Nuno Brito, que também teceu grandes elogios ao Coral Divo Canto, que se encontrava acompanhado pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Penacova, que se deslocou a Londres a convite do Coral Divo Canto e das associações organizadoras das comemorações.
Eduardo Ferreira

  







segunda-feira, junho 10, 2024

𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆: uma nova rubrica de poemas (e crónicas) de Luís Pais Amante


Damos hoje início a um novo espaço no Penacova Online, assinado pelo penacovense e amigo Dr. Luís Pais Amante. Uma honra e um privilégio não só para o seu administrador, mas também para os leitores deste blogue que por estes dias completa 17 anos de existência.
 

Da minha janela


É da minha janela que vejo este mundo

Plano, agitado ou com tez de rotunda

Que olho pró tempo de crescer

Para as memórias de me ter

E me introspectivo na saudade

Que mora cá, na minha idade

De mais novo do que ela

Também rememoro os tempos idos

As liberdades da alma

O pousio desta calma

Que é olhar pró infinito tão perto

Pra natureza em beleza sem igual

Há quem tenha ciúmes da minha janela

Porque como ela, não existe outra tão bela

Será só por ser um sítio único?

Será só porque ela é a singela?

Será porque é a fina donzela?

Eu penso que é por tudo isso

E pelo seu imaginário translúcido

Que circunda em alegria

E promove a democracia

Um lugar de sorriso e inspiração

Um observatório de ar puro

Que permite olhar para tudo

Até idealizar o que se requer

Quem sabe, capaz, de determinar

E moldar

O meu ser de rigoroso no meu crer

Resiliente em por aqui me manter

A admirá-la…

Vou mesmo tentar dar-lhe fantasia

Desde este Fundo da (minha) Vila

Austero, antigo

Mas sonhador e profundo … e amigo!


Luís Pais Amante

Casa Azul


sábado, junho 08, 2024

Personalidades (4): Joaquim Jerónimo Silva Rosa (1900-1974)

Retrato que consta da lápide tumular no cemitério de Lorvão.

Joaquim Jerónimo Silva Rosa nasceu a 2 de Outubro de 1900 e foi baptizado a 25 de Dezembro de 1901 na Igreja de Lorvão. Filho de Joaquim Maria da Silva (1851-1911) e de Maria de Jesus Rosa da Silva (1880- 1996), proprietários, naturais e residentes naquela freguesia.

Casou com Maria Lúcia Vassalo Namorado em 27 de Março de 1932, em Torres Novas, numa cerimónia civil. No mesmo dia, celebrará o casamento religioso na Igreja de Santa Cruz de Coimbra (1). O casal passou pouco depois a viver em Penacova, onde permaneceu até 1937.

Refere a Wikipédia que “em 1930, enquanto passava férias no Luso com a mãe e Maria Cândida Caeiro, filha mais nova da sua prima Maria Lamas, conheceu Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, um escrivão, natural de Lorvão, Penacova, com o qual se casou numa cerimónia civil em Torres Novas, e outra religiosa em Coimbra”.

O casal separou-se anos mais tarde, em meados da década de 50, tendo tido depois uma segunda relação, com Leonilde Viegas.

Do primeiro casamento nasceram 3 filhos: Luís Vassalo Namorado Rosa (1935-2018), prestigiado arquitecto ligado à Expo 98, Fernando Vassalo Namorado Rosa (1935-?), quadro superior da CP e Rui Vassalo Namorado Rosa (1940 - ), investigador e professor na Universidade de Évora.

Maria Lúcia Vassalo Namorado (Torres Novas, 1/6/1909 - Lisboa, 9/2/2000) foi escritora, poetisa, jornalista, activista e directora da importante revista Os Nossos Filhos. Era prima de Manuel António Vassalo e Silva, último Governador da Índia Portuguesa, e das escritoras Maria Lamas e Alice Vieira.

O nome de Joaquim Jerónimo Silva Rosa está ligado à criação de dois jornais penacovenses: Progresso Lorvanense e Notícias de Penacova.

O primeiro, veio a lume no dia 23 de Janeiro de 1921 tendo-o como editor e director. Com algumas interrupções pelo meio, o último número tem a data de 15 de Outubro de 1922. Escreve Carlos Pimenta, seu amigo de juventude, que o Progresso Lorvanense foi inicialmente publicado “a expensas suas [Joaquim Jerónimo] que com ele gastou umas boas centenas de escudos”, até ser administrado pela Empresa Industrial Lorvanense.

