Recordar-se-ão os nossos leitores das interessantes “Crónicas Brasileiras”, assinadas por Paulo Santos e aqui publicadas em tempos. Recebemos agora mais um interessante trabalho seu sobre a emigração para o Brasil, onde nos relata a odisseia de algumas famílias penacovenses.
Obrigado Paulo por esta partilha!
A
IDA/VINDA DOS PENACOVENSES PARA BARRETOS (SP-Br)
O tempo passa e não perdoa, e quando nos damos conta, lá se foi quase uma década. Pois foi em 13/12/2013 que David de Almeida publicou em seu blog um texto meu sobre a migração de penaconvenses para o Brasil.
https://penacovaonline2.blogspot.com/2013/Faz parte da História, muitos europeus imigraram para o Brasil, durante aqueles dias difíceis porque passou a Europa. Alguns moradores da freguesia de Penacova seguiram o mesmo caminho.
Como os ascendentes da minha esposa (bisavós, avós maternos, paternos, pai e mãe) eram oriundos da freguesia de Penacova, isso me levou a “entrar de cabeça” na empreitada de saber um pouco mais sobre a aventura da travessia do Atlântico, encontrar os navios, descobrir as datas e onde desembarcaram os
Batistas, D´Assumpção, Castanheiras e Feitor. Foi uma longa peregrinação pelos arquivos de registros de desembarque de passageiros, em documentos oferecidos pelo Governo Federal e pelo Governo do Estado de São Paulo. Os dados sobre os antepassados encontrei nos arquivos do museu do Tombo, disponibilizados pela Universidade de Coimbra.
Em uma dessas levas de imigrantes, em 22/04/1924, após cruzarem o Atlântico, a bordo do
vapor GELRIA, desembarcaram no porto de Santos (São Paulo-Brasil) Maria Piedade, mãe e filho. Eles integravam o grupo de
721 imigrantes, na 3ª classe, de várias nacionalidades: 355 romenos, 136 tchecos eslovacos,
133 portugueses, 45 austríacos, 22 polacos, 17 alemães, 8 espanhóis, 3 turcos, 1 holandês e 1 húngaro. O pai,
Eduardo Batista, tinha vindo alguns anos antes para preparar.
Pesquisas dos registros de batismo, nascimento e de casamento As pesquisas foram feitas no site
https://tombo.pt/ nos registros digitalizados efetuados pela Universidade de Coimbra. Iniciando pelo site do Tombo, busca-se a Região, pretendida, nela o Concelho, depois a Freguesia, por fim o período do ano que interessa, entre os disponíveis. Por exemplo, na Freguesia de Figueira de Lorvão há registros de “baptismo” no período de 1766-1911. E de casamento e de óbitos entre 1849-911. Nem sempre as caligrafias dos registros ajudam, ainda que muitas sejam maravilhosas. Postar fotos desses registros pode decepcionar, daí entender ser preferível disponibilizar os links, e apresentar pelo menos a imagem de um deles, para matar a curiosidade mais imediata.
Batistas & D´Assumpção
Eduardo Batista (25/03/1897 - 12/03/1945), nasceu em Carvalhal, batizado aos 17/04/1897, na igreja paroquial de Penacova, registro sob nº 25, páginas 10ª e 11ª, filho de Felicidade da Silva, neto materno de Francisco Lopes Loiro e Maria Benedicta. Faleceu em Barretos (SP-Br).
https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=42745&FileID=673870 Maria Piedade (16/03/1898 - 31/12/1963), nasceu Gondelim, batizada aos 9/04/1898,
registro nº 26, página 23, na igreja paroquial de Penacova, filha de Maria Rosa d´Assumpção, neta materna de Maria
Assumpção Peralta. Faleceu em Barretos (SP-Br).
Em Portugal, aos 25/09/1920 tiveram
Eduardo Batista Filho.Castanheira & Feitor Manuel Rodrigues Castanheira (23/04/1906 - 7/05/1982), nasceu na Figueira, o assento de batismo nº 26, dia 2/05/1906, Igreja São João Baptista, da Figueira do Lorvão, Penacova, diocese de Coimbra, filho de António Rodrigues Castanheira e Maria do Rosário, neto paterno de Manuel Rodrigues Castanheira e Deolinda da Silva, maternos: José Simão e Maria do Rosário.
Maria Rodrigues Feitor (5/12/1907 - 12/09/1989), batismo em 25/12/1907, nº 52, Igreja São João Baptista, nasceu na Povoa, pais: Joaquim Rodrigues Feitor e Maria Pereira da Costa, neta paterna de António Rodrigues Feitor e Maria de Nossa Senhora, materna: João Rodrigues Valente e Rosaria de Nossa Senhora. Faleceu em Barretos (SP-Br).
Para ver o registro batismo/nascimento de
Manuel basta clicar no link abaixo, deverá abrir na página 53, é o registro nº 26.
https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275512&FileID=1137038 O de
Maria, mesmo livro, página 90, registro nº 52, link:
https://pesquisa.auc.uc.pt/viewer?id=275512&FileID=113707 Manuel Castanheira e Maria Rodrigues Feitor casaram no dia 25/09/1926, no Registro Civil da Figueira, concelho de Penacova.
