17 agosto 2015

Festa de N. S. dos Remédios: recortes do passado


A notícia da festa de 1910
(ainda no tempo da monarquia)
no jornal concelhio e a lista
dos mordomos para 1911...
...e aqui, em 1931
Uma tradição centenária, como já sabíamos. E que, mais uma vez, em 2015, se repetiu.


15 agosto 2015

A propósito da Festa de Nª Sª dos Remédios este fim de semana em Travanca

Hoje, dia em que se venera Nossa Senhora, e de um modo especial, Nossa Senhora dos Remédios, em Travanca do Mondego, recuperamos o texto que em tempos já publicámos neste blogue.

Altar da capela de N. S. dos Remédios
em Travanca do Mondego
Senhora  Ourada [ou o Costume de ornamentar as imagens com adereços de Ouro] 

A oferta de objectos de ouro aos deuses será tão antiga quanto a existência do homem, e, entre as coisas que ainda hoje se oferecem a Deus e aos santos encontra-se a joalharia. Esta, neste contexto, assume a designação de joalharia devocional, porque fruto de uma devoção, e pode ser constituída por peças eruditas ou de carácter popular. No entanto, são estas últimas as mais oferecidas às diversas invocações de Maria, e a algumas santas de especial devoção das ofertantes.
O costume de ornamentar as imagens com adereços de ouro foi comum em todo o País, mas, na actualidade, está mais concentrado nas regiões do interior transmontano, alentejano e beirão. Na pesquisa efectuada a nível nacional encontramos, até ao momento, cento e quinze imagens no Continente, vinte na Madeira e quatro nos Açores, que ainda saem em procissão ataviadas com ornatos de ouro oferecidos pelas fiéis, e as quais denominamos Senhoras Ouradas. No distrito de Coimbra deparamos com cinco ocorrências, com a Senhora dos Remédios incluída.
Relativamente à estrutura, as imagens ouradas podem ser do tipo vulto perfeito, em madeira, pedra ou pasta pintadas, ou imagens de vestir. Nas primeiras, os ornatos áureos são-lhes colocados sem a adição de qualquer peça de vestuário. Contudo, em certas regiões, estas recebem um manto em tecido para usar no dia de festa juntamente com as suas jóias, como é o caso de Travanca do Mondego. Por sua vez, nas imagens de roca, ou de vestir, usam-se vestes completas desde roupa interior, vestido, manto e véus, aos quais se juntam inúmeros ornamentos áureos.
O tipo de adornos que embelezam o colo das imagens - cordões, voltas, gargantilhas, alfinetes de peito com pedras vermelhas e azuis(1), medalhas de santos e crucifixos - são comuns a todo o País. No entanto, há zonas que apresentam uma grande concentração de peças mais particulares, como os colares de gramalheira (2) em Trás-os- Montes e as libras com guarnição(3) no Minho. Na Madeira o número de cordões ou fios é muito superior ao número de medalhas ou ornatos, como aliás em quase todos os acervos que tivemos ocasião de apreciar. Todas as imagens ouradas usam brincos, e, se muitas delas já têm as orelhas furadas para esse propósito, outras, como a Senhora dos Remédios, usam-nos presos à cabeleira ou ao manto que lhes cobre a cabeça. Quase sempre ostentam brincos compridos, com incidência no tradicional brinco à rainha(4) mas, principalmente no Centro e Sul do País, podem ver-se vistosos brincos compridos de tipologias e influências diversas.
A forma como o ouro é colocado nas imagens varia de região para região. Pode ser colocado só nas mãos, só ao pescoço, espalhado sobre as vestes e, ainda, sobre toda a imagem e seu traje. Contudo, todo o ouro exibido comporta em si, quanto a nós, duas características - a expositiva e a ornamental. A primeira ocorre dado que uma das principais razões deste uso ser a de apresentar à comunidade os ornatos oferecidos pelo pagamento de promessas, e assim, pela sua exibição, mostrar que estes não foram alienados e continuam a fazer parte do espólio da Senhora ou da Santa. Depois, o carácter ornamental surgirá quando as jóias são usadas para engalanar e embelezar a imagem, para o dia da sua festa, à semelhança do que qualquer um de nós faz para um dia especial.
Este costume provoca diferentes reacções por parte dos responsáveis da Igreja Católica, e, se uns o aceitam, outros condenam-no. Não é nosso propósito fazer a apologia nem a detracção de tal prática. Queremos somente notar que é um hábito que ainda se mantém em muitas vilas e aldeias e que, por envolver ornamentos em ouro, faz parte de um estudo alargado, que estamos a elaborar, sobre os vários usos do ouro tradicional português durante o século XX.
___________
Notas:
1 Tipo de ornatos que entrou em uso a partir dos anos 40, do século XX, e que foram largamente utilizados até aos anos 80. Eram peças de formas geométricas, a lembrar as influências Art Déco, e também florais, numa evocação da Arte Nova, decoradas com vidros coloridos, principalmente azuis e vermelhos, que com a sua cor e aparência davam um ar de jóia com pedrarias, vistosa mas a um preço muito acessível.
2 O colar de gramalheira é uma peça de grande aparato e excepcional efeito ornamental constituída por um medalhão e o seu respectivo cordão. Este tem duas formas básicas; grandes elos ovalados com círculos no interior ou constituído por secções de malha intercaladas com argolas. O medalhão, que em muitas zonas do Minho se chama também simplesmente gramalheira, é uma grande peça ornamentada com elementos vazados e pedrarias de fraco valor.
3 Moedas de libra, ou moedas de imitação de libra, envoltas por uma cercadura filigranada ou cinzelada.
4 Peça de grande aparato, em filigrana. É composto por duas peças recortadas e vazadas, articuladas por argolins. A parte inferior do brinco apresenta ainda no centro uma outra peça circular, também articulada, cujo movimento os torna ligeiros e elegantes ao serem usados. São os brincos mais usados no Minho e, na zona de Viana do Castelo são os brincos por excelência de todas as mulheres quando envergam o traje regional, seja este de que tipo for.
                                                                                                       Rosa Maria Mota

