sábado, abril 06, 2024
Penacova um olhar 1921 (II): as estradas, a indústria, a política...
Com o título “Monografia” e assinado por Bernardino Pereira, o Jornal de Penacova publicou em 1921 um artigo/crónica que nos dá uma imagem, nalguns aspectos curiosa, do nosso concelho no primeiro quartel do século XX. Damos hoje continuidade ao texto publicado há tempos:
Em 1921, um dos grandes “anseios” do concelho era a conclusão da estrada que devia “ligar esta região ao Luso para completar o tão desencantado triângulo de Turismo Coimbra - Luso – Penacova.” No entanto, esta via, apesar de faltarem alguns quilómetros para entroncar com o Luso, já ia servindo Galiana, Sobral, Casal, Casalito, Palmazes, Midões e Sazes.
As necessidades eram muitas. Enumera o articulista a urgência de “completar as estradas iniciadas”, proceder “a melhoramentos nos subúrbios” da vila, bem como “alamedas para promover excursões“. Contavam-se pelos dedos da mão as terras servidas por estradas: Oliveira, Rebordosa, Lorvão, Sazes e Penacova.
Outras obras a necessitar de resolução: “completar a ramada delineada em 1918 por Raúl Lino da Sociedade de Propaganda de Portugal e oferecida a este povo” e construir “um jardim público.”
No plano cultural é invocada a necessidade de “arranjar distrações” aos “briosos e cavalheirescos hóspedes.” Como propostas nesse sentido fala-se numa “casa de teatro ou cinematógrafo” e na criação de “uma boa filarmónica”.
Curiosamente, a questão do caminho de ferro ainda prevalecia por esta altura. “ A vila tem bastante comércio e mais teria, assim como as outras terras do concelho, se nela passasse a via férrea”.
Igualmente neste artigo são referidas as principais ocupações da população: “lavradores, barqueiros, comerciantes, madeireiros, fabricantes de telha, de cal, de palitos e de mós."
No plano industrial, salienta-se que é a “indústria paliteira” que “essencialmente caracteriza o povo do concelho de Penacova” e se exerce “com mais intensidade na grande freguesia de Lorvão”. Isto, porque “mulheres e crianças com a maior destreza e agilidade fabricam os tão conhecidos , higiénicos e apreciados palitos, tão desejados e usados pelas populações cultas do Velho e Novo Mundo.” São enaltecidos os “palitos de luxo, as facas especiais, garfos, rocas e elegantes sarilhos, tudo feito na mesma madeira dos palitos, devidamente ornamentada.”
As actividades transformadoras estendem-se, no entanto, a outros pontos do concelho. Refere-se a “Estrela d’Alva” e a “Empresa de Cal de Penacova”, bem como “diversos fornos de cal parda, fábrica de cartonagem de caixas para exportação [que seria em Chelo], fábricas de serração de madeiras, moagem, telha, tijolo, etc.”
No campo da política, o cronista tece, curiosamente, algumas considerações:
“A situação política é um tanto conservadora, habituada aos moldes antigos, e por isso é de parecer que politicamente alguma coisa tinha este concelho a aprender com outros concelhos do continente e até com a política de alguns concelhos vizinhos. Socialismo, democracia, República, são ideais ainda neste meio pouco conhecidos, que pairam no ar, sem terem encarnado em corpos de espíritos lúcidos.”
Causas de tudo isto?
“Pouco desenvolvimento da instrução e educação cívica, falta de unidade e coesão políticas, que devia imperar entre alguns elementos políticos avançados.”
(Continua)
UMA VISITA À QUINTA DE SANTO ANTÓNIO
terça-feira, abril 02, 2024
Poetas penacovenses (13): "Ai Cravo, Cravo ! " de Luís Pais Amante
Oh meu cravo vermelho
Minha flor do jardim em coração
Como é que todos te querem
Se não foste bem feito assim
Para te prostituir
Para te dividir
Ou mesmo para em pétalas te cindir?
Uns querem-te usado, usurpado
Outros preferem-te moldado
Mas és símbolo do Abril singelo
Incorruptível
Derrota do mau conselho
Símbolo da Democracia
Longe da demagogia
Cravo da cor do nosso sangue
Da Revolução em Povo
Do sofrimento exangue
Da luta contra a pobreza
Contra a arrogância
Contra as manigâncias
Contra a prepotência
E contra a preponderância
Da política do mal fazer
Com memória do nada ser
Este mês não podes ter outra função
Serás a flor de mais relevo
Aquela que se canta com enlevo
E que se poeta
Com sonho alerta
E vontade desperta
Por seres discreta, também, fraterna
Com tom sublime
Nobre e firme
Bom para exibirmos na nossa lapela
… em tom evocativo da Liberdade, bela!!
Luís Pais Amante | Casa Azul | 1Abr24; 7h10 | Na entrada do mês de Abril e dos 50 anos do aniversário da Revolução.
quinta-feira, março 28, 2024
Personalidades (3): Abel José Fernandes Ribeiro (1898-1962)
Abel José Fernandes Ribeiro nasceu no dia 23 de Novembro de 1898 em Arganil. Filho de José Ribeiro Mendes, industrial de marcenaria, e de Natalina de Jesus Fernandes, naturais e residentes na vila. Neto paterno de António Ribeiro Mendes e de Maria José Castanheira e materno de Manuel Fernandes e de Beatriz de Jesus Fernandes.
Fez o Curso Industrial em Coimbra no estabelecimento de ensino que a partir de 1951 adoptaria novas instalações e a designação de Escola Industrial e Comercial Brotero.
Quando já estava ligado à família da Estrela d’Alva (casara em 23 de Junho de 1919 com Maria da Natividade de Oliveira Coimbra, filha de Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra), adquiriu conhecimentos na área da cerâmica e viajou pelo país e estrangeiro para conhecer melhor os meandros técnicos e comerciais daquela indústria.
A imprensa regional, designadamente A Comarca de Arganil, aquando do seu prematuro falecimento (contava apenas 63 anos), destacou as suas qualidades organizacionais, intelectuais e técnicas, numa palavra, predicados de um “óptimo empreendedor”.
Na fábrica da Estrela d’ Alva levou avante um conjunto relevante de reformas e na fábrica de Taveiro, de igual modo “mostrou com vigor aquelas capacidades.”
Foi Presidente da Câmara Municipal de Penacova “prestando relevantes serviços ao concelho” em especial no domínio da electrificação, extinguindo os Serviços Municipalizados e fazendo um contrato com a Companhia Eléctrica das Beiras.
