15 março 2015

Cartas Brasileiras: Com Cópia Oculta


Ao enviar email em cadeia para meus amigos, utilizo sempre o recurso CCO (Com Cópia Oculta); evito expô-los. Em uma dessas mensagens, encaminhava a todos as respostas recebidas, sem que ninguém soubesse de quem era. O incrível era que eu não conhecia pessoalmente um dos meus grandes amigos.
Como ter amigo que não se conhece? Se eu contasse veria que pode.
Título do email: "Eu não estou me comportando mal"; o qual escondia uma mensagem cifrada. No texto, a morte de Robin Williams, e um link para que ouvissem uma música, uma descoberta, então recente; desconhecia a música e o intérprete, mesmo sendo preciosidade dos anos 40! A beleza nem sempre se nos apresenta, temos que buscá-la.
Logo veio a primeira resposta de um o amigo que se valeu de Saramago:  "Ninguém está falando que está"; ou seja, que eu estivesse "enchendo". Passou ele batido pelo texto cifrado. E seguiu falando do ator: ”atuação extraordinária em Bom dia, Vietnã. Acho que o diretor deixou-o fazer o que quisesse. Outra atuação maravilhosa é a do professor, em Sociedade dos Poetas MortosÉ isso aí. Matarei a saudade, revendo seus filmes”.
O amigo “desconhecido” comentou: “Devo dizer-lhes que estou ouvindo a canção; eu ainda não há conhecia, foi amor à primeira vista; incrível, como pude não conhecer essa maravilha! Como não sabemos de nada!”
            Outro escreveu: “ah, eu também sou fã de Robin Williams, digo sou, porque sou fã de Burt Lancaster, James Stewart, Audrey Hepburn, Ava Gardner, etc., etc.”.
Animado, um queria mais: “espero que nos encontremos novamente nas próximas mensagens, estou adorando essas conversas;  a música é adorável!
            Há sempre os mais comedidos: “Obrigado pela música, de extremo bom gosto; enfeitou meu sábado”.
            A morte do ator provocou mais comentários: “concordo, foi sim um belo filme. Linda canção! Bom final de semana, boas viagens. Abraços do amigo de sempre.”
          Como eu, um saudosista: “adorei Sociedade dos Poetas Mortos;  não tenho visto mais filmes tão lindos assim. Ou eu me tornei um chato, ou não fazem mais daqueles filmes”.
O fim daquela conversa veio com o email que enviei: “Interessante, amigo de sempre não é aquele que é desde a eternidade, mas aquele que ao se tornar permanece assim. Abraço a todos. Tenho que ir, minha mulher já me telefonou para o almoço; explico, meu netinho quer comer comida chinesa no Shopping, eles foram eu fiquei, agora lá vou eu.”
            Não me censurem pela brincadeira de “Eu não estou me comportando mal”, segue o link para que ouçam “Ain´t Misbehavin´ ”; é linda!


PS: o amigo que não conhecia partiu de repente, tive que apagá-lo dos meus contatos. Muito triste.  Ah! Ele adorava a música “Misty” 

12 março 2015

A "Pedra Curiosa": leia a notícia que o Jornal de Penacova publicou em 1915

Já em 20 de Fevereiro de 2011 havíamos escrito neste blogue um texto intitulado As Bilobites de Penacova onde dávamos conta dos longínquos anos em que pela primeira vez tivemos a oportunidade de ver esta “pedra” no Museu Geológico da Universidade de Coimbra.
No livro Penacova e a República na Imprensa Local (2011) também fizemos referência 
à “pedra curiosa” a propósito da crítica desferida às crenças religiosas do “povo ignorante” por parte dos republicanos, detentores do Jornal de Penacova.
Em 2012 quando se preparava a obra Patrimónios de Penacova, de novo procurámos mais informação sobre o assunto. A referência a “este património” ficou a constar do livro. Já antes, na obra de Carlos Fonseca e Fernando Correia, Penacova,o Mondego e a Lampreia havia sido dado grande relevo a estes aspectos, inclusivamente com fotografias excelentes de fósseis recolhidos na região de Penacova e também dos icnofósseis (vestígios da actividade biológica) encontrados na zona de “Entre Penedos”.
Há dias, a propósito da intervenção que a Câmara Municipal está a levar a cabo na Livraria do Mondego voltámos ao assunto. Quando hoje publicámos imagens da “lage de grandes dimensões” prometemos trazer aos leitores do Penacova Online a notícia publicada em 1915 no Jornal de Penacova nº 709 de 22 de Maio de 1915.

