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02 abril 2016

Gondelim e a Lenda da Senhora da Moita

Imagem de N.Sª da Moita
(foto de Rosa Silva)

Gondelim, terra mencionada em documentos muito antigos, foi residência de importantes famílias nobres ainda antes da fundação de Portugal. O site da junta de freguesia de Penacova regista a Lenda que envolve a Senhora da Moita, cujos festejos em sua honra estão a decorrer neste fim de semana que se segue à Páscoa, como é tradição.

É também essa lenda da Senhora da Moita que o nosso colaborador das Cartas Brasileiras, reconta no livro que tem para publicação intitulado “Azulejos Portugueses - Lembranças e Mistérios”.

Paulo Santos faz-nos, um breve resumo: ”Idosa portuguesa retorna de sua primeira visita a Portugal, desde que imigrara para o Brasil na década de 30.” No voo de regresso àquele país senta-se ao lado de uma jovem “tripeira”, que pela primeira vez visita as Terras de Vera Cruz. “É durante a viagem que ela conta para a jovem passagens de sua vida, no Brasil, e parte dela, ainda na infância em uma aldeia de Penacova. Fala de suas aventuras e venturas, dos sonhos, das sombras, dos medos, dos encantos, dos mistérios.(...) A ficção “Azulejos portugueses” é uma viagem pela região de Penacova (Portugal), por seus lugares e tradições, no roteiro da protagonista, os encantos, as lembranças, segredos, dúvidas, angústias e alegrias; como a própria vida."

Mas, fiquemos então com a leitura de um excerto da referida obra onde se fala de Gondelim e da Lenda da Senhora da Moita:



Capela de Nossa Srª da Moita
(aguarela de Conceição Ribeiro para o livro
"Azulejos Portugueses")

“Foram para a Quinta, onde havia passado parte da infância. Apesar de serem uns minguados quilômetros, os olhos atentos absorvendo tudo, a inquietação crescendo. A primeira parada foi na capela.

Diante da igreja, as recordações vieram aos borbotões, as mulheres conversando, os homens rindo, as crianças correndo nas gostosas brincadeiras na porta da igreja ao término das missas dominicais. A avó assegurava, a imagem da capela era a mesma escondida pelos cristãos no tempo da invasão bárbara.(...) De acordo a tradição, os moradores ao perceberem estar próxima a invasão dos bárbaros, encontraram um meio de proteger a Santa. Pegaram uma trilha bem conhecida em um dos montes, e enterraram a imagem, com um sino, lá no alto, debaixo de uma moita vistosa.

O tempo passou e arrastou com ele os que haviam escondido a Santa. Felizmente, haviam contado para os filhos e netos. Todos sabiam qual era o monte, qual trilha tomar e em qual das moitas estava enterrada. A história foi passada oralmente para os descendentes.

Com o passar dos anos, os detalhes foram sendo omitidos, esquecidos, até ninguém mais saber em qual das moitas do monte a Santa tinha sido escondida. Quando os invasores foram finalmente expulsos, os habitantes desconheciam por completo a história da imagem enterrada, a tradição totalmente perdida.

Passadas centenas de anos, moradores caçando no meio da mata de um dos montes, ouviram o som do badalar de um sino, no meio do nada. Assustados fugiram, voltaram para a aldeia.

Relataram o inusitado, tinham um monte mal-assombrado. O acontecimento espalhou-se, rapidamente, de boca em boca, todos na aldeia ficaram sabendo, muitos não acreditaram, outros preferiram não duvidar, uns ficaram com medo.


Alguns daqueles homens, encorajados por companhias e armados, retornaram ao monte, e foram a um ponto no meio da mata de onde teria saído o som metálico e vibrante.

Dividiram o grupo em quatro, na direção dos pontos cardeais, saíram a procurar, embrenhando-se na mata. Os homens de um dos grupos, ao escutarem o barulho, entraram ainda mais na mata. Conforme caminhavam sentiam o som aumentar, a indicar estarem perto do local.

Aprontaram a maior gritaria. Os integrantes dos outros grupos, ao escutarem os pedidos de socorro, correram para acudir, chegaram esbaforidos.

Junto a uma enorme moita, cortaram o mato e cavaram. Encontraram um sino e ao desenterrá-lo, trouxeram a imagem de uma Santa. Admirados, ajoelhados, rezaram, e deram o nome de Nossa Senhora da Moita.”

