16 fevereiro 2024

Caso da “serial killer” Luiza de Jesus vai ter documentário na RTP2

ANTE-ESTREIA DECORREU ONTEM EM LISBOA


O caso Luiza de Jesus, que tem relação directa com o nosso concelho, mais precisamente com a aldeia de Gavinhos, continua a ser tema de estudo, motivo de questionamento e matéria para a produção literária, teatral e audiovisual.

A ante-estreia teve lugar no Teatro A Barraca

Assistimos ontem, no cineteatro A Barraca (Lisboa) à ante-estreia do documentário “Luiza de Jesus”, um trabalho da produtora A Clara Amarela Films, realizado por Ricardo Clara Couto, que será muito em breve estreado no Canal 2 da RTP.

A seguir à projecção do filme/documentário numa das salas daquele teatro do Largo de Santos, o numeroso público presente teve oportunidade de dialogar com os principais intervenientes neste trabalho que tem a participação especial (voz) de Maria do Céu Guerra.

O documentário que recorre à animação 3D é intercalado com diversas intervenções desde a historiadora da Universidade de Coimbra, Maria Antónia Lopes, passando pela jornalista que no Expresso (2016) tratou o assunto, Anabela Natário, até à autora do romance histórico “A Assassina da Roda”, Rute Serra, que em 7 de Março de 2020 esteve em Penacova para apresentar este seu livro.
Recorde-se que Luíza de Jesus ia buscar crianças de tenra idade à Roda dos Expostos, gerida pela Misericórdia de Coimbra, matando-os a seguir, presumivelmente para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis que eram atribuídos em troca da amamentação e criação até aos 7 anos. Corria o ano de 1772. Encontraram-se os cadáveres de trinta e três bebés. Confessou ter garrotado vinte e oito por suas próprias mãos! Foi condenada à morte. Atenazada pelas ruas de Lisboa, cortaram-lhe as mãos em vida, foi garrotada e queimada.

[Veja AQUI algumas das publicações do Penacova Online sobre o caso Luiza de Jesus]
 

Imagens da apresentação do livro "A Assassina da Roda" em Penacova (2020)

Note-se que a “história da última mulher executada em Portugal”, acusada de ter cometido “o mais horrendo dos crimes: o massacre de inocentes”, deu origem ao romance histórico “A Assassina da Roda” tendo como autora Rute Serra, publicado pela Editora Guerra & Paz.

Por sua vez, a autora adaptou a obra para o palco. O monólogo encenado e interpretado por Maria Henrique, teve como título 'Luiza de Jesus - A assassina da roda' e esteve em cena no Teatro da Trindade INATEL de 29 Abril a 30 de Maio de 2021.

Também o TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra) apresentou em Maio de 2023 uma criação colectiva com direção de Cristina Valente (dramaturgia de Ana Sousa, Catarina Martins, Cristina Valente, Daniela Proença, Kelly Veloso, Si Masseno e Tatiana Almeida, sendo a interpretação de Ana Sousa, Catarina Martins, Daniela Proença, Kelly Veloso, Si Masseno e Tatiana Almeida) com o título “33 – Seis Faces de Luísa”. Saliente-se que este trabalho, baseado na história da ‘serial killer’ portuguesa, natural de Figueira do Lorvão, foi igualmente apresentado em Penacova no dia 13 de Junho de 2023.

Segue-se agora, como referido acima, o excelente documentário a passar por estes dias na RTP2. Fique atento. Recomendamos vivamente.

14 fevereiro 2024

Centro Interpretativo do Palito vai abrir em Lorvão

Museu da Ciência da UC cede peças ao novo Centro Interpretativo do Palito


O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra vai ceder cerca de quatro dezenas de peças ao município de Penacova para enriquecer o novo Centro Interpretativo do Palito, em Lorvão.

Os objetos, na grande maioria, relacionados com a temática dos palitos, vão fazer parte do espaço expositivo situado na Casa do Monte, no centro histórico de Lorvão.

O novo Centro Interpretativo, com abertura prevista para este ano, terá várias salas dedicadas à história dos palitos, desde a sua origem no secular mosteiro, à manufatura que se disseminou pela população, até ao aparecimento de várias empresas, sobretudo na freguesia de Lorvão.

Do conjunto de peças cedidas pelo Museu da Ciência fazem parte inúmeros paliteiros, de várias formas e materiais, peças de cestaria e outros utensílios utilizados no processo de manufatura do palito.

O protocolo de cedência das peças foi assinado pelo diretor do Museu da Ciência, Paulo Trincão e pelo presidente da Câmara de Penacova, Álvaro Coimbra. Na ocasião, o autarca sublinhou a importância deste acordo – “quero agradecer ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, na pessoa do seu diretor, Paulo Trincão a abertura demonstrada para a cedência deste conjunto de objetos que vai, sem sombra de dúvida, enriquecer a coleção do novo Centro Interpretativo do Palito.”

O novo núcleo museológico vai surgir na Casa do Monte, no centro histórico da vila de Lorvão, edifício do século XVIII que terá servido como casa de hóspedes do mosteiro. No seu interior vão surgir várias salas dedicadas à história do palito, desde o século XVII até, praticamente, aos nossos dias.

O investimento superior a duzentos mil euros foi financiado através de candidatura do município à AD ELO – Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego.

FONTE:

https://www.gazetarural.com/museu-da-ciencia-da-uc-cede-pecas-ao-novo-centro-interpretativo-do-palito/


10 fevereiro 2024

Governadores Civis (4): Júlio Ernesto de Lima Duque (1859-1927)

GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA  

OU AO CONCELHO LIGADOS POR CASAMENTO

Foi Governador Civil de Évora de 26 de Junho de 1904 a 2 de Maio de 1905, 
mas a sua carreira política foi muito para além do desempenho deste cargo.

Júlio Ernesto de Lima Duque nasceu a 11 de Agosto de 1859, na freguesia de Chancelaria, concelho de Torres Novas. Era filho de José Gomes Duque e Otília Simpatia de Lima Duque.

A sua vida repartiu-se pelo concelho de Penacova onde casou e teve destacada intervenção política, por Coimbra onde estudou e fez carreira de militar - médico e por Lisboa onde teve assento no Congresso da República e foi Ministro. 

Casou em Penacova com Maria da Pureza Correia Leitão, filha do Conselheiro Alípio Leitão, no ano de 1888. Enviuvou muito cedo e casou uma segunda vez, em Coimbra (1907) com Isaura Carolina de Lima Duque, sua prima.

Estudou Medicina na Universidade de Coimbra, vindo a concluir o curso em 1886 indo logo exercer funções como facultativo do partido médico de Farinha Podre durante um curto espaço de tempo.

Pouco depois ingressou no Exército, na arma de artilharia, onde foi cirurgião - militar: tenente, 1889; capitão, 1897; major, 1911; tenente-coronel, 1911 e coronel em 1917. Passou à reserva em 1925. No início da carreira, prestou serviço em Moçambique. Ocupou o cargo de Inspector de Saúde junto da 5.ª Divisão. Foi Director do Hospital Militar de Coimbra e Presidente da Junta de Saúde daquela cidade.

Foi Governador Civil de Évora de 26 de Junho de 1904 a 2 de Maio de 1905. Iniciara a vida política de âmbito nacional em 1898 como deputado do Partido Progressista pelo círculo de São Pedro do Sul. Foi ainda deputado pelos círculos de Penacova em 1899 e 1900; por Arganil em 1901; por Lamego em 1904 e por Viseu em 1905. Em 1910 ainda se candidatou por Arganil, mas a eleição não foi validada até ao 5 de Outubro.