Aqui vai:

PEDRA CURIOSA

Em Entre Penedos, nas obras da estrada 48 (...) foi encontrada uma pedra curiosíssima, com desenhos em alto relevo, que não obstante serem irregulares, são de traço uniforme, de largura aproximada de seis centímetros, em forma de cordão, com umas reentrâncias ao meio. Os desenhos ou antes cordões entrecruzam-se, sobrepondo-se no ponto de contacto.
A pedra que conseguiu arrancar-se , mas fragmentada , mede cerca de 3 metros de comprimento por um a um e meio de largo e de 20 a 30 centímetros de espessura.
O bloco, que foi encontrado em posição vertical (...) não foi completamente arrancado devido à grande dificuldade que há em o fazer.
O lente de geologia da Universidade, dr. Anselmo Ferraz, veio ver a referida pedra e mandou removê-la para o museu daquela cidade. O exemplar realmente curioso não é uma novidade para os geólogos (...) uns atribuem à incrustação de raízes e fetos minerais (...) outros atribuem ao rasto de um bicharoco de nome muito arrevesado que agora não nos lembra, que passeava muito tranquilamente por sobre esses referidos minerais, que depois se petrificaram.
Como é natural, em volta da referida pedra já o nosso povinho na sua ignorância, criou uma lenda - ou mais do que uma - crendo uns que aquilo é obra dos moiros e outros que é coisa de milagre porque no emaranhado dos desenhos e ao meio de um círculo, com um pouco de boa vontade, se pode ver desenhada uma cruz!
Mas não temos que nos admirar do desacordo em que o povo ignorante está sobre a origem da curiosa pedra, porque os próprios sábios geólogos também o estão!
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Jornal de Penacova, nº 709 de 22 de Maio de 1915

Alguns dos cabeçalhos que o Jornal de Penacova (1901-1937)
foi apresentando

Ainda a "Pedra Curiosa" ou Cruziana de Entre Penedos: veja aqui fotos e vídeo recolhido em 2012 aquando da preparação do livro Patrimónios de Penacova

Publicamos, na sequência do penúltiplo post, um conjunto de imagens 
que tínhamos em arquivo, sobre este tema. 
Oportunamente publicaremos o texto que saiu no Jornal de Penacova há 100 anos
quando foi descoberta a tal " Pedra Curiosa", assim designada no título do artigo.














CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA VER VÍDEO

24 fevereiro 2015

CARTAS BRASILEIRAS: O NARIZ DE VAN GOGH

Cores primárias, secundárias, terciárias, complementares, são denominações para classificar as cores. Há outras tantas: podem ser quentes e frias. Pouco sei sobre as cores, pouco sei sobre elas, mas são tão belas! Do mesmo modo como me disse um amigo, de vinho e mulher pouco entendo mas gosto!
Para um artista, sabê-las é imprescindível, para melhor distribuí-las na tela no momento da criação, e assim chamar a atenção para o tema principal, dar destaques, oferecer contrastes, suavizar, dar força e equilíbrio. Não basta distribuir sobre a paleta vários montinhos de tinta e tentar combinações, poderá acontecer de serem todas cores complementares, que se misturadas resultarão em cinzas e preto.
            Dizem que, em suas alucinações, Vincent Van Gogh cheira os montinhos de tinta, comia, na tentativa de descobrir o gosto do amarelo, o sabor do vermelho, que paladar teria o azul, para assim poder melhor utilizá-las! Ficava ele intrigado com o que se passava na mistura do azul com o amarelo na formação do verde. Com tanta a ansiedade, para entender as cores, era capaz de beber solvente com bocados de tintas, queria compreender a interação que se dava entre elas. Que ninguém faça isso; mera loucura,  loucura do genial Van Gogh.
            E, como de gênio e louco todo mundo tem um pouco, vou dar minhas pinceladas do jeito que “malemá” eu sei, escrevendo (malemá, mais ou menos, expressão usada no Vale do Ribeira, SP, Brasil, região onde nasceu meu pai).
            Como o negro é a ausência de cores, posso dizer que meu deu “um negro”, ausentei-me de escrever prá lá de um mês para o blog.
CLIQUE NA IMAGEM

E, como cantou Frank Sinatra, “Let me tray again” (Paul Anka/Cahn e Caravelli):Deixe-me tentar novamente/ pense em tudo o que tínhamos antes/ deixe-me tentar mais uma vez / podemos ter tudo/ você e eu novamente/Apenas perdoe-me ou eu vou morrer/por favor, deixe-me tentar novamente”.
            Do mesmo Paul Anka, o Senhor Olhos Azuis, cantou MyWay, que pode ser ouvida e vista no YouTube.