Paulo de Tarso J. Santos nasceu em Barretos, São Paulo, em Julho de 1944. É funcionário aposentado do Banespa (antigo Banco do Estado de São Paulo), é licenciado em Matemática pelo Sedes Spientiae - PUC-SP. Em 2007, a Câmara Brasileira de Jovens Escritores editou o seu livro de ficção “Cinzas e Fumaça”. Foi cronista colaborador de “O Diário de Barretos” durante quase dez anos, com cerca de quinhentas publicações.




22 fevereiro 2016

Cartas Brasileiras: recolhendo os tapetes

Quando minha mãe vinha nos visitar - foram tão poucas vezes, porque morávamos longe, em outra cidade – minha mulher recolhia os tapetes, para evitar que ela pudesse tropeçar e cair.
E chegou nosso primeiro neto. Assim que ele começou a andar, trocamos as maçanetas das portas, optamos por outras menos perigosas, mais abauladas, e novamente ela recolheu os tapetes do chão.
Minha mãe se foi, nosso neto cresceu.

Um dia desses vi minha mulher recolhendo os tapetes do chão, para eu não cair; menino ou velho!
Imagem ilustrativa da responsabilidade
do Penacova Online

27 janeiro 2016

Cartas Brasileiras: Douro, o rio encantado

Não sei em Portugal, mas no Brasil, em história de pescador é sempre bom ficar com um pé atrás.  Há sempre dúvidas se realmente ocorreram, são relatados contados de boca em boca, na base do ouvi dizer, do me contaram. Os personagens, datas e locais quase nunca estão bem definidos, a credibilidade depende do contador do "causo", ou ainda, a falta de credibilidade. Histórias de piaparas que fugiram existem aos montes, chegam a botar nome na fugitiva. É sentar com um desses pescadores para ouvir passagens curiosas, como a que contam de Beatriz, uma enorme piapara bem conhecida de muitos deles, que já esteve prestes a ser conquistada, mas que sempre conseguia escapar. E todos garantem, não são iniciantes em matéria de pescaria.
Vídeo gravado pelo autor da crónica .
 ( Rio Douro, junto às cidades do Porto Porto e 
de Vila Nova de Gaia,1993) 

Não se cansam de contar: o bichinho mordeu a isca, fisgada, arrebentou a linha; e assim vão.  Dizem, a belezura passava dos três quilos, bichinho era sabido, aparecia do nada, desfilava tranquila fazendo pose. Assim que a chumbada batia na água, ou até antes, ouvindo o zumbido da linha no arremesso, desaparecia. Isso tudo pode ser confirmado por vários pescadores amadores: pelo Pedrinho, Gryllo, Negão, Paulão, Mané Piapara, Professor Paulo Teixeira, Dr. Gil, Canecão, André do Lanches, o Paulinho do Bar, Eduardinho, Dr. Zaparolli, Dr. Jair, José Luiz e pela Dona Geni, todos pescadores de Barretos, minha cidade natal.
Certo dia, Beatriz apareceu, um deles meteu a mão no rio e tirou o peixe. Foi quando constataram: "nem se fosse índio pegaria uma piapara com as mãos, somente com o peixe abobado", "o rio está morrendo”. Deitou o peixe na água para que ficasse em seu leito de morte. Essa, contudo, uma história verdadeira.
Desastres ambientais causam a mortandade de várias espécies de peixe, pouco a pouco matam os nossos rios. Em São Paulo, onde moro, há dois rios importantes, o Tietê e Pinheiros, clubes foram construídos à suas margens, com praias e práticas de canoagem; hoje completamente poluídos, mortos.
Foi de dar arrepios poder ter visto o Douro e o Mondego, tão cheios de vida.