_____________________________
NOTA:
Travanca do Mondego venera Nossa Senhora dos Remédios. Por ocasião das festas de 2008 o Penacova Online publicou uma pequena reportagem fotográfica da procissão. Passado muito tempo, somos contactados por uma pessoa da zona do Porto, que nas suas pesquisas na internet tinha encontrado o nosso "post". Desejava  saber mais pormenores sobre o uso de colocar ouro na imagem no dia da Festa Anual, dado que estava a preparar uma tese de doutoramento.

É assim que, a nosso pedido, a Drª Rosa Maria Mota, doutoranda em Artes Decorativas - Ourivesaria, na Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto teve a gentileza de nos enviar o texto que aqui fica registado e certamente será do interesse de muitos dos nossos leitores.

----------------------------------------------------------
Das antigas "pagelas" ao cartaz de 2015

09 agosto 2015

Cartas Brasileiras: Eu não sei por quê

Eu não sei por quê 

Procurar, eu procurei. Não sei por que não encontrei a que eu queria. Pode ter certeza, eu juro, não estou mentindo. Porém, do fundo do meu coração, sinto muito, me desculpe. Dê-me a mão, sou um estranho no paraíso, permanecer sonhador, esse é o perigo.

Mas, não seja por isso. Tudo bem, eu imploro perdão, mas você não deve se esquecer, eu nunca prometi um jardim de rosas. Então, é melhor você pensar sobre isso. Bem, você poderia fazer tudo se tornar realidade, eu lhe daria o mundo agora mesmo em uma bandeja de prata. Mas o que isso importa!

Devem estar pensando, o cronista pirou de vez. Não, estou bem. Tentei  encontrar a letra da música I don’t kow  why” (Eu não sei por quê), com a orquestra de Ray Anttony (20/01/1922), música que faz derreter qualquer coração ligeiramente apaixonado.  

