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06 agosto 2019

Faz hoje 100 anos António José de Almeida foi eleito Presidente da República

António José de Almeida em 5 de Outubro de 1919
Em 1919 procedeu-se a nova eleição para o cargo de Presidente da Republica, de acordo com a lei constitucional de 1911. Esta eleição realizou-se em 6 de Agosto de 1919, para o quatriénio de 1919-1923 em reunião do Congresso, em sessão especial das duas câmaras, Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores, 

A eleição resolveu-se por 3 escrutínios por listas, tendo servido de escrutinadores Alboim Inglês e Lima Duque. Lima Duque que, como sabemos, foi uma figura muito importante na política penacovense e era genro do Conselheiro Alípio Leitão. 

No 1.º escrutínio, verificou-se que António José de Almeida obteve 87 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 82 votos, Francisco de Azevedo e Silva com 1 voto, Afonso Costa com 3 votos, Duarte Leite com 1 voto, Correia Barreto com 1 voto, Magalhães Lima com 1 voto e 5 listas em branco. 

Decorrido o 2.º escrutínio verificou-se terem sido votados: António José de Almeida com 93 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 83 votos, António Teixeira Gomes com 1 voto e 2 listas em branco. 

Finalmente, realizado o 3.º escrutínio, António José de Almeida obteve 123 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 31 votos e 13 listas em branco, sendo declarado, pelo presidente do congresso, eleito para o cargo de Presidente da República o mais votado.

António José de Almeida, foi o primeiro e único Presidente da I República eleito que cumpriu o seu mandato por inteiro. Tomou posse em 5 de Outubro de 1919,




Lima Duque, estava ligado a Penacova pelo casamento (era genro de Alípio Leitão)

22 julho 2019

Centro Interpretativo da Primeira República e Casa Museu em Vale da Vinha

João Paulo Avelãs Nunes, do CEIS20, apresentando as linhas embrionárias do projecto

No contexto da celebração do feriado municipal – 17 de Julho – foi apresentado, ainda em fase muito embrionária, na presença do Presidente da República, o projecto de criação de um Centro de Interpretação da I República e Núcleo Museológico em torno da figura de António José de Almeida.

De acordo com as palavras de  João Paulo Avelãs Nunes, do Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX (CEIS20), a quem coube a apresentação do projecto, o mesmo terá um carácter “transversal a diversas áreas” e pretende-se que seja “não instrumento de conflito mas, pelo contrário,  de consensualização de valores.” Terá uma vertente de formação cívica, “sem um discurso, uma mensagem ou moral pré-definida, mas com carácter aberto, facilitador do debate de ideias.”

O futuro Centro de Interpretação e Núcleo Museológico, a instalar em Vale da Vinha,  constará de um piso térreo, reservado para a instalação de valências técnicas e de um 2º piso, correspondendo ao espaço nobre da antiga casa. No entanto, não  teremos propriamente a reconstituição do espaço familiar, já que ele foi desaparecendo com a degradação do edifício. 
Edifício que vai ser recuperado para instalação do Centro Interpretativo / Casa Museu

Um dos primeiros núcleos de caracterização será a origem de António José de Almeida, a história familiar e local, a ligação à comunidade de origem. Contará  a história  de  António José de Almeida e de Portugal, desde o final do séc. XIX até aos anos trinta do século XX.

Um segundo espaço versará sobre  o início da actividade profissional de António José de Almeida que, neste caso, permitirá  uma ligação ao Império Colonial da época, com uma outra parcela da realidade portuguesa (S. Tomé).

Seguir-se-á  o período em que António José de Almeida foi um dos principais dirigentes do partido republicano, quer na fase de propaganda, quer na conquista do poder politico. A implantação da República, a fase de governação e o papel de António José de Almeida,  a desagregação da Primeira República, a sua substituição por outro tipo de serão outros aspectos a contemplar.

O investigador do CEIS 20 referiu que o Centro de Estudos fora também  convidado para, além deste projeto,  colaborar  noutros mais a criar na região: “uma espécie de rota de museologia em torno das questões políticas em Portugal  desde finais os séc. XIX até ao final do Estado Novo.”

Mais concretamente, núcleos museológicos ligados a personalidades marcantes: “em primeiro lugar, obviamente António José de Almeida, em Penacova;  em segundo lugar,  “não propriamente António de Oliveira Salazar,  mas um Centro de Interpretação  sobre o Estado Novo”, em Santa Comba Dão. Também no concelho de  Carregal do Sal, um Centro de Interpretação sobre o holocausto e Casa Museu Aristides de Sousa Mendes. Numa fase mais atrasada de negociação, Afonso Costa em Seia, irmãos Lacerda, no Caramulo e eventualmente um novo projeto em torno de escritores, incluindo Mortágua e outros locais.  

“Isto permite criar uma rede que pode ter várias entradas. Uma delas e a mais óbvia seria Coimbra não só por ser Património Mundial da UNESCO, mas também através do Portugal dos Pequenitos, um ícone da memória do Estado Novo.” – adiantou João Paulo Avelãs Nunes.

Este conjunto de projectos  envolve não  apenas as câmaras municipais mas também as comunidades intermunicipais. Além disso, “procurar-se-á  criar um Conselho Consultivo que representará  várias entidades, entre elas o Museu da Presidência, e será o garante da qualidade científica, e do rigor intelectual e ético.”

Projectos que implicam recuperação de património, atividade museológica, formação cívica, educação e  turismo: “Teremos não apenas a divulgação cultural e científica, mas também a turística. Em territórios de chamada baixa densidade podem ser uma estrutura muito positiva e significativa.” - afirmou Avelãs Nunes.





17 julho 2019

António José de Almeida “o maior estadista da Beira-Serra”

Registo de Baptismo de António José de Almeida


“Pelas nove horas da noite”- refere o registo de baptismo – do dia 17 do mês de Julho de 1866, no lugar de Vale da Vinha, freguesia de S. Pedro de Alva, nasceu António José de Almeida.  Frequentou o ensino primário na sede da freguesia – Farinha Podre - tendo como professor, João Gama Correia da Cunha, que o acompanhará ao longo da sua vida de estudante em Coimbra. Quando em 1890, António José de Almeida se encontrava preso por crime de abuso de liberdade de imprensa, na sequência do artigo “Bragança, o Último”, publicado na folha académica Ultimatum, João Gama escreveu no jornal conimbricense “A Oficina” uma carta em apoio do seu antigo pupilo onde dizia que havia muito a esperar da “ilustração e boa vontade” daquele “rapaz” pois ''homens como ele” não apareciam todos os dias.