P.T.Juvenal Santos
ptjsantos@bol.com.br

23 dezembro 2015

Cartas Brasileiras: OPERAÇÃO LAVA-JATO


No Brasil, “lava-jato” é um serviço, geralmente, prestado em postos de combustíveis, ou em áreas próprias, destinado à lavagem rápida de veículos, muitas vezes utilizando máquinas automatizadas e pouca mão de obra.
O termo “lavar dinheiro” é oriundo da máfia que se utilizava de lavanderias de roupas para “limpar”, “esquentar” o dinheiro sujo do jogo, da prostituição, da droga, da venda ilegal de bebidas (lei seca nos Estados Unidos) e da corrupção.
Com a junção dos dois conceitos, no Brasil, a Operação Lava-Jato foi desencadeada, em março de 2014, com o cumprimento de mais de uma centena de mandados de busca e apreensão, prisões temporárias, preventivas e conduções coercitivas, inicialmente com foco na Petrobras.
Descobriu-se um esquema escandaloso de obras superfaturadas, pagamentos de subornos e propinas a diretores da empresa, a partidos políticos (PT, PMDB e PP), a políticos e diretores de partidos. 
A Petrobras, uma das maiores empresas do mundo, enfrenta hoje dificuldades, enquanto o esquema de assalto à empresa teria surrupiado cerca de R$10 bilhões, como inicialmente previsto, algo como US$2 bilhões de dólares, mas que hoje estima-se ter sido superior a US$10 bilhões. O escândalo no Governo Dilma (PT) ganhou a alcunha de Petrolão, em uma referência ao Mensalão ocorrido durante o Governo Lula (PT).  Hoje já se sabe que os dois esquemas de corrupção são bem semelhantes, parecem interligados, sendo o segundo continuação do primeiro. 
O processo Lava-Jato conduzido pelo Juiz Sergio Moro já condenou diversos empresários, donos das maiores empreiteiras brasileiras, estão presos. Outros com prisão cautelar aguardam o final do processo. Muitos aderiram à “delação premiada”, pela qual, mediante o fornecimento de informações sobre o esquema conseguem reduzir suas penas.
As prisões, delações de pessoas próximas ao ex-presidente Lula, bem como denúncias, convocações para prestar esclarecimento na Polícia Federal, têm agitado ainda mais o meio político.
A cenário é preocupante. O presidente da Câmara que vai enfrentar processo de afastamento por quebra do decoro parlamentar, teve a residência oficial invadida pela polícia federal, em busca de provas contra denúncias que pesam sobre ele; no mesmo dia, dois ministros do atual governo sofreram o mesmo tipo de ação.
            Na Câmara Federal, a Presidente da República enfrentará processo de Crime de Responsabilidade por descumprimento do orçamento e utilização de verbas suplementares sem autorização do Senado, que poderá redundar em “impeachment”.
            Por tudo, está difícil receber de amigos e conhecidos votos de Boas Festas. 
           Porém, deixando de lado o egoísmo, desejo a todos os leitores do blog FELIZ NATAL e ótimo 2016. 

P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br

Cartão de Boas Festas de Paulo Santos
 [na imagem, seus netos Thiago e Kamila]



26 novembro 2015

CARTAS BRASILEIRAS: Hopalong Cassidy

O tema da insegurança, tão actual,  na crónica de PAULO SANTOS:

Quem passa dos 50 anos sabe de quem estou falando. Para os mais novos eu explico. Trata-se de um herói dos filmes de faroeste. Era estrelado por William Boyd. O cavalo branco era Topper. As produções da série foram feitas até 1948. Todavia, como naquela época havia demora na distribuição dos filmes, quando a série chegou à minha cidade, eu já tinha idade para ir ao cinema assistir às vesperais dominicais. Tom Mix foi um herói mais antigo, do tempo de minha mãe. Da minha época de menino: Rocky Lane, Roy Rogers, Gene Autry, Durango Kid, Zorro, Tarzan, e o mais moderninho, Batman.
E o que todos tinham em comum? Eram defensores da lei. Eram os baluartes do bem. No fim da história, sempre o bem vencia o mal. Os heróis partiam, empinando seus cavalos, Tarzan “viajando” pelos cipós, gritando: Uauauuu!
Na verdade, não era uma despedida. Era apenas um até logo, como que dissessem: precisando estarei aqui. Contem comigo! Os bandidos fugiam deles como o diabo foge da cruz. Não havia dúvidas em saber quem era quem. Os mais fracos contavam com protetores corajosos, que os defendiam contra os bandidos, gananciosos e corruptos. E hoje? Todo mundo acuado *, quase que entrincheirado. Os foras da lei já não têm mais medo de nada. O crime sempre compensa.
Vivemos momentos perigosos. Violência de todo tipo. Violência dos bandidos, dos políticos bandidos, dos corruptos, dos sonegadores, e apaniguados. A violência da miséria, da fome, do desemprego. As drogas, o álcool, o trânsito.  Violência nas ruas, nas escolas, nas famílias. É o desamor, o egoísmo, a ganância. Sem uma mudança completa no comportamento de todos, nem mesmo contanto com todos os heróis para nos ajudar seremos salvos. E o pior, já não contamos com Hopalong Cassidy, que era só chamar.

P.T.Juvenal Santos - ptjsantos@bol.com.br

acuar: perseguir; cercar a caça; encurralar.

