17 maio 2015

O que de pior se terá escrito sobre as gentes de Lorvão

Lançámos, há dias no Facebook, algum “suspense” ao escrever “O QUE DE PIOR SE ESCREVEU SOBRE AS GENTES DE LORVÃO...NUMA REVISTA DE ÂMBITO NACIONAL...EM 1913”, prometendo, a curto prazo, voltar ao assunto nestas páginas do PenacovaOnline.

De facto, na revista “Ilustração Portuguesa” foi publicado um texto, profusamente ilustrado (como é uso dizer-se), onde a par de sentimentos de algum pesar perante o estado decadente do Mosteiro de Lorvão (que em 1910 havia sido declarado monumento nacional), Magalhães Colaço (tratar-se-á  de João Maria Telo de Magalhães Colaço [1893-1931], professor de Direito em Coimbra?),  lança um anátema contra os habitantes de Lorvão, como se fossem eles os culpados de todo aquele “pesadelo de sombras e de tristeza” reconhecido pelo articulista.

Pese embora o mérito de alertar para o estado lastimoso do mosteiro e também de retratar de algum modo a vida social e económica ligada à manufactura dos palitos, este artigo, continuamos a achar, está ferido de uma concepção preconceituosa da pobreza, que, sem dúvida, existia em Lorvão, tal como em todo o país na época em que o autor escreve.

O artigo intitula-se “Palitos de Lorvão”. Como dissemos, inclui algumas preciosidades fotográficas, tem aspectos positivos... mas, quase nos custa trazer à baila os seguintes parágrafos:

“...toda essa gente que lastimei é gente sem moral, sem coração, nem estímulos, é a escória, vendida em hasta pública, do género humano – que já não presta.”

“Quando as últimas freiras foram sepultadas, toda a legião dos nus e miserandos veio refugiar-se no convento , fazendo das celas desertas a casa paupérrima de indigentes...”

“Com os seus 1200 habitantes, Lorvão não tem casas: todas se comunicam, escancaradas, porque todos vivem na mesma promiscuidade vil.”

“Os homens fortes, são madraços famosos a quem o descanso, o sol e o vinho puxaram a pescoceira farta , abasteceram o tronco e puseram aos olhos todo o brilho gorduroso dos alcoólicos professos. Toda a freguesia, esssas mil e duzentas pessoas, trabalha em palitos – dez minutos antes de comer. Levanta-se tudo tardissimo, e se lhes falta o café, como quem toma do realejo para conseguir esmolas, eles se dispõem ao trabalho, em semi-círculo, homens, mulheres e crianças de ambos os sexos.”

Para quem tiver mais tempo, curiosidade e paciência para ler, deixamos aqui, em grafia actualizada, o texto integral.

Oportunamente, daremos continuidade ao tema, referindo textos de Lino d’ Assumpção e de Emídio da Silva publicados em 1899 e em 1909, respectivamente, bem como de Cabral de Moncada e outros, relacionados com Lorvão nos finais do séc-XIX e inícios do séc- XX.