Possivelmente, as primeiras influências republicanas dever-se-ão àquele professor das primeiras letras, que era republicano convicto, bem como a outras personalidades daquela freguesia. Não de seu pai, pois, José António de Almeida só aderiu ao Partido Republicano no dia em que o filho entrou na cadeia e quando já era presidente da Câmara de Penacova.

A par da militância republicana em Coimbra, António José de Almeida concluiu o curso de Medicina em 1895. Partiu para S. Tomé no ano seguinte, onde exerceu a profissão de médico.  Regressou a Lisboa em 1903 e ainda nesse ano iniciou  uma viagem de estudo que se estendeu até Março de 1904, passando por França, Itália, Suíça e Holanda.

Em 1906 integrou o Directório do Partido Republicano Português. Neste ano, foram  eleitos os primeiros deputados republicanos: António José de Almeida, Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Menezes. Em 28 de Janeiro de 1908, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado, foi preso, Em Abril desse ano o Partido Republicano conseguiu eleger sete membros para a Câmara dos Deputados, entre eles António José de Almeida. Em Abril do não seguinte , no congresso daquele partido e por indicação da Carbonária assumiu  a direcção civil do Comité Revolucionário.

António José de Almeida continuou a marcar presença em muitos dos comícios que se foram realizando por todo o país. Viseu no dia 8 de Março de 1908 e Tábua no ano seguinte. Também no dia 1 de Agosto de 1909 que a S. Pedro de Alva acorreram milhares de pessoas: 3000, segundo o Jornal de Penacova, 4000 de acordo com notícia de O Poiarense. Foi a primeira (e única vez)  que António José de Almeida discursou . No discurso que proferiu, fez questão de esclarecer que “veio falar à sua terra porque cá o chamaram.” Acentuou que não vinha “pedir nem votos, nem influências, nem importância” pois “nada precisava da República, como nada aceitava da Monarquia.” Vinha sim “junto dos homens da sua terra, para os ajudar a redimir e salvar”, apresentando-se como “um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço.” No mesmo dia foi inaugurado o Centro Republicano de S. Pedro de Alva. António José de Almeida, a dois meses do 5 de Outubro, reafirmou que era  preciso acabar com a ideia de que o Partido Republicano não tinha força, e que se impunha uma reação  ''não só pelas palavras mas também pelas armas.''


Proclamada a República, António José de Almeida integrou o Governo Provisório, assumindo a Pasta de Ministro do Interior, cargo que desempenhará até ao dia 3 de Setembro de 1911. Ainda neste ano, verifica-se a cisão do Partido Republicano. Democráticos (liderados por Afonso Costa), Evolucionistas (liderados por António José de Almeida) e Unionistas (liderados por Brito Camacho) irão, até 1919, ocupar o espectro político republicano.

Com a criação do Partido Evolucionista em 1913 a região das Beiras, que já não era indiferente a António José de Almeida, aderiu significativamente, em especial os concelhos pertencentes ao Círculo Eleitoral de Arganil (Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Lousã, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Poiares e Tábua).

A carreira política de António José de Almeida registará um novo capítulo em 1916. No contexto da I Guerra Mundial, assumirá as funções de Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) (15 de Março de 1916)  e de Ministro das Colónias no Governo da “União Sagrada”, formado por Evolucionistas e por Democráticos.

Em 1919, foi eleito Presidente da República. Apesar de ter enfrentado um dos períodos “mais trágicos da República”, foi o único a cumprir, entre 1910 e 1926, integralmente os quatro anos de mandato presidencial. No período que vai de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923, António José de Almeida, além de muitos outros contratempos, terá que “lidar” com dezassete Governos e terá que enfrentar os trágicos acontecimentos da “noite sangrenta” de Outubro de 1921. No entanto, o sucesso da travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro e, pouco depois, o momento “glorioso” e “triunfal” da sua Visita Presidencial ao Brasil, nos finais do Verão de 1922, serão acontecimentos positivos que marcarão o seu mandato.

É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”.


Vitimado pela doença, morreu em Lisboa no dia 31 de Outubro de 1929, com 63 anos.
Em 5 de Outubro de 1976 foi inaugurado na vila de Penacova um busto em sua memória, obra escultórica do Mestre Cabral Antunes. Outro acto de homenagem foi a instituição do dia 17 de Julho como Feriado Municipal de Penacova, por deliberação da Assembleia Municipal (28 de Maio de 1976). E, em 1997, no dia 5 de Outubro, foi inaugurada uma estátua em S. Pedro de Alva, sede da freguesia da sua naturalidade.

David Almeida


23 junho 2019

No centenário da eleição presidencial de António José d'Almeida: [1] A visita a Coimbra


A reportagem fotográfica na "Ilustração Portuguesa"

O ano de 1919 ficou marcado pela eleição de António José de Almeida para a Presidência da República. Penacova celebra, assim, neste ano de 2019, o Centenário da sua Eleição Presidencial.

A eleição teve lugar em 6 de Agosto de 1919, reunido o Congresso[1] em sessão especial das duas câmaras, Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores. No 3.º escrutínio, António José de Almeida obteve 123 votos (73,7%), seguido de Manuel Teixeira Gomes com 31 votos e 13 listas em branco. Tomou posse em 5 de Outubro de 1919, em sessão solene preparada para a ocasião.

António José de Almeida sucedeu a João do Canto e Castro. Foi o primeiro Presidente da República eleito que cumpriu o seu mandato por inteiro. Mandato que terminou  em 5 de Outubro de 1923, sucedendo-lhe  Manuel Teixeira Gomes.

No final de Novembro e início de Dezembro de 1919, efectuou uma Visita Presidencial a Coimbra. No dia 1, presidiu à sessão solene inaugural do ano lectivo na Universidade, tendo sido a Oração de Sapiência proferida pelo Lente de Medicina João Duarte de Oliveira que  abordou a questão da autonomia universitária.