My Way (clique no link acima)
            Meu abraço ao David, retomando o blog, o que é muito bom para Penacova.

Paulo T J Santos – ptjsantos@bol.com.br

Nota:
Obrigado Paulo. O regresso dos seus textos é também enriquecedor para o blogue e para os seus leitores.

Encontrada há 100 anos a “pedra curiosa” da Livraria do Mondego

Na obra Patrimónios de Penacova – apontamentos para a sua valorização e divulgação, de J. Leitão Couto e David Almeida (e também no livro Penacova, o Mondego e a Lampreia, de Carlos Fonseca e Fernando Correia) refere-se um pormenor, que entre outros,  atesta a importância geológica da “Livraria do Mondego”. Nestas obras são apresentadas imagens da lage de grandes dimensões colectada na zona em 1915.  Esta “pedra” encontra-se exposta no  Museu Mineralógico de Coimbra.  Segundo a legenda “trata-se de um icnofóssil de trilobite semiplicata do Período do Ordovícico da Era Paleozóica.” Nos finais do séc. XIX o prestigiado geólogo Nery Delgado fez importantes estudos nesta região e elaborou mesmo a célebre  Carta Geológica do Buçaco. 
"Bilobites – Vila Nova - Penacova" - assim
identificada no Museu Mineralógico
da Universidade de Coimbra
Naquele ano de 1915, segundo notícia do Jornal de Penacova, quando decorriam as obras da Estrada Real n.º 48 na zona de "Entre-Penedos" foi descoberta “uma pedra curiosíssima com desenhos em alto relevo, que não obstante serem irregulares, são de traço uniforme, de largura aproximada de seis centímetros, em forma de cordão (…) os desenhos ou antes cordões entrecruzam-se, sobrepondo-se no ponto de contacto. A pedra que conseguiu arrancar-se mas fragmentada, mede cerca de 3 metros de comprimento por um e meio de largo e de 20 a 30 cm de espessura.”

Ora, é esta "pedra curiosa" que ainda hoje se pode observar  no Museu Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra com a indicação "Bilobites – Vila Nova - Penacova".Na altura, o lente de Geologia, Anselmo Ferraz, mandou remover a placa para o museu daquela cidade – diz o referido jornal - para estudo e posterior exposição. Junto do painel de grandes dimensões podemos ler ainda  a seguinte informação: "Cruziana sp. – Marcas da locomoção produziadas pelo movimento de trilobites sobre sedimentos pouco estabilizados. As trilobites deslocavam-se rastejando semi-enterradas no sedimento com ajuda de apêndices locomotores. Pensa-se que estas marcas poderão estar também relacionadas com os métodos de alimentação utilizados pelas trilobites".

Como escreveu Carlos Neto de Carvalho, estudioso destes temas, trata-se de  "janelas temporais" dum mundo "perdido" há cerca de 500 milhões de anos. A propósito, refira-se que o jornalista penacovense, Álvaro Coimbra, o entrevistou aquando da produção de uma reportagem para a Antena1 sobre o Geopark Naturtejo, que inclui o núcleo de Penha Garcia.
Por falar em Álvaro Coimbra,  o local conhecido por “Entre Penedos”, resultante do corte do Penedo João Freire, foi tema do post de em 10 de março de 2014, precisamente no seu blogue “Livraria do Mondego”.

Já o sugerimos na obra acima referida: seria motivo de interesse local e de enriquecimento turístico da zona se uma réplica do original estivesse exposta em Penacova – mais precisamente no local onde há 100 anos foi encontrada. Já só falamos em réplica, partindo do princípio de que dificilmente o original regressaria à origem. 

Até porque cremos  que esta ideia não terá sido ponderada no projeto de preservação do Património Natural da Livraria do Mondego, candidato ao Programa LEADER ADELO, que vai permitir avançar com as obras relativamente às quais em 19 de Novembro passado  foi assinada  a consignação da empreitada. Conforme refere o site da Câmara, “esta empreitada [no valor de 46.473,14 euros] vai permitir preservar, valorizar, dinamizar e promover o território e nomeadamente aquele núcleo geológico, promovendo as acessibilidades a pontos fulcrais que permitam devolver este espaço de excelência natural às populações locais e visitantes”.
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02 novembro 2014

Cartas Brasileiras: Bons Dias! Bom Mês!