Em Portugal tiveram os
filhos: Lucília (02/07/1927) e
Horácio (04/03/1929)
No Brasil, Manuel Castanheira e Maria Rodrigues tiveram uma penca de filhos: Maria Terezinha, Armando, Zulmira e Izabel. Todos constituiram famílias, tiveram filhos, deram aos pais netos e alguns bisnetos
Relação de passageiros desembarcados no Rio de Janeiro e em Santos Para encontrar as listas de passageiros utilizei fontes: para desembarque no porto Rio de Janeiro e outra no porto de Santos, respectivamente:
https://sian.an.gov.br/sianex/consulta/resultado_pesquisa_new.asphttp://www.arquivoestado.sp.gov.br/web/acervo/solicitacao_certidoes/lista_passageiros_pesquisa Para pesquisar no site do Governo Federal é necessário criar conta e senha. Enquanto que nos arquivos do Governo do Estado de São Paulo é livre. Para pesquisar a lista de passageiros, basta usar um dos links, conforme o posto de desembarque, colocar o nome do navio e o ano, pelo menos uma dessas informações. Evidentemente, inserindo ambas ficará mais fácil a pesquisa. Se colocar o nome do navio e a data correta da chegada, ficará ainda mais fácil.
IDA/VINDA dos BATISTAS & Assumpção para o Brasil
Eduardo Batista veio para o Brasil no vapor,
Zeelandia, de uma companhia holandesa. Desembarcou no dia 15/05/1922, no Rio de Janeiro. Veio sozinho, para preparar as condições para trazer a família, o destino, Barretos, uma cidade bem ao norte do estado de São Paulo, quase na divisa com o estado de Minas Gerais. Ele é p 349º na relação de passageiros.
http://imagem.sian.an.gov.br/acervo/derivadas/br_rjanrio_ol/0/rpv/prj/17898/br_rjanrio_ol_0_rpv_prj_17898_d0001de0001.pdfMaria Piedade e Eduardo B Filho (3 anos) desembarcaram em Santos no dia 22/04/1924. Vieram no
Vapor Gelria, da mesma companhia que o Zeelandia, passageiros 621º e 622º, foram para Barretos.
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_014226.pdf No Brasil,
Eduardo e Piedade tiveram outros filhos: Zulmira, Osmildo, José Batista, Arthur, Américo, Armando e Neide. Exceto Américo, os demais constituiram famílias, tiveram filhos e netos e bisentos.
IDA/VINDA dos Castanheiras & Feitor para o Brasil
Manuel R. Castanheira desembarcou, no porto de Santos, no dia 19/11/1928, veio pelo Vapor
Sierra Morena, Companhia Alemã. De Santos, por viaférrea, passando por São Paulo, seguiu, para Barretos, cidade localizada norte do estado de São Paulo, distante uns 500 km (estado seria um distrito em Portugal). Veio também sozinho.
Em 6/03/1934,
Maria Castanheira Feitor chegou a Santos, com
Lucília (7 anos) e
Horácio (5 anos), pelo Vapor
Highland Brigade, do Correio Real Inglês. Foram para Barretos encontrar ao encontro de Manuel.
No Brasil,
Manuel Castanheira e Maria tiveram mais filhos: Maria Terezinha, Armando, Zulmira e Izabel. Todos constituiram famílias, tiveram filhos, deram aos pais netos e alguns bisnetos
O casamento: Batista & Castanheira Eduardo Batista Filho (25/09/1920 – 25/10/1984) que nascera em Gondelim (Penacova), que chegou ao Brasil em 22/04/1924, e foi para Barretos.
Lucília Castanheira (2/07/1927 - 17/05/2020), que chegou ao Brasil em 6/03/1934 e que o destino a levou também para Barretos. Com tantas coincidências, não deve ter havido muita dificuldade para se conhecerem, tanto que se
casaram aos
4/04/1944, em Barretos.
Tiveram: Marísia (1946), Marilda (1947), Marineide (1949, minha esposa) e José Eduardo (1954). Os filhos constituiram famílias, deram a eles lindos e maravilhos netos, dois dos quais levam meu sangue porque eu me casei com a filha caçula.
Assim vieram os antepassados do Concelho de Penacova, são esses os laços que nos unem a Figueira do Lorvão, Povoa, Gondelim e Carvalhal, lugares que ainda não conhecemos, mas que esperamos e desejamos conhecer.
LISTA DE PASSAGEIROS Nem sempre as imagens baixadas das listas de passageiros ficam adequadas para publicação. É melhor serem vistas direto pelo link. Publicarei apenas uma para mostrar, as demais poderão ser vistas através dos links dos arquivos em PDF, ou até direto nos arquivos governamentais.