Foi um poderoso influente eleitoral na região de Penacova e Poiares. Na fase final da Monarquia abandonou os progressistas e procurou o apoio de diversos partidos para acautelar a sua eleição e influência local. Após o 5 de Outubro manteve durante algum tempo os ideais monárquicos, tendo participado na revolução monárquica de 27 de Abril de 1913, em virtude da qual foi preso.

Posteriormente, aderiu à República e filiou-se no Partido Republicano Evolucionista. Foi dirigente concelhio em Penacova desta formação política fundada por António José de Almeida, sendo também presidente da Junta Distrital.

Mais tarde, alinhou na ala conservadora da República aderindo ao Partido Republicano Liberal (1919-1923) e depois ao Partido Republicano Nacionalista (1923).

Foi Presidente da Comissão Distrital de Coimbra do PRL e foi eleito membro substituto do Directório daquele partido em 1922.

Foi substituto do Directório e Presidente da Comissão Distrital de Coimbra do PRN em 1923. Em Dezembro esse ano fez parte do efémero «Directório Sombra» do PRN (grupo pró-Álvaro de Castro) e aderiu à facção dissidente liderada por aquele político, inscrevendo-se no Grupo Parlamentar de Acção Republicana.

Durante a República foi também Senador. Pela primeira vez em 1915-1917 por Leiria e em 1919-1921, representando Portalegre. Em 1921-1922, 1922-1925 e 1925-1926 voltou a ser Senador, desta vez por Viseu. Em 2 de Dezembro de 1922 foi eleito 2.º vice-presidente do Senado.

Foi ministro do Trabalho em quatro ocasiões: 19 de Julho a 20 de Novembro de 1920; 24 de Maio a 30 de Agosto de 1921; 30 de Agosto a 19 de Outubro de 1921 e 18 de Dezembro de 1923 a 6 de Julho de 1924.

Em 1901 foi um dos fundadores do Jornal de Penacova onde se destacou como articulista polémico. Teve uma vasta colaboração na imprensa, escrevendo em diversos jornais e revistas: Coimbra Médica, Revista Académica de Coimbra, Imparcial de Coimbra, Elvense, O Dia, Correio da Noite, Novidades, Jornal da Noite, Medicina Militar e A Província (jornal do Partido Evolucionista) do qual foi director.

As celeumas com o periódico A Folha de Penacova, jornal regenerador, atingiram por vezes foros de grande agressividade. A Folha chamou-lhe solípede, duque de copas, amigo de Peniche. Por essa época Lima Duque encetou intensa campanha pela destituição de Alfredo de Pratt, administrador concelhio, o que veio a suceder. De novo a A Folha contra-ataca e desmonta as ''jogadas'' da política local, de feição progressista.

S. Pedro de Alva, onde iniciou a sua carreira de médico, teve para com ele uma consideração especial. Em 1916, no jornal “Ecos de S. Pedro de Alva” é referido como ''ilustre amigo de S. Pedro de Alva'' e apontado como um dos grandes promotores, enquanto deputado, dum melhoramento há muito reivindicado: o Chafariz daquela localidade.

O seu pai, José Gomes Duque, foi dono da “Farmácia Duque” em Penacova e neste concelho ocupou o cargo de Administrador (1888) e Vice-Presidente da Câmara (1896).

Na Mata, na casa onde nasceu, encontra-se a seguinte lápide com os dizeres:

 "NESTA CASA NASCEU EM 11 DE AGOSTO DE 1859 O DR. LIMA DUQUE CORONEL MÉDICO JORNALISTA ORADOR PARLAMENTAR E MINISTRO HOMENAGEM DOS SEUS CONTERRÂNEOS NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO 11 DE AGOSTO DE 1959"

Júlio Ernesto de Lima Duque faleceu na sua casa da Cumeada (zona da Av. Dias da Silva, em Coimbra) a 12 de Março de 1927.

09 fevereiro 2024

Dar (mais) vida a Lorvão: Recital no Mosteiro

Fotos: São Veiga


Realizou-se no dia 3 de Fevereiro, no Mosteiro de Lorvão, um Recital de Acordeão e Violino promovido pela Junta de Freguesia, em parceria com a Câmara Municipal, Paróquia de Lorvão e Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão. 

Rafael Nunes (Acordeão) interpretou Iduna (2°and.) de C. Duque,  Aztarnak  de R. Lazkano  e a Sinfonia N°1 de V. Bonakov  (Maestoso II - Adagio - Allegro III - Grave IV - Andantino Allegro non troppo)

Por sua vez, o duo Rafael Nunes e Bruna Sousa executou obras de Chain (S. Kaczorowski) e de M. Zimka (Sonata para violino e acordeão: I - Allegro Moderato,  II - Adagio Espressivo e III - Allegro Vivace.

O Duo Impromptu, constituído como se referiu, por Bruna Sousa no violino e Rafael Nunes no acordeão, é formado por antigos membros do Trio Voci, galardoado com o 1° Prémio na Categoria F - Música de Câmara Nível Superior, na décima sexta edição do Concurso Folefest. Este Duo surge no ano de 2023 na Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART), no âmbito da disciplina de Música de Câmara sob orientação do professor Paulo Jorge Ferreira.

08 fevereiro 2024

Penacova um olhar 1921: características, anseios, necessidades (I)


Com o título “Monografia” e assinado por Bernardino Pereira, o Jornal de Penacova publicou em 1921 um artigo / crónica que nos transpõe para tempos que já levam a marca de um século e nos dão uma imagem, nalguns aspectos curiosa, do nosso concelho no primeiro quartel do século XX.

À época, Penacova enquadrava-se no conjunto dos concelhos de 2ª ordem e das comarcas de 2ª classe, agregando, em termos judiciais, o “novo” concelho de Vila Nova de Poiares. O concelho de Penacova, estendendo-se por uma área de 193 Km2 era formado por 11 freguesias: “Nossa Senhora da Assunção” (sede), Lorvão, Sazes de Lorvão, Carvalho, Travanca, S. Pedro de Alva, Oliveira do Mondego, “S. Paio de S. Pedro de Alva”, Paradela e Friúmes. Confrontava, tal como hoje, com Santa Comba Dão, Tábua, Arganil, Vila Nova de Poiares, Coimbra, Mealhada e Mortágua, concelhos com quem estabelecia “relações sociais e comerciais, transmitindo e recebendo influência psíquica regional, reciprocidade de novos sentimentos e costumes.”

A sede do concelho, com mais de 900 fogos, teria, em termos “redondos”, 4 000 habitantes. A Vila possuía “edifícios alegres, bem caiados e devidamente alinhados.” 

As artérias principais eram a Avenida 5 de Outubro, a Rua Conselheiro Fernando de Melo e a rua Dr. Joaquim Correia”. É referido também o Largo Alberto Leitão. Relativamente aos edifícios públicos merece destaque “o novo edifício Escola Maria Máxima, do legado do benemérito António Maria dos Santos”. Acrescenta o cronista que “dizem que vai possuir também um hospital”. Por sua vez os Paços do Concelho são considerados “sofríveis”.

Vejamos a apreciação feita sobre as estruturas turísticas: “tem dois hotéis, insuficientes para conter com as devidas comodidades, os seus hóspedes no Verão; nesta época os forasteiros são aos milhares, que aqui vêm veranear e repousar. Vêm de Coimbra, Figueira da Foz, Lisboa e outras terras de Portugal e do Estrangeiro.”