A visita a esta cidade revestiu-se de grande imponência. Fora recebido, no dia 29 de Novembro, na Estação Nova, vindo de Lisboa de comboio e também nos Paços do Concelho a que se seguiu a visita ao Paço das Escolas. À noite teve lugar um banquete de Gala nos Paços do Concelho oferecido pela Câmara Municipal (servido pelo Coimbra Hotel). No dia 30 visitou o Quartel de Infantaria nº 23 e na Ínsua dos Bentos passou em revista o Batalhão Expedicionário de Infantaria 23. De tarde visitou a Universidade e à noite assistiu a uma récita de gala no Teatro Avenida onde a Companhia do Teatro Nacional apresentou “A Morgadinha de Vale Flor”. O regresso a Lisboa aconteceu no dia 2 de Dezembro, onde à tarde, iria assistir à abertura do Parlamento.


Refere a Gazeta de Coimbra que na terça-feira, dia 2, veio a Penacova o Ministro do Comércio e Comunicações, Ernesto Júlio Navarro, acompanhado do Director de Obras Públicas, para se inteirarem das obras da estrada Penacova-Lousã. De passeio, terão vindo também o Ministro da Guerra (Hélder Ribeiro) e o Presidente da Câmara dos Deputados (Domingos Pereira).

Escreve o mesmo jornal que “a  cidade de Coimbra, vestindo-se de galas, cobrindo-se de flores, de bandeiras, soube prestar-lhe as honras que se devem a quem, pela Pátria, tem trabalhado incansavelmente.” E mais adiante: “A figura do Sr. Presidente da República foi saudada carinhosamente. A alma popular via nela ainda, como nos tempos da propaganda revolucionária, aquele orador arrebatador, transcendental, demosténico, que sabia fazer vibrar intensamente a escala das emoções humanas.”

No discurso proferido na Universidade, considerou a cidade de Coimbra “como a terra natal do seu espírito” dizendo que, ao entrar na Sala dos Capelos, depois da sua ascensão à presidência da República, sentira “na sua alma recordações inolvidáveis duma mocidade distante”.

António José de Almeida ao chegar a Coimbra
__________
A tomada de posse em 5 de Outubro de 1919

[1] Nos termos da Constituição Política da República Portuguesa de 1911 que então vigorava, o Presidente da República era eleito através de sufrágio indirecto, requerendo pelo menos dois terços dos votos das duas Câmaras do Congresso da República (Deputados e Senado) reunidas em sessão conjunta. As eleições tiveram lugar a 6 de Agosto de 1919, e decidiram-se ao fim do terceiro escrutínio, tendo António José de Almeida obtido 73,7% dos votos, contra os 18,6% do segundo candidato mais votado, Manuel Teixeira Gomes. O Presidente da Republica eleito tomou posse em 5 de Outubro de 1919.

05 outubro 2018

Casa onde nasceu António José de Almeida vai dar lugar a Museu da República

A Câmara Municipal de Penacova assinou hoje um Protocolo de Colaboração com o Centro de Estudos Disciplinares Século XX (CEIS 20). A relação com o CEIS20 vem de 2004, com o lançamento da biografia “António José de Almeida e a República”, passando também pelas comemorações do Centenário da Implantação da República (2010) e mais recentemente, pelo programa do Centenário da Pérgula Raúl Lino (2018).
Em 2019 Penacova vai assinalar o centenário
da eleição de António José de Almeida
 para Presidente da República
A parceria hoje formalizada visa dois objetivos: a celebração do centenário da eleição de António José de Almeida para Presidente da República e a elaboração de um projeto de reabilitação urbanística da casa onde em 1866 nasceu aquele estadista e respetiva musealização, no sentido de aí, em Vale da Vinha, freguesia de S. Pedro de Alva, ser criado o “Museu da República António José de Almeida”. 

Assim, o protocolo prevê a realização de uma série de conferências ou mesmo de um colóquio em Penacova, organizado pelo CEIS 20 e ainda, um conjunto de sessões de formação para professores e alunos do Agrupamento de Escolas, versando a figura de António José de Almeida e o tema da República. Àquele Centro de Estudos caberá também a apresentação do projeto para o referido Museu. 
Assinatura do Protocolo entre o Município e o CEIS 20
Usando da palavra, o Coordenador do CEIS 20, António Rochette, destacou a importância deste protocolo, não só porque o Centro defende que a Ciência deve ser com e para o cidadão, mas também porque tem a ver com o conceito de res publica e se relaciona com a Escola, com a formação das novas gerações. A criação de uma Casa-Museu da República representa um desafio: a transformação de uma simples casa em museu, num espaço de mais-valia cultural que se venha a enquadrar numa rede de casas museu que existem ou possam existir nestes territórios de baixa densidade. Apesar de só agora se formalizar o protocolo, os estudos para o projeto de arquitetura e musealização já estão a decorrer, revelou. 

António Rochette, depois de considerar António José de Almeida como “uma personagem fundamental” da nossa história de “finais do século XIX e inícios do século XX”, disse que o CEIS 20 se sente “extremamente sensibilizado e honrado com este protocolo”, acrescentando, no entanto, que estas estas palavras só se justificam se de hoje a um ano sensivelmente, puder estar na inauguração daquele Museu. 

Por sua vez, o Presidente do Município, Humberto Oliveira, salientou a importância de “valorizar as nossas figuras, a nossa história e dignificar, o máximo possível, o centenário da eleição de António José de Almeida, como Presidente da República”. Considerou que se trata de uma tarefa que o município, por si só, não conseguirá realizar cabalmente, apelando por isso, ao contributo de outros parceiros, sejam pessoas individuais, sejam instituições. Daí considerar que o “CEIS 20 é o parceiro certo”. 

Recordando que no dia 5 de Outubro de 2014 fora assinada a escritura de aquisição da Casa de Vale da Vinha, disse que “agora é preciso, literalmente, por mãos à obra”. Humberto Oliveira destacou o facto de se tratar de um “projecto fundamental para a coesão territorial do município”, acrescentando economia, conhecimento e atractividade ao território. Tendo em conta a estratégia de valorização de espaços, depois do Museu do Mosteiro de Lorvão e da Casa das Artes no antigo edifício do tribunal em Penacova, a Casa-Museu, na freguesia de S. Pedro de Alva, pode ser considerada a “terceira perna desta trempe”. 

A sessão comemorativa do 5 de Outubro, foi antecedida do hastear da bandeira ao som do Hino Nacional e a tradicional deposição de coroa de flores no busto de António José de Almeida, tendo terminado com um apontamento musical apresentado pela Escola de Artes de Penacova.