02 outubro 2015

CARTA BRASILEIRA DE OUTUBRO: O PRIMEIRO PÊSSEGO

Meu caro amigo, me perdoe por favor se eu  não lhe faço uma visita. Mas o que eu quero lhe dizer é que antigamente, poucas casas tinham garagens, havia quintais, com espaço para as crianças brincarem. A casa de meus pais ocupava um terreno 20x40, onde  plantavam de tudo um pouco, alface, couve, repolho, chicória, almeirão, espinafre, cenoura, tomate, cebolinha, cheiro-verde e tomate. Havia espaço para árvores, uma enorme mangueira, mamoeiro, limão-china, um pé de tangerina, três laranjeiras, chuchu, parreira, uma touceira de cana caiana, figueira, pessegueiro, galinheiro, uma colmeia, e muitas bocas para comer.
O pessegueiro, por ser mais novo ou por exigir algum cuidado especial, demorou para frutificar. Um belo dia, apareceu uma flor. Depois, uma pequena fruta. Começamos a namorá-la. Sem que ninguém combinasse, decidimos, o primeiro pêssego seria de mamãe.
Os cuidados eram de todos. Se alguém jogava uma pedra, logo ouvia um grito: “cuidado com o pêssego da mamãe”. E assim foi,  com fruta  crescendo, o verde começou a amarelar. Um dia, sumiu do pé.  Alguém deveria tê-la colhido e dado a ela.
Quisemos saber dela como era, se doce ou azeda, que gosto teria. Ela não havia comido, guardara para nos mostrar. Descoberta por um passarinho, estava toda bicada. Contou-nos que a pegara caída, cheia de formigas. Fiquei endoidecido. Mas como os  bichos foram fazer aquilo? Peguei minha arma, um estilingue, sai ameaçando, esmagando formigas pelo caminho, naquele momento, matar o passarinho seria pouco. Mamãe interrompeu-me. O importante, ensinou-nos, foi termos visto o pêssego crescer, e o cuidando que tivemos.
CLIQUE NA IMAGEM PARA VER VÍDEO

Hoje, quando vejo na quitanda, ou no supermercado, a gôngula cheia de pêssegos, penso no quintal da minha casa, na penca de irmãos, nos ensinamentos de minha mãe, nos passarinhos e até nas formigas. Ainda bem, tenho coisas boas em que pensar, porque “coisa está preta”, é pirueta pra cavar o ganha pão, que gente vai cavando só de birra e só de sarro.
"Meu Caro Amigo", uma das canções de Chico Buarque que critica o regime é uma carta em forma de música, uma carta musicada que ele fez em homenagem ao Augusto Boal, que vivia no exílio, quando o Brasil ainda vivia sob a regime militar, lançada em 1976. 


P.T.Juvenal Santos



09 setembro 2015

Cartas Brasileiras - Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos

Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos

Para eximir-me de algum deslize, adianto que sou “beia” em assunto de rodeio, mas não quero ser um “mofete”, espero não levar um “pialo” nessa minha tentativa.
Em agosto, Barretos, minha cidade natal, fica agitada. No dia 25 é comemorado o aniversário da cidade (161 anos) e durante dez dias Festa do Peão de Boiadeiro (20/08-30/08). Haja quem ponha restrição ao nome da festa, deveria ser Festa do Peão de Rodeio, por contar com a participação dos astros, enquanto o peão de boiadeiro se refere mais precisamente ao profissional que lida dia a dia no campo.

Não vai aqui nada de bairrismo pela escolha do tema dessa carta, já deixo claro, o evento não mais me causa arrepios, talvez porque a pele ressecada pelos meus passados setenta anos consiga controlar meus eosinófilos. Independentemente de tudo, vamos em frente. Aliás, a festa, realizada pelos Os Independentes, vai além dos espetáculos protagonizados pelos peões, que disputam diversos prêmios em diversas modalidades, haja shows de cantores.
O que me traz é a curiosidade da fala dos peões, a linguagem oficial atrás dos “bretes”. Se no futebol existe a Maria Chuteira, mulher que dá de cima dos jogadores, existe a correspondente a “Maria Breteira”, não largam do pé dos moços.
Os peões, na maioria jovens, se põem “traiados”, ninguém quer ser “carregado” ou “guaiaca”, e as “chayenes”, muitas delas usando “sedém no talo”, identificam facilmente um “faiado”, até mesmo as “dirrubadas” sabem quem é quem.
Bebida forte é um “trago”, pão duro é “escorpião no bolso”, e quem “está com medo para que veio”, é porque mal chega já quer ir embora. Existem muitas outras expressões usadas, a Internet pode ser fonte para consulta.