Incrível, não encontrei a letra, mas descobri que ele segue vivo, como viva são suas interpretações. Encontrei outras com mesmo nome, nem de longe se comparam à inesquecível versão com Ray Anthony.  Como não queria ser um estranho no paraíso, e “Stranger in Paradise” é famosíssima com RayConniff, tentei redimir-me.

Para me desculpar, me fiz valer de “I Apologize”, que tem uma versão primorosa e imbatível  com Billy  Eckstine (08/07/14 – 09/03/93).

[clique na imagem para ouvir]
Por fim, para que ninguém reclame, porque não apresentei o prometido, posso dizer, eu nunca prometi aos leitores “Rose Garden”, como tão bem cantou Lynn Anderson (26/09/1947 – 30/07/2015), isso mesmo, ela se foi um dia desses.

P.T. Juvenal Santos



31 julho 2015

Leituras para férias: Penacova paisagem de sonho e beleza


Quem não se recorda das edições antigas da revista Modas e Bordados? Ora, esta revista, associada ao jornal O Século publicou em 1932 um artigo sobre Penacova, assinado por Maria Lúcia. Quem era Maria Lúcia?

No início dos anos trinta, durante cerca de meia dúzia de anos, viveu em Penacova, dado que o seu marido Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, funcionário público, natural de Lorvão onde nasceu em 1900, foi colocado naquela vila. Maria Lúcia Vassalo Namorado era sobrinha de Maria Lamas e foi uma escritora e jornalista de renome. Curiosamente, essa carreira jornalística começou no Notícias de Penacova onde deixou muitos escritos. Refira-se que o marido foi também um dos fundadores deste periódico. Lúcia Namorado criou passado algum tempo e dirigiu durante muitos anos a também afamada revista OS NOSSOS FILHOS, onde apareceram muitas referências a Penacova, inclusivamente fotografias de bebés/crianças da vila.   Existem estudos académicos detalhados sobre Lúcia Namorado e a sua relação com a nossa terra. 

AQUI FICA O TEXTO publicado em 18 de Outubro de 1932:

Penacova 
paisagem de sonho e beleza  

Pequenina, modesta, privada ainda hoje de comodidades modernas, embora distanciadas apenas cerca de 20 quilómetros de Coimbra, a que a liga uma lindíssima estrada, Penacova impõe-se pelo acaso da sua situação caprichosa, a meio de uma paisagem privilegiada de beleza. Particularidade singular, talvez única na nossa Terra, essa paisagem, sendo grandiosa é, ao mesmo tempo, limitada. Como se a natureza entendesse que os olhos tinham ali pasto bastante para alimentar sucessivas e atentas contemplações.

Rodeia-a uma infinidade de montes: uns cónicos e rochosos; outros, de ondulações suaves, grandes extensões de pinhais salpicados e  de povoados - nódoas claras que, surgindo dentre a romaria  verde,  alegram a vista e fazem lembrar sorrisos cândidos e saudáveis. No vale, amplo e luminoso, duma claridade doce de aguarela, passa o rio silencooso e manso, estorcendo-se em curvas airosas que descobrem, ora à direita, ora à esquerda, areais onde as lavadeiras coram a roupa, e onde o milho que viceja e amadurece nas ínsuas vizinhas, depois de loiro e descasulado, é estendido para secar.

Cortando as águas límpidas do rio, que deixam ver as areias de oiro cantadas pelos Poetas, deslizam, carregdas de madeira, as barcas negras e muito esguias, de grande proa revirada; os barqueiros, tisnados, conduzem-nas à vara, penosamente, correndo sobre os bordos, num esforço exaustivo, prodigioso de equilíbrio; e só quando o vento sopra a faina abranda um pouco: nas barcas escuras incha e resplandece a brancura duma vela.

É assim aquele vale de cores macias e duma serenidade extática. Ao centro eleva-se uma colina semeada de oliveiras e coroada por uma povoação que dir-se-ia, na verdade, uma rainha no trono - tal como está debruçada para o Mondego, do alto duma penha erguida numa cova.