Apontamento musical da Escola de Artes de Penacova 

05 outubro 2016

O 5 de Outubro de 1976 em Penacova: sons, imagens e textos que quatro décadas não apagaram

OUÇA EM 
https://www.youtube.com/watch?v=mt-lf3UKW60

Celebravam-se então 66 anos da Implantação da República. No dia 5 de Outubro de 1976 Penacova prestava homenagem a António José de Almeida inaugurando no centro da vila um busto daquele estadista natural de Penacova.
 
Logo pela manhã, uma salva de 21 morteiros anunciou “o dia festivo que se ia viver” - escreveu o Notícias de Penacova. Às nove e meia teve lugar uma romagem ao Cemitério da Eirinha, em homenagem aos republicanos cujos restos mortais ali repousam. Pelas 12 horas, nos Paços do Concelho, foi içada a bandeira nacional com guarda de honra dos Bombeiros Voluntários. O Gestor Municipal, José Alberto Rodrigues Costa, numa breve alocução, sublinhou o significado do 5 de Outubro e recordou o modo como foi aclamada a República em Penacova. A parte da tarde viria a ser preenchida com o principal ponto do programa: a homenagem a António José de Almeida.


Edição de 9 de Outubro de 1976
do Notícias de Penacova

A vila estava em festa. Música executada pelas Filarmónicas do concelho: dos Bombeiros, Boa Vontade Lorvanense e Casa do Povo de São Pedro de Alva. Estralejar de foguetes no ar. Satisfação “resplandecendo nos rostos do povo (...) porque desde há muito tempo que este dia não era festejado com alegria, já que, durante quase meio século, o 5 de Outubro marcava uma data de oposição a um governo rejeitado pela maioria, oposição essa que veio a ter o seu terminus na madrugada de 25 de Abril de 1974” - escreveu aquele periódico local, rematando - “agora sim, agora o 5 de Outubro é dia festivo para o Povo que quer ser Livre.”
 
Pelas 16 horas procedeu-se ao descerramento do Busto (da autoria do escultor José Maria Cabral Antunes) que se encontrava coberto com a ”genuína” bandeira verde-rubra que foi içada na Rotunda no dia da Revolução vitoriosa.
 
O Governador Civil de Coimbra, Fernando Vale (que havia tomado posse na véspera) abriu a sessão, fazendo um breve referência à figura de António José de Almeida e ao alto significado daquele acto.

Seguiu-se Romero de Magalhães, Secretário de Estado da Orientação Pedagógica, em representação do Governo. Em breves, "mas vigorosas palavras", não só se referiu à justíssima homenagem como ainda à figura de António José de Almeida, terminando por lembrar o verdadeiro significado do que é a Liberdade e a República.


Romero de Magalhães no uso da palavra,
vendo-se também na foto Fernando Vale


Intervenção de José Alberto Costa, Gestor Municipal
(Arquivo pessoal de J.A.Costa)

Usou depois da palavra o Gestor municipal, José Alberto Costa, que “em seu nome pessoal e do povo do concelho deu as boas vindas a todos quantos quiseram honrar com a sua presença tão solene homenagem”. Seguiu-se a intervenção de Eduardo Ralha. Diz o Notícias de Penacova, cujas páginas temos vindo a seguir de perto – “Este orador, com aquela clarividência que lhe é peculiar, vivendo intensamente o momento nacional que foi o 5 de Outubro de 1910” fez uma explanação longa sobre o assunto e destacou o facto da personalidade de António José de Almeida “não ser apenas motivo de honra e legítimo orgulho para o concelho, mas também porque se trata mesmo de uma gloria nacional.” Terminou dizendo: “Quando assim se der sentido à trilogia: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, seremos dignos continuadores da geração de António José de Almeida e estaremos então a prestar-lhe a mais significativa das homenagens”.



Seguiu-se a intervenção do genro do homenageado, Júlio Abreu, que em representação dos familiares agradeceu “comovidamente” a homenagem que se estava a prestar e fez uma “breve resenha do que foi a vida e obra António José de Almeida, essa figura nacional que desde os seus tempos de estudante se deu de alma e coração à causa republicana, à democracia e à elevação do bom nome da Pátria Portuguesa.” Estava também presente a filha do homenageado, Maria Teresa de Almeida Queiroga de Abreu.
 
A finalizar, o Chefe da Secretaria da Câmara procedeu à leitura do Auto, lavrado em livro especial e que, no final, foi assinado pelas entidades presentes e pelo povo que o quis fazer. Foram ainda lidas algumas mensagens de "familiares ausentes e de um republicano", após o que foi guardado um minuto de silêncio por todos quantos lutaram para que a República Portuguesa fosse uma realidade viva.



“Estava assim terminada uma das mais brilhantes cerimónias realizadas no concelho” – conclui o jornal – “que desta forma prestou homenagem a um dos seus filhos que soube honrar a sua terra e Portugal.”


18 julho 2016

No rescaldo da razão de ser do Feriado Municipal

PENACOVA E ANTÓNIO JOSÉ D'ALMEIDA


A figura de António José de Almeida terá constituído o principal fio condutor do movimento republicano em Penacova. A força da sua influência começa a sentir-se enquanto jovem estudante em Coimbra e prolongar-se-á até à sua morte (e para além dela) sendo sempre acarinhado e admirado por um largo sector de republicanos que fizeram a apologia intransigente do seu percurso político. Figura tutelar das movimentações republicanas em Penacova, sem ele, estamos convictos, o republicanismo não teria alcançado, também neste concelho, a dimensão e a projecção que todos conhecemos.

1890: o seu pai, José António de Almeida, à época presidente da Câmara de Penacova, adere ao Partido Republicano. Com o filho preso na cadeia de Coimbra declarou em plena sessão camarária que “nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles” as suas forças ”na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias”, se havia de fazer Republicano. E justifica: “Realizou-se este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.

João Gama Correia da Cunha, que fora professor de António José de Almeida na escola primária de S. Pedro de Alva, escreveu uma carta, datada de 24 de Julho de 1890, no momento em que o seu ex-pupilo se encontrava preso. Foi publicada no jornal de Coimbra ”A Oficina”. Aí afirmava: ''muito há a esperar da ilustração e boa vontade deste rapaz (...) Homens como ele não aparecem todos os dias. O tempo se encarregará de mostrar que isto não é lisonja, nem ilusões dum insensato.''