P.T.Juvenal Santos – ptsantos@bol.com.br
  
Abeia braba (abelha brava): Peão fraco, que não consegue ficar em cima do animal.
Abeia (abelha) ou beia:  quem em não entende nada de rodeio; inexperiente, peão iniciante.
Brete: cercado, curral, local onde os animais do rodeio ficam antes das provas de montarias começarem.
Carregado: Quem usa roupa country com muitas franjas e bordas.
Chayene: moça com traje típico vistoso com franjas,
Dirrubada (derrubada, caída): Péssimo rodeio; mulher feia
Guaiaca: Cinto de couro com vários compartimentos; peão mal trajado ou com roupa velha.
Faiado (falhado): cowboy de araque.
Mofete: pessoa chata
Pialo: tombo
Sedém: espécie de corda atada na virilha dos cavalos para fazê-lo pular mais.
Sedém no talo: Calça jeans bem apertada.
Traiado ou na traia: Adepto de roupa country legítima e completa (camisa listrada, chapéu bonito, botas e fivelas novas)




09 agosto 2015

Cartas Brasileiras: Eu não sei por quê

Eu não sei por quê 

Procurar, eu procurei. Não sei por que não encontrei a que eu queria. Pode ter certeza, eu juro, não estou mentindo. Porém, do fundo do meu coração, sinto muito, me desculpe. Dê-me a mão, sou um estranho no paraíso, permanecer sonhador, esse é o perigo.

Mas, não seja por isso. Tudo bem, eu imploro perdão, mas você não deve se esquecer, eu nunca prometi um jardim de rosas. Então, é melhor você pensar sobre isso. Bem, você poderia fazer tudo se tornar realidade, eu lhe daria o mundo agora mesmo em uma bandeja de prata. Mas o que isso importa!

Devem estar pensando, o cronista pirou de vez. Não, estou bem. Tentei  encontrar a letra da música I don’t kow  why” (Eu não sei por quê), com a orquestra de Ray Anttony (20/01/1922), música que faz derreter qualquer coração ligeiramente apaixonado.  

Incrível, não encontrei a letra, mas descobri que ele segue vivo, como viva são suas interpretações. Encontrei outras com mesmo nome, nem de longe se comparam à inesquecível versão com Ray Anthony.  Como não queria ser um estranho no paraíso, e “Stranger in Paradise” é famosíssima com RayConniff, tentei redimir-me.

Para me desculpar, me fiz valer de “I Apologize”, que tem uma versão primorosa e imbatível  com Billy  Eckstine (08/07/14 – 09/03/93).

[clique na imagem para ouvir]
Por fim, para que ninguém reclame, porque não apresentei o prometido, posso dizer, eu nunca prometi aos leitores “Rose Garden”, como tão bem cantou Lynn Anderson (26/09/1947 – 30/07/2015), isso mesmo, ela se foi um dia desses.