Eduardo Batista – desembarque no Rio de Janeiro - 15/09/1922 - Vapor
Zeelandia, é o 349º da lista
http://imagem.sian.an.gov.br/acervo/derivadas/br_rjanrio_ol/0/rpv/prj/17898/br_rjanrio_ol_0_rpv_prj_17898_d0001de0001.pdf Maria Piedade e Eduardo – desembarque em Santos - 22/04/1924 - Vapor Gelria, passageiros 621º e 622º.
Passageiros: 621º e 622º.
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_014226.pdf Manuel Castanheira – desembarque em Santos - 19/11/1928 - Vapor
Sierra Morena, é o passageiro 85º da 3ª classe
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_015090.pdfMaria Rodrigues, Lucília e Horácio – desembarque em Santos – 5/3/1934 – Vapor
Highland Brigade, passageiros 9º, 10º e 11º da 3ª classe
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/mi_listavapores/BR_APESP_MI_LP_023807.pdf CURIOSIDADES E DÚVIDAS Os registros, em parte, solucionaram as dúvidas existentes nas nossas famílias, quanto aos sobrenomes. Em parte, porque nos diversos registros (batismo, nascimento, casamento e listas de embarques), há divergência nas grafias.
d´Assumpção ou d´Assunção: No registro de batismo/nascimento, Maria Piedade consta como d´Assumpção. No registro de casamento aparece como d´Assunção, bem como na lista de passageiros, e no registro de Eduardo Filho. A conferir nos demais filhos do casal Eduardo e Maria Piedade.
Baptista ou Batista: em todos os documentos de Eduardo consta apenas Batista.
Feitor ou Feitora: Nos documentos portugueses consta Feitor, assim seria mesmo Maria Rodrigues Feitor antes de se casar com Manuel Rodrigues Castanheira.
MAPAS E DISTÂNCIAS O Distrito de Coimbra tem 17 Concelhos: Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis, Lousã, Mira, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Soure, Tábua e Vila Nova de Poiares.
Mapa de Portugal Continental e do Distrito de Coimbra. Penacova ao norte com a coloração azul mais claro.
Penacova tem 11 freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Friúmes, Lorvão, Oliveira do Mondego, Paradela, Penacova, S. Paio de Mondego, São Pedro de Alva, Sazes do Lorvão e Travanca do Mondego.
Obs: O Concelho de Penacova, que tem uma área total de 216,7km2 e, de acordo com os Resultados Preliminares dos Censos 2021, uma população de 13.119 habitantes, divide-se- desde 2013 - por 8 freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Lorvão, Penacova, Sazes do Lorvão, União das Freguesias de Friúmes e Paradela, União das Freguesias de Oliveira do Mondego e Travanca do Mondego e União das Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio de Mondego
Algumas Distâncias (rodovias): Penacova/Gondelim: 12 km
Penacova/Coimbra: 30 km
Penacova/Figueira do Lorvão: 6,5 km
Penacova/Lisboa: 229 km
Lisboa/Santos (de avião): 7.968 km
Maria Piedade d´Assunção e Eduardo (621º e 622º)
Obs: aceito contribuições para eventuais equívocos.
Texto e grafismo: Paulo Santos
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NOTAS DA REDACÇÃO sobre causas da emigração e sobre o estado "patológico" da emigração portuguesa“Na raiz da
atitude de emigrar havia uma causa geoeconómica e social, mas,
também, psicológica,
familiar, política e, muitas vezes, de pressão demográfica. A
falta de desenvolvimento do
sector agrícola, agravada pela carência de e nas propriedades
industriais, empurrava o grosso
da população, maioritariamente masculina e dentro da faixa
produtiva, que, numa penumbra
vivenciada na subsistência de um salário de jornaleiro tão exíguo
que roçava pelo mínimo
indispensável ao seu parco sustento, o desejo de emigrar, sobretudo
para o Brasil, no qual, o
espírito alimentava o sonho de uma vida melhor.
Para a explicação
do intenso movimento emigratório que se fez sentir no período em questão, concorrem,
igualmente, factores externos como a actuação das autoridades
brasileiras na promoção de uma
política de atracção de braços para fazer face à crescente
necessidade de mão-de-obra que
substitua o progressivo desmantelamento das estruturas esclavagistas
e, ao mesmo tempo, explore
um imenso território despovoado.”
In A emigração
no concelho de Penacova através dos Registos de Passaportes
(1870-1899), de Mário Jorge
Martinho da Costa
“É certo que a
emigração portuguesa tomou nos últimos anos caracteres realmente
alarmantes, não por ela mesma, mas pelo que significava de
destruição e quase morte no organismo económico da nação. Até
há pouco tempo ainda nem sequer tínhamos um só tratado de comércio,
que nos permitisse exportar os produtos da nossa agricultura que
podem defender a nossa existência económica (…) a emigração
portuguesa perderá dentro de poucos anos o seu aspecto doloroso,
patológico, para assumir os caracteres de um fenómeno normal,
eminentemente profícuo, e intimamente ligado, nas suas origens e
funções, como no seu movimento, à própria vida da nação.”
Afonso Costa, O
problema da emigração, 1911