PALITOS DE LORVÃO

Fica-se comovido e absorto, à vista do Lorvão. O vale fundo, sombrio, tristíssimo, onde jazem os despojos do convento. Já não merece aquele nome rude – Lorvão – nome rápido e áspero com o quer que seja do ressoar longínquo de séculos bárbaros e no qual ainda ecoa o ruído dessas terríveis tempestades das almas e dos elementos que rebentaram naquele vale onde apenas cabe o mosteiro. Que apagada tristeza, que confrangida piedade a dos meus olhos, fitando o velho rosto do enorme convento esquecido. Já não tem portão a antiga entrada para o terreiro antigo, em quadrilátero, sem vidro os caixilhos cheios de erva, negríssimas a s grades de ferro de todas as janelas, a que assomam grupos inteiros de famílias acolhidas ao convento. E que rogos lamentosos os destas pedras, que preces combalidas as destas janelas – olhos do mosteiro - a balbuciarem transidas, que não as trespassem mais os ventos e cóleras do céu. Mas como pode remir-se o velho mosteiro arruinado, grande, hirto, na sua magreza de cadáver? Quando as últimas freiras foram sepultadas, toda a legião dos nus e miserandos veio refugiar-se no convento , fazendo das celas desertas a casa paupérrima de indigentes, ao relento prefrindo o frio que sofre quem vive nestas celas de pedra e ferro...
Pobre mosteiro de Lorvão! Para que hás-de morrer aos poucos, sem freiras que te lisonjeiem, sem madres abadessas que te mandem restaurar, pintar olheiras que fossem mascarar-te a velhice, fazer chalrear nos teus claustros, ornamentar de graças o teu coro sumptuosíssimo, povoar formosas as tuas celas  que foram encantadas e refazer de ti o mosteiro opulento do tempo dos antigos reis  - quando a altiva Filipa d’Eça, de sangue azul, neta de El-Rei D. Manuel I, e monja eleita contra tenção de D. João III, leva a revolta às assembleias do coro e debatia com o régio amo e recorria para Roma distante e poderosa, soprando tempestades desse pequenino vale, onde a natureza é arida e  e os deuses espalharam a miséria e a inópia?
O velho convento geme dolorido nas friagens das noites chuvosas, acalma suas dores a os luares de quem ja ouviu louvores nos lábios das freiras, quando à Cerca desciam a beijar seus pares, se a manhã traz uma réstea de sol, todo ele se espreguiça os membros como o calor benéfico da natureza lhes sarasse  as chagas e o aliviasse da torpeza promíscua dos seus centos de habitantes.  
Pobre mosteiro de Lorvão, bendito e louvado quem te talhasse a tumba! Pobre mosteiro, mosteiro velho das lendas, ergue a tua voz pela noite e canta a tua vida gemendo...
...
E como há aqui quem sorria, cante, e case tão jubilosamente, como no dia em que visitei Lorvão?
Só depois me informaram: toda essa gente que lastimei é gente sem moral, sem coração, nem estímulos, é a escória, vendida em hasta pública, do género humano – que já não presta. Com os seus 1200 habitantes, Lorvão não tem casas: todas se comunicam, escancaradas, porque todos vivem na mesma promiscuidade vil.

Os homens fortes, são madraços famosos a quem o descanso, o sol e o vinho puxaram a pescoceira farta , abasteceram o tronco e puseram aos olhos todo o brilho gorduroso dos alcoólicos professos. Toda a freguesia, esssas mil e duzentas pessoas, trabalha em palitos – dez minutos antes de comer. Levanta-se tudo tardissimo, e se lhes falta o café, como quem toma do realejo para conseguir esmolas, eles se dispõem ao trabalho, em semi-circulo, homens mulheres e crianças de ambos os sexos. Tomam da navalha e dos vimes de salgueiro branco, abrem-nos em quatro e, afirmando-os sobre um pequeno protector de couro que os envolve do joelho esquerdo até ao pé, aí adoçam a madeira,  afiam-na em ponta, com duas ou três passagens rápidas de canivete. Voltam essas pontas, marcam nos vimes a altura conveniente ao palito, cavando a madeira e vergam, partem quatro hastes de cada vez. Aí estão os palitos que eles enrolam e vendem em maços a três vinténs. Vinténs? Olhem a fantasia...No Lorvão, desde que as freiras abalaram, já não há moeda alguma - de metal. A moeda é o palito, o autêntico, cujo maço vale uns tantos gramas de café ou farinha, uns tantos decilitros de vinho. O homem da venda e da tenda recebe palitos, não recebe dinheiro, mas examina a moeda com um escrúpulo, com um rigor de quem conferisse velhas assinaturas em pergaminhos antiquissimos. Aquilo tudo é pesado, medido, contado e retribuido em género, de que eles fazem o almoço. Só despertam de novo para a hora de jantar. Há pão? Não há. E lá se têm de afiar mais uns palitos . . . Não trabalham, - mas não são exploradores, haja de confessar-se. Essas hastes, vendem-nas de graça, e nas raparigas, nem um ar de coqueterie a rogar mais uma espórtula de generosidade ao estranho que os compra. Por vezes, apenas um leve sorriso a quem se abeira, como esse que dispensaram ao meu companheiro de viagem .
Lorvão prolifica prodigiosamente. É que nada há tão semelhante à opulência desmedida como a miséria crassa: aquela cria bastardos sem temor, esta alimenta filhos sem cuidado. E, como era de prever depois de se ter visto, esta gente, que anda sempre de canivete em punho, nunca o enfia pelo seu semelhante. Em Lorvão há todos os dias insultos, ameaças, injúrias, arrenegos, e, contudo, raro se marca um homicídio. Para tudo esta gente traz perdida a energia...
E quem há-de explicar que assim floresçam, entre a lama, algumas carinhas lindas de raparigas, cujos pés patinham detritos, cujos corações sabem todas as amarguras - todas casam já mães -, emergindo umas cabecitas lindas, olhos como gemas, gemas preciosas de côr e de suavidade?
Quem sabe? serão estes tipos de ciganas, netas ainda das freiras lindas e graciosas que morreram d'amor ... cansadas? Aquela, mais formosa ainda de lenço em touca, será neta de alguma abadessa?
Lá entram no terreiro do convento cheio  de relva, por onde correm míseros garotos esfaimados. Parece, no século XVIII, a hora sombria  das sopas distribuidas aos pobres que viviam nas abas do mosteiro.
Olho as janelas altas,  gradeadas do negro ferro antigo, a querer ver as freiras de mantos brancos. E vejo ainda as mesmas pobres, com mantos negros de miséria. Caem horas da torre. Lorvão é agora um pesadelo de sombras e de tristeza...
Magalhães Colaço