P.T. Juvenal Santos



07 julho 2015

Cartas Brasileiras: Assombração


             Assombração

Barretos, minha cidade natal, está localizada ao norte do estado de São Paulo, distante 424 km da capital. É conhecida pela Festa do Peão de Boiadeiro, que lá ocorre todo ano na última semana de agosto; um quase resquício da atividade pecuária que havia na região, ou ainda um explícito interesse econômico para manter a tradição.
            De região pecuária para a citricultura, agora canavieira, seguindo a política governamental para produção de álcool combustível, é cana a perder de vista, e com ela o picumã das queimadas; ainda vamos só comer cana.
Contudo, não é esse o assunto dessa carta, quero  falar sobre uma cidade distante 51 quilômetros da minha, ou seja, Bebedouro, cujo nome se deve ao fato de ter nascido à beira de um córrego que era procurado pelos tropeiros, que lá paravam para dar de beber ao gado.
Também, não tanto sobre a cidade, e sim a respeito das estranhas aparições, uma assombração, uma mulher vestida de noiva que atormentava quem passasse à noite pelo cemitério
Foi no começo dos 90. Testemunhas assustadas diziam ter visto a noiva correndo, as vestes esvoaçantes, um fantasma ou alma do outro mundo. Rapidamente a notícia se espalhou, aparecendo logo quem a explicasse. Diziam tratar-se de uma jovem que morrera  após experimentar o vestido de noiva, e que havia sido enterrada com ele. A tenebrosa aparição ganhou a imprensa, até um boletim de ocorrência policial teria sido registrado. Nem os mais corajosos se arriscavam a passar pelo local durante a noite.    
Conta-se que um coveiro, homem acostumado, resolveu encarar a alma penada. E, na escuridão, estando diante de uma cova para um sepultamento que aconteceria na manhã  seguinte, viu a noiva dentro dela, chamando-o pelo dedo indicador. Quase morreu de susto, e deu entrada na aposentaria.
Como assombração não deve existir, a de Bebedouro tinha tudo para ser uma farsa, e era. O pior, ou o mais engraçado, a noiva fantasma não era ninguém se não o meu irmão que morava do outro lado da rua do cemitério. Brincalhão, resolveu assustar os transeuntes, correndo pelo cemitério à noite  com o vestido de noiva da mulher. Só ele mesmo!
           Acreditar em bruxas e duendes, nenhum de nós acredita, entretanto como dizem os espanhóis: “pero que hay, hay”. Há fantasma de todo tipo, como aqueles que metem no bolso o dinheiro que seria para a Educação, Saúde e Segurança. Se a população não usar nas próximas eleições o voto como Afugenta Fantasma seguiremos vivendo em um mundo mal-assombrado.

           P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br

14 junho 2015

Cartas brasileiras: Dia de São Valentim...

Dia de São Valentim

No Brasil, 12 de junho é o Dia dos Namorados.
Em Portugal e em muitos países, a data é comemorada no dia de São Valentim (dia 14 de fevereiro), porque, segundo apurei, estaria relacionada com uma antiga festa romana que homenageava Juno, a deusa romana das mulheres e do casamento. E também por causa do bispo Valentim que se opôs às ordem do imperador Cláudio II (213-270 AC), que teria proibido o casamento durante as guerras, por acreditar serem os solteiros eram melhor nos combatente.
Deixando o romantismo de lado, na noite de 14 de fevereiro de 1929, em um galpão de Chicago ocorreu o massacre praticado por integrantes da gang de El Capone contra bandidos rivais; a história americana registra o fato como St. Valentine Day ´s Massacre.
E por que lembrar Capone justo agora! Apenas porque ele só acabou preso ao cair na “malha fina” do imposto de renda americano, tendo logrado escapar de tudo o mais, por contar com a assistência jurídica dos melhores advogados do país.
Pois bem, aqui no Brasil temos vivido uma sequência de escândalos. No maior deles, no mais recente, um esquema criminoso “saqueou” a maior empresa brasileira, e envolve endinheirados empresários, as maiores construtoras do país e diretores da Petrobras, empresa que tem a União (o país) como principal acionista, cabendo ao Governo nomear os diretores, ainda que indicados pelos partidos da “base aliada”. Só um ex-diretor se propôs a devolver algo em torno de US$100 milhões.
Apenas para lembrar, em outro caso, hoje sabido bem menor, o Processo do Mensalão, mas não tão menos vergonhoso, um ex-Chefe da Casa Civil acabou preso em penitenciária e agora cumpre prisão domiciliar, isso em tempo de governos ditos sociais.

É de se admirar o destaque que tem sido dado ao caso FIFA, que envolveria US$150 milhões em subornos, quando o falcatrua contra a PETROBRAS, a propina e desvios estão estimada em de US$2 bilhões, conforme registra o balanço da empresa recentemente publicado.
E, então é de se perguntar: por que o Governo fica fiscalizando e controlando salário de professores e assalariados ao invés de bem tomar conta da dinheirama da gentalha que mete a mão!

P.T.Juvenal Santos

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Notas:
1. Obrigado pelo comentário sobre os 107 anos do Mirante
"O resgate desse acontecimento somente poderia vir de alguém com a sensibilidade do blogueiro David de Almeida. Centenas de comentários deveriam estar comemorando a data; os penacovenses estão em falta, quer por si mesmos quer por seus descendentes. Ainda que distante, emocionei-me com o relato."