É a vila de Penacova uma das mais antigas da Península; nela , porém, nada nos fala da sua vetustez, pois nem sequer do seu remotíssimo castelo existem vestígios. Vários investigadores afirmam que é de origem cantábrica, mas parece assente que a primeira notícia desta vila data do tempo do conde D. Henrique.

D. Sancho I mandou-a povoar e deu-lhe em 1193 foral que foi confirmado em Coimbra por D. Afonso II; D. Manuel I deu-lhe novo foral em Lisboa, no ano de 1513.

É hoje muito visitada por pessoas atraídas pela justa fama dos seus encantos naturais, e tem um grupo de bons amigos empenhados em a dotar com melhoramentos, dentre os quais se destaca o esplêndido edifício do preventório, prestes a funcionar – obra cujo largo alcance social é desnecessário encarecer.

A população,  que é pobre, emigra facilmente, sobretudo para as Américas.

A principal indústria do concelho é dos palitos, que se intensifica na freguesia de Lorvão – cova sombria, triste, contraste profundo da beleza colorida e sonhadora de Penacova: nessa aldeiasita se desmorona o velhíssimo mosteiro do mesmo nome, outrora riquíssimo e agora desmantelado, mas onde ainda se encontram jóias artísticas de raro valor, belas evocações de páginas distantes da nossa História maravilhosa.

MARIA LÚCIA






19 julho 2015

Problemas demográficos de Penacova apresentados em livro

Foi ontem apresentado na Biblioteca Municipal o livro “Penacova visto pela demografia”. Obra que tem como autores Paulo Cunha Dinis e Filipa de Castro Henriques.



Um estudo rigoroso que analisa a evolução da população no nosso concelho entre 1970 e 2011 e faz algumas projecções para o ano 2031 quando se realizar mais um Recenseamento Geral da População.

Nos últimos quarenta anos Penacova perdeu 2024 indivíduos (12% da sua população). A situação agravou-se ultimamente dado que durante a década 2001 -2011 se perderam 1474 habitantes, isto é, 73% do total perdido desde 1970. Tudo aponta para que o concelho continue a perder população. Por exemplo, se em 2011 a população jovem representava um oitavo da população total, em 2031 esse valor representará apenas um vigésimo. Os nascimentos atingirão metade dos verificados em 2011 e a população idosa vai passar para o dobro. Já hoje, por cada 5 óbitos só nascem 2 crianças. Em 2013 estimava-se que em Portugal o índice sintético de fecundidade era de 1,21. Ora, em Penacova já só era de 0,9, situando o nosso concelho na 270ª posição.




Da esquerda para a direita:
António Catela, Humberto Oliveira, Rute Cunha, Paulo Cunha Dinis,
Eduardo Aroso, Álvaro Aroso e José Santos Paulo









No dizer do Presidente da Câmara, presente no lançamento do livro, estaremos perante um cenário “dantesco” atingível a não muito longo prazo.

Refira-se que a Câmara Municipal foi a principal patrocinadora da publicação, que também teve o apoio da União de Freguesias S. Pedro de Alva / S. Paio do Mondego, bem como da Fundação Mário da Cunha Brito.

A obra enumera, ainda, algumas das potencialidades (e fragilidades) do desenvolvimento económico-social do concelho, aspecto que, além do problema da natalidade, se cruza com a questão da fixação (ou eventual atracção) das pessoas no território concelhio. Também o fenómeno migratório (interno e externo) é tido em conta neste estudo.

A apresentação do livro esteve a cargo de Rute Cunha, penacovense, Mestranda em Política Cultural Autárquica na Faculdade de Letras de Coimbra. A iniciar a sessão, actuou um grupo de Guitarras de Coimbra interpretando temas de Carlos Paredes, de Antero da Veiga (que em 1908 esteve no Sarau que fez parte do programa de inauguração do Mirante) e ainda um tema coimbrão que tem origem numa música de José Eliseu, um nome ilustre de Penacova.