Penacova em imagens I

Três dos ex-libris de Penacova / Av. Abel Rodrigues da Costa

01 maio 2015

O QUE RESTA DO PAÇO DOS DUQUES DE CADAVAL

Fonte da Granja
Quem não conhece a Fonte da Granja? Pensar-se-á que não passa de mais uma construção ao longo da Estrada Verde (N110). Para uns, aquele arco foi simplesmente talhado aquando da construção do chafariz. Para outros,  seria originário de Lorvão, tal como as colunas do Mirante Emídio da Silva.

Ora, o arco que ali se conserva contém em si a memória de uma parte importante da história de Penacova. As colunas do Mirante, essas sim, terão essa origem, mas no caso da Fonte da Granja, aquele pormenor não será mais do que (possivelmente o único) vestígio do Paço dos Duques de Cadaval. Esta informação consta de uma obra do nosso ilustre conterrâneo, Catedrático de História, Nelson Correia Borges.

É também de um outro penacovense ilustre, Dr. José Albino Ferreira [1], o texto que a seguir transcrevemos e que nos fornece informações preciosas sobre a influência dos Duques de Cadaval em Penacova. Conta então, José Albino Ferreira:


Com a implantação do regime liberal, pela vitória definitiva do partido constitucional, por toda a parte se refundiu e transformou a vida social dos portugueses. As antigas casas dominantes desapareceram ou decairam. As fortunas das famílias antigas que em geral se mantiveram ligadas ao partido miguelista estavam muito comprometidas por virtude das invasões francesas e depois pela guerra civil.
Em Penacova aconteceu o mesmo. Eram donatários da vila de Penacova, primitivamente, os condes de Odemira. Esta casa fundiu-se mais tarde, por casamento, com dos duques de Cadaval e assim ficou a ser donatário de Penacova o Duque de Cadaval. Era este Senhor que superintendia em todos os serviços judiciais e administrativos. Nomeava o Juiz e demais funcionários públicos.
Tinha em Penacova o seu Paço, com capaela anexa, no sítio onde agora está a Casa do Tribunal[2]. Tinha em Penacova o seu capelão e procurador, pois era proprietário de muitas terras, lagares e azenhas, e recebia delas as rendas e foros.
O Duque de Cadaval era o Governador Militar de Lisboa quando os miguelistas foram vencidos pelas tropas liberais em Almada. Como visse que não podia manter-se em Lisboa, retirou com as tropas fiéis, e assim, depois da Cionvenção de Évora Monte e termo da Guerra Civil, emigrou para França, não voltando a Portugal.[3]

Como consequência, resolveu o Duque de Cadaval vender todos os bens que possuia em Penacova.
Fotomontagem: Penacovaonline
O Paço foi destruido por um incêndio e depois vendido à Câmara de Penacova, que ali construiu[4] o edifício dos Paços do Concelho e o Largo Fronteiro que hoje tem o nome de Largo Alberto Leitão.
Tinha a Casa de Cadaval uma Capela anexa ao Paço, que foi destruída pelo incêndio, uma capela lateral na Igreja de Penacova, onde ainda está o escudo das armas dos Duques de Cadaval. É uma capela ampla com sacristia. O estilo é de boa renascença.
Com o desaparecimento da fortuna da Casa de Cadaval em Penacova, desapareceu o capelão, o procurador e e mais pessoal. Com o incêndio desapareceram muitos documentos que, certamente, dariam luz para a história de Penacova.