A nomeação para a Presidência da Câmara ocorreu a 12 de Dezembro de 1945. A seu pedido, foi exonerado em 15 de Fevereiro de 1950. Sucedeu a Alberto Alçada, seu cunhado, que exercia o cargo desde 17 de Fevereiro de 1939. Refira-se ainda que quem se lhe seguiu naquela presidência foi Francisco Rodrigues Martins.
Abel Fernandes Ribeiro, que já tinha o seu nome na toponímia de Taveiro, vai igualmente dar o nome ao arruamento que serve a antiga fábrica de cerâmica da Estrela d’ Alva.
Abel José Fernandes Ribeiro, ”um dos mais importantes e conceituados industriais desta região e antigo presidente da Câmara de Penacova”, para citar o título de A Comarca de Arganil de 3 de Julho, faleceu na Estrela d’ Alva no dia 30 de Junho de 1962. No seu funeral incorporaram-se muitas centenas de pessoas. Os seus restos mortais repousam no cemitério das Ermidas (S. Paio) em jazigo de família.
segunda-feira, março 11, 2024
“Do Mondego: notas históricas e culturais”: um texto de Nelson Correia Borges
Recordamos a intervenção proferida pelo Professor Doutor Nelson Correia Borges no âmbito do Colóquio “Mondego Vivo” realizado em Penacova a 21-01-2012, quando se lutava contra a construção da Mini Hídrica na zona do Caneiro. Um dos muitos excelentes textos históricos e literários deste nosso insigne conterrâneo.
“O Mondego não é apenas o mais importante dos rios nascidos em Portugal. É também o mais português por ter sido cantado por quase todos os grandes poetas portugueses.
O lirismo de que impregna a paisagem mondeguina desperta em quem o contempla a vontade de ser poeta. Ninguém o pode ver sem com isso sentir prazer. A poesia portuguesa está cheia de páginas vibrantes e sentidas, gravadas de forma imorredoura por quantos o têm cantado desde Luís de Camões a António Nobre, desde Sá de Miranda a José Régio. Bernardim Ribeiro, António Ferreira, Almeida Garrett, João de Deus, Soares de Passos, Antero de Quental, Gonçalves Crespo, Teixeira de Pascoaes, Camilo Pessanha, Afonso Lopes Vieira, Eugénio de Castro, Afonso Duarte, Campos de Figueiredo, Manuel da Silva Gaio, Fausto Guedes Teixeira, António Homem de Melo, Alberto de Serpa, Alberto de Oliveira, José Freire de Serpa, Miguel Torga, Manuel Alegre e tantos mais, celebraram cada um à sua maneira, as “doces e claras águas”, “entre choupais murmurando”, “os saudosos campos”, o “cristalino curso”, “os salgueiros a cantar”, as “falas mais tristes” do “lânguido Mondego”.
Orlado de encostas verdejantes e campos férteis, de frondosos laranjais com pomos de ouro e olivedos verde cinza, de salgueiros pendentes e choupos buliçosos, as suas águas, ao passar, murmuram desde há séculos a canção da beleza que não passa.
O grego Estrabão já se lhe refere, designando-o por Muliades. Munda ou Monda lhe chamaram os romanos, enquanto o árabe Edrisi descreve o rio que banhava Colimbria, dando-lhe o nome poético e sonhador de Mondik. E já num documento de 946 do Mosteiro de Lorvão surge a forma Mondeco, bem próxima da atual. Mas, nem uns nem outros foram os padrinhos, pois que a raiz da palavra (Mond-) é seguramente pré-romana.
O Mondego, esse rio que dessedentou celtas, romanos, godos e mouros, foi também a linha fronteiriça entre a cruz e o crescente, ao tempo da reconquista, a linha estrema, pontilhada de fortalezas – Seia, Penacova, Coimbra, Montemor-o-Velho -, onde Afonso Henriques veio estabelecer a capital do seu jovem reino. Castelos roqueiros, de pedraria talhada, como o de Penacova, dominando altaneiro os meandros do rio desde as Fragas de Entre Penedos às lonjuras da Rebordosa e de Louredo. Castros de pedra seca e terra batida alinhados na margem esquerda, eram sentinelas vigilantes do tráfego fluvial e de fossados e razias feitos por gente da moirama. Dois deles são referidos na demarcação dos limites feita em 1105 entre os monges de Lorvão e os homens do castelo de Penacova: o Castro de Cima de Louredo e o Castro Retundo em frente do Caneiro. Foram refúgio de camponeses e marcas dominiais, juntamente com outras rústicas fortificações ao longo deste nosso rio, de que apenas restam topónimos como Cabeço da Pedra, Castelo Viegas, ou vestígios arruinados como Torre de Bera.
Pachorrento e remansoso, o poético Mondego, afirmou-se a razão de ser e vida de toda a região, no passado. Não admira que por aqui tivessem florescido povos luso romanos nas terras que são hoje Penacova, Lorvão, Cheira, Chelo e tantas outras… O peixe abundava e povoava as suas ribeiras. Lembremos que as monjas de Lorvão tinham o privilégio da exclusividade da captura de trutas na sua ribeira e recebiam lampreias como pagamento de foros pelo povo da Rebordosa.
Impetuoso e brutal nas cheias súbitas de outros tempos, semeou muitos desesperos por entre esperanças geradas em torno de si. Quem não se lembra dele, engolindo as casas baixas da Rebordosa, dominando as várzeas marginais, transportando no seu dorso tudo quanto encontrava pela frente, subindo às laranjeiras e roubando-lhes os frutos dourados, ou transformando a baixa de Coimbra numa cidade lacustre?
Quantas memórias carrega consigo este rio, hoje domesticado e quase ignorado, das populações ribeirinhas, da cidade que lhe deve quase tudo e hoje praticamente lhe vira as costas !?