1907: Alípio Barbosa Coimbra (republicano convicto, médico e fundador da Cerâmica Estrela de Alva), na edição de 20 de Julho de 1907 do Jornal de Penacova, pergunta: ''Que melhor patrono poderíamos ter, que esse patrício ilustre, grande pelo coração e ainda maior pela energia da sua vontade e pelo fulgor da sua inteligência? Damos-lhe a ele, o grande tribuno republicano dr. António José d'Almeida a satisfação íntima de ver a sua terra natal caminhar na vanguarda das hostes republicanas''.

O dia 1 de Agosto de 1909 ficou marcado pelo grande comício em S. Pedro de Alva. Apesar do alheamento de alguns sectores políticos locais e até da afronta dos monárquicos mais radicais, a presença de António José de Almeida marcou as gentes desta região. Cerca de três mil pessoas terão estado naquela manifestação republicana onde usou da palavra, a par de outras proeminentes figuras republicanas.

A sua carreira política, designadamente o cargo de Ministro do Interior no Governo Provisório, foi largamente noticiada no Jornal de Penacova. “Orgulho do nosso concelho que só agora começa a fazer-lhe a devida justiça, apóstolo acérrimo e defensor máximo da Liberdade” – escreve aquele periódico a 29 de Outubro de 1910.

Durante o ano de 1912, o mesmo jornal irá dar grande ênfase à criação do Partido Evolucionista, em ruptura clara com o partido de Afonso Costa. A iniciar o ano de 1914, António José de Almeida que habitualmente escreve para o Jornal de Penacova, questiona a governação do Partido Democrático (Afonsista): ''Esta República como no actual momento se encontra é má? Sem dúvida. Podemos mesmo, leitor, sem forçar a expressão do vocábulo, chamar-lhe péssima.” Deixa também o apelo: ”Não te fiques nirvanicamente nas queixas e nos lamentos. Trabalha, mexe-te, congrega-te, conjura-te e anda para a frente''.


A exaltação da figura de António José António de Almeida continuará a ser uma constante nas páginas do Jornal de Penacova. Sobre o comício que teve lugar no Teatro Avenida em 1914, na edição de 4 de Julho de 1914, afirma-se que a "jornada de Domingo" constituiu "um verdadeiro dia de triunfo para o Partido Republicano Evolucionista".

O sentido patriótico e a assumpção das responsabilidades governativas de António José de Almeida nunca passaram ao lado dos republicanos penacovenses. O facto de este ter assumido a Presidência do Ministério e a pasta das Colónias no governo da ''União Sagrada'', foi largamente noticiado no jornal Ecos de S. Pedro de Alva de 1 de Abril de 1916. Este periódico preenche a totalidade da sua primeira página com fotografia de Bernardino Machado, ladeado por António José de Almeida e Afonso Costa. A encimar, o título: ''Em defesa da Pátria – Unidos pelo Dever''.

Em 1919, António José de Almeida é eleito Presidente da República. Tal facto foi motivo de orgulho ainda maior para Penacova: “Foi eleito Presidente da República o sr. dr. António José d’Almeida, nosso ilustre conterrâneo! Ele é a alma da Pátria! Ele é a Vida da República! Ele é a honra de um povo! Viva o sr. dr. António José d’Almeida!- regista em grandes parangonas de capa o Jornal de Penacova. Eleito pelo Congresso em 6 de Agosto, exercerá o cargo até ao dia 5 de Outubro de 1923. Foi o único Presidente que, na I República, levou até ao fim o seu mandato.

Morreu a 31 de Outubro de 1929. O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva prenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com a notícia: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida”.

O mesmo jornal não se cansará de enaltecer este seu ilustre conterrâneo, recordando que este grande "apóstolo da Democracia tinha um altar em todos os corações portugueses''. A morte de António José de Almeida também é notícia na edição de 2 de Novembro do Jornal de Penacova. Eduardo Silva, que era, à data, o redactor deste periódico, escreverá: “O dr. António José de Almeida era nosso conterrâneo. Nasceu além, na freguesia de S. Pedro de Alva, num lugarzito, lindo e pitoresco, que se chama Vale da Vinha. Lá está o seu solar que nos desperta lembranças da sua mocidade indómita de combatente pelo ideal republicano, desde os seus mais verdes anos.[…] Foi um grande português, homem de uma honestidade intransigente, a sua vida não teve mancha a diminuir o seu valor e o seu prestígio, o seu carácter de fino e puro quilate esteve sempre de pé”.

Com o 25 de Abril, depois ter sido, durante muitos anos, directa ou indirectamente silenciada, a figura de António José de Almeida é novamente exaltada. A devida homenagem ocorreu em Penacova no dia 5 de Outubro de 1974 e passados exctamente dois anos, foi descerrado um busto (da autoria de Cabral Antunes) junto à Pérgola Raul Lino. No mesmo dia, mas em 1997, foi inaugurada uma estátua de António José de Almeida na sede da freguesia da sua naturalidade, S. Pedro de Alva.

Em 28 de Maio de 1976 a Assembleia Municipal de Penacova votou, por unanimidade, a instituição a 17 de Julho do Feriado Municipal, de forma a evocar a vida e a obra deste ilustre penacovense, que a ser vivo, teria completado ontem 150 anos.

17 abril 2016

Toponímia Coimbrã: António José de Almeida, a Rua e o Busto


É num pequeno largo, no cruzamento das Ruas António José de Almeida e Nicolau de Chanterene que encontramos um busto de António José de Almeida. A rua com o seu nome existia já desde os inícios da década de trinta do século passado. A deliberação da Câmara Municipal de Coimbra data de 16 de Julho de 1931.A abertura desta nova artéria da cidade inseriu-se no surto de construção na zona de Celas e Montes Claros.


Bustos de António José de Almeida: 
em Coimbra (à esquerda) e em Penacova (à direita)

O busto, moldado em bronze, foi inaugurado a 5 de Outubro de 1984. Trata-se de uma obra de Cabral Antunes muito semelhante (ou mesmo cópia) à que se encontra no Largo Alberto Leitão em Penacova (5 de Outubro de 1976) e que também é da autoria do mesmo escultor.

Assenta sobre um “pedestal paralelepipédico vertical, integrado num canteiro, que se encosta a um elemento parietal em alvenaria rebocada, ligeiramente curvado, contendo uma pequena lápide em pedra com uma inscrição alusiva ao homenageado, ladeada por duas fitas metálicas com as cores da bandeira nacional.” – refere um documento do Ministério da Cultura.