[1] Oriundo da freguesia de Sazes, era formado em Direito, foi notário em Penacova e foi também Presidente da Câmara quer no tempo da monarquia (era-o aquando da inauguração do Mirante) quer mais tarde já no regime republicano. Curiosamente também era  Padre (sem paróquia atribuída mas celebrava missa). Personalidade marcante do nosso concelho e tão pouco conhecida e valorizada.
[2] Texto escrito nos anos quarenta do séc. XX
[3] Ainda hoje a Família Cadaval vive em França e só vem a Portugal com curta demora.,; mas conserva o seu apego à pátria. Os varões, chegando à idade própria, cumpremos seus deveres militares, segundo me consta.
[4] Inaugurado a 1 de Janeiro de 1869 sendo presidente da câmara Constantino Almeida Amaral.

25 abril 2015

O 25 de Abril de 1974 em Penacova


Como em muitos pontos do país, a notícia da Revolução foi recebida em Penacova com um misto de entusiasmo e de apreensão por parte da população em geral.
Foi só no dia 1 de Maio que  as manifestações públicas e mais significativas se fizeram sentir. Neste dia, muitas pessoas se concentraram em frente da Câmara Municipal e de seguida tomaram parte numa sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Foi enaltecido o Movimento das Forças Armadas e foi eleita uma Comissão para gerir o Município (recorde-se que o Presidente da Câmara no momento do 25 de Abril era o Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro).
Dessa Comissão  faziam parte Fernando Ribeiro Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da Silva, Américo Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa.
Tomou posse a 2 de Maio e de entre os seus elementos foi escolhido para presidir à mesma o Dr. Teófilo Luís Alves Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António de Sousa. O terceiro elemento com mais responsabilidades no executivo passou a ser também  o Engº Castro Pita.
Teófilo Marques da Silva, natural do Porto, licenciado em História, militante do Partido Comunista Português era professor e director do Ciclo Preparatório de Penacova desde 1971.
Perante as dificuldades em satisfazer os anseios das populações e também confrontados com algumas atitudes como aquela em que Castro Pita foi agredido em plena sessão da Câmara, a Comissão apresenta a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se entretanto em funções por mais algum tempo. Em entrevista concedida em 2002 ao Jornal de Penacova, Teófilo Marques recorda o ambiente que se viveu em Penacova no 25 de Abril.”A revolução dos cravos foi recebida com grande júbilo, pelo menos, por parte das pessoas com quem eu contactava. Claro que esse sentimento positivo não era unânime, havia pessoas que estavam mais identificadas com o ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao antigo regime e, naturalmente, tinham as suas próprias ideias que não coincidiam com as que tinham levado à revolta de Abril. Por mim, eu já há muito que assumia a minha tendência para as ideias de esquerda.”
Teófilo Luís Alves Marques da Silva (2 de Maio 74 a Agosto de 75:
 nesta data pede a demissão ficando em funções durante
 mais algum tempo)) e
José Alberto Costa (24 de Abril de 76 a 31 Dez 76)

Consumada a intenção de se demitir, a Comissão, reunida com os representantes locais dos Partidos entendeu indigitar para Gestor Municipal, o 1º Sargento de Infantaria, José Alberto Costa, que exerceu essas funções entre 24 de Abril  e 31 de Dezembro de 1976.
Refere o jornal Notícias de Penacova que “depois de muito instado e sendo indivíduo sempre pronto a dar o seu melhor a bem do País, militar irrepreensível, acabou por aceitar e a população penacovense congratulou-se com o facto; estava garantida a continuidade da obra municipal, iniciada pela Comissão Administrativa cessante e que neste jornal foi bem demonstrada.”