Mas o Mondego é um dom de Deus, um espetáculo da natureza. No concelho de Penacova tem talvez a sua página mais bela. Logo a jusante da confluência com o Alva surge a garganta de Entre Penedos, a Livraria do Mondego, muralha silúrica que do Buçaco se prolonga para a Atalhada e que o Mondego cortou – e o IP3 quase destruiu. Então alarga-se o vale, até aí mais angustiado. O rio está na sua plenitude iniciando a ação de depósito: são as férteis várzeas de Penacova, cujo vetusto morro do castelo e as águas sussurrantes contornam. Carvoeira, Ronqueira, Rebordosa, Caneiro, são pitorescos povoados que devem a sua existência e o nome à faina fluvial. Raiva, Ronqueira, têm a ver com a torrente caudalosa em épocas de invernia. Carvoeira, com a matéria-prima que daqui enchia as carvoarias de Coimbra, transportada nas barcas serranas. Rebordosa e Louredo são nomes ligados à flora das suas margens… Caneiro, a paliçada que os monges de Lorvão mandaram colocar no rio para apanha de peixe.
E o Mondego lá segue em meandros, a contornar as atalaias poderosas dos montes marginais, por entre vertentes de pinheiros, eucaliptos e oliveiras, entremeados de urzes, tojo, giestas e rosmaninho, hoje em vias de desaparecer das nossas encostas… Aqui e ali recebe idílicas ribeiras, talvez as musas inspiradoras das Ribeiras do Mondego, do poeta seiscentista Elói de Sá Sotto Maior – Abarqueira, Lorvão, Arcos, Vale Bom -, ou riachos que no inverno chuvoso se despenham em rugidoras torrentes…
Mas o Mondego foi, principalmente, desde tempos imemoriais, uma importante via de comunicação. Por ele circularam pessoas, mercadorias, obras de arte, coisas simples, novidades, ideias… Nas suas águas, passaram jangadas de madeiras para construção. Assim foi com os imensos troncos de castanho vindos da Mata da Margaraça em carros de bois até ao Porto da Raiva, daí seguindo a estrada fluvial até Coimbra para serem esculpidos nas monumentais colunas barrocas do retábulo-mor da Sé Nova. Assim foi também com os toros de castanho vindos da mesma Mata da Margaraça para construir o dormitório do Mosteiro de Lorvão e com muitos outros lenhos necessários à vida do grande complexo monástico. Poderia este mosteiro ter alcançado a grandeza que teve sem o Rio Mondego? Talvez. Mas lá que ajudou, não há dúvida. As grandes obras, como as grades do coro, os toros de pau-preto para o cadeiral, a pedra de Ançã para as capelas do claustro, vieram em barcas até ao porto da Granja do Rio, donde seguiram para o recôndito vale, e muitas outras teriam feito o mesmo percurso.
O assoreamento progressivo foi reduzindo as possibilidades de navegação, exigindo barcos de pequeno porte: as barcas serranas, para as cargas, e as bateiras ou barcos do lavrador, mais móveis e utilitários.
Se o Sado, o Tejo, o Lima, o Douro ou a Ria de Aveiro acolheram as embarcações que se tornaram uma imagem de marca, o Mondego não lhes ficou atrás com as barcas serranas que ainda há mais de meio século lhe sulcavam as águas, com as suas largas velas dilatadas pelo vento. Eram barcos compridos e estreitos, de fundo chato, como uma grande canoa primitiva, desenvolvida e aperfeiçoada. Quando não havia vento, ou este era contrário, a navegação fazia-se à vara e muitas vezes à sirga, mas a complementação destes processos era frequentemente comum.
Outrora o trânsito no Mondego era intenso. Todo o sal e grande parte do peixe consumido no interior das Beiras eram transportados desde as salinas de Lavos e da barra de Buarcos até ao Porto da Raiva ou à Foz do Dão, donde os almocreves os levavam. Na descida do rio as barcas serranas traziam vinhos, batatas, frutos, madeiras, carvão, carqueja e os mais diversos produtos, como a roupa das lavadeiras ou os palitos, que se destinavam a Coimbra ou à exportação pelo porto da Figueira.
Passageiros aproveitavam as barcas para se deslocarem, sobretudo para a beira-mar durante a época estival.
Até a Bairrada tirava enorme proveito do tráfego fluvial, fazendo exportar os seus produtos agrícolas, principalmente os afamados vinhos, pelo Porto do Rol, na Vala de Ançã. Por aqui saíram também, em bruto, toneladas de pedras de Ançã, que chegaram tão longe quanto Santiago de Compostela.
No Verão todo o rio se agitava de vitalidade. Aqui e além eram as noras a chiar, vazando os alcatruzes para a rega das ínsuas. Os caneiros ou paliçadas de estacaria, que desviavam a água para elas, interrompiam por vezes a navegação, pelo que os barqueiros, ao aproximar-se, vinham gritando de longe: Ó da roda!..., para que lhes abrissem a passagem. Por todo o lado, as lavadeiras tagarelavam e pintalgavam as areias, de roupa estendida a corar. Às vezes metiam-se com os barqueiros, chacoteando-os com a dificuldade da passagem na Pedra Aguda. Mais além um pescador solitário concentrava as suas energias na captura de peixe em que o rio era fértil, com destaque para a apreciada lampreia. Acolá era uma azenha temporária, montada durante a estiagem, quando a água era pouca nas ribeiras e levadas.
E havia o prazer de gozar o rio, com tudo o que ele tinha para dar. Assim surgiram as praias fluviais de Coimbra, pelos anos 20 a 40 do século passado, sofisticadas, com passadiços, toldos, chapéus e piscina. À noite, deixaram memória as serenatas no Mondego, em barcas serranas, feitas por tricanas e futricas, que os estudantes, esses de há muito cantavam pelas suas margens fados e baladas, ao desafio com rouxinóis. Este costume das serenatas mondeguinas estendeu-se também a Penacova, já que as ligações à cidade eram imensas e naturais.
Hoje, reduzido à sua função primitiva, invadido pela vegetação marginal, disciplinado para bem da agricultura, mas muitas vezes ignorado pelos que se deviam preocupar com o desenvolvimento das suas potencialidades, e agora na eminência de sofrer mais uma agressão que o desfigurará, o Mondego continua a ter os seus amigos e fiéis admiradores, que continuam presos dos seus encantos e outros que durante o Verão o continuam a desfrutar.
E enquanto os povos das suas margens cantarem canções tradicionais, ele continuará a ser lembrado e vivido, pois em quase todas ele está presente, como elemento fundamental de uma cultura.”
sexta-feira, março 08, 2024
Poetas penacovenses (XII): "Tanto caminho..." - Poema de Luís Pais Amante
Só vejo pela frente
Um caminho longo
Que me põe dormente
Caminho feito à mão
E na medida da dor
O Espaço é pequeno
E gira sereno
Nas perspectivas da vida
As pedras a sobressaírem
Dificultando a caminhada
As árvores refilando
Por lhes não darem nada
E eu
A olhar pra mim sem esperança
Carregada de problemas demais
De circunstâncias reais
Pensando:
“Tanto caminho por percorrer”
Luís Pais Amante
Telheiras Residence | 23Set23; 10h45
A olhar para uma pintura em acrílico sobre tela, da Minha Amiga Ana Paula Campos.
sábado, março 02, 2024
Soou o alarme: Por que deixaram de entrar as lampreias nos nossos rios?