2. Recordemos o porquê das Cartas Brasileiras:


12 abril 2015

Cartas brasileiras: Não me importam os motivos


Santo Deus, e meus ouvidos! Pelo que está escrito no Apocalipse, é sofrimento para ninguém botar defeito. Os anjos chegarão fazendo muito barulho; na primeira trombeta o fogo jogado sobre terra irá causar “um arraso”, queimará um terço das árvores e das ervas. Na segunda trombeta, lança-se fogo e sangue sobre o mar, matando um terço das criaturas e destruindo um terço dos navios. E em cada uma delas, até à sétima, desgraças para ninguém botar defeito. Quando o terceiro anjo tocar sua trombeta cairá do céu uma grande estrela ardendo como uma tocha, cairá sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas. Ao som da quarta trombeta o Sol a Lua e as estrelas trarão escuridão, um terço do dia parecerá noite. Ainda com os ouvidos doendo, com os tímpanos quase estourados, ouviremos a quinta trombeta anunciando uma estrela que caindo do céu abrirá um grande abismo; gafanhotos e escorpiões cobrirão a terra, quem não tiver o sinal de Deus na testa pode esperar o pior. Na sexta trombeta mais dor. Das cabeças dos cavalos, como cabeças de leões, sairão fogo e enxofre. Nessa altura um terço dos homens já terá morrido. Não bastassem os ouvidos, a dor não irá parar com a sétima, a trombeta final anunciando o novo reino do Senhor.

clique na imagem para ouvir
Será que não daria para trazerem junto Artie Shaw e sua orquestra, quem sabe Benny Godman. Por que não Ray Anthony! Talvez Lester Young. As opções são tantas que não há desculpas; dispenso os motivos; por Deus apenas façam. Ou não basta ouvir as ambulâncias desesperadas gritando pedindo passagem, presas pelo trânsito caótico, lá dentro uma mulher para dar a luz, um idoso nos últimos suspiros ou uma criança chorando.

P.T.Juvenal Santos ptjsantos@bol.com.br


18 março 2015

Cartas Brasileiras

Crónica de 
Paulo Santos

                                             DEVOLVA O ANEL

           
            De uns tempos para cá, as coisas andam por demais estranhas no meu país, fica cada vez mais difícil saber o que é ético e moral.
Vozes irão se levantar para dizer que a estranheza  não é de hoje, começou em 1808, com a chegada de Dom João VI e sua a corte, e que o “apadrinhamento”, inchaço da máquina pública, vem desde aquela época, pois que na fuga de Portugal, entre 10 e 15 mil portugueses vieram para o Brasil. Claro, o “povo” lá ficou não por não temer Napoleão, mas por tão ter como vir.
O tal “déficit  público” é  herança maldita; treze anos após a chegada da Família Real o buraco no orçamento tinha aumentado mais de vinte vezes. Já  naquele tempo contratavam artistas com o dinheiro “da viúva” e esbanjavam o que não tinham com viagens dos integrantes da “corte” (um dia vi pela TV Senado aprovarem o requerimento para que um senador se ausentasse do país para participar de um congresso em Saigon; 30 dias!).
O Banco do Brasil  criado em 1808 estava arruinado em 1820, seus depósitos em ouro, que serviam para de garantia para a emissão de moeda, representavam apenas 20% do total em dinheiro; 80% era “moeda podre”. Não fizeram o reajuste fiscal!
A “caixinha” corria solta nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos; se o interessado não “comparecesse” com os 17% os processos simplesmente paravam de andar. Portanto, por que reclamar tanto do que acontece na Petrobrás!  
Ora, como se vê, dirão para se justificar, as coisas por aqui desandam desde o tempo da coroa. Verdade! Os que aí estão não foram os únicos, mas isso pouco resolve, não limpa a alma de ninguém; padrões éticos estão mais na vergonha de cada um.   
Imagine, alguém que tendo cometido um assalto com sua quadrilha,  presenteia a mulher com o anel de brilhante que roubou! Ainda que ela desse uma de Dona Maria, a louca, e dissesse que não sabia que o marido era ladrão, que o anel era roubado, ou preferisse desconhecer a origem do bagulho, poderia querer ela ficar com o produto do roubo! Certamente que não, diremos nós; há os que acham que pode.
Tudo bem que não deva ser presa, pensamos nós, mas que devolva o anel! 

P.T.Juvenal Santos
_________________________________________ 
Nota: 1) As citações sobre a chegada da família real foram obtidas no livro 1808 de Laurentino Gomes, um livro de história do Brasil e Portugal, publicado em 2008. O autor recebeu o prêmio de melhor Livro de Ensaio da Academia Brasileira de Letras e Prêmio Jabuti de Literatura. Escreveu 1882 e 1889 completando a trilogia.