12 abril 2015

Cartas brasileiras: Não me importam os motivos


Santo Deus, e meus ouvidos! Pelo que está escrito no Apocalipse, é sofrimento para ninguém botar defeito. Os anjos chegarão fazendo muito barulho; na primeira trombeta o fogo jogado sobre terra irá causar “um arraso”, queimará um terço das árvores e das ervas. Na segunda trombeta, lança-se fogo e sangue sobre o mar, matando um terço das criaturas e destruindo um terço dos navios. E em cada uma delas, até à sétima, desgraças para ninguém botar defeito. Quando o terceiro anjo tocar sua trombeta cairá do céu uma grande estrela ardendo como uma tocha, cairá sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas. Ao som da quarta trombeta o Sol a Lua e as estrelas trarão escuridão, um terço do dia parecerá noite. Ainda com os ouvidos doendo, com os tímpanos quase estourados, ouviremos a quinta trombeta anunciando uma estrela que caindo do céu abrirá um grande abismo; gafanhotos e escorpiões cobrirão a terra, quem não tiver o sinal de Deus na testa pode esperar o pior. Na sexta trombeta mais dor. Das cabeças dos cavalos, como cabeças de leões, sairão fogo e enxofre. Nessa altura um terço dos homens já terá morrido. Não bastassem os ouvidos, a dor não irá parar com a sétima, a trombeta final anunciando o novo reino do Senhor.

clique na imagem para ouvir
Será que não daria para trazerem junto Artie Shaw e sua orquestra, quem sabe Benny Godman. Por que não Ray Anthony! Talvez Lester Young. As opções são tantas que não há desculpas; dispenso os motivos; por Deus apenas façam. Ou não basta ouvir as ambulâncias desesperadas gritando pedindo passagem, presas pelo trânsito caótico, lá dentro uma mulher para dar a luz, um idoso nos últimos suspiros ou uma criança chorando.

P.T.Juvenal Santos ptjsantos@bol.com.br


09 abril 2015

Lorvão: Memória e Tradição


Em parceria com a Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, o município de Penacova, promove, no âmbito das Comemorações dos 300 anos da Trasladação das Santas Rainhas Teresa e Sancha, e do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, o Colóquio Internacional "Lorvão: Memória e Tradição", bem como um conjunto de outras iniciativas, anuncia a página da Câmara Municipal. 

Fica a transcrição:

Tendo como objetivo, nas palavras de Fernanda Veiga, Vereadora da Cultura do município, "sensibilizar os cidadãos para a importância do património na nossa sociedade, o tema do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios - "Conhecer, Explorar, Partilhar" - chama  a atenção para a necessidade de conhecermos o Património e a sua potencialidade enquanto recurso vital para um desenvolvimento harmonioso, bem como para a imprescindibilidade de o partilharmos, entendendo-o como legado e possibilidade de futuro.

É neste âmbito e, tendo como, premissa base a importância do conhecimento, para melhor explorar a potencialidade dos recursos patrimoniais na sociedade contemporânea, partilhando ideias, saberes, perspetivas, preservando a identidade local e a ligação profunda às comunidades, que nos dias 17 e 18 de abril, o município de Penacova comemora o seu Património, com um programa dirigido a todos os públicos e que terá como, expoente, o Colóquio Internacional "Lorvão: Memória e Tradição", que terá lugar pelas 14H30, do dia 17 de abril, no Mosteiro de Lorvão".

O colóquio, cuja sessão de abertura será presidida pelo Presidente do município de Penacova, Humberto Oliveira, conta, na sua Sessão de Abertura, com a presença de representantes da Junta de Freguesia de Lorvão, da Direção Regional da Cultura do Centro, da Consejeria de la Cultura da Junta de Castilla y Léon, do Ayuntamiento de Cabezón de Pisuerga, da Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, será moderado pelo Prof. Doutor Luís Reis Torgal, tendo como intervenientes: Arq. Fábio Nogueira, "A Evolução do Mosteiro e o Condicionalismo que impôs ao lugar de Lorvão"; Mestre Paula Silva, "Cultura e Património Imaterial de Lorvão"; Prof. Doutor Humberto Figueiredo, "O Património, as Comunidades e o Desenvolvimento"; D. Victor Pesquera, "A História do Mosteiro de Santa Maria de Palazuelos". Às comunicações dos palestrantres seguir-se-á, um momento para debate, após o que será realizada uma visita guiada ao Mosteiro de Lorvão e sua envolvente.

Ainda no dia 17 de abril, e logo pela manhã, o Projeto PENANIMA, realizará uma recriação histórica no Pátio do Mosteiro de Lorvão, dirigida ao público infantil e, à noite, pelas 21H30, a Igreja do Mosteiro de Lorvão será palco, pelas 21H30, de um Concerto realizado em parceria pela Escola de Artes de Penacova e o Conservatório de Música de Coimbra, com a apresentação das classes do Prof. Rodrigo Carvalho e das Profs. Joaquina Ly e Maria José Nogueira, respetivamente. A segunda parte do concerto estará a cargo dos Profs. Rodrigo Carvalho e Júlio Dias.