Organizado pelo Município de Penacova, Confraria da Lampreia de Penacova e Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade de Évora, realizou-se no dia 24 de Fevereiro um colóquio que procurou responder à interrogação “Por que há menos lampreias nos nossos rios?”.
Poucos dias antes a Câmara Municipal noticiara que o Festival da Lampreia de Penacova, que se vinha realizando há 25 anos, tinha sido cancelado.
“Devido à escassez de lampreia, município e restaurantes decidiram cancelar o evento previsto para esta altura. Foi uma decisão ponderada por todos. Com as atuais condições de escassez de lampreia e preços elevadíssimos era impossível satisfazer todos os apreciadores deste prato”- informam as páginas oficiais do município.
O referido colóquio “juntou a comunidade científica, associações de pescadores de vários pontos do país, autarcas, empresários da restauração e autoridades marítimas.”
Associação de Pescadores Profissionais do rio Minho, Associação dos Pescadores Profissionais da Figueira da Foz, Associação de Pesca de Aveiro, Empresa Irmãos Norinho, alguns Restaurantes de Penacova, Restaurante O Gaveto (Matosinhos), Emílio Torrão (Presidente da CIM-), Raposo de Almeida (da Universidade de Évora), Carlos Fonseca (Biólogo), Fábio Nogueira (Mordomo-Mor da Confraria da Lampreia) e, naturalmente, Álvaro Coimbra (Presidente da Câmara Municipal), foram algumas das individualidades e instituições presentes.
Afirmou Álvaro Coimbra que há “evidências mais do que suficientes para constatar que se trata de um problema muito sério que afeta todo o país e para o qual é necessário agir de imediato.” De acordo com dados oficiais em 2014 atravessaram a passagem para peixes na Ponte Açude de Coimbra 21 967 lampreias, ao passo que no ano 2023 aquele número decresceu drasticamente para 1508 indivíduos, recordou o autarca.
Perante esta realidade, observou Álvaro Coimbra que o que é mais preocupante é “o declínio da espécie”. Há pois que “perceber as razões que conduziram a este estado de coisas e sobretudo ajudar a encontrar respostas”, salientou, afirmando igualmente que ”não podemos continuar a assistir passivamente ao desaparecimento gradual da lampreia nos nossos rios. Chegou o momento de ouvir os especialistas e propor medidas para a sua protecção [...] Penacova tem essa responsabilidade e é essa a razão de estarmos aqui.”
“Este colóquio – explicitou - surge com o propósito de “dar um sinal de alerta, traçar um quadro real do actual estado da espécie, diagnosticar problemas ouvindo os especialistas, os pescadores, os empresários da restauração, os autarcas, as autoridades com responsabilidade neste tema, e encontrar caminhos que conduzam a uma salvaguarda da lampreia.”
Por sua vez, Emílio Torrão, Presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (e Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho), manifestou-se “solidário com os Presidentes de Câmara que têm a coragem e ousadia de tomar decisões difíceis e muito sensíveis.” Referiu ainda, a dado momento da sua intervenção, que “o problema da lampreia não é só o de perdemos um produto endógeno da gastronomia”, pois ”a lampreia tem muito mais valor que o valor gastronómico.”
“A lampreia não é só uma espécie que tem um valor gastronómico incrível, que é um fenómeno, mas é uma espécie que tem um importante papel a desempenhar […] no habitat, na saúde e na sobrevivência do próprio ecossistema, nos moldes em que ele se desenvolveu”- precisou.
Durante o período de debate, referindo-se aos pescadores, o Presidente da CIM sublinhou que estes “têm que querer fazer parte da solução” e que “o facto de se fechar a pesca comercial nos rios não quer dizer que deixam de ter rendimento”, dando o exemplo da “transumância” que é possível fazer também neste campo. “Sois os maiores vigilantes dos rios” – destacou. Além disso, frisando a importância dos profissionais, foi peremptório, afirmando que “os free lancers tem que acabar!”
O Mordomo-Mor da Confraria da Lampreia, Arquiteto Fábio Nogueira, usou da palavra a terminar o encontro, para, além de outros aspectos, sublinhar que uma confraria como a Confraria da Lampreia “para além defender o prato, tem o dever de ir mais além, deve salvaguardar e defender o ecossistema do Rio Mondego, em particular a Lampreia, sendo uma voz activa na sua defesa”, recordando que “desde a sua fundação está envolvida na promoção e conservação da natureza e da biodiversidade”, tendo-se afirmado sempre como “uma voz activa na defesa do Rio Mondego, estando presente em várias iniciativas.”
Prosseguiu, anunciando que a Direcção da Confraria da Lampreia decidira propor na Assembleia Geral de 1 de Março que a realização do Capítulo apesar de decorrer “nos moldes normais dos anos anteriores” apresente uma “ressalva”: a lampreia não ser incluída no almoço deste ano. Esta posição entronca na necessidade de “salvaguardar” a espécie “que está na génese fundadora” da Confraria.
“Não podemos ficar indiferentes à agenda da ecologia e defesa ambiental” e, nessa medida, nos próximos anos o habitual Capítulo da Confraria “terá de ser repensado”- acentuou.
O Professor Catedrático (Biologia) da Universidade de Évora, Pedro Raposo de Almeida, apresentou uma comunicação rica de informação, plena de sensibilização, mas também de crítica. Começou por afirmar que “ao contrário de outros problemas […] nós sabemos o que é que temos que fazer. A única coisa que temos que concordar é estarmos todos orientados para o mesmo objectivo.”
“É um problema que leva 8 a 10 anos a resolver – prosseguiu - se não houver surpresas. E estas vêm ou da nossa administração (quem tem responsabilidade na gestão dos recursos das nossas bacias hidrográficas) ou (e isso nós não podemos controlar de maneira nenhuma) daquilo que são as vicissitudes da natureza.”