CLIQUE NA IMAGEM PARA VISUALIZAR O VÍDEO

Nota: 2) Dia 15 de março de 2015, a população saiu às ruas no Brasil para protestar contra a corrupção, contra o verdadeiro assalto cometido contra a Petrobrás, a nossa empresa queridinha. O Ministério Público, recebendo as denúncias da chamada Operação Lava Jato indicia por diversos crimes, empreiteiros,  diretores da Petrobrás e políticos. O esquema enriquecia os donos das empreiteiras, os diretores da Petrobrás, e fornecia dinheiro para partidos políticos principalmente para os integrantes da base aliada do Governo: PT. PMDB e PP, financiando inclusive campanhas eleitorais.  É disso que trata o vídeo.                                     

15 março 2015

Cartas Brasileiras: Com Cópia Oculta


Ao enviar email em cadeia para meus amigos, utilizo sempre o recurso CCO (Com Cópia Oculta); evito expô-los. Em uma dessas mensagens, encaminhava a todos as respostas recebidas, sem que ninguém soubesse de quem era. O incrível era que eu não conhecia pessoalmente um dos meus grandes amigos.
Como ter amigo que não se conhece? Se eu contasse veria que pode.
Título do email: "Eu não estou me comportando mal"; o qual escondia uma mensagem cifrada. No texto, a morte de Robin Williams, e um link para que ouvissem uma música, uma descoberta, então recente; desconhecia a música e o intérprete, mesmo sendo preciosidade dos anos 40! A beleza nem sempre se nos apresenta, temos que buscá-la.
Logo veio a primeira resposta de um o amigo que se valeu de Saramago:  "Ninguém está falando que está"; ou seja, que eu estivesse "enchendo". Passou ele batido pelo texto cifrado. E seguiu falando do ator: ”atuação extraordinária em Bom dia, Vietnã. Acho que o diretor deixou-o fazer o que quisesse. Outra atuação maravilhosa é a do professor, em Sociedade dos Poetas MortosÉ isso aí. Matarei a saudade, revendo seus filmes”.
O amigo “desconhecido” comentou: “Devo dizer-lhes que estou ouvindo a canção; eu ainda não há conhecia, foi amor à primeira vista; incrível, como pude não conhecer essa maravilha! Como não sabemos de nada!”
            Outro escreveu: “ah, eu também sou fã de Robin Williams, digo sou, porque sou fã de Burt Lancaster, James Stewart, Audrey Hepburn, Ava Gardner, etc., etc.”.
Animado, um queria mais: “espero que nos encontremos novamente nas próximas mensagens, estou adorando essas conversas;  a música é adorável!
            Há sempre os mais comedidos: “Obrigado pela música, de extremo bom gosto; enfeitou meu sábado”.
            A morte do ator provocou mais comentários: “concordo, foi sim um belo filme. Linda canção! Bom final de semana, boas viagens. Abraços do amigo de sempre.”
          Como eu, um saudosista: “adorei Sociedade dos Poetas Mortos;  não tenho visto mais filmes tão lindos assim. Ou eu me tornei um chato, ou não fazem mais daqueles filmes”.
O fim daquela conversa veio com o email que enviei: “Interessante, amigo de sempre não é aquele que é desde a eternidade, mas aquele que ao se tornar permanece assim. Abraço a todos. Tenho que ir, minha mulher já me telefonou para o almoço; explico, meu netinho quer comer comida chinesa no Shopping, eles foram eu fiquei, agora lá vou eu.”
            Não me censurem pela brincadeira de “Eu não estou me comportando mal”, segue o link para que ouçam “Ain´t Misbehavin´ ”; é linda!


PS: o amigo que não conhecia partiu de repente, tive que apagá-lo dos meus contatos. Muito triste.  Ah! Ele adorava a música “Misty” 

23 setembro 2014

Cartas Brasileiras: garrafa com mensagem



Não sei como o leitor ou leitora  chegou aqui; tampouco sei quem é e de onde vem.  Nem mesmo sei por qual caminho,  sei somente que caminhando pela margem do rio acabou por encontrar a garrafa, e que ao abri-la leu a mensagem que nela havia:




Como tudo agora é tão moderno, verá que a mensagem está escrita em azul, a indicar que "clicando" no texto será direcionado a um vídeo.
Se vendo o vídeo achar que ele nada signifique para você ou que o/a comova, por favor, coloque novamente a garrafa no rio, talvez logo mais à frente um outro caminhante possa encontrá-la, quem sabe dela necessite. Boa viagem!


(clique na imagem para ver o vídeo)
P.T.Juvenal Santos