Sobre os autores:

Paulo Cunha Dinis, que fez os primeiros estudos em Penacova e pertence a uma família de S. Pedro de Alva, é Mestre em Estudos Políticos de Área – vertente Relações Internacionais no Cáucaso do Sul pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, com a dissertação “A Geórgia e a Política Externa Russa. Uma análise do Cáucaso à luz da Teoria da Regionalização”; obteve a Licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa.

Filipa de Castro Henriques é licenciada em Economia, mestre em Estatística Gestão de Informação ISEGI-UNL; assistente convidada FCSH-UNL; economista GEE-MEI e doutoranda na FCT/CEPESE/FCSH-UNL. É ainda investigadora do CEPESE nas áreas de Envelhecimento, Educação e Saúde e Análise Prospectiva e Planeamento.

17 julho 2015

Em dia de Feriado Municipal a incontornável referência a António José de Almeida

Penacova celebra hoje o seu Feriado Municipal, evocando o nascimento de António José de Almeida que nasceu, faz hoje 149 anos, neste concelho.
Sobre esta personalidade, muito se escreveu já quer a nível nacional quer localmente. 
Aqui fica um vídeo que é um extracto da série documental  “Os Presidentes”, produzido para a RTP em 2011, tendo como autores Alexandrina Pereira e Rui Pinto de Almeida.

CLIQUE NA IMAGEM PARA VISUALIZAR VÍDEO

António José de Almeida (1866-1929) foi o sexto Presidente da República Portuguesa (1919 a 1923). É o único eleito da Primeira República que cumpre os quatro anos previstos na Constituição, sobrevivendo a várias crises sociais e económicas.
Forma-se em medicina e especializa-se em doenças tropicais, durante uma estadia em S. Tomé e Príncipe.
É um republicano empenhado e, desde o tempo de estudante, é também conhecido pela sua retórica realizando discursos que atraem multidões.
Ainda durante a monarquia é preso devido à sua acção revolucionária.
Após a implementação da República é nomeado Ministro do Interior e mais tarde, durante o Governo da "União Sagrada" assume a chefia do Governo acumulando a Pasta das Colónias. 
De 1919 a 1923 foi Presidente da República, como já se referiu.  

12 julho 2015

Um pouco da história do quadro de N. S. da Assunção na Igreja de Penacova


Nossa Senhora da Assunção. Igreja Matriz de Penacova.
Assinado por Menah (Maria de Lurdes) e datado de 1931

Quem visitar a Igreja Matriz de Penacova vai encontrar do lado do Evangelho[1] um quadro de grandes dimensões representando Nossa Senhora da Assunção. No canto inferior direito está assinado por “Menah” e tem a data de 1931.
 
Há dias perguntámos no facebook se alguém de Penacova sabia quem foi o autor/autora desta pintura. Nenhuma resposta...
 
Ora, Menah, era o pseudónimo da filha de Constâncio Silva, Maria de Lurdes. Foi oferecido à Igreja em 15 de Fevereiro de 1931. 

E agora perguntarão: quem foi Constâncio Silva? Este artista (1881-1949), desenhador e pintor foi "arista" em Penacova , tendo exposto em 1947, no Salão Silva Porto, dois desenhos com temáticas penacovenses, "Pinheiro de Penacova" e "Pinheiro do Mondego - Penacova". Ilustrou também O Filho do Carvoeiro – Conto fantástico para Crianças (1932) de João Augusto Simões Barreto, republicano, funcionário público e jornalista radicado em Penacova. 

Constâncio Silva era amigo da família Barreto e também cunhado de António dos Santos Fonseca, outro arista, que mandou construir a conhecida vivenda em S.to António, hoje integrada no complexo do Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia.

 Maria de Lurdes aprendeu a pintar com o pai, um nome famoso do meio artístico da época. Foi graças a esta ligação do mundo artístico nacional a Penacova, nos tempos "áureos" do Turismo nesta vila, que o património penacovense pode contar hoje com esta interessante obra.
 