Aquando da criação do Notícias de Penacova (1932-1978) o redactor principal é precisamente Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, à época escrivão do Julgado Municipal de Penacova, onde exerceu de 1931 a 1937. Também neste jornal colaborou sua mulher, Maria Lúcia Namorado, dirigindo, com uma peridiocidade quinzenal e alternadamente, uma “página infantil e outra feminina”, respectivamente, “Qui-Quiriqui” e “Página Feminina: o espírito, a elegância e o lar”.

É ainda Carlos Pimenta, na crónica referida (in Notícias de Penacova, 1953) que Joaquim Jerónimo também ajudou “moral e materialmente” a Filarmónica: “além da sua ajuda monetária, não hesitou, na sua condição de estudante liceal, enfileirar uniformizado ao lado dos demais executantes, tocando clarinete com proficiência.”

Estudou em Coimbra e iniciou a vida profissional no Julgado Municipal de Penacova. Como Escrivão Judicial passou depois por diversos locais do país, como Golegã, Seixal e Lisboa.

Em 2005 foi publicada uma Tese de Doutoramento subordinada ao título “A Educação das Mães e das Crianças no Estado Novo: a proposta de Maria Lúcia Vassalo Namorado”, tendo como autora Ana Maria Pires Pessoa. Esta investigação fornece-nos muitos pormenores sobre a vida pessoal e familiar de Maria Lúcia e mesmo até sobre o ambiente social de Penacova na década de trinta.


De acordo com este estudo académico, Joaquim Jerónimo “tinha começado a trabalhar no final dos anos 20 tendo tomado posse como ajudante de escrivão” em Abril de 1928. Em Julho de 1931 toma posse como escrivão do julgado municipal de Penacova, “onde fica seis anos.” A investigadora refere igualmente que Joaquim Jerónimo Silva Rosa “é transferido, como chefe de secção, primeiro para a Golegã, em finais de 1937 e depois para o Seixal, a seu pedido, em 1940. Em Janeiro de 1945 foi ocupar, em Lisboa, o lugar de ajudante de chefe da 1ª secção da secretaria do Supremo Tribunal de Justiça. Será ainda, em 1949, colocado no Tribunal de Recurso das Avaliações. “Por despacho de 16 de Abril de 1954 passa a chefe de secção do mesmo tribunal, sendo promovido a ajudante de 1ª classe em 14 de Fevereiro de 1955”. Em 1965 é transferido, a seu requerimento, para o 8º Juízo Correcional de Lisboa, sendo nomeado chefe de secretaria interino. Reformou-se em1967, com 37 anos de serviço.

Vai escrever Maria Lúcia Namorado na revista Os Nossos Filhos (Dezembro de 1952) sobre o tempo que viveu em Penacova. 

Refere Ana Maria Pires Pessoa que à chegada àquela localidade “todas as pessoas importantes da vila” visitaram o novo casal. Escreve, por sua vez, Maria Lúcia: “Achei as senhoras simpáticas, um pouco cerimoniosas, demasiado satisfeitas com a sua posição de mães de família consideradas, abastadas, sem mais conhecimentos e mais aspirações do que os circunscritos às quatro paredes da sua casa. Pareciam apreciar imenso as suas próprias vidas estagnadas, sem problemas nem inquietações. Reuniam-se à tarde e ao serão, infalivelmente, fazendo «crochet», conversando de bolinhos e flores. Eu fui para todas elas uma novidade, um bicho raro (…)”.

Joaquim Jerónimo não deixou de visitar as terras da sua origem e de escrever na imprensa local. A título de exemplo, o Notícias de Penacova de 1947, e também o de 1962 e outros anos, foi noticiando a sua presença quer em veraneio na vila de Penacova, quer na Quinta da Cerca, em Lorvão.

Numa crónica, por si assinada no Notícias de Penacova de 27 de Julho de 1947 com o título “Grupo dos Amigos de Penacova”, associação ainda em embrião, promovida sobretudo por Manuel de Oliveira Cabral, escreve que todos não eram demais “para conseguir o objectivo, tão caro a cada um de nós, de tornar Penacova uma estância de repouso e turismo a sério.”

Faleceu em Lisboa a 12 de Julho de 1974. O funeral realizou-se no dia seguinte para o cemitério de Lorvão.

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(1) A noiva será também baptizada nesse dia, contra a vontade do pai, o que gerou um corte de relações durante alguns anos.

segunda-feira, junho 03, 2024

Estudo sobre Turismo em Penacova analisa práticas de gestão sustentável, potencialidades, infraestruturas, eventos...