Bons dias!

Assim Machado de Assis iniciou algumas de suas crônicas publicadas na Gazeta de Notícias, entre abril de 1.888 a agosto 1.889; isso mesmo, no plural, e por manter contado apenas semanal com os leitores, deseja a todos “bons dias”.
Em uma delas, justificou o cumprimento — “Hão de reconhecer que sou bem criado. Podia entrar aqui, chapéu à banda, e ir logo dizendo o que me parecesse; depois ia-me embora, para voltar na outra semana”.
A saudação inicial em uma chegada ou aproximação, além de polidez, revela nossa cordialidade e apreço. Um “bom dia” recebido de um amigo, quando sabemos das dificuldades que teremos que enfrentar, pode ser o conforto ou força de que tanto necessitamos; quer melhor para começar o dia!
No Vale do Ribeira, terra do meu pai, mantendo até hoje um antigo costume, no primeiro encontro diário com os pais, as pessoas ajuntam as mãos, como se fossem rezar, fazem um leve aceno com a cabeça, e dizem: “bença, pai! bença mãe!” Repetem o gesto ao  final do dia antes de ir para a cama. 
De volta às crônicas de Machados de Assis, aquelas dos “Bons Dias” ele as assinava usando o pseudônimo Policarpo, apresentado como um relojoeiro que havia se desencantado com a profissão.
E eu estou aqui a falar de relógio, eu que sequer use um,  não porque não me prenda ao tempo e nem dê valor a ele; não. É que contando fazendo as contas nas pontas do dedos, vi que minha mãe se viva fosse teria feito 101 anos, e que o tempo levou meu pai já há sete anos, privando-nos para sempre de ouvir o som de sua clarineta.
Então busco consolo escutando “Beguin the Beguine”com Artie Shaw e Orquestra. Ao som da música digo: “Bença pai, bença mãe!”
E  para você leitora ou leitora: “Bom mês!”



 (clique na imagem)

P.T.Juvenal Santosptjsantos@bol.com.br


Obs: crônica reescrita, original publicada 03/08/2010 em O Diário de Barretos

10 outubro 2014

Município de Penacova adquiriu a casa onde nasceu António José de Almeida


O município de Penacova adquiriu a casa onde nasceu António José de Almeida, sexto Presidente da República de Portugal, oriundo deste concelho. "Este sonho era acalentado há várias décadas, sem que nunca se conseguisse atingir o objetivo de o concretizar. Contudo, havíamos feito a promessa de reerguer a casa e o nome deste Presidente, em nome da população penacovense, e por isso a celebração desta conquista deve ser partilhada por todos", referiu Humberto Oliveira, presidente do município.
Foi no âmbito das comemorações da Implantação da República e do 10º aniversário do Museu da Presidência da República, que o município de Penacova celebrou ontem, dia 05 de outubro, pelas 15H00, no Museu da Presidência, a escritura de compra da casa onde, em 17 de julho de 1866, nasceu António José de Almeida, localizada em Vale da Vinha (União das Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio do Mondego). António José de Almeida foi um político republicano português, que chegou ao mais alto cargo da nação, o de Presidente da República Portuguesa, cargo que exerceu de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923.


O Museu da Presidência, representado pelo seu Diretor, Diogo Gaspar, associou-se a esta iniciativa da autarquia, estabelecendo uma parceria dinâmica com vista à definição estratégica da utilização da casa e da sua fruição pública. Presentes na cerimónia estiveram, para além de representantes da Casa do Concelho de Penacova em Lisboa, também José António de Almeida Abreu, neto de António José de Almeida.
Após a assinatura do contrato de compra, o Executivo Municipal que se fez acompanhar neste ato pelo Presidente da União das Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio do Mondego, foi recebido pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que congratulou o município pela iniciativa, desejando o maior sucesso ao futuro da casa.
No final da tarde, o Executivo Municipal penacovense, acompanhado pelo Presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, Pedro Delgado Alves, e muitos penacovenses residentes em Lisboa, prestaram homenagem a António José de Almeida, depositando junto à sua estátua uma coroa de flores.

Conforme realçou Humberto Oliveira, "este era o passo imprescindível para que se intervenha na requalificação da casa e se faça viver nela todo o simbolismo histórico e político que representa António José de Almeida. A população de Penacova vê assim assegurada, com o esforço do seu município, a preservação da sua história e a vontade de perpetuar os seus símbolos, que orgulham a nossa gente".