No dia 18 abril, o município promove, a partir das 09H30,  uma Caminhada na Ribeira de Arcos, seguida de Almoço no Forno Comunitário de Lorvão. Os interessados em participar nesta iniciativa deverão concentrar-se pelas 09H00 em Penacova (saída dos autocarros junto ao edifício da Câmara Municipal de Penacova) ou em Lorvão, pelas 09H15 (saída dos autocarros junto ao Mosteiro de Lorvão).

A participação no Colóquio "Lorvão: Memória e Tradição", bem como na "Caminhada na Ribeira de Arcos" é de acesso gratuito.


As Comemorações dos 300 anos da Trasladação das Santas Rainhas Teresa e Sancha decorrerão até 18 de outubro, com um conjunto de iniciativas culturais, religiosas e gastronómicas diversificadas, organizadas em parceria entre o Município de Penacova, a Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão e a Paróquia de Lorvão, contando com o apoio institucional da Junta de Freguesia de Lorvão, Direção Regional da Cultura do Centro, Diocese de Coimbra, Grupo Etnográfico de Lorvão, Filarmónica Boa Vontade Lorvanense e Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Penacova.


26 março 2015

Jornal Notícias de Penacova: 26 de Março de 1932 - 28 de Dezembro de 1978

A primeira página do nº 1 (26 de Março de 1932)
O Notícias de Penacova, veio a lume pela primeira vez, a 26 de Março de 1932 Faz, portanto, hoje, 83 anos. Teve uma existência de quase meio século.

O primeiro director e proprietário foi José de Gouveia Leitão (que, recorde-se, era  filho do Conselheiro Artur Leitão e foi Presidente da Câmara). O editor era João Simões Barreto (que também estivera ligado ao Jornal de Penacova). João Barreto era Fiscal dos Impostos, escritor e fotógrafo amador. Como redactor principal encontramos o nome de Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, natural de Lorvão (casado com a escritora Lúcia Namorado, prima de Maria Lamas e mais tarde fundadora da Revista Os Nossos Filhos). Na altura era escrivão do Julgado Municipal de Penacova. O administrador era o professor e delegado da Junta Escolar, José Joaquim Nunes.

Apresentou-se como ‘’Semanário Regionalista” e ao mesmo tempo "integrado na corrente que de norte a sul” se desenhava. Passado um ano de publicação, assume-se como afecto do “nacionalismo triunfante”.


Até 1937 coexistirá com o Jornal de Penacova num clima de alguma tensão. Em 1936 a direcção passa de J. Gouveia Leitão para Monsenhor José de Oliveira Machado.

Nas últimas décadas de existência será marcado pelas figuras do Professor e Delegado Escolar Joaquim de Oliveira Marques e do Padre Manuel Marques (que assinava as suas escritas como Manuel do Freixo). Este padre, natural de freguesia de Figueira de Lorvão, escreveu durante muitos anos no bem conhecido “Amigo do Povo” a crónica À Sombra do Castanheiro / Ao calor da Fogueira. O Arcipreste, e mais tarde Cónego, Manuel Vieira dos Santos foi também seu proprietário. Era  natural de Santa Catarina da Serra, ali perto de Fátima, onde está sepultado,  .

Com a morte deste, em 1966, a gestão passou  para a Paróquia de Penacova. Após o 25 de Abril de 1974 Joaquim de Oliveira Marques é “saneado” e os seus directores passarão a ser os sucessivos párocos de Penacova.

 Por motivos financeiros, conforme oficialmente anunciado,  terminará em 8 de Dezembro de 1978.

22 março 2015

Penacova rural: início dos anos oitenta







FOTOGRAFIAS DE VARELA PÈCURTO*
RECOLHIDAS
NO CONCELHO DE PENACOVA NO INÍCIO DOS ANOS OITENTA


O MEIO RURAL EM PORTUGAL

Como faz notar F. O. Baptista (1996: 53), na primeira metade dos anos setenta (1970/74), a superfície semeada anualmente no Continente já baixara 23% relativamente a 1960/64, e, em 1985/88, esta quebra era já de 45%. Entretanto, compram-se muito mais adubos, pesticidas, motores e tubos de pvc para rega, e tractores.