Sobre as actividades económicas é referido o seguinte quanto à agricultura: “O terreno não pode ser considerado como o mais fértil – refere Bernardino Pereira – mas está longe de ser estéril”: tem muitos terrenos regados pelos rios, veigas entre pinhais, em estreitos vales, nas encostas e nos planaltos dos seus montes, “alimentando cerca de 6 000 famílias, isto é, perto de 20 000 dos seus habitantes. Em “géneros alimentícios não é muito abundante” pelo que “tem de importar milho, trigo, vinho, batata, feijão“ e outros produtos.

Pelo contrário, em termos de comércio, exportava “palitos em grande quantidade, cal parda, madeiras, lenha e telha.”

Num registo, de algum modo “romântico”, o cronista salienta que o concelho de Penacova “exporta para o Brasil e para outras partes, braços de camponeses robustos e morigerados”; exporta também “música, flores e seus perfumes”, pelos seus “admiradores e forasteiros envia a saúde do corpo e principalmente do espírito”, bem como “o retemperamento das forças perdidas, com ares salubérrimos das proximidades do Bussaco e com uma relativa economia.”

Enaltecendo as personalidades ilustres do concelho, sublinha B. Pereira que “desta terra abençoada têm saído lentes e sábios notabilíssimos e oradores dos mais distintos.”

“Quem não conhece o grande orador Alves Mendes, quem se não verga respeitoso e submisso perante esse vulto eminente da República, nobre e sublime, muito grande para um país tão pequeno; quem não rende as devidas homenagens ao maior vulto que tudo sacrifica ao bem da Pátria – o nosso venerando Chefe de Estado?”


(Continua)

28 janeiro 2024

Encontro com a escritora Elisabete Pinho na Biblioteca Municipal



A escritora Elisabete Pinho esteve ontem na Biblioteca Municipal de Penacova. Além da especial referência ao seu mais recente romance, inspirado no antigo Hotel Palacete do Mondego, outrora Preventório, a autora falou também da sua experiência literária e do processo criativo.

O apontamento cultural contou com a presença da vice-presidente da Câmara Municipal de Penacova, Magda Rodrigues, que saudou a escritora e a felicitou pela sua já significativa obra.

Lamentando não ser possível no próprio hotel, Elisabete Pinho agradeceu a receptividade para ser apresentado na Biblioteca e confessou que alimentara o sonho, “o desejo secreto de poder apresentar o livro no local onde ele nasceu”.

Falando da sua trajectória literária, referiu que decidira “começar a escrever textos sem qualquer pretensão”, passando apenas para a escrita “aquilo que lhe ia na alma”. Entretanto um colega, poeta e escritor, lançou-lhe o desafiou para escrever algo mais estruturado. Depois de ler e “sem ela saber” enviou o original para algumas editoras, tendo, passado algum tempo, surgido o interesse em publicarem. “Assim em 2017 surge o primeiro livro, depois o segundo e o terceiro. Foi este 3º livro que realmente “fez pensar mesmo: é isto que quero começar a fazer!” O concurso para autores, que venceu, num universo de cerca de 250 trabalhos, foi, sem dúvida, um estímulo importante.

Sobre o mais recente trabalho O Pêndulo e a sua relação com o nosso concelho, Elisabete Pinho explicou como este romance nascera precisamente aqui em Penacova: “Encantei-me por este concelho quando vim aqui fazer uma visita há alguns anos. Estava na moda tirar fotos a locais abandonados e que tivessem a fama de assombrados”. Contou que ao pesquisar na Internet lhe tinha aparecido o Hotel Palacete do Mondego no Monte da Senhora da Guia, que antes tinha sido um Preventório. Além das fotos e das espreitadelas que deu àquele espaço abandonado, ficou encantada com “a vista fantástica sobre o Mondego” e por ela se “apaixonou”.

O impacto de tudo isto foi decisivo: “A partir daquele momento não me saía da cabeça a pergunta: como é que alguém abandona um local como este? Quem no seu juízo perfeito abandona assim um hotel destes, tão bonito, num sítio tão bonito? “

“E tudo começou a fazer sentido” – sublinhou - “ Não estava à procura de escrever nenhum livro mas o que é certo é que comecei logo a imaginar que aquele palco, aqueles corredores do refeitório, podiam ter sido palco de uma história de amor e de um drama familiar...”

Quem é Elisabete Pinho?



Podemos ler na badana de O Pêndulo: “Nasceu a 28 de abril de 1975, em Ovar. É licenciada em Direito. Estreou-se na literatura com Se houver uma próxima vez, em 2018, ao qual se seguiu A ampulheta, em 2019. Participou em diversas coletâneas e Antologias de Poesia. Em 2020, alcança o 2° lugar no XXI Concurso Literário Dr. João Isabel, com o poema “Escrito a Dois”. No mesmo ano, vence o 1° Concurso de Ficção Nacional Cordel d' Prata, com o romance Depois do Fim, galardoado também com o troféu Melhor Romance 2021, na 3ª Gala de Autores Cordel d' Prata. O Pêndulo é o seu quarto livro.“


Sinopse


Vejamos o texto da contracapa: “Quando Joaquina cai inanimada nas Festas de São Caetano, na aldeia de Telhado, as três pessoas que lhe são mais próximas não imaginam o que as espera. Joaquina deixou cinco envelopes para serem abertos após a leitura do seu testamento. Que segredos contarão? Porque não os revelou em vida? Artur, o seu afilhado, é um dos destinatários e a pessoa escolhida para entregar os restantes. Alice, a sua única filha, irá ter outras surpresas além de não ser a única herdeira. Violeta, a protegida de Joaquina, parece ser quem mais sabe e quem mais segredos guarda. Os outros dois destinatários envoltos em mistério. À medida que a verdade é revelada, Artur terá de escolher entre manter-se leal à sua madrinha ou poupar as pessoas que mais ama. Alice sentir-se-á um peão num jogo perverso. Violeta será consumida pela culpa. Todos irão descobrir que nenhum segredo deve impedir-nos de viver.”

***

E a tal pergunta teima em ressoar, também na nossa mente: “Quem no seu juízo perfeito abandona assim um hotel destes, tão bonito, num sítio tão bonito?”




Captura de écran em 28.1.2024

27 janeiro 2024

[Muito] mais do que a apresentação de um livro...

 

"Um dia espectacular a celebrar a Liberdade. Foi realmente muito lindo. Parabéns Dr. Luis Amante pelo seu aniversário e pelo seu novo trabalho." 

TESTEMUNHO DE UM PARTICIPANTE publicado numa rede social 

                                                           

O lançamento do livro de Luís Pais Amante A Liberdade Actual,  no Centro Cultural de Penacova,  foi muito mais do que o clássico formato de apresentação de uma obra literária. A tarde do dia 20 de Janeiro afirmou-se como momento intenso de convívio, celebração, cultura, amizade. O auditório encheu, os aplausos e as vozes dos grupos corais inundaram igualmente o espaço. "E foi bonita a festa".

O evento contou com a presença do Presidente da Câmara,  Álvaro Coimbra. No uso da palavra e na abertura do programa (que havia principiado com um vídeo de apresentação e a interpretação do poema "A Quelha" na voz de Pedro André Rodrigues) enalteceu a importância dos livros e da leitura nos tempos actuais e dirigiu a Luís Amante palavras de apreço pela sua relevante obra escrita e pela sua dedicação a Penacova. Também David Almeida, autor do prefácio, dirigiu breves palavras de agradecimento ao Autor, felicitando-o, não só pela sua obra literária, mas igualmente pela celebração do seu 70º aniversário natalício. Uma tarde "sob o signo da 12ª letra do alfabeto: L de Luís, L de Literatura / Livros, L de Liberdade!”- observou.

