São Paulo, 16 de outubro de 2012.
Caros penacovenses:
"Roda Vida", uma
das maravilhas compostas por Chico
Buarque de Holanda, assim começa: "tem dias que a gente se sente como quem
partiu ou morreu"; realmente, há dias que sentimos ter nosso mundo
desmoronado, o verso é muita vezes usado quase que como uma expressão
idiomática. Surge-me, uma indagação: haveria como escrever usando apenas
expressões idiomáticas?
Bem, como quem não arrisca não petisca,
sabe-se é que em dia que se acorda com os pés de fora, o melhor que se faz é
ficar à sombra da bananeira, meter a
cabeça nas nuvens pensando na morte da bezerra. Não é dia para aproveitar a
boleia para acertar agulhas, nem que se sinta água pela barba!
Calma, muita calma, afinal, o primeiro milho é
dos pardais, me dizia um amigo com
muitos anos a virar frangos; não me lembro do nome dele, sou mesmo uma cabeça
de alho chocho.
Um dia ele me viu com cara de caso,
tentou entrar em meus problemas com pés de lã, foi logo dizendo:
- Amigo, sacuda a água do capote e descalce a
bota! Como viver assim!
Mandei que fosse chatear o Camões, perdi a
cabeça, pondo os pés na poça, indo aos arames com ele, afinal ele me parecia
ter macaquinhos no sótão, sabia que estava de trombas. Do fundo do meu coração,
jamais iria pregar uma peta ao meu amigo, e também nunca fui um troca-tintas.
Ele tentou acalmar-se, por estar a fazer trinta por uma linha, que não via
motivos para eu trepar nas paredes,
sentia que eu estava confundindo alhos por bugalhos. E amigo, disse-me,
uma ajuda ou outro.
Pura verdade, isso me fez lembrar do conjunto
MPB-4 cantando uma música que fala de amizade;
bela poesia que faz uso de diversas expressões nos versos transformados
em um diálogo entre amigos.
"Amigo é pra essas
coisas" (Sílvio da Silva Junior e Aldir Blanc
Salve! / Como é que vai? / Amigo, há quanto
tempo! / Um ano ou mais…/ Posso sentar um pouco? /Faça o favor/ A vida é um
dilema/ Nem sempre vale a pena…/ Pô…/ O que é que há?/ Rosa acabou comigo/ Meu
Deus, por quê?/ Nem Deus sabe o motivo/ Deus é bom/ Mas não foi bom pra mim/
Todo amor um dia chega ao fim/ Triste/ É sempre assim/ Eu desejava um trago/
Garçom, mais dois/ Não sei quando eu lhe pago/ Se vê depois/ Estou
desempregado/ Você está mais velho/ É/ Vida ruim/ Você está bem disposto/
Também sofri/ Mas não se vê no rosto/ Pode ser…/ Você foi mais feliz/ Dei mais
sorte com a Beatriz/ Pois é/ Pra frente é que se anda/ Você se lembra dela?/
Não/ Lhe apresentei/ Minha memória é
fogo!/ E o l´argent?/ Defendo algum no jogo/ E amanhã?/ Que bom se eu
morresse!/ Prá quê, rapaz?/ Talvez Rosa sofresse/ Vá atrás!/ Na morte a gente
esquece/ Mas no amor a gente fica em paz/ Adeus/ Toma mais um/ Já amolei
bastante/ De jeito algum!/ Muito obrigado, amigo/ Não tem de que/ Por você ter
me ouvido/ Amigo é prá essas coisas/ Tá…/ Tome um cabral/ Sua amizade basta/
Pode faltar/ O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará.
Em agosto desse ano, com 68 anos faleceu
um dos integrantes do conjunto, António José Waghabi Filho, mais conhecido por Magro,
compositor e arranjador, foi o criador do arranjo de vozes que unia a voz de
Chico Buarque às dos quatro jovens do MPB4 (Magro, Ruy, Aquiles e Miltinho) em
"Roda Viva", canção defendida por eles defendida no III Festival de Música Popular Brasileira,
da TV Record. Também é dele o arranjo vocal da gravação original de
"Cálice" (Gilberto Gil/ Chico Buarque), cantado por Chico e Milton
Nascimento.
http://www.youtube.com/watch? v=xZmBIDM_4Wg (Show recente do MPB-4)
http://www.youtube.com/watch? v=HRFw5u5wR4c (Gravação original de Roda Viva no festival)