Em 1976, o Pintor João Martins da Costa (falecido há precisamente 10 anos) executou alguns trabalhos de restauro, retocando e envernizando este bonito quadro que representa a padroeira de Penacova, Nossa Senhora da Assunção.





[1] Na celebração de costas para o povo, o celebrante lia a epístola do lado direito do altar (o “lado da epístola”), após o que lia o evangelho, do outro lado (o “lado do evangelho”). 

07 julho 2015

Cartas Brasileiras: Assombração


             Assombração

Barretos, minha cidade natal, está localizada ao norte do estado de São Paulo, distante 424 km da capital. É conhecida pela Festa do Peão de Boiadeiro, que lá ocorre todo ano na última semana de agosto; um quase resquício da atividade pecuária que havia na região, ou ainda um explícito interesse econômico para manter a tradição.
            De região pecuária para a citricultura, agora canavieira, seguindo a política governamental para produção de álcool combustível, é cana a perder de vista, e com ela o picumã das queimadas; ainda vamos só comer cana.
Contudo, não é esse o assunto dessa carta, quero  falar sobre uma cidade distante 51 quilômetros da minha, ou seja, Bebedouro, cujo nome se deve ao fato de ter nascido à beira de um córrego que era procurado pelos tropeiros, que lá paravam para dar de beber ao gado.
Também, não tanto sobre a cidade, e sim a respeito das estranhas aparições, uma assombração, uma mulher vestida de noiva que atormentava quem passasse à noite pelo cemitério
Foi no começo dos 90. Testemunhas assustadas diziam ter visto a noiva correndo, as vestes esvoaçantes, um fantasma ou alma do outro mundo. Rapidamente a notícia se espalhou, aparecendo logo quem a explicasse. Diziam tratar-se de uma jovem que morrera  após experimentar o vestido de noiva, e que havia sido enterrada com ele. A tenebrosa aparição ganhou a imprensa, até um boletim de ocorrência policial teria sido registrado. Nem os mais corajosos se arriscavam a passar pelo local durante a noite.    
Conta-se que um coveiro, homem acostumado, resolveu encarar a alma penada. E, na escuridão, estando diante de uma cova para um sepultamento que aconteceria na manhã  seguinte, viu a noiva dentro dela, chamando-o pelo dedo indicador. Quase morreu de susto, e deu entrada na aposentaria.
Como assombração não deve existir, a de Bebedouro tinha tudo para ser uma farsa, e era. O pior, ou o mais engraçado, a noiva fantasma não era ninguém se não o meu irmão que morava do outro lado da rua do cemitério. Brincalhão, resolveu assustar os transeuntes, correndo pelo cemitério à noite  com o vestido de noiva da mulher. Só ele mesmo!
           Acreditar em bruxas e duendes, nenhum de nós acredita, entretanto como dizem os espanhóis: “pero que hay, hay”. Há fantasma de todo tipo, como aqueles que metem no bolso o dinheiro que seria para a Educação, Saúde e Segurança. Se a população não usar nas próximas eleições o voto como Afugenta Fantasma seguiremos vivendo em um mundo mal-assombrado.

           P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br

26 junho 2015

Coral Divo Canto apresenta hoje Orfeu & Eurídice


O Coral Divo Canto vai apresentar, hoje, pelas 21:30, no Centro Cultural de Penacova,  a Ópera Orfeu & Eurídice.

É graças a um trabalho intenso, de grande qualidade, feito de esforço, paixão e persistência, quer do seu Maestro, Pedro Rodrigues, quer de todos aqueles que ao longo destes anos passaram pelo grupo, que Penacova pode hoje assistir a mais um momento alto de cultura. 