Sobre a extinção da lampreia (neste caso, da lampreia marinha) reconhece que, de facto, “pode desaparecer de algumas bacias hidrográficas, pode rarear aqui no Mondego, mas ela (que tem quase 300 milhões de evolução) não se vai extinguir. Aquilo que se vai extinguir é toda a actividade cultural e comercial à volta da espécie.”
A intervenção de Raposo de Almeida foi acompanhada de diversas imagens e infografias deveras elucidativas. Falou do ciclo de vida da lampreia marinha que tem a particularidade de ter uma fase em água doce e outra no mar, assumindo pelo meio um período em que faz uma metamorfose.
“As larvas vivem enterradas nos sedimentos dos rios, nas areias, durante cinco anos – explicou. Não é móvel, permanece nos mesmos locais, formando os leitos de amocetes. Fica extremamente vulnerável a qualquer intervenção que se faça no leito do rio.”
Neste sentido teceu contundentes críticas ao que “aconteceu no ano passado, aqui no Mondego, com aquela intervenção feita pela APA. Fizeram uma regularização, aqui a jusante de Penacova e junto ao Ceira, onde havia grandes leitos de amocetes. Basicamente, entraram e limparam tudo! […] Cada vez que se faz isso, digo aqui olhos nos olhos, recuamos dez anos!”
“Por que não entram nos nossos rios [as lampreias]? Por que não estão no mar? Porque não saíram! Não há larvas, não há adultos! Não há adultos, não há larvas!”
Sobre a escassez generalizada na Europa, referiu que não há lampreia em Portugal, mas também não há em Espanha e de igual modo não há em França! É convicção sua que a proibição da pesca na região de Bordéus é sinal claro que existe uma grave crise, pois “quando se fecha a pesca significa que temos um problema muito sério!”
Uma das muitas causas é a mortalidade por pesca. Ora, em Portugal “temos que reduzir a mortalidade por pesca.[…] E é já para o ano! […] Na minha opinião este ano já a devíamos ter fechado.”- não hesitou em afirmar.
A intervenção do Professor Raposo de Almeida foi bastante completa e assertiva. No sentido de deixar um pouco mais de informação aos leitores, transcrevemos alguns dos conteúdos dos diapositivos que foram apresentados e devidamente comentados.
Causas para o declínio populacional
Mar
a) Aumento da mortalidade natural (escassez de presas, alteração padrão das presas preferenciais, predação). A este nível muito pouco se sabe, alguns estudos estão em curso. OBS: Neste colóquio foi também apresentado em síntese o Projecto DiadSea- Cooperação transnacional para melhorar a gestão e conservação dos peixes diádromos no mar, coordenado pela Universidade de Évora.
- Mortalidade por pesca e captura ilegal
- Deterioração da qualidade do habitat ( por ex. regularização do leito do Mondego, incêndios)
- Perda do habitat ( e.g. Ponte Açude, Rio Novo do Príncipe ( Vouga))
- Efeitos sub-letais (e.g. osmorregulação, migração, sucesso reprodutor, provocado por poluentes emergentes
- Doenças
- Predação por espécies exóticas (e.g. Peixe gato europeu no Tejo).
Soluções para a recuperação da população de lampreia marinha
Mar
- Colmatar as lacunas de conhecimento relativamente a esta fase do ciclo de vida da lampreia
Estuários e rios
- Reduzir a mortalidade por pesca (paragem total em sistema rotativo entre rios, durante os próximos 10 anos; proibição total no Guadiana)
- Implementar um programa de monitorização robusto
- Generalizar o uso do selo de origem
- Banir a captura ilegal (reforço da fiscalização, controlo restaurantes /ASAE)
- Restaurar habitat (e.g. eliminar barreiras obsoletas – por ex. açude Louredo, construção de passagens para peixes, evitar regularizações destrutivas)
- Implementar programa de translocação de lampreias adultas
- Avaliar a existência de efeitos sub-letais (e.g. osmorregulação, migração, fecundidade) provocado por poluentes emergentes
- Despistar a existência de doenças
- Controlo de espécies exóticas (e.g. peixe gato europeu no Tejo)
domingo, fevereiro 25, 2024
Exposição sobre António José de Almeida no Palácio de Belém até 31 de Março
Apesar de muitas contrariedades, principalmente relacionadas com a viagem por via marítima, que fizeram atrasar a data prevista para a chegada, António José de Almeida manteve o sentido de Estado e acabou por ser recebido apoteoticamente por milhares de pessoas, tendo as entidades oficiais e civis lhe prestado significativas homenagens.
Os discursos de António José de Almeida arrebataram plateias, atestando, perante os brasileiros, a fama de grande orador. A viagem, observam alguns historiadores, ficou marcada, mais pelos afectos do que por reais proveitos políticos, já que do ponto de vista oficial apenas três tratados de pouca relevância foram assinados.
Esta viagem ao Brasil do Presidente António José de Almeida mereceu especial atenção do Museu da Presidência da República que desde Agosto tem patente uma exposição não apenas sobre a viagem em si, mas também sobre a Vida e a Obra do Estadista.
Cerca de 200 peças da coleção do Museu, mas também de museus nacionais e de colecionadores privados – algumas delas recebidas e expostas no Rio de Janeiro, há 100 anos –, trazem ao presente aquela «viagem gloriosa», lembrando também o percurso pessoal de António José de Almeida, desde a terra que o viu nascer, Vale da Vinha, em Penacova, até ao monumento que o homenageia, em Lisboa.
A exposição encerra no dia 31 de Março. Ainda está a tempo de a visitar. Já o fizemos e recomendamos vivamente.
segunda-feira, fevereiro 19, 2024
Governadores Civis (5): Luís Duarte Sereno (1863-1948)
GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA
ou ao concelho ligados por casamento
Luís Duarte Sereno, filho de Joaquim Duarte Sereno, negociante, e de Carolina Augusta de Almeida, “lavradora”, nasceu em Bustos no dia 21 de Janeiro de 1863.
Foi no exercício das funções de magistrado que conheceu Penacova e Maria Pureza Correia Leitão, filha o Conselheiro Alípio Leitão, com quem viria a casar em 1893.
Formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, em 2 de Julho de 1887. De imediato foi colocado como Juiz Municipal em Albergaria-a-Velha, tendo em 1888 pedido a transferência para Vagos. Seguiu-se Penacova, para aqui ocupar o lugar de Delegado do Procurador Régio, assumindo-se como “magistrado austero no cumprimento dos seus deveres”.