Um estudo recente, publicado pela Escola Superior de Educação de Coimbra (1)  analisa das práticas de sustentabilidade sócio-ambiental no alojamento turístico do município de Penacova e identifica as principais barreiras à sua implementação.

O conceito de turismo sustentável foi definido pela Organização Mundial do Turismo, agência especializada das Nações Unidas, como aquele que é ecologicamente suportável no longo prazo, economicamente viável e ética e socialmente equitativo para as comunidades locais, implicando a integração ao meio ambiente natural, cultural e humano e o respeito pelo equilíbrio das áreas ambientalmente mais sensíveis.
 
Práticas de gestão sustentável nos alojamentos em Penacova

Esta investigação incidiu em oito unidades turísticas situadas nas freguesias de Friúmes, Penacova, São Pedro de Alva e Oliveira do Mondego. que “tendo em conta que a investigação foi baseada numa metodologia qualitativa, através da realização de oito entrevistas” não é possível garantir que as conclusões “se apliquem à generalidade dos alojamentos em Penacova e de outras regiões do país”, o que “limita um pouco a investigação” -alerta o autor deste trabalho académico. Salienta-se igualmente que “a maioria dos responsáveis dos alojamentos ainda não tem qualquer tipo de formação em sustentabilidade, não conhece os guias de boas práticas do turismo de Portugal e o alojamento não é a sua principal atividade” o que “dificulta a recolha e seleção da informação.”

De qualquer modo trata-se de um estudo pertinente e actual. De acordo com o mesmo “foi possível concluir que já são utilizadas algumas práticas de gestão sustentável nos alojamentos em Penacova, nomeadamente as que dependem de menos investimentos financeiros, sendo os empreendimentos turísticos o tipo de alojamento que mais práticas sustentáveis utiliza”. Verificou-se que todos os entrevistados se preocupam com a sustentabilidade, atribuindo, no entanto, maior importância ao consumo energético por questões orçamentais.

Todos utilizam lâmpadas led de baixo consumo, todos fazem a separação de resíduos para a reciclagem, todos os alojamentos ou edifícios têm isolamento térmico e todos utilizam e adquirem produtos locais.

A maior barreira com que os entrevistados se deparam para implementar práticas de sustentabilidade são os elevados custos na aquisição de equipamentos, eletrodomésticos e materiais mais sustentáveis. Todos afirmam que teriam como benefício para a sua atividade a redução de custos.

Em termos globais, consideram que a implementação destas práticas beneficiaria a poupança de recursos naturais. Todos consideram ser necessários mais apoios económicos para aquisição de equipamentos sustentáveis. Por sua vez, a maioria dos entrevistados destaca a importância de colocar ecopontos junto dos seus estabelecimentos para facilitar a separação de resíduos.

Alguns dos entrevistados consideram que a atribuição de prémios de desempenho ao alojamento seria um bom incentivo para implementar mais práticas sustentáveis.

Em síntese, “a gestão do consumo de energia é a principal preocupação dos responsáveis dos alojamentos, assim como a aquisição e divulgação de produtos locais. O principal obstáculo à implementação de novas práticas sustentáveis está relacionado com elevados custos na aquisição de equipamentos de baixo consumo.”

Características naturais, infraestruturas de apoio, eventos ... 

Reconhece o estudo que “o concelho de Penacova tem um “elevado potencial” de desenvolvimento turístico, já que “possui um conjunto de características naturais e de infraestruturas de apoio ao turismo que lhe permite desenvolver a atividade de forma sustentável” (…) possuindo “acessibilidades, infraestruturas, recursos e atrações que potenciam o desenvolvimento de atividades turísticas, nomeadamente de turismo de natureza, desportivo e gastronómico com a realização de diversos eventos nestas áreas.”

Esta investigação conclui que, em termos de alojamento, “Penacova já possui uma oferta variada com capacidade para alojar 354 hóspedes nas diversas unidades de alojamento local, sendo a modalidade de moradia a que mais se destaca.” Verifica-se igualmente que “em termos de empreendimentos turísticos tem capacidade para albergar 436 campistas nos dois parques de campismo existentes e 78 hóspedes nos cinco empreendimentos turísticos registados.”

Ficamos também a saber que “apesar da estada média em Penacova ser ligeiramente inferior à média da região centro, verifica-se que cresceu em dormidas e em receitas”. No entanto, tendo em conta os dados apresentados, não vai ao encontro ao estabelecido na ET2027, onde se pretende crescer mais em receitas que em dormidas.

A leitura desta dissertação de Mestrado conduz-nos também a um levantamento actualizado de algumas características naturais e de infraestruturas de apoio na medida em que se afirma que “Penacova possui um território muito diversificado a nível turístico, nomeadamente para o turismo de natureza, pois possui vales, serras, rios e paisagens que podem ser vistas dos penedos e miradouros, possui também moinhos e azenhas e outros recursos naturais que atraem turistas de todo o país.

Tendo como fonte o site do Município, salienta o autor que:

- “as suas praias fluviais atraem muitos visitantes no Verão, mas Penacova possui ainda outros recursos de elevado potencial turístico, como as tradições das suas gentes, a sua história, mosteiros, museus, igrejas, entre outros;

- que “o concelho de Penacova proporciona ainda enriquecedoras experiências na descoberta da sua fauna e flora, onde se destacam ao nível da fauna Árvores de Interesse Público, classificadas pelo ICNF, como a Sequoia e a Glicínia. Ao nível da flora destacam-se a rola, javali, perdiz, as trutas e a lampreia; que “em Penacova existem seis praias fluviais, sendo as mais conhecidas a do Vimieiro e a do Reconquinho ambas galardoadas com a bandeira azul;

- que “ao longo do rio Mondego existem também a livraria, um recurso turístico natural que marca a paisagem. Este monumento está classificado como Geomonumento ao Nível do Afloramento, pelas suas caraterísticas e constituindo-se como um dos mais singulares monumentos naturais de Portugal”;

- que “o miradouro Emydgio da Silva, a Pérgula Raúl Lino e o Penedo do Castro são os mais emblemáticos, onde visitantes e residentes se podem deliciar com a vista sobre o rio Mondego e as encostas da serra da Atalhada com paredes quartzíticas propicias à prática de escalada e rappel”.

Ainda de acordo com fontes do Município consultadas para este trabalho, é sublinhado que, em termos de recursos culturais, se destaca ”o Museu do Moinho Vitorino Nemésio e um dos maiores núcleos molinológicos do país espalhado pelas serras da Atalhada, Aveleira, Gavinhos e Portela de Oliveira com imensos moinhos de vento em atividade ou em condições de funcionar.

Recorda-se que “Penacova possui ainda dezoito azenhas espalhadas pelas ribeiras e vinte e três fornos de cal no concelho”.

Salienta-se também que “em termos de artesanato contam-se ainda quinze artesãos a trabalhar as diversas áreas onde se destacam a produção de palitos de madeira”.

Em relação a edifícios com valor histórico-patrimonial “destaca-se o Mosteiro de Lorvão que integrou a lista original dos primeiros edifícios classificados como Monumento Nacional em Portugal e o Núcleo Museológico dos Cabouqueiros e dos Carpinteiros.“

A nível gastronómico, “Penacova faz um excelente aproveitamento do rio com a confeção de seis pratos típicos à base de peixe e três de carne. Destacam-se também trinta e dois doces conventuais e onze produtos típicos como azeite, mel ou castanha.”

Ao nível do desporto de natureza, “para a prática de desportos terrestres existem dois percursos pedestres de grande rota, cinco percursos pedestres de pequena rota, nove ciclos com ligações para BTT, quatro percursos de Trail Running, sete locais de escalada e dois locais para prática de tirolesa e slide”, ao mesmo tempo que para a prática de desportos aquáticos “dispõe de 25 km ao longo do rio Mondego para prática de canoagem e rafting, uma pista de pesca desportiva para competição no rio Mondego e onze lotes no rio Alva. Além das seis praias fluviais propícias à prática de mergulho, possui uma pista de motonáutica na barragem da Raiva e espaço aquático para se realizarem passeios de barco.” As descidas de rio em Kayak são também importantes para o desenvolvimento e divulgação deste território.

Deste modo, eventos turístico-desportivos como a Maratona BTT, a etapa da Taça de Portugal de Enduro na modalidade de Downhill, a prova de Trail Running “Penacova Trail do Centro”, o campeonato nacional de Rally e Kart Cross na pista da Serra da Atalhada, o encontro nacional de montanha entre outros, são atividades suscetíveis de organização de que fazem deslocar centenas de pessoas para o território de Penacova - reconhece o estudo.

Quanto ao levantamento de iniciativas é também referida a realização anual de “pelo menos onze eventos desportivos, dois de carácter local, dois regionais, seis nacionais e um internacional.”