Tratando-se de uma homenagem mais abrangente, extensiva a outros títulos assinados pelo Autor, houve lugar à evocação de alguns dos seus mais “emblemáticos” poemas. Humberto Matias, musicólogo e pintor, declamou “O Meu Sonho Azul” e “ O Sem Abrigo Cem”. Por sua vez os grupos corais Vox et Communio e Divo Canto interpretaram “Liberdade” (in A Liberdade Actual) e “Confissões” (in Conexões). Ricardo Coelho e Joana Soares declamaram os poemas “Eu também sou fã do Divo Canto” e “Vox Adrenalina” publicados noutros livros de Luís Amante.

Os Maestros Rodrigo Carvalho e Pedro André Rodrigues dirigiram também breves palavras ao Autor. Rodrigo Carvalho  agradeceu todo o “afecto” com que em qualquer circunstância, Luís Amante, “exemplo para todos os penacovenses”, recebe, acolhe e apoia o grupo que musicalmente dirige. Pedro Rodrigues destacou a “relação de mais de uma década” em que “os laços têm sido cada vez mais fortes”. Grato pelo “apoio constante”, afirmou ser uma honra tê-lo como amigo e sócio honorário do grupo.

O Livro e o Autor foram magistralmente apresentados por Ana Marques Lito. Na sua intervenção (ver AQUI), sublinhou que “a mensagem da obra reflete um grito, um alerta à Liberdade individual e coletiva, à dignidade, à importância da atitude vigilante face ao modo como vivemos quase sem escolha”, traduzindo, no fundo, a “alma sensível e cuidadosa que define o autor.” Autor que revela um “espírito intrinsecamente genuíno, sem disfarces, frontal”, reflectido nas diferentes áreas do seu percurso de vida, um “estilo relacional épico e apaixonado pelas pessoas e pelas causas profundas e verdadeiras como a liberdade, a igualdade e a justiça.”

Evocando autores como Freud e Sartre, Ana Marques Lito salientou igualmente que “o autor - não sendo psicanalista - recolhe do seu espaço psíquico íntimo, recordações que o presente pode evocar, que ajuda o leitor a libertar as tensões da mente.” Ou ainda: ”Encerrado em si, em diálogo com o mundo interno povoado de recordações e de vivências que o acompanham intimamente, ausente de qualquer interação, engendra a existência humana condenada à liberdade, porque não pode renunciar quem é.”

O autor “assume-se e, é um homem livre, apaixonado pelas coisas simples da vida, pelos costumes das suas origens”, mas também aberto “ao novo e ao original” [...] “comprometido com a cultura beirã da sua terra natal, penacovense de gema, como sujeito desejante, leader por natureza, preocupa-se com o bem-estar das pessoas e interiorizou a responsabilidade social da importância da função pedagógica da arte poética, cujo dom nasceu com ele.“ - afirmou igualmente.

As “tonalidades e formas caleidoscópicas da sua escrita transformam-se em poesia, opinião e prosa, que espelham o seu ser intuitivo, buscando-se noutros horizontes... e até na transcendência.” Noutro passo referiu a apresentadora: “a partir dos títulos dos livros já publicados apreende-se o lugar de observador/testemunha e protagonista da co-construção de realidades alternativas do mundo paradoxalmente mais livre, estreito e fechado que nos submete a escravaturas.”

Ana Marques Lito, já na parte final da sua intervenção, reconheceu que toda esta “interpretação e transformação em poesia, opiniões e devaneios […] levando ao rubro a sua ironia sincera”, reflecte “coerência na condição humana, realizando conexões entre a luz, as sombras e as trevas, entre a clareza e a incerteza, a amálgama e a complexidade das circunstâncias da vida dos nossos tempos.”

Na breve alocução que fez, Luís Pais Amante começou por agradecer a presença do Presidente da Câmara, que também detém o Pelouro da Cultura, e estendeu o seu reconhecimento aos Vereadores da Cultura nos executivos anteriores. Realçou igualmente a grande qualidade dos dois grupos corais que são motivo de orgulho para Penacova. Na pessoa da sua professora de Filosofia no Liceu, Isabel Jardim, saudou e agradeceu a presença de todos os amigos, desde os mais recentes aos “amigos de uma vida inteira”. Lembrou o trabalho social de muitos jovens penacovenses da sua geração, que incentivados por aquela sua mestra, e no contexto do “Grupo Joaninha”, se dedicavam a orientar o estudo das crianças da escola e a dar-lhes um lanche no salão paroquial quando regressavam da Escola. “É nesta Penacova Solidária que me revejo!” - frisou Luís Amante.

Um pouco antes de (re)citar o poema, com que terminou, “Como gostar da nossa terra?”, escrito na Casa Azul a 5 de Junho de 2022, Luís Amante vincou que “as pessoas não têm amigos por ter, as pessoas não são importantes por ser; é preciso trabalhar muito para que a Amizade aconteça; muito mais para que permaneça. E não é preciso trabalhar nada para se ser importante porque a importância é dada pela percepção que os outros têm de nós…”.



Como “gostar” da nossa terra?

(in A Liberdade Actual, pág.34)

Antes de mais é
Trabalhando em prol dela
Penacova
(Toda ela)
Sem retirar disso “sequela”
Acarinhando-a
Divulgando-a
Cantando-a
Pintando-a
Poetando-a
!… Não deixando que se vão as suas tradições …!
Devotando-lhe sempre os melhores dos corações
Como se fossem “associações de bem fazer”
Que não só “quintas” para auto-promover
Depois
Investindo no desenvolvimento dela
Donzela, bela
Das suas boas gentes
Da sua geração mais nova, genuína
Olhando crítico para ela, qual rainha
Construtivamente
Articulando-se com os interesses dela
Sabiamente
Elevando-a
Representando-a
Agendando-a como aluna bem distinta
Nos eventos que nos surgem à janela
Por vezes só com com os cheiros da panela
E finalmente
Não “não rapar, nem comer, nem sugar” o que está à volta dela
Nem “à conta” do que tudo ela tem
Porque, mais tarde ou mais cedo
Será ela, qual beleza ancestral
Em movimento sincopado natural
Que dará um murro na mesa
E fará com que os “artistas”
… tropecem e caiam do pedestal!



O convívio, a festa- foi disso que se tratou afinal – terminou com a presença dos dois coros em palco  interpretando em uníssono Canções Heróicas de Lopes Graça e cantando os Parabéns ao autor (que no dia 15 havia completado 70 anos de vida), ali rodeado de todos os netos - André, Madalena,Martim, Maria Teresa, Margarida e Maria do Carmo - a quem é dedicado o livro.  

A findar esta tarde em que, nas palavras de Ana Paula Campos, coordenadora do evento, “se celebrou a vida de alguém de bem”, foi servida uma fatia de bolo de aniversário e uma taça de champanhe a todos os presentes.




Testemunhos de participantes
 recolhidos nas redes sociais:

Uma viagem que se tornou num lindo passeio pois possibilitou conhecer uma terra maravilhosa e ter a possibilidade de participar num lindo evento, o lançamento do livro de um um velho Amigo, amigo de um coração sem tamanho, igual a sua obra. Bem haja Dr. Amante!

Os meus parabéns por continuar a colocar no papel histórias e memórias suas e das gentes da sua terra contadas através dos seus belos poemas que ficaram na memória de quem os lê para sempre…E essa sim, é uma bela forma de deixar um legado rico de cultura aos seus.

Um dia muito bom a celebrar a Liberdade.

Um dia espectacular a celebrar a Liberdade. Foi realmente muito lindo. Parabéns Dr. Luís Amante pelo seu aniversário e pelo seu novo trabalho.

Um dia magnifico. Mais uma grande jóia do nosso poeta amigo Luís Pais Amante.

Foi um evento memorável, amei.

Simplesmente maravilhoso.

Aquele grupo de amigos enorme, aquela família bonita e a paixão por Penacova, falou mais alto. Gostei, foi muito bom estar ao pé de gente boa. Vim de coração cheio e acredito com mais força que ainda há muita gente boa neste mundo.

Foram momentos únicos vividos com uma emoção (que a todos tocou) numa festa de CULTURA, de FAMÍLIA, de AMIZADE … E AMOR!

Permitam-me, felicitar, todos aqueles que organizaram, contribuíram e participaram neste evento que contribuiu para Elevar a Cultura de Penacova e valorizar a Identidade Penacovense.

Admiração pelo seu caráter e determinação, cuja liberdade de pensamento lhe permite exprimir o que sente sem qualquer receio.

Na vida não somos nada sem o apoio incondicional da família e dos amigos leais, verdadeiros que estão sempre connosco ao longo da vida. Na vida podemos “ter tudo” mas não “somos nada” sem laços seguros. Não existe cultura sem afectos.

Foi dia de honrar o amigo Luís Pais Amante, ilustre advogado, humanista, escritor e poeta… “amante” da vida e da sua Penacova onde a Casa Azul é ninho de amor a uma família linda e onde a inspiração lhe brota como a água do Mondego que a seus pés corre…

A matinée de apresentação do seu mais recente livro A Liberdade Actual foi uma carinhosa manifestação de puros afetos por parte de conterrâneos, amigos e da sua querida Ana, que ao estilo de apresentação do autor fez mais do que uma declaração de amor.

Foi uma tarde excelente que me ficou no coração. Voltei atrás muitos anos e fiquei feliz por ter voltado.

A [justa] homenagem que tantos quiseram prestar-te, não só como escritor, como Homem, mas também pelos teus 70 anos e pelo teu percurso como advogado.

O valor de alguém não se mede com aplausos, mas sim pela obra e dedicação à família, o amor à terra e ao mundo; é nesta construção de raízes que este Homem se tem debruçado para deixar o seu legado em actos assertivos e de beneficência.


Mais algumas imagens do evento 
(créditos fotográficos: Óscar Trindade, Ana Ferreira, David Almeida)












07 janeiro 2024

Luís Pais Amante apresenta em Penacova "A Liberdade Actual em Poesias e Opiniões"


No próximo dia 20, a partir das 15 horas, o Centro Cultural de Penacova vai ser mais uma vez palco de um importante evento cultural e social: a apresentação da obra A Liberdade Actual [em Poesias e Opiniões], de Luís Pais Amante.

Este facto já seria suficientemente relevante para justificar a abertura das portas da Casa da Cultura do Município neste início de ano. Porém, o programa transcende o lançamento do livro. O evento apresenta-se como convite especial para uma tarde de Encontro e de Celebração, homenageando a produção literária de Luís Pais Amante no último decénio e, igualmente,  todo um trajecto de vida plena que já soma algumas décadas.

Diversos poemas que fazem parte da obra literária vão ser declamados e interpretados musicalmente. Em “palco” estarão os Grupos Corais de Penacova, Divo Canto e Vox et Communio, que se associarão a este momento muito especial para o autor, família e amigos: a celebração do 70º aniversário natalício. 

O programa, abrangente que é, vai ser coordenado pela Professora Ana Paula Campos. Vão intervir  Álvaro Coimbra, Presidente do Município de Penacova, David Almeida, autor do prefácio, Humberto Matias, músico e pintor, que dirá alguns poemas, Ana Marques Lito, que fará a apresentação deste livro de poesias e crónicas, e,  obviamente, o Autor.

A fechar a tarde de Convívio, depois de os grupos corais interpretarem As Heróicas de Fernando Lopes Graça, serão cantados os Parabéns, mimados por uma fatia de bolo de aniversário e brindados com uma taça de champanhe.

Sobre a obra agora apresentada é o próprio autor que, na "Nota ao Leitor", nos revela que a mesma “nasceu no período imediatamente subsequente aos picos maiores do louco (Covid 19)” e na sequência do livro Inquietude, o seu “Livro da Pandemia”.

“Se naquele se retratava a minha atitude pessoal perante o fenómeno que, naturalmente, teve influência na minha vida e nas vidas dos que me são mais próximos, neste retrata-se o que hoje assumo como a minha Liberdade [essa palavra sem preço]…” - sublinha o autor, acrescentando que este seu livro condensa as “expressões das vivências evolutivas” que “foram – religiosamente todas – publicadas pelo Jornal da [sua] terra Penacova Actual.”

“Obrigado Pedro Viseu! Obrigado Amigos do WhatsApp! Obrigado a quem leu, a quem comentou, a quem incentivou e a quem partilhou!” - faz questão de afirmar publicamente, acrescentando um apelo: “Homenageemos todos juntos esse fenómeno – que temos a sorte de ter na nossa terra –- da Imprensa Regional, em que exercer a Liberdade é possível, sempre com todo o respeito por opiniões contrárias e sempre admitindo que a nossa acaba onde começa a do outro.” Dirá mais adiante: “Sim, este Livro é a minha homenagem pessoal ao Penacova Actual; humilde, mas genuína."

“Os principais destinatários do conjunto destes textos (em poesias e opiniões) elaborados na lógica da Liberdade que tenta ser verdadeira, desprendida, simples, humilde…mas firme!” são, conforme nos revela, “os mais velhos, os mais doentes, os mais pobres, os desempregados, os sem abrigo, que é como quem diz os que vão deixando de acreditar em tudo e em todos.”

A obra, em si, tem dois capítulos: as Poesias e as Opiniões: “Ao contrário do que sempre aconteceu nas minhas obras anteriores, a escolha da distribuição dos escritos em si mesmos e destes pelos capítulos não teve possibilidade de existir, justamente porque estão aqui publicados todos os textos inseridos no Penacova Actual, post pandemia, até Maio de 2023, uma vez que sou Colaborador do Jornal e tenho muito orgulho nisso.” - explicita igualmente Luís Amante no seu texto introdutório.

Este livro, uma edição da Calçada das Letras, chancela da Letras em Marcha, tem como conteúdo:

I - POESIA
1. A Liberdade Actual; 2. Hoje fui ver o “Futsal”; 3. O Abril em tempo; 4. Guerra (em directo) e indignação; 5. Como “gostar” da nossa terra?; 6. As nossas Jéssicas; 7. Juventude: ainda as “Descobertas”; 8. Um “trio” no Galinheiro; 9. Liberdade; 10. Rosa de Porcelana; 11. Deixem de lhes lixar a Pensão!; 12. iPhone, o nosso melhor amigo; 13. Terra batida no Outono; 14. Homenagem aos Militares de Abril; 15. O Natal que sinto; 16. Lágrimas por Kherson; 17. Dia soalheiro; 18. O clarear da manhã; 19. O Céu da minha Terra; 20. O “galo” já não canta; 21. Um homem e a curva; 22. As cavadas 23. Pedrógão: o que se fez; 24. A incerteza; 25. Se calhar, adiantei-me; 26. O Dia do Pai; 27. Que orgulho ser do Roxo; 28. O silêncio;  29. A Confraria da Bifana; 30. Mães de Seda; 31. Lua de Vida; 32. Campeões; 33. As Afegãs; 34. Ser Criança no dia da Mulher; 35. O Fundo da Vila; 36. As Andorinhas; 37. O carrinho Bogdan; 38. David, o Professor Avô.