Busto de António José de Almeida em Coimbra


Localização da Rua António José de Almeida


17 julho 2015

Em dia de Feriado Municipal a incontornável referência a António José de Almeida

Penacova celebra hoje o seu Feriado Municipal, evocando o nascimento de António José de Almeida que nasceu, faz hoje 149 anos, neste concelho.
Sobre esta personalidade, muito se escreveu já quer a nível nacional quer localmente. 
Aqui fica um vídeo que é um extracto da série documental  “Os Presidentes”, produzido para a RTP em 2011, tendo como autores Alexandrina Pereira e Rui Pinto de Almeida.

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António José de Almeida (1866-1929) foi o sexto Presidente da República Portuguesa (1919 a 1923). É o único eleito da Primeira República que cumpre os quatro anos previstos na Constituição, sobrevivendo a várias crises sociais e económicas.
Forma-se em medicina e especializa-se em doenças tropicais, durante uma estadia em S. Tomé e Príncipe.
É um republicano empenhado e, desde o tempo de estudante, é também conhecido pela sua retórica realizando discursos que atraem multidões.
Ainda durante a monarquia é preso devido à sua acção revolucionária.
Após a implementação da República é nomeado Ministro do Interior e mais tarde, durante o Governo da "União Sagrada" assume a chefia do Governo acumulando a Pasta das Colónias. 
De 1919 a 1923 foi Presidente da República, como já se referiu.  

31 janeiro 2014

Penacovense envolvido na revolta de 31 de Janeiro

- O que terá havido lá pelo Porto?
- O que terá havido santo Deus?
Durante o dia 31 continuou a expectativa. Tudo parecia depender das notícias que por certo viriam no comboio da noite...
Ansiedades vividas por um jovem de 24 anos natural de Penacova, estudante de Medicina. As paredes da prisão já o haviam acolhido há um meio ano atrás (durante três meses) por abuso de liberdade de imprensa. A luta pelos seus ideais políticos a isso havia conduzido. Agora, se a revolta do Porto  vingar irá receber as armas ao quartel de Sant' Ana  e depois de descer pelo Quebra Costas  dirigir-se-á até ao quartel da Sofia.

Referimo-nos, como já se percebeu, a António José de Almeida e ao "31 de Janeiro" de 1891. Depois de em 2011 termos assinalado a efeméride, gostaríamos de recordar mais uma vez este marco da história de Portugal, e salientar o facto de já na preparação da primeira tentativa de implantar a República em Portugal ter estar fortemente envolvido este ilustre penacovense.

Documento disponibilizado via Museu da Presidência da República  
citado no blogue Almanaque Republicano
Ver também a obra António José de Almeida e a República de Luís Reis Torgal (edição Círculo de Leitores), pp 50 ss

16 janeiro 2014

Arquivo RTP: vídeo sobre António José de Almeida já está disponível

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A RTP acaba de lançar um portal  a que chamou "Ensina", disponibilizando programas com interesse para o enriquecimento curricular das disciplinas escolares. Entre muitos outros conteúdos é possível, desde já, aceder a um conjunto de vídeos sobre os Presidentes da República. Entre eles, figura naturalmente, António José de Almeida, nascido em Vale da Vinha - freguesia de Farinha Podre, hoje S. Pedro de Alva.

"Ao longo das últimas décadas, a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) produziu inúmeros conteúdos cujo interesse não se esgotou na sua divulgação televisiva ou radiofónica. Entrevistas com figuras notáveis das letras, das artes, das ciências, bem como documentários sobre o património e a história, frequentemente procurados por professores e estudantes, têm tido acesso limitado ou caem até no esquecimento. Esses conteúdos são um complemento relevante para o trabalho feito na sala de aula, e passam agora a estar disponíveis online, através das várias plataformas digitais que o Ensina utiliza. Pretendemos construir um espaço de consulta fácil para os utilizadores, através de computadores, tablets ou smartphones, em permanente construção e – dentro em breve – com o contributo de entidades externas à própria RTP. Nos próximos meses esperamos conseguir apresentar, com elevada frequência, novos materiais trabalhados a partir do arquivo do serviço público de rádio e televisão, ou produzidos especificamente para este projeto.
Que tipo de conteúdos?

Estão disponíveis, numa primeira fase, videos, audios, infografias e fotografias produzidas pelos diferentes canais da Rádio e Televisão de Portugal ao longo das últimas oito décadas. Para além de pequenos excertos de entrevistas ou programas, apresentamos também alguns grandes documentários com grande relevância para determinadas matérias escolares". (RTP/ENSINA)


01 janeiro 2014

Efemérides: Foral Manuelino, extinção do concelho de Farinha Podre e República


Poucas horas depois de o dia 31 de Dezembro de 2013 ter terminado, duas efemérides gostaríamos de destacar: 500 anos do Foral Manuelino (31/12/1513) e 160 anos da extinção do concelho de Farinha Podre (31/12/1853). Destes temas falámos já neste blogue e na imprensa regional.
Sobre o foral, pode espreitar a referência ao lançamento da edição fac-similada,  bem como um artigo sobre estas “joias patrimoniais”. Pode ficar também a saber que o exemplar concelhio do foral manuelino esteve em vias de se perder como se um maço de papéis se tratasse, e pode ainda visualizar algumas páginas do foral onde a data de 31 de Dezembro de 1513 é fácil de ler.
No que se refere ao concelho de Farinha Podre, pode ficar a saber qual o âmbito geográfico do mesmo (as freguesias e os lugares que o compunham, o número de fogos) e aperceber-se do “desastre” que constituiu essa decisão de extinguir um concelho que tinha todas as condições para se desenvolver.
Além destas duas referências, façamos uma terceira viagem no tempo. Recuemos 100 anos. Em 1913-1914, viviam-se tempos “atribulados” da República, onde as divisões no seio dos republicanos já se faziam sentir, em especial entre António José de Almeida e Afonso Costa, o mesmo é dizer, entre Evolucionistas e Democráticos.
No início de 1914 ( 3 de Janeiro) António José de Almeida escrevia no Jornal de Penacova um artigo intitulado “Ano Novo”. Aí perguntava, no seu estilo coloquial: “ Esta república, como no actual momento se encontra é má? Sem dúvida. Podemos mesmo, leitor amigo, sem forçar a expressão do vocábulo, chamar-lhe péssima.”
Assim, depois de tecer fortes críticas ao governo presidido por Afonso Costa apela a uma mudança urgente na condução do Governo e diz:
“Não te fiques nirvanicamente nas queixas e nos lamentos. Trabalha, mexe-te, congrega-te, conjura-te e anda para a frente” (…) Lembra-te que uma simples mudança ministerial, coisa que se faz sem abalos nem perturbações de espécie alguma, é o suficiente para que a paz, a ordem, a justiça serena, a equidade conciliadora, ponham em equilíbrio esta sociedade, que fazendo a evocação dos seus males, sobretudo deveria queixar-se de si.” Esta mudança ministerial que refere significava uma mudança de Governo e de Política.
“Anda e olha que a missão é facílima” – volta a reafirmar António José de Almeida, que conclui o artigo deste modo: “Nessa suposição [de mudança] te agoiro um novo ano que te faça, pelas suas vantagens, esquecer o 1913, com todos os seus desastres”.