No que diz respeito a outros eventos turísticos apontam-se “o festival Gerações, vinte e duas festas populares, quatro festivais e concursos gastronómicos, festas e romarias ou o mercadinho de natal.”

Para apoiar estas atividades, é referido, com base no Registo Nacional de Turismo, que se encontram “sedeadas em Penacova seis empresas de animação turística, duas agências de viagem e turismo e dois operadores marítimo-turísticos, com diversas atividades distribuídas por atividades de ar livre/aventura, atividades culturais/tour paisagístico e atividades marítimo-turísticas que fazem agitar o setor do alojamento.”

Caraterização do alojamento turístico no município de Penacova

Um outro aspecto de que nos são fornecidos alguns dados respeita aos alojamentos. Assim, “de acordo com o RNT, em Penacova existem quarenta e quatro Alojamentos Locais (AL), distribuídos pelas modalidades de moradia, apartamento e estabelecimento de hospedagem com capacidade total de trezentas e cinquenta e quatro pessoas.”- informa este estudo que estamos a analisar.

Outros dados:

- “Destas modalidades, a que apresenta maior número de registos é a moradia com trinta e cinco registos e capacidade para duzentos e vinte e nove utentes e a modalidade de apartamento têm com cinco registos e capacidade para trinta e nove utentes.”

- “Os estabelecimentos de hospedagem são apenas quatro, no entanto tem capacidade para oitenta e seis utentes. (Registo Nacional de Turismo).”

- “A nível de empreendimentos turísticos (ET), existem sete registos, distribuídos pelas diversas tipologias com capacidade para alojar quinhentos e catorze utentes. A tipologia com maior número de registos é a Casa de Campo com três registos, vinte e duas unidades de alojamento e capacidade para alojar quarenta e quatro utentes. Segue-se a modalidade de parque de campismo com dois registos, um com classificação de 3* e capacidade para cento e trinta e três utentes e outro sem qualquer tipo de classificação com capacidade para trezentos e três utentes, ou seja, ambos com capacidade total para quatrocentos e trinta e seis utentes. O empreendimento de turismo de habitação tem um registo com sete unidades de alojamento e capacidade para alojar catorze utentes. O hotel rural classificado com 4 estrelas tem dez unidades de alojamento com capacidade para vinte utentes (Registo Nacional de Turismo).”

- “Existem quarenta e quatro AL registados em Penacova e sete ET. A moradia é a modalidade de alojamento com mais registos, trinta e cinco no total, sendo que, em termos de ET, a tipologia que maior número de registos apresenta é a Casa de Campo.”

Em síntese, pode-se concluir que “Penacova possui acessibilidades, infraestruturas, recursos e atrações que potenciam o desenvolvimento de atividades turísticas, nomeadamente de turismo de natureza, desportivo e gastronómico com a realização de diversos eventos nestas áreas.

Podemos também afirmar que, em termos de alojamento, Penacova já possui uma oferta variada com capacidade para alojar 354 hóspedes nas diversas unidades de alojamento local, sendo a modalidade de moradia a que mais se destaca. Em termos de empreendimentos turísticos tem capacidade para albergar 436 campistas nos dois parques de campismo existentes e 78 hóspedes nos cinco empreendimentos turísticos registados.

Apesar da estada média em Penacova ser ligeiramente inferior à média da região centro, verifica-se que cresceu em dormidas e em receitas, no entanto tendo em conta os dados apresentados, não vai ao encontro do estabelecido na ET2027, onde se pretende crescer mais em receitas que em dormidas.”

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(1) O presente trabalho denominado “Práticas de Gestão Sustentável no Alojamento Turístico: o caso do município de Penacova”, com data de Dezembro de 2023, foi desenvolvido no âmbito do Mestrado em Turismo de Interior–Educação para a Sustentabilidade, ministrado na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra, por Hernâni José Oliveira Nogueira.

sábado, junho 01, 2024

Poetas penacovenses [15]: De olhar entristecido


De olhar entristecido


De sobrolho olho

O quintal do fundo

Com nozes, cebolas e couves tronchudas


Um pouco além

A quinta do mundo

Com ínsulas, videiras e abóboras carnudas


Bem a direito

O Rio sempre belo

Com moçoilas novas a dar ao marmelo


Mais pra lá

O oceano imundo

Com plástico apodrecido e peixes a boiar


Dizem mas eu não vejo

Que junto aos desertos das Áfricas

Há gente a correr no sonho de algo querer ter


Que se afunda

Assim que vê terra

E que luta com a água -e treme- antes de morrer


Luís Pais Amante

Casa Azul