Em 40 anos a química e a mecânica instalam-se nos campos. Da vila ou da cidade chegam também sementes, rações e gasóleo.

É a mudança tecnológica bem patente na percentagem dos consumos intermédios na produção final da agricultura, que passa de 6% em 1950 para 45% em 1990 (F. O. Baptista, 1996: 40).

 in O MEIO RURAL EM PORTUGAL: ENTRE O ONTEM E O AMANHÃ - Comunicação apresentada  por José Portela  (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) ao Seminário Internacional A Revitalização do Mundo Rural e o Ordenamento do Território, Lisboa, 15-17 de Maio de 1997. 



* publicadas no livro Penacova de Varela Pècurto, 
   edição Hilda, Coimbra 1984 

18 março 2015

Cartas Brasileiras

Crónica de 
Paulo Santos

                                             DEVOLVA O ANEL

           
            De uns tempos para cá, as coisas andam por demais estranhas no meu país, fica cada vez mais difícil saber o que é ético e moral.
Vozes irão se levantar para dizer que a estranheza  não é de hoje, começou em 1808, com a chegada de Dom João VI e sua a corte, e que o “apadrinhamento”, inchaço da máquina pública, vem desde aquela época, pois que na fuga de Portugal, entre 10 e 15 mil portugueses vieram para o Brasil. Claro, o “povo” lá ficou não por não temer Napoleão, mas por tão ter como vir.
O tal “déficit  público” é  herança maldita; treze anos após a chegada da Família Real o buraco no orçamento tinha aumentado mais de vinte vezes. Já  naquele tempo contratavam artistas com o dinheiro “da viúva” e esbanjavam o que não tinham com viagens dos integrantes da “corte” (um dia vi pela TV Senado aprovarem o requerimento para que um senador se ausentasse do país para participar de um congresso em Saigon; 30 dias!).
O Banco do Brasil  criado em 1808 estava arruinado em 1820, seus depósitos em ouro, que serviam para de garantia para a emissão de moeda, representavam apenas 20% do total em dinheiro; 80% era “moeda podre”. Não fizeram o reajuste fiscal!
A “caixinha” corria solta nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos; se o interessado não “comparecesse” com os 17% os processos simplesmente paravam de andar. Portanto, por que reclamar tanto do que acontece na Petrobrás!  
Ora, como se vê, dirão para se justificar, as coisas por aqui desandam desde o tempo da coroa. Verdade! Os que aí estão não foram os únicos, mas isso pouco resolve, não limpa a alma de ninguém; padrões éticos estão mais na vergonha de cada um.   
Imagine, alguém que tendo cometido um assalto com sua quadrilha,  presenteia a mulher com o anel de brilhante que roubou! Ainda que ela desse uma de Dona Maria, a louca, e dissesse que não sabia que o marido era ladrão, que o anel era roubado, ou preferisse desconhecer a origem do bagulho, poderia querer ela ficar com o produto do roubo! Certamente que não, diremos nós; há os que acham que pode.
Tudo bem que não deva ser presa, pensamos nós, mas que devolva o anel! 

P.T.Juvenal Santos
_________________________________________ 
Nota: 1) As citações sobre a chegada da família real foram obtidas no livro 1808 de Laurentino Gomes, um livro de história do Brasil e Portugal, publicado em 2008. O autor recebeu o prêmio de melhor Livro de Ensaio da Academia Brasileira de Letras e Prêmio Jabuti de Literatura. Escreveu 1882 e 1889 completando a trilogia.

CLIQUE NA IMAGEM PARA VISUALIZAR O VÍDEO

Nota: 2) Dia 15 de março de 2015, a população saiu às ruas no Brasil para protestar contra a corrupção, contra o verdadeiro assalto cometido contra a Petrobrás, a nossa empresa queridinha. O Ministério Público, recebendo as denúncias da chamada Operação Lava Jato indicia por diversos crimes, empreiteiros,  diretores da Petrobrás e políticos. O esquema enriquecia os donos das empreiteiras, os diretores da Petrobrás, e fornecia dinheiro para partidos políticos principalmente para os integrantes da base aliada do Governo: PT. PMDB e PP, financiando inclusive campanhas eleitorais.  É disso que trata o vídeo.