II - OPINIÕES
1. Democracia = Alternância; 2. Ai a “saúde”;! 3. SNS: como fazer omeletes sem ovos?; 4. O SNS e a ministra em fim de linha; 5. E Agora, António?; 6. Incêndios: esse flagelo!; 7. Santos Silva e o Chega e … vice versa; 8. Adeus Chalana!; 9. O “tinteiro” e o “mata borrão”; 10. Pronto! …é proibido parir; 11. Os Funcionários da Justiça e a Greve; 12. Os heróis de Putin serão mesmo os veteranos?; 13. Ai Timor!; 14. Valha-Lhe Deus, Senhor Professor; 15. Falemos, então, de sujidade…; 16. Conteúdos directos de um País torto; 17. Os aviões da TAP já não irão passear de BMW; 18. O Futebol, a hipocrisia e a Entourage; 19. Não só… mas Penacova está a ficar sem gente!; 20. Ajustados, ou alinhados? ; 21. Queremos respeito pelos Professores; 22. Não manchem as Jornadas Mundiais da Juventude; 23. Parabenizo a GNR; 24. Ai ACT, ACT!; 25. A Justiça tem de funcionar? ;26. O “Tinteiro” zangou-se!; 27. Senhor Rui, auto-estradas p'ra quê?; 28. Os Trabalhadores da Imprensa e da Comunicação; 29. A “Eutanásia” incompetente; 30. Como assim Lula?; 31. A “profissão” que Abril não queria; 32. O País em suspenso!

Dando uma espreitadela às “badanas” do livro, lemos, em relação às diversas obras anteriormente publicadas:

Estes poemas... representam a alma de quem sabe amar e esperar, que protege e que cuida com paixão.
Ana Marques Lito, in Poemas a recordar, 2012

O selo da responsabilidade social parece tê-lo cunhado desde sempre nas paisagens do Mondego que quer preservar... adivinham-se nestes poemas as paisagens, os aromas, as tradições e as épocas de um Portugal interior...refiro-me a Penacova, terra onde nasceu... É preciso conhecê-la e respirá-la através da mão do poeta.
Maria José Vera,  in prefácio do Livro Conexões

Palavra a palavra em comunicação secreta escreveu um amante o que lhe ia na alma: não há cultura sem afectos.
Joana Bonifácio, in Blog - O estranho mundo dos livros

Impossível de escrever aqui fielmente a revelação efectuada sobre todas as qualidades e virtudes... designadamente como excelente pessoa, experimentado e ilustre profissional, poeta talentoso.
Leonor, in Blog - Tudo e mais alguma coisa

É devido a este magnetismo natural, a esta incondicional paixão, que o autor deste livro (re)ergueu a sua casa...aquela que possui uma não menos nostálgica gárgula de feição medieval, virada para a Rua da Costa do Sol, lugar onde brincou, namorou e dançou no fecundo período da sua adolescência. Luís Pais Amante é o poeta da Casa Azul…
José Fernando Tavares, in prefácio de Penacova Intemporal

MAIS sobre o Autor: 


05 janeiro 2024

As Janeiras e os Reis das terras de Penacova, tal como se canta(va)m em Lorvão ...


A ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS, GIOTTO


Ao Professor Doutor Nelson Correia Borges devemos muito do que hoje se conhece e se preserva da história e da cultura do nosso concelho, em particular de Lorvão. Além dos importantes estudos académicos que desenvolveu, Nelson Correia Borges foi ao longo de muitos anos profícuo colaborador da imprensa local. É dos inícios dos anos sessenta do século passado o texto que, nesta quadra natalícia prestes a terminar, achamos pertinente e oportuno recordar.

A crónica começa assim:

“Antigamente, pela Natividade, em muitas terras do país era uso cantar-se e bailar-se nos templos ao som da gaita de foles, mais o tambor e a caixa. Em Lorvão só há memória de se ter dançado na igreja pela festa da Trasladação das Santas Rainhas, além da Moirisca que era em louvor de S. João ou S. Sebastião.

O Cancioneiro de Natal consta das Loas ao Menino Jesus, das Janeiras e dos Reis. Falar de todas elas numa crónica só, seria tentar «meter o Rossio na Betesga», por isso deixaremos as Loas para outra altura.

Chega o Ano Novo. Aqui entra calmamente, sem os bulícios, gritarias e estrondos das cidades. A nota principal da noite são as Janeiras cantadas de porta em porta. Formam-se ranchos de homens, de qualquer idade, que vagueiam pelo escuro das ruas, por vezes com um toque acompanhante, parando às portas de cada casa, pedindo as Janeiras e cantando em louvor do Menino Deus. Mas isto era noutros tempos, pois este costume tão típico está em vias de desaparecimento. Hoje só se cantam os «vivas» aos da casa, de qualquer forma e jeito, na mira daquilo que lhes podem dar. A descrição do nascimento do Menino Jesus, e mai'la Virgem Maria, vai pouco a pouco caindo no olvido, pois os que cantam as Janeiras não as sabem, e os que as sabem não as cantam. Ou talvez os primeiros se não queiram dar a essa maçada...

Para que de todo se não percam, vamos nestas colunas arquivar as Janeiras de Lorvão.

Ao que nos consta, para os lados de Penacova, canta-se também a mesma letra, mas com música diferente. As Janeiras de Lorvão, são, por conseguinte regionais, isto é, versão do que se canta (ou cantava) pelo concelho de Penacova.

                                         Gravura publicada no NP pelo Natal de 1963
 
Reproduzimo-las tal qual as recebemos da tradição popular, sem qualquer artifício da nossa parte para as tornar mais coerentes:

Naquela noite ditosa
que ao mundo deu alegria,
nasceu o Divino Verbo
das entranhas de Maria.

Caminhando para Belém,
pra lá chegar com de dia;
quando ele lá chegou
já meia noite seria!
S. José foi buscar lume
pra aquecer a Virgem Maria,
quando S. José chegou,
já Jesus era nascido;
nasceu nuns pobres portais,
que nem uns paninhos tinha!

Lançou as mãos à cabeça.
Uma touca que trazia,
fê-la em quatro pedaços,
Menino de Deus cobria.
Veio um anjo do Céu à terra,
ricos panos lhe trazia:
uns eram bordados a oiro,
outros a cambraia fina!

Foi o anjo para o céu,
rezando uma Avé-Maria.
Lá no céu lhe perguntaram:
Como ficou lá Maria?
Maria lá ficou boa,
na sua sala recolhida,
que lhe fez o carpinteiro
com sua carpintaria,
mandado do Padre Eterno
para sempre à Virgem Maria!

Glória seja a Deus Pai,
e a Deus Filho também;
Glória ao Espírito Santo,
para todo o sempre. Amen.

A música repete-se de dois em dois versos, repetindo-se por sua vez as três primeiras sílabas do se-gundo verso. Repare-se que a parte final respeitante à resposta do anjo é alheia ao motivo natalício. Quanto a nós deve pertencer a outro romance e ter sido aqui enxertada, Como sucedeu noutros.

Seguem-se as quadras de elogio as da casa, das quais transcrevemos algumas:

Vivam os senhores desta casa,
mais os anos que desejam,
companhia de uma rosa,
que foram buscar à igreja!

Viva lá senhora Alice,
raminho de laranjeira;
cai-lhe a flor no regaço,
ai Jesus, que tão bem cheira!

Viva lá senhor José
quando põe o seu chapéu
e vem vindo. para a porta,
parece um anjo do céu!

Viva lá senhora Maria,
Raminho de alecrim:
é a flor mais bonita
que se criou no jardim!

Viva lá senhora Teresa,
raminho de salsa crua
na janela do seu quarto
bate o sol e bate a lua!

Depois há também as quadras pedinchonas. Pede-se salpicão ou chouriça, mas qualquer coisa se aceita, os da casa já sabem como é...

Viva lá senhor João
assentado na cortiça:
deite a faca ao fumeiro
e dê p’ra cá uma chouriça!

Viva lá o senhor António
assentado num esteirão:
deite a faca ao fumeiro,
dê pra cá um salpicão!

Passam a outra casa, depois de receberem, quando recebem, o prémio da cantoria, e voltam a repetir as mesmas quadras, mudando os nomes.. Geralmente o produto das Janeiras, ou dos Reis é consumido naquilo a que hoje chamamos «jantar de confraternização».

Nos Reis, ou melhor, Reises, como por aqui se diz, é aplicável tudo o que dissemos sobre as Janeiras. A mesma música e as mesmas quadras pedinchonas e elogiosas. Difere, como é lógico, a narrativa bíblica, que o povo parafraseou à sua maneira em quadras belas e ingénuas:

Nobre casa, honrada gente,
escutai, ouvi-lo-eis:
uma cantiga tão linda
que se canta pelos Reis!

São chegados os três reis
da parte do Oriente,
visitar a Deus Menino,
Alto Deus Omnipotente.

Foram a casa de Herodes,
por ser o maior reinado:
que lhes ensinasse o caminho
donde Jesus era nado.

Herodes com seu malvado,
com seu perverso maligno,
foi ensinar os reis,
às avessas o caminho.

Os três reis como eram santos,
a estrela os foi seguindo.
A estrelinha se foi pôr
em cima de uma cabana.

A cabana era pequena,
não cabiam todos três;
adoraram Deus Menino
cada um por sua vez.

Ofereceram ao Menino:
oiro, mirra e incenso;
não lhe ofereceram mais nada,
porque Ele era o Deus Imenso!

Glória seja a Deus Pai
e a Deus Filho também;
glória ao Espírito Santo,
para todo o sempre. Amen.

A festa da Natividade, tão querida do povo português, originou um Cancioneiro de Natal, do qual oferecemos aos nossos leitores as Janeiras e os Reis das terras de Penacova, tal como se cantam em Lorvão.

«Vamos adorar o Deus Menino em Belém, entre os pastores!”

10 de Dezembro de 1962

CORREIA BORGES






28 dezembro 2023

Monte lauribano in finibus Gallecie

 


O infante Ramiro, filho de Ordonho II, rei da Galiza, e neto de Afonso III das Astúrias, terá nascido no ano 900. Reza a história que foi criado por D. Onega e marido, Conde Diogo Fernandes, em terras bem próximas de nós, entre Coimbra e Viseu. Nesta cidade teve a sua Corte entre 926 e 931,  já com o título de Ramiro II. O Rei Ramiro foi um “esforçado guerreiro e bom político” que acabou por se tornar figura lendária, recorda Jorge de Alarcão. 

Ramiro, personagem ao longo dos tempos gravada na memória popular, foi recuperada por Almeida Garrett com o romance popular “Miragaia” incluído no primeiro volume do “Cancioneiro”.

Tem esta espécie de introdução a ver com os tempos em que as terras de Lorvão faziam parte do reino de Leão integrando a região da Galiza. Recorde-se que os limites meridionais desta região nos séculos IX e X começaram por ser o rio Minho, depois o Douro e por fim a linha do Mondego. Nesta fronteira mais a sul pontificavam a estratégica cidade muralhada de Coimbra e o importante Mosteiro de Lorvão. 

A designação de “Gallaecia” aplicava-se assim a todo o território até ao Mondego.  Os poderes Asturo-Leoneses assim o entendiam quando se referiam à periferia ocidental dos seus domínios.

Sobre este aspecto vamo-nos cruzar de novo com Ramiro II: em 933, um documento de Lorvão, por ele assinado situava aquele cenóbio “in finibus Gallecie”. 

Trata-se do documento nº 37 dos “Portugaliæ Monumenta Historica” (PMH) / Diplomata et Chartae. uma coletânea de textos da história de Portugal.  Publicada pela Academia das Ciências de Lisboa entre 1856 e 1917, dividida em quatro secções: Scriptores (autores), Leges et Consuetudines (leis e costumes), Diplomata et Chartae (diplomas e cartas) e Inquisitiones (inquirições). As primeiras três foram compiladas sob a direção de Alexandre Herculano anteriormente a 1873, e a última, Inquisitiones, entre 1888 e 1897, após a sua morte. Os documentos datam da Idade Média e são primariamente escritos em latim medieval e língua galego-portuguesa.


22 dezembro 2023

Boas Festas 2023

✨✨ 𝖁𝖔𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖊 𝕭𝖔𝖆𝖘 𝕱𝖊𝖘𝖙𝖆𝖘 𝖕𝖆𝖗𝖆 𝖙𝖔𝖉𝖔𝖘 𝖔𝖘 𝖑𝖊𝖎𝖙𝖔𝖗𝖊𝖘 do Penacova Online ✨✨✨✨

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21 dezembro 2023

O Lagar do Pisão (re)visitado por Arménio Simões no seu “Trilho do Tempo”


Em 2015 ao visitar a Feira Cultural de Coimbra detive-me num dos espaços onde a par da exposição de gaitas artesanais de cana se encontrava um à venda um curioso livro sobre memórias etnográficas. Tudo da autoria de Arménio Simões, um engenheiro reformado, com quem estabelecemos uma pequena conversa.

Sobre o livro, de acordo com o prefácio, trata-se de “um vasto e rigoroso testemunho, no qual as crendices, as alfaias, os engenhos, os processos relativos à moagem, são tratados com enorme fidelidade.”

Analisando melhor a obra intitulada Trilho do tempo: etnografia do século XX ao redor de Almalaguês (2013) deparámo-nos com uma preciosa referência ao “Lagar do Pisão” (Lorvão) com fotografias extraordinárias e curiosas informações recolhidas junto do proprietário, Sr. Alípio Marques, que o autor oportunamente contactou. 

Ao falar dos lagares de azeite, escreve Arménio Simões: 

“Curiosamente, assim como o início do século XX coincidiu com o aparecimento do lagar movido por eletricidade e a morte lenta do de vara que se havia de prolongar até meados do século, o mesmo se havia de verificar na seguinte viragem com o aparecimento duma terceira geração de diferente tecnologia, diferindo pela morte súbita do lagar de prensas hidráulicas que até meados do século ainda manteve o tradicional sistema de separação do azeite por meio de tarefas onde se verificava que o azeite é como a verdade, vem sempre ao de cima, até quando substituído pelo sistema mecânico duma máquina centrifugadora.”

Depois de referir diversos exemplos da região de Almalaguês o autor faz uma incursão até à região de Penacova: 

“Em Lorvão, ano de 2011, no concelho de Penacova e por gentileza do Senhor Alípio, seu então proprietário, tivemos acesso a um exemplar de azenha e duas varas, ainda em razoável estado de conservação.



Tendo-o comprado como parte integrante dos terrenos que pertenceram ao mosteiro, e no culminar duma série de transmissões de propriedade que o levaram até ele, o Senhor Alípio começou por recuperá-lo e lhe dar uso durante algum tempo, e enquanto rentável, após o que se sucederam alguns anos de deteriorante inatividade até quando resolveu recuperá-lo como peça de estimativo valor museológico familiar, não obstante a própria longevidade de que anos o não impediam.

Conservando uma das duas grandes varas originais e feita de pinheiro manso, a outra, do lado esquerdo, mandou fazê-la em 1945, para o que usou um dos seus próprios eucaliptos com cerca de cinco toneladas e arrancado nas proximidades de onde demorou dois dias a percorrer uma distância de quinhentos metros, sobre dois eixos e puxado por duas juntas de bois, não obstante o acentuadamente favorável declive do terreno.” 

Estas informações, bem como o registo fotográfico (que será da primeira década deste século) vêm completar os elementos que nos aparecem em diversos escritos (por exemplo Patrimónios de Penacova, de Leitão Couto e David Almeida) e na página da Direcção Geral do Património Cultural / Sistema de Informação para o Património Arquitectónico).

É aí, sob o título “Conjunto Arquitectónico Rural de Pisão - Portugal, Coimbra, Penacova, Lorvão” que encontramos os dados oficiais sobre este património do nosso concelho, protegido legalmente (Portaria n.º 637/2010, DR, 2.ª série, n.º 164, de 24 de agosto 2010)  como CIP - Conjunto de Interesse Público.

O Lagar insere-se num conjunto mais alargado de arquitectura agrícola, que inclui também  um grupo de Azenhas, um  Forno de Cal e uma casa anexa de tipologia rural. 


Sublinha a DGPC “o particular significado a nível histórico-social e etno-tecnológico do conjunto”, dado que, à data ( 2011) o lagar de azeite conservava ainda “todo o equipamento essencial a um lagar de varas, sendo um exemplar tipológico que se salienta pela sua originalidade e raridade, assim como as azenhas, estando uma delas ainda em funcionamento.” Graças à sensibilidade cultural dos herdeiros do Sr. Alípio Marques o conjunto conhecido como Lagar do Pisão mantém ainda as características e o estado de conservação acima descrito.

Este espaço rural rural, situado num vale a Norte do Lorvão, tem uma “envolvente paisagística de grande beleza panorâmica” onde predominam “o riacho, que corre ao lado do lagar de azeite e azenha de menores dimensões, a casa frente à azenha destacada com forno de cal na encosta.” 

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Fontes:http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2663; Arménio Simões, Trilho do tempo: etnografia do século XX ao redor de Almalaguês

Governadores civis (3): Artur Ubaldo Correia de Sousa Leitão (1867-1906)


GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA 
OU AO CONCELHO LIGADOS POR CASAMENTO

Natural de Penacova. Bacharel em Direito. Foi Governador Civil de Leiria entre 1 de Janeiro de 1904 e 22 de Março de 1906.

Arthur Ubaldo Correia de Sousa Leitão nasceu no dia 8 de Fevereiro de 1867 em Penacova. Filho do Conselheiro Alípio de Oliveira de Sousa Leitão, advogado, e de Maria Puresa Correia de Almeida. Neto paterno de David Ubaldo da Silva Leitão e de Maria do Espírito Santo Sousa Almeida e materno de Joaquim Correia de Almeida e de Maria Rosa Mendes.

Estudou Direito em Coimbra, cuja Universidade frequentou a partir de 1887. Ainda estudante universitário ocupou o cargo de vice-presidente da Câmara, num dos mandatos de José António de Almeida. Ele próprio nos conta essa entrada na vida política num depoimento publicado no Jornal de Penacova aquando do falecimento, em 1901, daquele antigo Presidente, pai de António José de Almeida: “Posso bem dizer que entrei na vida pública pela sua mão. Ainda novo, quando estudante do 2º ano jurídico, fiz parte de uma Câmara da sua presidência. Senti então as responsabilidades d’um rapaz de vinte e um anos, que conhecia os códigos pela lombada” – recorda – “ Ao sentar-me pela primeira vez na minha cadeira de camarista, senti como que desabrochar a consciência que me impelia para o caminho do dever cívico e fazia então protestos de trabalhar, de ser útil à minha terra, de velar pelos seus interesses, por tudo enfim que pudesse concorrer para o enriquecimento de Penacova.”

Casou em 27 de Janeiro de 1892, na Capela de Vale de Açores, Mortágua, com Maria Piedade Gouveia Sousa (cuja irmã, Delfina Amália, havia casado no ano anterior com Joaquim António Tenreiro), filha de José de Gouveia d’Almeida e Sousa, bacharel.

Há notícia de que em 1901, na altura em que era Secretário da Penitenciária de Coimbra, foi eleito pela Câmara de Penacova para fazer parte do Conselho Distrital de Agricultura.

Também foi director do Jornal de Penacova, o primeiro periódico a ser publicado no nosso concelho tendo vindo a lume no dia 1 de Setembro de 1901.

Foi, no entanto, como Governador Civil de Leiria que mais se distinguiu. Ocupou o cargo entre 1 de Novembro de 1904 e 22 de Março de 1906. O deputado Oliveira Matos, na sessão da Câmara dos Deputados de 17 de Fevereiro de 1906, teceu-lhe rasgados elogios, enquanto homem, nobre e honrado e enquanto político, activo, leal e prestigiado. Esta intervenção de Oliveira Matos ocorrera no contexto do voto de pesar pelo falecimento recente de Alípio Leitão, antigo Deputado naquela Câmara.

Vítima de acidente de automóvel em Santa Comba Dão, o Conselheiro Artur Leitão, que residia em Vale de Remígio, faleceu no dia 18 de Maio de 1906, com apenas 39 anos de idade. Passado um ano da sua morte, foi homenageado pela Câmara Municipal, tendo sido colocado no Salão Nobre um retrato seu pintado pelo famoso pintor Eugénio Moreira, que na época vivia em Penacova. Que será feito desse quadro?

Ainda em 1908, aquando da homenagem a Oliveira Matos e do arranque das obras da Ponte do Alva, o Jornal de Penacova, num artigo assinado por Guedes Pessoa, recorda que Artur Leitão, ultrapassando mesmo questões familiares, intercedera junto de Luciano de Castro, primeiro-ministro e chefe do Partido Progressista, e conseguira também ter em Oliveira Matos um aliado, facto que muito contribuiu para que fosse possível concretizar grandes melhoramentos no concelho.

06 dezembro 2023

Poetas penacovenses (XI): um poema de Luís Pais Amante





 Sem abrigo


Eu sei quão dolorosa vai a actual situação

Os momentos que passas sem nada comer

O frio que te aperta a coluna em ondulação

As pessoas que passam sem nada te dizer


Eu reconheço que este tempo está fingido

Que quem não tem eira nem beira está mal

As Autoridades não enxergam bem o perigo

Nas ruas da nossa cidade já só há frio termal


Estar sem abrigo e só é estar a bater no fundo

A vida não existe para se suportar em angústia

Para andar de saco na mão percorrendo mundo


Caminhando à noite és mesmo um errabundo

O tua fome persistente já só te dá parageustia

A Sociedade oferece-te estatuto de vagabundo


Luís Pais Amante

Casa Azul

A cogitar sobre o modo como cresceu, ultimamente, este fenómeno triste.