TEXTO E FOTO 1: SITE da Câmara Municipal de Penacova. 

Nota: Congratulamo-nos vivamente com este facto. Veja texto publicado no Penacova Online de 5 de Outubro de 2023

23 setembro 2014

Cartas Brasileiras: garrafa com mensagem



Não sei como o leitor ou leitora  chegou aqui; tampouco sei quem é e de onde vem.  Nem mesmo sei por qual caminho,  sei somente que caminhando pela margem do rio acabou por encontrar a garrafa, e que ao abri-la leu a mensagem que nela havia:




Como tudo agora é tão moderno, verá que a mensagem está escrita em azul, a indicar que "clicando" no texto será direcionado a um vídeo.
Se vendo o vídeo achar que ele nada signifique para você ou que o/a comova, por favor, coloque novamente a garrafa no rio, talvez logo mais à frente um outro caminhante possa encontrá-la, quem sabe dela necessite. Boa viagem!


(clique na imagem para ver o vídeo)
P.T.Juvenal Santos


21 agosto 2014

Cartas Brasileiras: amando ou brigando por cartas

Amando ou brigando por cartas
Dizer que antigamente era assim pode dar a impressão de algo muito afastado no tempo, quando na verdade o passado está logo ali; quarenta, cinquenta, sessenta anos! Pois é, como antigamente a paixão distante era curtida e mantida na base das cartas, nas juras eternas de amor, o anúncio do rompimento, as lágrimas pela separação passavam também pelo correio. Se assim era na vida, não havia como a música popular não retratar esses momentos, daí existirem vários registros dessa época eternizados pela música.
“Devolvi” é uma dessas preciosidades, gravada primeiramente por  Nelson Gonçalves (1919-1998), cantor de muito sucesso nas décadas de 40, 50 e 60, sendo ainda apreciado pelos mais velhos. O autor português, Adelino Moreira de Castro (1918-2002) nasceu em Covêlo e faleceu no Rio de Janeiro. 
“Devolvi o cordão e a medalha de ouro / E tudo que ela me presenteou /Devolvi suas cartas amorosas / E as juras mentirosas / Com que ela me enganou. / Devolvi a aliança e também seu retrato/ Para não ver o seu sorriso /no silêncio do meu quarto...”
Mensagem” de Aldo Cabral e Cícero Nunes, composta em 1946 foi gravada inicialmente por Isaura Garcia, mais conhecida como Isaurinha Garcia (1923 -1993), uma das maiores cantoras brasileiras, a Edith Piaf brasileira.
“Quando o carteiro chegou/ E o meu nome gritou / Com uma carta na mão / Ante a surpresa tão rude / Nem sei como pude / Chegar ao portão / Vendo o envelope bonito / E no seu sobrescrito / Eu reconheci / A mesma caligrafia / Que disse-me um dia / Estou farta de ti / Porém não tive coragem / De abrir a mensagem...”
Pombo Correio composta em 1965 por Dodô e Osmar, ao ganhar letra  de Moraes Moreira em 1978, fez logo sucesso, dançada no ritmo frenético do frevo pernambucano é exigida em toda apresentação do artista.   
“Pombo correio / Voa depressa / E esta carta leva / Para o meu amor. / Leva no bico / Que eu aqui /  Fico esperando/  Pela resposta / Que é pra saber /  Se ela ainda / Gosta de mim...”
Bem mais recente, Devolva-me” música do tempo da Jovem Guarda, 1966, com Leno e Lilian foi grande sucesso entre a juventude romântica.  
“Rasgue as minhas cartas / E não me procure mais/ Assim será melhor, meu bem! / O retrato que eu te dei/ Se ainda tens, não sei / Mas se tiver, devolva-me!...”
Como essas coisas não acontecem somente aqui no Brasil, busquei na grande Amália Rodrigues (1920-1999) um exemplo das choramingas nas canções portuguesas feitas através das cartas, o que encontrei em Fado do Ciúme, música que aparece no filme Capas Negras, de 1947, que marca a primeira participação da artista no cinema.  Há no Youtube vários trechos do filme. [clique na imagem]

“Se não esqueceste /  O amor que me dedicaste, / E o que escreveste / Nas cartas que me mandaste, / Esquece o passado / E volta para meu lado, / Porque já está perdoado / De tudo o que me chamaste.”


P. T. Juvenal Santos