05 outubro 2013

5 de Outubro: recordar António José de Almeida


[António José de Almeida: um Beirão de projecção nacional] 
 
No Verão de 1929 realizou-se em Castelo Branco o IV Congresso das Beiras. António José de Almeida fora convidado para estar presente. A doença, que há longos anos o atormentava e que no Outono seguinte lhe causará a morte, impedirá essa deslocação. No entanto, não deixará de endereçar uma mensagem onde enaltece o “passado heroico” desta região. “Beira Una”, que é a “expressão suprema” de uma “Nação gloriosa, eterna geradora de heróis, de poetas e de mártires”. 
Este sentimento Beirão, expresso no final da sua vida, nascera muitos anos antes. Foi num lugar perdido da Beira - Vale da Vinha - que nasceu a 17 de Julho de 1866. Às terras do Alto Concelho de Penacova se manteve ligado ao longo da vida, quer por laços familiares, quer por relações políticas. Frequentou o ensino primário na sede da sua freguesia – Farinha Podre (actual S. Pedro de Alva.) Teve como professor João Gama Correia da Cunha, natural de Mouronho, mestre atento, desde muito cedo, ao carácter daquele seu aluno. 
Quando em 1890 António José de Almeida, já estudante universitário, se encontrava preso por crime de abuso de liberdade de imprensa, na sequência do artigo “Bragança, o Último”, publicado na folha académica Ultimatum, João Gama escreve para o jornal conimbricense A Oficina, uma carta em apoio do seu antigo pupilo. Nesse texto, afirma que muito há a esperar da “ilustração e boa vontade” daquele “rapaz” pois ''homens como ele não aparecem todos os dias”. A sua intuição levou-o também a dizer que o tempo se encarregaria de mostrar que estas suas palavras não eram “lisonja, nem ilusão dum insensato.'' 
Foi na cidade de Coimbra que António José de Almeida manifestou a sua vocação política. No entanto, as primeiras influências republicanas dever-se-ão ao professor das primeiras letras, republicano convicto, bem como a outras personalidades daquela freguesia que conviviam com a respeitada família “Almeida” e que acompanharam pessoalmente o jovem conterrâneo, aquando do julgamento e durante os meses de cárcere. 
Registe-se que o seu pai, José António de Almeida, só adere ao Partido Republicano no dia em que o filho entra na cadeia, quando já era presidente da Câmara de Penacova. Em plena sessão camarária, faz uma declaração que apanha desprevenida a vereação. Declaração que ficou registada em acta e onde, a dado passo podemos ler: “Nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles as minhas forças na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias, me havia de fazer Republicano! Realizou-se, porém, este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.