Passo a passo, esta nossa terra vai recuperando o lugar que em finais do século XIX e primeira metade do século XX ocupou. Nesses tempos,  com características mais elitistas, se pensarmos nos eventos artísticos que amiúde se realizavam no “palacete” do casal Raimunda e Joaquim de Carvalho (edifício da actual Casa de Repouso) com a presença de altas figuras da cultura nacional. Pela mão de Raimunda Martins de Carvalho, essa paixão pela cultura, acabou por ser também  transmitida e generalizada a muita gente de Penacova que com ela aprendeu as artes do canto, da música instrumental e do teatro. Falamos nesta figura penacovense como poderíamos recordar muitas outras. Correndo o risco de  sermos injustos, diríamos que na segunda parte do século passado, estas manifestações culturais foram decaindo ao ponto de praticamente chegarmos a poder contar apenas os grupos etnográficos e folclóricos e as filarmónicas enquanto agentes culturais activos.

Assistimos hoje, e o trabalho do Coral Divo Canto é um dos excelentes  exemplos disso, a um renascer e a um multiplicar efervescente de iniciativas de qualidade, que pouco a pouco vão alargando os horizontes da cultura. O espectáculo de logo à noite é, na nossa opinião, um evento paradigmático desta  dinâmica local.

O espectáculo em causa  já foi apresentado no Largo Alberto Leitão em 2014 - tricentenário do nascimento de  Gluck - e no Mosteiro de Lorvão, já em 2015, aquando do capítulo da Confraria da Lampreia. Desta vez, num espaço diferente, num verdadeiro palco, com outras possibilidades de sonoplastia e luminotecnia, aguarda-se que constitua um momento ainda mais intenso e cativante. Mesmo para quem já assistiu, cremos que não será de perder este serão que vai marcar a história cultural de Penacova.

Christoph Willibald Ritter von Gluck (1714 - 1787) foi um dos mais importantes compositores do seu tempo. Foi considerado o grande reformador da ópera clássica por equilibrar a importância da música e da acção dramática. A  ópera “Orfeu e Eurídice” é a obra mais representativa dessa tendência. Foi escrita em 1762 e apresentada em Viena, em italiano. Em 1774 foi reelaborada para ser cantada em língua francesa na Ópera de Paris.
 Gluck

O mito de “Orfeu e Eurídice” é relatado nas “Geórgicas” de Virgílio, e foi utilizado como argumento de outras óperas na história da música, desde “Orfeo” de Monteverdi (1607) até Offenbach, com sua opereta “Orfeu no Inferno” (1858).

Terminamos com o apelo que o Coral Divo Canto faz na sua página do facebook: “Não perca a oportunidade de ser surpreendido com as mais diversas sensações e emoções que só se conseguem transmitir por este que é sem duvida o mais completo género artístico.
A ópera está de volta a Penacova, e desta vez será protagonizada pelos seus conterrâneos. Apareça! “

Leituras complementares:

O MITO DE ORFEU

Orfeu era filho do deus Apolo e da ninfa Calíope; do pai herda uma lira que, uma vez tocada por si, revela um canto do qual, pela sua magia, ninguém consegue livrar-se.
O deus dos casamentos, Himeneu, selou o amor de Orfeu e Eurídice, mas não foi capaz de lhes garantir o êxito da relação. Os maus presságios iniciais concretizaram-se quando a bela jovem, pouco depois, foi assediada por Aristeu. Ao escapar desta perseguição,foi picada por uma serpente o que provocou a sua morte.
Incapaz de aceitar este desenlace, Orfeu vai atrás da sua amada até ao mundo dos mortos. Aí, tocando a sua lira, leva Caronte a guiá-lo ao longo do rio Estige amenizando o sofrimento das almas e conseguindo mesmo entorpecer Cérbero, que,  diante de Hades, acaba por verter algumas lágrimas. Comovido e dando ouvidos aos apelos da esposa Perséfone, permite que Orfeu entre para buscar Eurídice, impondo, no entanto, uma condição: a jovem regressaria com Orfeu ao mundo dos vivos, mas Orfeu não poderia olhar para ela até estar novamente no mundo da luz. Foi conseguindo aguentar mas quando já estava quase a chegar ao fim dos escuros túneis, quis certificar-se se Eurídice o estava a acompanhar. Ao olhar para ela, esta transformou-se novamente num fantasma, deu um grito e  voltou para o mundo dos mortos.
Orfeu estava proibido de a seguir e, deseperado, esperou, jejuando,  sete dias junto ao lago. A angústia apoderou-se dele e não conseguiu a partir daí, enamorar-se por mais nenhuma jovem. Cansadas de serem rejeitadas, as Mênades, furiosas, retalham o seu corpo lançam a cabeça ao Rio Hebrus.
As musas tiveram compaixão deste horrível acto, juntaram os restos mortais e sepultaram-nos no Monte Olimpo.
Agora sim,  no reino dos mortos, Orfeu já se podia juntar a Eurídice.