O seu elegante “chalet”, em Santo António, aparece em fotografias de 1909, por exemplo na Revista “Serões” e era considerado, a par do palacete de Joaquim Augusto de Carvalho, um dos ex-libris de Penacova.
Durante muitos anos esteve à frente da Misericórdia, como Provedor, ocupando esse cargo na altura em que foram negociadas, com Bissaya Barreto e a Junta da Província da Beira Litoral, as condições para a construção do Preventório e do Hospital.
Esteve também ligado à Conferência de S. Vicente de Paulo que durante alguns anos funcionou na vila.
Em 1915, foi Governador Civil de Coimbra durante o Governo de Pimenta de Castro, num período muito conturbado da vida política. O elenco governativo fora nomeado pelo presidente Manuel de Arriaga sem a sanção do Congresso da República e durou apenas de 25 de Janeiro a 14 de Maio.
De acordo com informação do “Notícias de Penacova” o Dr. Guilherme Moreira, que era Ministro da Justiça, convidara-o para Governador Civil de Coimbra.
O Conselheiro Luís Duarte Sereno faleceu em Penacova no dia 23 de Fevereiro de 1948. Eugénio Mascarenhas Viana de Lemos, Governador Civil, fez-se representar no funeral pelo Delegado Policial do concelho de Penacova. Acompanharam o cortejo fúnebre até ao jazigo de família no Cemitério da Eirinha, as Irmandades do Santíssimo e de Santo António, a Cruzada Eucarística e as Crianças do Preventório.
sexta-feira, fevereiro 16, 2024
Caso da “serial killer” Luiza de Jesus vai ter documentário na RTP2
A seguir à projecção do filme/documentário numa das salas daquele teatro do Largo de Santos, o numeroso público presente teve oportunidade de dialogar com os principais intervenientes neste trabalho que tem a participação especial (voz) de Maria do Céu Guerra.
O documentário que recorre à animação 3D é intercalado com diversas intervenções desde a historiadora da Universidade de Coimbra, Maria Antónia Lopes, passando pela jornalista que no Expresso (2016) tratou o assunto, Anabela Natário, até à autora do romance histórico “A Assassina da Roda”, Rute Serra, que em 7 de Março de 2020 esteve em Penacova para apresentar este seu livro.
Recorde-se que Luíza de Jesus ia buscar crianças de tenra idade à Roda dos Expostos, gerida pela Misericórdia de Coimbra, matando-os a seguir, presumivelmente para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis que eram atribuídos em troca da amamentação e criação até aos 7 anos. Corria o ano de 1772. Encontraram-se os cadáveres de trinta e três bebés. Confessou ter garrotado vinte e oito por suas próprias mãos! Foi condenada à morte. Atenazada pelas ruas de Lisboa, cortaram-lhe as mãos em vida, foi garrotada e queimada.
[Veja AQUI algumas das publicações do Penacova Online sobre o caso Luiza de Jesus]
Por sua vez, a autora adaptou a obra para o palco. O monólogo encenado e interpretado por Maria Henrique, teve como título 'Luiza de Jesus - A assassina da roda' e esteve em cena no Teatro da Trindade INATEL de 29 Abril a 30 de Maio de 2021.
Também o TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra) apresentou em Maio de 2023 uma criação colectiva com direção de Cristina Valente (dramaturgia de Ana Sousa, Catarina Martins, Cristina Valente, Daniela Proença, Kelly Veloso, Si Masseno e Tatiana Almeida, sendo a interpretação de Ana Sousa, Catarina Martins, Daniela Proença, Kelly Veloso, Si Masseno e Tatiana Almeida) com o título “33 – Seis Faces de Luísa”. Saliente-se que este trabalho, baseado na história da ‘serial killer’ portuguesa, natural de Figueira do Lorvão, foi igualmente apresentado em Penacova no dia 13 de Junho de 2023.
Segue-se agora, como referido acima, o excelente documentário a passar por estes dias na RTP2. Fique atento. Recomendamos vivamente.
quarta-feira, fevereiro 14, 2024
Centro Interpretativo do Palito vai abrir em Lorvão
Museu da Ciência da UC cede peças ao novo Centro Interpretativo do Palito
Os objetos, na grande maioria, relacionados com a temática dos palitos, vão fazer parte do espaço expositivo situado na Casa do Monte, no centro histórico de Lorvão.
O novo Centro Interpretativo, com abertura prevista para este ano, terá várias salas dedicadas à história dos palitos, desde a sua origem no secular mosteiro, à manufatura que se disseminou pela população, até ao aparecimento de várias empresas, sobretudo na freguesia de Lorvão.
Do conjunto de peças cedidas pelo Museu da Ciência fazem parte inúmeros paliteiros, de várias formas e materiais, peças de cestaria e outros utensílios utilizados no processo de manufatura do palito.
O protocolo de cedência das peças foi assinado pelo diretor do Museu da Ciência, Paulo Trincão e pelo presidente da Câmara de Penacova, Álvaro Coimbra. Na ocasião, o autarca sublinhou a importância deste acordo – “quero agradecer ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, na pessoa do seu diretor, Paulo Trincão a abertura demonstrada para a cedência deste conjunto de objetos que vai, sem sombra de dúvida, enriquecer a coleção do novo Centro Interpretativo do Palito.”
O novo núcleo museológico vai surgir na Casa do Monte, no centro histórico da vila de Lorvão, edifício do século XVIII que terá servido como casa de hóspedes do mosteiro. No seu interior vão surgir várias salas dedicadas à história do palito, desde o século XVII até, praticamente, aos nossos dias.
O investimento superior a duzentos mil euros foi financiado através de candidatura do município à AD ELO – Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego.
FONTE:
https://www.gazetarural.com/museu-da-ciencia-da-uc-cede-pecas-ao-novo-centro-interpretativo-do-palito/
sábado, fevereiro 10, 2024
Governadores Civis (4): Júlio Ernesto de Lima Duque (1859-1927)
GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA
OU AO CONCELHO LIGADOS POR CASAMENTO
A sua vida repartiu-se pelo concelho de Penacova onde casou e teve destacada intervenção política, por Coimbra onde estudou e fez carreira de militar - médico e por Lisboa onde teve assento no Congresso da República e foi Ministro.
Estudou Medicina na Universidade de Coimbra, vindo a concluir o curso em 1886 indo logo exercer funções como facultativo do partido médico de Farinha Podre durante um curto espaço de tempo.
Pouco depois ingressou no Exército, na arma de artilharia, onde foi cirurgião - militar: tenente, 1889; capitão, 1897; major, 1911; tenente-coronel, 1911 e coronel em 1917. Passou à reserva em 1925. No início da carreira, prestou serviço em Moçambique. Ocupou o cargo de Inspector de Saúde junto da 5.ª Divisão. Foi Director do Hospital Militar de Coimbra e Presidente da Junta de Saúde daquela cidade.
Foi Governador Civil de Évora de 26 de Junho de 1904 a 2 de Maio de 1905. Iniciara a vida política de âmbito nacional em 1898 como deputado do Partido Progressista pelo círculo de São Pedro do Sul. Foi ainda deputado pelos círculos de Penacova em 1899 e 1900; por Arganil em 1901; por Lamego em 1904 e por Viseu em 1905. Em 1910 ainda se candidatou por Arganil, mas a eleição não foi validada até ao 5 de Outubro.
Foi um poderoso influente eleitoral na região de Penacova e Poiares. Na fase final da Monarquia abandonou os progressistas e procurou o apoio de diversos partidos para acautelar a sua eleição e influência local. Após o 5 de Outubro manteve durante algum tempo os ideais monárquicos, tendo participado na revolução monárquica de 27 de Abril de 1913, em virtude da qual foi preso.
Posteriormente, aderiu à República e filiou-se no Partido Republicano Evolucionista. Foi dirigente concelhio em Penacova desta formação política fundada por António José de Almeida, sendo também presidente da Junta Distrital.
Mais tarde, alinhou na ala conservadora da República aderindo ao Partido Republicano Liberal (1919-1923) e depois ao Partido Republicano Nacionalista (1923).
Foi Presidente da Comissão Distrital de Coimbra do PRL e foi eleito membro substituto do Directório daquele partido em 1922.
Foi substituto do Directório e Presidente da Comissão Distrital de Coimbra do PRN em 1923. Em Dezembro esse ano fez parte do efémero «Directório Sombra» do PRN (grupo pró-Álvaro de Castro) e aderiu à facção dissidente liderada por aquele político, inscrevendo-se no Grupo Parlamentar de Acção Republicana.
Durante a República foi também Senador. Pela primeira vez em 1915-1917 por Leiria e em 1919-1921, representando Portalegre. Em 1921-1922, 1922-1925 e 1925-1926 voltou a ser Senador, desta vez por Viseu. Em 2 de Dezembro de 1922 foi eleito 2.º vice-presidente do Senado.
Foi ministro do Trabalho em quatro ocasiões: 19 de Julho a 20 de Novembro de 1920; 24 de Maio a 30 de Agosto de 1921; 30 de Agosto a 19 de Outubro de 1921 e 18 de Dezembro de 1923 a 6 de Julho de 1924.
Em 1901 foi um dos fundadores do Jornal de Penacova onde se destacou como articulista polémico. Teve uma vasta colaboração na imprensa, escrevendo em diversos jornais e revistas: Coimbra Médica, Revista Académica de Coimbra, Imparcial de Coimbra, Elvense, O Dia, Correio da Noite, Novidades, Jornal da Noite, Medicina Militar e A Província (jornal do Partido Evolucionista) do qual foi director.
As celeumas com o periódico A Folha de Penacova, jornal regenerador, atingiram por vezes foros de grande agressividade. A Folha chamou-lhe solípede, duque de copas, amigo de Peniche. Por essa época Lima Duque encetou intensa campanha pela destituição de Alfredo de Pratt, administrador concelhio, o que veio a suceder. De novo a A Folha contra-ataca e desmonta as ''jogadas'' da política local, de feição progressista.
S. Pedro de Alva, onde iniciou a sua carreira de médico, teve para com ele uma consideração especial. Em 1916, no jornal “Ecos de S. Pedro de Alva” é referido como ''ilustre amigo de S. Pedro de Alva'' e apontado como um dos grandes promotores, enquanto deputado, dum melhoramento há muito reivindicado: o Chafariz daquela localidade.
O seu pai, José Gomes Duque, foi dono da “Farmácia Duque” em Penacova e neste concelho ocupou o cargo de Administrador (1888) e Vice-Presidente da Câmara (1896).
Na Mata, na casa onde nasceu, encontra-se a seguinte lápide com os dizeres:
Júlio Ernesto de Lima Duque faleceu na sua casa da Cumeada (zona da Av. Dias da Silva, em Coimbra) a 12 de Março de 1927.
sexta-feira, fevereiro 09, 2024
Dar (mais) vida a Lorvão: Recital no Mosteiro
Rafael Nunes (Acordeão) interpretou Iduna (2°and.) de C. Duque, Aztarnak de R. Lazkano e a Sinfonia N°1 de V. Bonakov (Maestoso II - Adagio - Allegro III - Grave IV - Andantino Allegro non troppo)
Por sua vez, o duo Rafael Nunes e Bruna Sousa executou obras de Chain (S. Kaczorowski) e de M. Zimka (Sonata para violino e acordeão: I - Allegro Moderato, II - Adagio Espressivo e III - Allegro Vivace.
O Duo Impromptu, constituído como se referiu, por Bruna Sousa no violino e Rafael Nunes no acordeão, é formado por antigos membros do Trio Voci, galardoado com o 1° Prémio na Categoria F - Música de Câmara Nível Superior, na décima sexta edição do Concurso Folefest. Este Duo surge no ano de 2023 na Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART), no âmbito da disciplina de Música de Câmara sob orientação do professor Paulo Jorge Ferreira.
quinta-feira, fevereiro 08, 2024
Penacova um olhar 1921: características, anseios, necessidades (I)
À época, Penacova enquadrava-se no conjunto dos concelhos de 2ª ordem e das comarcas de 2ª classe, agregando, em termos judiciais, o “novo” concelho de Vila Nova de Poiares. O concelho de Penacova, estendendo-se por uma área de 193 Km2 era formado por 11 freguesias: “Nossa Senhora da Assunção” (sede), Lorvão, Sazes de Lorvão, Carvalho, Travanca, S. Pedro de Alva, Oliveira do Mondego, “S. Paio de S. Pedro de Alva”, Paradela e Friúmes. Confrontava, tal como hoje, com Santa Comba Dão, Tábua, Arganil, Vila Nova de Poiares, Coimbra, Mealhada e Mortágua, concelhos com quem estabelecia “relações sociais e comerciais, transmitindo e recebendo influência psíquica regional, reciprocidade de novos sentimentos e costumes.”
Vejamos a apreciação feita sobre as estruturas turísticas: “tem dois hotéis, insuficientes para conter com as devidas comodidades, os seus hóspedes no Verão; nesta época os forasteiros são aos milhares, que aqui vêm veranear e repousar. Vêm de Coimbra, Figueira da Foz, Lisboa e outras terras de Portugal e do Estrangeiro.”
Sobre as actividades económicas é referido o seguinte quanto à agricultura: “O terreno não pode ser considerado como o mais fértil – refere Bernardino Pereira – mas está longe de ser estéril”: tem muitos terrenos regados pelos rios, veigas entre pinhais, em estreitos vales, nas encostas e nos planaltos dos seus montes, “alimentando cerca de 6 000 famílias, isto é, perto de 20 000 dos seus habitantes. Em “géneros alimentícios não é muito abundante” pelo que “tem de importar milho, trigo, vinho, batata, feijão“ e outros produtos.
Pelo contrário, em termos de comércio, exportava “palitos em grande quantidade, cal parda, madeiras, lenha e telha.”
Num registo, de algum modo “romântico”, o cronista salienta que o concelho de Penacova “exporta para o Brasil e para outras partes, braços de camponeses robustos e morigerados”; exporta também “música, flores e seus perfumes”, pelos seus “admiradores e forasteiros envia a saúde do corpo e principalmente do espírito”, bem como “o retemperamento das forças perdidas, com ares salubérrimos das proximidades do Bussaco e com uma relativa economia.”
Enaltecendo as personalidades ilustres do concelho, sublinha B. Pereira que “desta terra abençoada têm saído lentes e sábios notabilíssimos e oradores dos mais distintos.”
“Quem não conhece o grande orador Alves Mendes, quem se não verga respeitoso e submisso perante esse vulto eminente da República, nobre e sublime, muito grande para um país tão pequeno; quem não rende as devidas homenagens ao maior vulto que tudo sacrifica ao bem da Pátria – o nosso venerando Chefe de Estado?”
(Continua)
domingo, janeiro 28, 2024
Encontro com a escritora Elisabete Pinho na Biblioteca Municipal
O apontamento cultural contou com a presença da vice-presidente da Câmara Municipal de Penacova, Magda Rodrigues, que saudou a escritora e a felicitou pela sua já significativa obra.
Lamentando não ser possível no próprio hotel, Elisabete Pinho agradeceu a receptividade para ser apresentado na Biblioteca e confessou que alimentara o sonho, “o desejo secreto de poder apresentar o livro no local onde ele nasceu”.
Falando da sua trajectória literária, referiu que decidira “começar a escrever textos sem qualquer pretensão”, passando apenas para a escrita “aquilo que lhe ia na alma”. Entretanto um colega, poeta e escritor, lançou-lhe o desafiou para escrever algo mais estruturado. Depois de ler e “sem ela saber” enviou o original para algumas editoras, tendo, passado algum tempo, surgido o interesse em publicarem. “Assim em 2017 surge o primeiro livro, depois o segundo e o terceiro. Foi este 3º livro que realmente “fez pensar mesmo: é isto que quero começar a fazer!” O concurso para autores, que venceu, num universo de cerca de 250 trabalhos, foi, sem dúvida, um estímulo importante.
Sobre o mais recente trabalho O Pêndulo e a sua relação com o nosso concelho, Elisabete Pinho explicou como este romance nascera precisamente aqui em Penacova: “Encantei-me por este concelho quando vim aqui fazer uma visita há alguns anos. Estava na moda tirar fotos a locais abandonados e que tivessem a fama de assombrados”. Contou que ao pesquisar na Internet lhe tinha aparecido o Hotel Palacete do Mondego no Monte da Senhora da Guia, que antes tinha sido um Preventório. Além das fotos e das espreitadelas que deu àquele espaço abandonado, ficou encantada com “a vista fantástica sobre o Mondego” e por ela se “apaixonou”.
O impacto de tudo isto foi decisivo: “A partir daquele momento não me saía da cabeça a pergunta: como é que alguém abandona um local como este? Quem no seu juízo perfeito abandona assim um hotel destes, tão bonito, num sítio tão bonito? “
“E tudo começou a fazer sentido” – sublinhou - “ Não estava à procura de escrever nenhum livro mas o que é certo é que comecei logo a imaginar que aquele palco, aqueles corredores do refeitório, podiam ter sido palco de uma história de amor e de um drama familiar...”
Quem é Elisabete Pinho?
Podemos ler na badana de O Pêndulo: “Nasceu a 28 de abril de 1975, em Ovar. É licenciada em Direito. Estreou-se na literatura com Se houver uma próxima vez, em 2018, ao qual se seguiu A ampulheta, em 2019. Participou em diversas coletâneas e Antologias de Poesia. Em 2020, alcança o 2° lugar no XXI Concurso Literário Dr. João Isabel, com o poema “Escrito a Dois”. No mesmo ano, vence o 1° Concurso de Ficção Nacional Cordel d' Prata, com o romance Depois do Fim, galardoado também com o troféu Melhor Romance 2021, na 3ª Gala de Autores Cordel d' Prata. O Pêndulo é o seu quarto livro.“
Sinopse
Vejamos o texto da contracapa: “Quando Joaquina cai inanimada nas Festas de São Caetano, na aldeia de Telhado, as três pessoas que lhe são mais próximas não imaginam o que as espera. Joaquina deixou cinco envelopes para serem abertos após a leitura do seu testamento. Que segredos contarão? Porque não os revelou em vida? Artur, o seu afilhado, é um dos destinatários e a pessoa escolhida para entregar os restantes. Alice, a sua única filha, irá ter outras surpresas além de não ser a única herdeira. Violeta, a protegida de Joaquina, parece ser quem mais sabe e quem mais segredos guarda. Os outros dois destinatários envoltos em mistério. À medida que a verdade é revelada, Artur terá de escolher entre manter-se leal à sua madrinha ou poupar as pessoas que mais ama. Alice sentir-se-á um peão num jogo perverso. Violeta será consumida pela culpa. Todos irão descobrir que nenhum segredo deve impedir-nos de viver.”
E a tal pergunta teima em ressoar, também na nossa mente: “Quem no seu juízo perfeito abandona assim um hotel destes, tão bonito, num sítio tão bonito?”