Programa das comemorações em Penacova
A par de uma aguerrida militância republicana em Coimbra, António José de Almeida concluiu o curso de Medicina em 1895. Parte para S. Tomé no ano seguinte, onde virá a exercer clínica. Regressa em 1903 e ainda nesse ano inicia uma viagem de estudo que se estenderá até Março de 1904, passando por França, Itália, Suíça e Holanda. Em 1906 integra o Directório do Partido Republicano Português. Neste ano, são eleitos os primeiros deputados republicanos: António José de Almeida, Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Menezes. 
A luta intensifica-se através da imprensa e da realização de inúmeros comícios, onde a presença de António José de Almeida é uma constante. 
Em 28 de Janeiro de 1908, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado, é preso, juntamente com outros republicanos. Em Abril desse ano é novamente eleito. Agora, o Partido Republicano consegue eleger sete membros para a Câmara dos Deputados. Em Abril de 1909, no Congresso daquele partido e por indicação da Carbonária (recorde-se que em 1907 entrara para a Maçonaria) assume a direcção civil do Comité Revolucionário.
 António José de Almeida continua a marcar presença em muitos dos comícios que se foram realizando por todo o país. Refira-se Viseu no dia 8 de Março de 1908, Tábua um ano depois e S. Pedro de Alva em 1 de Agosto de 1909. A este último local, terão acorrido milhares de pessoas: 3000, segundo o Jornal de Penacova, 4000 de acordo com notícia de O Poiarense. A data ficará marcada na história local como sendo a primeira e única vez que António José de Almeida se dirigiu em público às pessoas que o viram nascer e frequentar os bancos da escola primária. 
No discurso que proferiu, fez questão de esclarecer que “veio falar à sua terra porque cá o chamaram.” Acentuou que não vinha “pedir nem votos, nem influências, nem importância” pois “nada precisava da República, como nada aceitava da Monarquia.” Vinha sim “junto dos homens da sua terra, para os ajudar a redimir e salvar”, apresentando-se como “um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço.” No mesmo dia do Comício foi inaugurado em S. Pedro de Alva um Centro Republicano. António José de Almeida, a dois meses do 5 de Outubro, reafirma que é preciso acabar com a ideia de que o Partido Republicano ''não tem força'' sendo, portanto, inevitável conquistar os direitos ''não só pelas palavras mas também pelas armas.'' 
Com a proclamação da República, António José de Almeida integra o Governo Provisório, assumindo a Pasta de Ministro do Interior, cargo que desempenhará até ao dia 3 de Setembro de 1911. Ainda neste ano, verifica-se a cisão do Partido Republicano. Democráticos (liderados por Afonso Costa), Evolucionistas (liderados por António José de Almeida) e Unionistas (liderados por Brito Camacho), irão até 1919 ocupar o espectro partidário republicano. 
Com a criação do Partido Evolucionista (o I Congresso realizar-se-á em Lisboa a 8 de Agosto de 1913) a região das Beiras, que já não era indiferente a António José de Almeida, reforça os contactos e cimenta as simpatias, principalmente nos concelhos pertencentes ao Círculo Eleitoral de Arganil (Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Lousã, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Poiares e Tábua). As movimentações de António José de Almeida passam por Tábua (Março de 1913), acompanhado de António Granjo e de outros republicanos. 
No comício que aí se realizou, mais uma vez se revelou como “o homem eloquente de sempre”, dirá o Jornal de Arganil, órgão do Centro Republicano Evolucionista, fundado em Março de 1913 por Alberto Veiga Simões. O primeiro número daquele jornal dirá que o concelho, na sua quase totalidade, abraçara a política evolucionista. Veiga Simões virá a ser convidado por António José de Almeida para “redactor político” do jornal República. Em Arganil, Ventura da Câmara, da Quinta do Mosteiro (Folques) é outro nome a reter no conjunto dos militantes evolucionistas da região.
 Em Penacova vamos encontrar Amândio dos Santos Cabral à frente do Jornal de Penacova, periódico fundado em 1901 mas que agora se assume como órgão concelhio do Partido Evolucionista. Neste concelho as movimentações de apoio são intensas, o ideário do novo partido e as inúmeras adesões são noticiadas na imprensa local[1]. Em Oliveira do Hospital, segundo crónica do Jornal de Arganil, apesar de existir uma “simpatia latente” por António José de Almeida, o concelho ainda não decidira “abraçar este ou aquele partido”. Caso estranho, pois Oliveira do Hospital revelara-se como sendo um dos concelhos “mais bulidos pela política” após a Implantação da República. As críticas recaem em Augusto de Mattos-Cid, advogado, que no dia 7 de Outubro assumira a presidência da Comissão Administrativa Republicana e manifestava, agora, simpatias por Afonso Costa. 
A carreira política de António José de Almeida registará um novo capítulo em 1916. No contexto da I Guerra Mundial, assumirá as funções de Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) (15 de Março de 1916) e de Ministro das Colónias no Governo da “União Sagrada”, formado por Evolucionistas e por Democráticos. A ruptura desta “coligação” dar-se-á no dia 25 de Abril de1917. 
Regressará em 1919, agora como Presidente da República. Apesar de ter enfrentado um dos períodos “mais trágicos da República”, foi o único a cumprir, entre 1910 e 1926, integralmente os quatro anos de mandato presidencial. No período que vai de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923, António José de Almeida, além de muitos outros contratempos, terá que “lidar” com dezassete Governos e terá que enfrentar os trágicos acontecimentos da “noite sangrenta” de Outubro de 1921. No entanto, o sucesso da travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro e, pouco depois, o momento “glorioso” e “triunfal” da sua Visita Presidencial ao Brasil, nos finais do Verão de 1922, serão acontecimentos positivos que marcarão o seu mandato.
 É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”. 
Vitimado pela doença (gota) que o acompanhou ao longo da vida, morre em Lisboa no dia 31 de Outubro de 1929, com 63 anos.
O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva preenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com o título: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida''. Periódico que poucos meses antes, recebera uma carta onde aquele seu ilustre conterrâneo prometia escrever “umas linhas” para o mesmo, logo que “estivesse melhor dos seus padecimentos”. Também a Comarca de Arganil publicará uma notícia com foto sua e uma gravura da casa de Vale da Vinha, escrevendo que “com o desaparecimento do Dr. António José de Almeida” perdia “a Pátria um dos seus maiores soldados e a República um dos seus maiores generais.” 
Durante vários anos a imprensa local e regional não deixou cair no esquecimento a data de 31 de Outubro, mas só com o 25 de Abril a figura de António José de Almeida foi em certa medida reabilitada, depois ter sido silenciada durante muitos anos. ''Finalmente possível…'' é o título do artigo publicado pelo Notícias de Penacova respeitante à homenagem que se iria realizar no dia 5 de Outubro de 1974 naquela vila. ''António José de Almeida sob silêncio do cemitério'' será outro título da mesma edição, com a assinatura de Urbano Duarte, padre e jornalista, ligado ao jornal diocesano Correio de Coimbra. 
Em 5 de Outubro de 1976 foi inaugurado na vila de Penacova um busto de António José de Almeida, obra escultórica do Mestre Cabral Antunes. Na cerimónia, usou da palavra, além de outras individualidades, o Governador Civil de Coimbra, Fernando Vale que, curiosamente, havia iniciado funções na véspera. Outro acto de homenagem foi a instituição do dia 17 de Julho como Feriado Municipal de Penacova, por deliberação da Assembleia Municipal (28 de Maio de 1976). Em 1997, no dia 5 de Outubro, foi inaugurada uma estátua em S. Pedro de Alva, sede da freguesia da sua naturalidade. 
Para completar este reconhecimento concelhio, aguarda-se que o Município de Penacova faça a compra e a recuperação da casa onde nasceu aquele estadista. O antigo “solar” de Vale da Vinha começa a ameaçar ruína. A instalação de uma Casa-Museu ou de um Centro de Estudos, seria uma hipótese que muito dignificaria aquele espaço carregado de memórias que urge preservar. 
Para um conhecimento da vida e da obra de António José de Almeida é incontornável a consulta da “biografia ilustrada” António José de Almeida e a República, de Luís Reis Torgal e Alexandre Ramires, publicada em 2004. De referir ainda, quer o livro de Ana Paula Pires, editado em 2012, António José de Almeida: o Tribuno da República, quer a colectânea Quarenta Anos de Vida Literária e Política, em quatro volumes, reunindo discursos e outros textos, publicada em 1933. 
Recorde-se que António José de Almeida, além de grande orador (nos Comícios, na Câmara dos Deputados, no Governo e na Presidência da República) utilizou também a escrita, em especial a jornalística, para expressar as suas ideias. Assinou inúmeros artigos em jornais e publicações republicanas e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o jornal República (1911). 
Escrevia Júlio dos Santos, em 1932, n’ A Voz de S. Pedro de Alva: “Se ao advento da República Miguel Bombarda deu Cérebro, Pensamento, Equilíbrio; se Cândido dos Reis lhe deu Corpo, Forma; António José de Almeida deu-lhe o Verbo. Verbo que é Sopro de Deus!”

David Almeida
Artigo publicado na Revista Ipsis Verbis (ver referência AQUI)



[1]  Sobre a República e o republicanismo em Penacova, cfr. David Almeida, Penacova e a República na Imprensa Local. Edição da Câmara Municipal de Penacova, 2011.
 
Pormenores da Revista IPSIS VERBIS
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