Na versão de Glück, os amantes recebem uma nova oportunidade do Amor, que permite a Orfeu buscar Eurídice ao reino dos mortos, propiciando o reencontro definitivo de ambos sem que ele tenha que morrer também.

SONETO DE EURYDICE

Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.

Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.

Porém nem nas marés nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.

E devagar tornei-me transparente
Como morta nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.

Sophia de Mello Breyner Andresen,
in Tempo Dividido, 1954

14 junho 2015

Cartas brasileiras: Dia de São Valentim...

Dia de São Valentim

No Brasil, 12 de junho é o Dia dos Namorados.
Em Portugal e em muitos países, a data é comemorada no dia de São Valentim (dia 14 de fevereiro), porque, segundo apurei, estaria relacionada com uma antiga festa romana que homenageava Juno, a deusa romana das mulheres e do casamento. E também por causa do bispo Valentim que se opôs às ordem do imperador Cláudio II (213-270 AC), que teria proibido o casamento durante as guerras, por acreditar serem os solteiros eram melhor nos combatente.
Deixando o romantismo de lado, na noite de 14 de fevereiro de 1929, em um galpão de Chicago ocorreu o massacre praticado por integrantes da gang de El Capone contra bandidos rivais; a história americana registra o fato como St. Valentine Day ´s Massacre.
E por que lembrar Capone justo agora! Apenas porque ele só acabou preso ao cair na “malha fina” do imposto de renda americano, tendo logrado escapar de tudo o mais, por contar com a assistência jurídica dos melhores advogados do país.
Pois bem, aqui no Brasil temos vivido uma sequência de escândalos. No maior deles, no mais recente, um esquema criminoso “saqueou” a maior empresa brasileira, e envolve endinheirados empresários, as maiores construtoras do país e diretores da Petrobras, empresa que tem a União (o país) como principal acionista, cabendo ao Governo nomear os diretores, ainda que indicados pelos partidos da “base aliada”. Só um ex-diretor se propôs a devolver algo em torno de US$100 milhões.
Apenas para lembrar, em outro caso, hoje sabido bem menor, o Processo do Mensalão, mas não tão menos vergonhoso, um ex-Chefe da Casa Civil acabou preso em penitenciária e agora cumpre prisão domiciliar, isso em tempo de governos ditos sociais.

É de se admirar o destaque que tem sido dado ao caso FIFA, que envolveria US$150 milhões em subornos, quando o falcatrua contra a PETROBRAS, a propina e desvios estão estimada em de US$2 bilhões, conforme registra o balanço da empresa recentemente publicado.
E, então é de se perguntar: por que o Governo fica fiscalizando e controlando salário de professores e assalariados ao invés de bem tomar conta da dinheirama da gentalha que mete a mão!

P.T.Juvenal Santos

..................................
Notas:
1. Obrigado pelo comentário sobre os 107 anos do Mirante
"O resgate desse acontecimento somente poderia vir de alguém com a sensibilidade do blogueiro David de Almeida. Centenas de comentários deveriam estar comemorando a data; os penacovenses estão em falta, quer por si mesmos quer por seus descendentes. Ainda que distante, emocionei-me com o relato."

2. Recordemos o porquê das Cartas Brasileiras: