quarta-feira, outubro 30, 2024

ℂ𝕒𝕣𝕥𝕒𝕤 𝕓𝕣𝕒𝕤𝕚𝕝𝕖𝕚𝕣𝕒𝕤: experiências musicais com IA




S. Paulo | Barretos, 2 de outubro de 2024

Olá amigo! 
Há quanto tempo!

Estou bem, e você como está? Desejo que esteja bem. Quase sempre dou uma olhada no blog.

Pouco tenho escrito, na verdade apenas pequenos poemas/poesias, ou ainda melhor: letras para músicas.

Tenho me divertido escrevendo letras para músicas, depois escolho o estilo musical, faço experiências nessa escolha, e vou a um aplicativo de Inteligência Artificial para que o AI crie a música.

Estou usando o SUNO.AI.

Incrível! Tem saído “coisas” bonitas, pelo menos para o meu gosto.

Eu me atrevi a escrever letra para um fado. Como não sou expert no assunto, confesso, gostei e vou compartilhar.



Um grande abraço
Paulo Tarso Juvenal Santos  
ptjsantos@yahoo.com.br
Ps: fiz também tango, música mexicana, bossa-nova, 
sambão, blues, chorinho ….

terça-feira, outubro 29, 2024

Desanexação de freguesias: quando Chelo quis ser independente de Lorvão


“Esta aprazível aldeia, digna de ser conhecida por todos os apreciadores de terras lindas, tende sempre a caminhar na vanguarda do progresso, procurando tenazmente enfileirar ao lado das suas congéneres.

Não tendo, porém, pessoa alguma que se interesse por ela, faz esforços gigantescos para abrir caminho, não se poupando os seus filhos aos maiores sacrifícios para esse fim, trabalhando incansavelmente para suportarem as ásperas e ingratas barreiras que se lhe deparam na sua rota.

O povo da minha terra, tem bastantes aspirações e todas da mais incontestável e indiscutível justiça.

Uma delas é a sua pretendida desanexação da freguesia de Lorvão, sendo criada uma outra, com sede nesta linda povoação de Chelo, composta com os lugares vizinhos, de Chelinho, Rebordosa e Granja do Rio.

Com este fim assinaram o respectivo requerimento e representação aos poderes públicos, todos os habitantes (cônscios dos seus deveres e respectivos direitos) de Chulo, Chelinho, Granja do Rio e da Rebordosa, para cima de dois terços.

Conseguido este nosso desideratum, ficaria a nossa freguesia composta de cerca de 450 fogos, e 1 800 almas, isto sem exagero.

Como já acima digo, é uma justa aspiração que os habitantes de ChElo alimentam, e que sem dúvida, não tardará a transformar-se numa realidade, se se conseguir arredar os entraves que continuamente lhe impedem a marcha.

Mas, pergunto: qual a razão porque se não concede a emancipação a um povo que quer e pode governar-se por si mesmo?

Se este povo tem a capacidade precisa, porque se lhe não há de confiar a direcção dos seus destinos?

É tempo, pois, de afastar para o lado os empecilhos que até agora tem entravado a rota do seu progresso, continuando a trabalhar cada vez com mais afinco para se conseguir a meta.

Não desanimemos, pois, porque melhores dias virão, em que veremos coroados do melhor êxito, o produto das nossas justas e honradas energias! Avante! “ (C.)


in A VOZ DE S. PEDRO DE ALVA, 16 de Janeiro de 1931

A pretensão já vinha de 1925, 
quando deu entrada na Câmara dos Deputados, uma Representação sobre o assunto:





domingo, outubro 27, 2024

Ainda haverá resineiros?



Ainda há. Os resineiros não acabaram em Portugal, mas, pelos nosso lados, se há trinta ou quarenta anos ainda os víamos por aí na sua árdua tarefa, hoje em dia poucos vestígios prevalecerão nas nossas terras. Incêndios atrás de incêndios, invasão de eucaliptos e mimosas, mão-de-obra cada vez mais envelhecida, foram factores que para isso contribuíram.  

No entanto, e curiosamente, vimos há uns tempos na imprensa a notícia que a  Associação de Destiladores e Exploradores de Resina (Resipinus) e o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) iam criar a “Academia do Resineiro”, na Marinha Grande e que ia ser aproveitado o apoio financeiro previsto no Plano de Recuperação e Resiliência, que contempla um programa (no âmbito da “Bioeconomia Sustentável”), designado por "Resineiros Vigilantes". São financiadas “acções de prevenção de incêndios, como a vigilância em espaços rurais no período crítico, sendo esta efetuada por resineiros em locais estratégicos”. Muito concretamente, falava-se na criação de vinte e seis equipas de vigilância em setenta e uma localidades do país, num trabalho que junta vinte e uma instituições. 

Não está, pois, “morta” a profissão, o ofício, de resineiro. 

No imaginário colectivo da nossa região (onde chegaram mesmo a existir as designadas “Zonas do Pinhal”,  enquanto sub-regiões estatísticas da Região Centro) perdura ainda a imagem dos resineiros (e também das resineiras) que calcorreavam os pinhais para exercerem um trabalho que nalgumas das suas fases era bastante duro.

No livro Trilho do Tempo – Etnografia do século XX ao redor de Almalaguês, de Arménio Simões, (2013), obra que acaba por referir  igualmente alguns aspectos relacionados com o nosso concelho, como o Lagar do Pisão, há uma passagem que nos fala precisamente da faina da resina. Escreve o Eng.º Arménio Simões, a propósito dos resineiros:

OS RESINEIROS 

"José Rodrigues, da povoação de Moinhos, era aos sessenta e sete anos, e na viragem do século, o último resineiro a calcorrear os pinhais das redondezas que, de lata e ferro na mão, ia adiando a arrumação definitiva das ferramentas de muitos anos de trabalho. Operando diariamente nos pinhais que alugava a cem escudos anuais por bica, nos arredores de Moinhos e Flor da Rosa, conseguia uma recolha de dez toneladas que vendia para uma fábrica de Alfarelos, após a década de setenta em que, anualmente, acumulava um aluguer de dez mil pinheiros a vinte e cinco escudos por bica, nos concelhos de Miranda do Corvo, Condeixa, Coimbra e Penacova, recolhendo cerca de cinquenta toneladas de resina. 

Da destilação da resina vegetal, resultava uma variedade considerável de produtos industriais como as tintas, vernizes, secantes, betumes, sabões, plastificantes, adesivos, aglutinantes, borrachas, óleos solúveis, óleos lubrificantes, linóleos, ceras, moldantes, detergentes, perfumes, cânforas sintéticas, papel celulóide, isolantes, insecticidas e explosivos. 

Portugal, como primeiro produtor e exportador europeu, chegou a exportar anualmente 75 000 toneladas de pez e 17 000 de aguarrás. 

O formato e a dimensão das feridas, o diâmetro dos troncos dos pinheiros virgens para a primeira sangria, o número de sangrias seguintes, (contínuas ou paralelas), a limpeza do pinhal após a época de exploração e o período a ela destinado, eram rigorosa e legalmente estabelecidos exceptuando os pinheiros destinados ao abate e, com designada resinagem, segundo a qual se podia aplicar um maior número de sangrias mediante deferimento do pedido da licença prévio, a qual era obrigatória para cada tipo e época de resinagem. As transgressões eram severamente punidas por multa.

A abertura de cada sangria era iniciada com uma ferramenta cortante designada de descarrascadeira, e terminada por outra que se designava de ferro de renovar

A descarrascadeira tinha uma lâmina lateral de dois gumes para cortar nos dois sentidos, e no lado oposto duas unhas espaçadas nove centímetros, com a qual se fazia a raspagem prévia da carrasca e, com as unhas, se traçar a largura das sangrias. 

O ferro de renovar, por sua vez, tinha uma lâmina em forma de "c" reto que servia para fazer as aberturas e as renovas das sangrias. 

Anteriormente à nova legislação que o aboliu, o ferro francês, ferramenta de lâmina curva e mais agressiva para as sangrias de que retirava grossas aparas que, após a passagem dos resineiros, as pessoas mais necessitadas as aproveitavam para lenha, ou os pezeiros para fazerem o pez. 

A renova era uma operação que, a cada cinco dias e sem ferir a camada subjacente, consistia em tirar ao pinheiro um pouco mais de casca para renovar a ferida sendo que, após o aparecimento do aplicador, um dispositivo com que nas sangrias se aplicava uma mistura de ácido sulfúrico com farinha de milho, lhe permitiu alargar o período dos respetivos cinco, para vinte dias entre cada renova. 

Após a abertura duma sangria, era usada urna outra ferramenta, igualmente cortante e de lâmina adequadamente curva, na qual se batia com um maço para se abrir um golpe onde inserir uma bica de lata que sobrepunha, segurava e enchia um púcaro de barro apoiado num prego sem cabeça espetado na madeira. 

Os tradicionais púcaros de barro vermelho, eram feitos em Miranda do Corvo, e caíram em desuso perante o aparecimento de outros feitos de plástico, mas de uso muito breve até quando substituídos por sacos de plástico de cujo sistema se simplificou o trabalho tradicional que consistia no esvaziamento periódico de todos os copos, um a um, usando urna espátula com que se esvaziavam para dentro dum recipiente apropriado e designado de “lata de colher” que, por sua vez, era esvaziada para os barris de transporte para a fábrica de destilação. 

Com os sacos de plástico, bastava colá-los à própria resina superficial e, quando cheios, substituídos e recolhidos a granel para a mesma lata tradicional. 

Após a época da resinagem e até final de Novembro, era estabelecido um prazo para a extração de todos os pregos e bicas, para o que se usava uma outra ferramenta também apropriada, o “saca bicas”, fazendo-se também o aproveitando da resina seca e acumulada ao longo da época, raspando-a para uma espécie de padiola feita com dois paus e uma serapilheira. 

A vida dum pinheiro, em condições normais de adaptabilidade e referente ao crescimento, longevidade e tempo de rendimento, de que a resina era um rendimento sazonalmente periódico e com tão importante significado para a economia doméstica, como as colheitas do milho, do vinho ou do azeite, e a madeira uma riqueza acrescentada para uma qualquer disponibilidade ocasional e, praticamente, sem despesas da manutenção de que também resultavam outras valiosas contrapartidas. 

A resinagem era limitada ao período compreendido entre o primeiro dia de Março e o último de Setembro, e desfasada do  período seguinte destinado à época da serração, a maioria dos profissionais tinha trabalho garantido durante todo o ano, como resineiro no verão e serrador no inverno. 

Para exercer a profissão de resineiro, era obrigatória uma formação adequada, adquirida em prestação de provas e comprovada pelo uso obrigatório do respectivo cartão.

quinta-feira, outubro 24, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: A máquina de criar pobres




Saiu um Relatório da Pordata - no Dia Internacional da Irradicação da Pobreza - abrangendo os anos de 2021 e 2022.

A Sociedade Civil séria é cada vez mais importante no nosso País!

Séria, neste caso, é a que não vive à custa de… porque os que vivem à custa da pobreza, são tantos e tão “amigos” de certos redutos políticos radicalizados e negócios que até já se atropelam na descoordenação, como ouvimos dizer a uma figura relevante, com intervenção na área, recentemente.

Gasta-se o dinheiro, mas não se chega à solução; é só nos meios incapazes que se investe e esses não resolvem nada, desde logo porque não são os adaptados. Criam-se Cova(s) da(s) Moura(s), sucessivamente; Abrem-se caminhos para conflitos sociais latentes.

A Constituição da República, no seu art. 9, diz que é tarefa fundamental do Estado:

“Promover o bem estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais…”.

Na visão da ONU, a pobreza manifesta-se através da fome da malnutrição, do acesso limitado à educação e a outros serviços básicos, à discriminação e à exclusão social bem como à falta de participação na tomada de decisões.

Os dados saídos - que não me impressionam, porque já os percepcionava e até já os antecipei no que escrevi como alerta, nessa altura - colocam em causa toda aquela classe que está “alojada” na Assembleia da República e no Palácio de São Bento [5 hectares, talvez] que é como quem diz, os nossos políticos, assessores e consultores e outros amigos e titulares graduados de cargos públicos, por aqueles nomeados com base só na “confiança”.

Contrariamente ao que constou dos seus programas eleitorais e dos seus programas de governo e dos orçamentos e dos discursos, fizeram tudo ao contrário do que prometeram: ou seja, mentiram aos Portugueses; foram meros populistas com fito na obtenção dos votos.

Vejamos:

- A taxa de risco de pobreza subiu muito, apesar da “maravilha” que aí anda publicada;
- Quase 2.000.000 de pessoas vivem com menos de €600,00/mês; exactamente €591,00;
- O Grupo das Crianças e Jovens (até aos 18 anos) é o mais afectado, com um aumento de 2,2% no período em análise;
- Esta realidade afecta, agora, 20,7% de pessoas desta faixa etária (mais de 1 em cada 5);
- A taxa de pobreza geral subiu para 17%;
- Uma em cada 10 pessoas com emprego, não escapa, inexplicavelmente, à situação de pobreza.

Neste contexto,

- As Famílias monoparentais têm sido as mais castigadas (31,2%);
- E a Taxa de Intensidade de Pobreza só entre 2021 e 2022 subiu de 21,7% para 25,6%!

Que País maravilhoso este que estamos a construir para os nossos descendentes…

Das muitas análises possíveis -que os que têm estado implicados nisso e os seus seguidores, não gostam de ler ou de ouvir - e das variadas explicações [que incluem impreparação e irresponsabilidade, de grande parte dos titulares dos cargos] será, nomeadamente, o diferencial entre o aumento dos salários (de 35%, de 2015 a 2023) quando confrontado com o aumento, nesse período de análise, de 106%, nos custos de habitação. Que monstruosidade!

A habitação é “a telha” que separa os pobres assim, dos sem-abrigo, ainda mais pobres!

!… Só que estamos a falar de uma situação absolutamente preocupante que nos devia envergonhar a todos e que coloca muita gente ligada à Política para viver bem, como os que se apelidam de “inteligentes inúteis”, que começam por conduzir “a máquina de criar pobres”, para prosseguirem para experiências mais rentáveis, acompanhados dos seus séquitos…!

Haverá pessoas honestas no meio de tudo isso, claro. Até conheço alguns. Mas começam a ser as exceções. A pobreza não dá votos, a riqueza, essa sim até os “compra”…

O não aquecimento das casas está considerado como o pior da Europa (repito, o pior da Europa) vejam bem, num clima de sol que compara com as suas zonas geladas durante grande parte do ano.

Sobe exponencialmente a busca de alimentação junto do Banco Alimentar Contra a Fome, com o incremento, que nos deixa incrédulos, de empregados e de crianças.

A nossa realidade, no que respeita à pobreza, é intolerável, com a agravante de ter deixado de ser conjuntural e já ser estrutural.

Naturalmente, à vista de todas as pessoas de bem e honestas e preocupadas com os seus concidadãos -das que existem sem interesses, até anonimamente- ressalta a degradação extravagante da qualidade de Vida.

Pedem-se, por isso, clarificações a esta gente, que invocando Abril, repetidamente, na sua generalidade, não sabem o que isso é, nem encontram esse objectivo (do aumento da pobreza) em nenhum dos documentos do MFA!

Haja aprumo ético! Acabem as promessas vãs! Deixemo-nos de tretas!

Luís Pais Amante

terça-feira, outubro 22, 2024

Tumultos populares: Raiva (1917) e Penacova (1918)


O lançamento de impostos tem, ao longo de todos os tempos e por toda a parte, gerado grandes revoltas e levantamentos populares. No nosso concelho, são conhecidas a “Revolta dos Sarreiros”, nos finais do século XIX e a “Revolta do Azeite” e a “Revolta dos Barqueiros”, em 1921, associadas ao imposto “Ad valorem”. Destes acontecimentos já o Penacova Online deu conta. 

Hoje, vamos fazer referência a acontecimentos de inícios de 1918 que poderíamos intitular de "Tumultos dos Industriais" relacionados com o lançamento de colectas de contribuição industrial. Também, no contexto das graves carências alimentares durante a Guerra 1914-1918, trazemos aqui a notícia da "Revolta da Raiva". Estas duas ocorrências ficaram registadas no jornal "Ecos de S. Pedro de Alva".

"Com o deflagrar da Grande Guerra acentuaram-se as debilidades que o país apresentava no que respeitava à produção de bens alimentares, nomeadamente dos cereais. Os preços aumentaram, começaram a aparecer fenómenos de açambarcamento e de contrabando. 

Por fim, depois do inverno de 1916-1917, a fome fez a sua aparição. Nesse inverno, os Aliados tinham reforçado o bloqueio à Alemanha, tendo esta reagido violentamente, coma guerra submarina no Atlântico, procurando cortar o abastecimento aos países aliados.

Em todo o lado faltavam matérias-primas e alimentos. Todos os países, beligerantes ou não, mergulharam no caos. Uns mais que outros, mas a maioria, como Portugal, sofreram uma grave crise de subsistências, inflação e fome, acompanhadas por uma crescente agitação operária e popular, greves, motins de rua, insurreições militares e revoluções." Cf. Arnold Arie Van Rossum, "A questão das subsistências no Porto, no período da Grande Guerra, 2011"

Transcrevemos as notícias publicadas por aquele jornal: 

Subsistências 1917: Agitação popular na Raiva 

O povo que luta com dificuldades para angariar os magros centavos para comprar milho, chegava à Raiva, onde esta região se costuma abastecer, e não o encontrava à venda. 

Constando que naquela povoação havia multo milho armazenado e que se negava o venda ao público, para lhe darem outro destino, e não se sujeitarem ao preço da tabela, ultimamente decretada para todo o país, medida muito acertada, o povo da freguesia de Oliveira do Mondego foi ali e verificou que existiam mais de 10  000 alqueires! Os sinos da matriz, sinetas das capelas das freguesias do Oliveira, Travanca e S. Pedro d'Alva tocaram a rebate no dia 24 e 25 do mas findo, aparecendo na Raiva milhares de pessoas. 

Para Oliveira foi uma imensidade de sacos sob a responsabilidade de pessoas idóneas, mas sem ser do acordo com o dono do milho, o que não achamos justo. 

Porque facilitasse ao povo a venda do milho pelo preço da tabela e se o comerciante não concordasse, então usassem da violência em último extremo, porque a prudência foi sempre em todos os tempos uma “senhora” multo respeitada. 

Qual o resultado? 

Veio uma força de cavalaria e guarda Republicana, que fez conduzir outra vez as sacas com milho para a Raiva, com a promessa de ali ser vendido pelo preço da tabela na próxima quinta feira. 

Concorreu também muito povo da freguesia de S. Pedro d'Alva com o digno regedor José Correia de Brito à frente, que pela sua prudência conduziu o povo de forma a mais uma vez provar que é ordeiro, tendo a felicidade de dar com um homem muito delicado, que comandava a força militar, evitando assim, quem sabe, muitas desgraças. Lamentamos sempre casos desta natureza, mas é bom que todos se compenetrem que o povo menos favorecido da sorte precisa auxílio e não que o explorem.                                        

                                                *  *  *

A propósito deste lamentável acontecimento, têm vindo a esta redacção muitas pessoas pedir que tornemos bem público o motivo do levantamento do povo, que deseja ser ordeiro, mas que não quer ser prejudicado como o foi no ano findo.

Que o povo dos lugares da Paredes e Raiva, foram os que mais sofreram com a falta e carestia do milho, tendo de procurar milho ou farinha a uma distância de 20 quilómetros, nas moendas do Feijoal, no concelho de Arganil. E quantas vezes ali foram e nem uma nem outra coisa traziam? E quanto valia o tempo perdido? 

Todavia sabiam, que à porta lhe passavam  centenares de carros de milho, que metiam em barcas e lá iam Mondego abaixo em direcção a Coimbra! 

E para onde ia esse milho? 

Despachado para as estações mais próximas do mar e dali era encaixotado e metido em navios como vidraça, e uma  vez em  Vigo, os açambarcadores recebiam por cada alqueire uma libra em ouro e lá ia para a Infame Alemanha! 

É isto que o povo declara, e a ser assim, é um crime do alta traição e lesa pátria, estar a auxiliar-se quem nos está sugando o sangue, roubar-nos milhares de vidas e a cavar a nossa autonomia que tanto custou aos nossos antepassados.

Sendo assim, o povo tem razão; cremos que seja, porque o ano findo foi fértil em milho em todo país, que chegava e de sobra para o consumo do continente, sem precisar-se de o importar das nossas possessões.

Pertence ao Governo tomar medidas enérgicas, que o momento é terrível. 

 

Tumulto 

No dia 28 do mês de Dezembro findo, um grande número de pessoas das freguesias de Lorvão e Figueira, apresentaram-se na repartição de Finanças de Penacova, ao que parece, com o fim de reclamar perante o sr. Almeida e Sousa, digno secretário de finanças, contra o lançamento de algumas colectas de contribuição industrial. 

Recebidos por sua ex. com toda a urbanidade, explicou-lhes a maneira legal do lançamento das referidas colectas e indicou-lhes o melhor modo de fazerem as suas reclamações, mas o povo fechando os ouvidos, partiram, à saída, os vidros duma porta da repartição. 

Compareceu a Guarda Republicana e o sr. António Casimiro, digno secretário da administração, que conseguiram dispersar o grupo, sem haver felizmente desgraças a lamentar. 

Se há movimentos populares que se justificam pelo fim que visam e pela ordem como são feitos, outro tanto não sucedeu com o actual, em que certamente os seus promotores se deixaram embarrilar por aqueles que os queriam explorar.

O povo deve organizar os seus movimentos com ordem e em defesa de causas justas, tendo em vista os interesses de todos.

Só deverá fazer uso da força, e então, ser enérgico, quando as suas justas e ordeiras reclamações não forem atendidas. 

Se nas repartições do concelho há empregados atenciosos que sabem  avaliar o esforço e trabalho do contribuinte, outro tanto não sucede com alguns, que além de escamotearem o povo ainda o tratam com maneiras bruscas e pouco atenciosas. Oxalá que estes aproveitem com o caso sucedido; que fiquem sabendo que o povo é soberano, que estão ali para o atender e tratar com urbanidade seja qual for a sua condição, por isso recebem do Estado os seus vencimentos, que o mesmo povo paga. "

segunda-feira, outubro 21, 2024

Congresso Internacional vai apresentar estudos recentes sobre o Mosteiro de Lorvão e outros cenóbios cistercienses


O Congresso Internacional "Women of the Cistercian Order: unveiling nunneries and expanding horizons", vai decorrer, via Zoom, entre 29 e 31 de janeiro de 2025, tendo como principal objetivo reunir e sintetizar os resultados das mais recentes investigações sobre scriptoria, livros e bibliotecas cistercienses, bem como explorar a female agency nas comunidades cistercienses e as ligações entre os livros e as monjas. O Mosteiro de Lorvão, enquanto cenóbio pertencente à Ordem de Cister a partir do séc. XIII, será, obviamente, referido no contexto geral do tema do Congresso.

É organizado pela equipa do projeto de investigação "Livros, rituais e espaços num mosteiro cisterciense feminino. Viver, ler e rezar em Lorvão nos séculos XIII a XVI", juntamente com o Instituto de Estudos Medievais (IEM Nova FCSH).

Até 27 de outubro, encontra-se aberto call for papers. Os organizadores "convidam os investigadores a explorar as características materiais dos livros litúrgicos cistercienses, concentrando-nos particularmente nas suas características codicológicas, tais como os métodos de encadernação que, pelas suas especificidades, muitas vezes revelam informação sobre a sua proveniência, e a análise dos pigmentos usados na criação e mistura das cores. "

Serão também bem-vindos, refere a organização,  "todos os aspetos relacionados com a “biografia” dos livros, ou com os vestígios dos cuidados que lhes eram dedicados, bem como com os métodos de conservação usados ao longo dos séculos para preservarem a sua identidade."

A liturgia cisterciense e a sua performance ritual nos espaços monásticos, centrando-se na procura da uniformidade litúrgica defendida pela ordem, será outro aspecto a explorar.  "Além disso, procurar-se-á analisar como este ideal interagiu com as práticas locais, incluindo a sua adaptação às tradições litúrgicas específicas dos mosteiros femininos cistercienses" [...] destacando o papel das mulheres no mecenato cultural e artístico, e na prática litúrgica.

Saiba + 

sexta-feira, outubro 18, 2024

Rota do Pão: da Aldeia do Sobral à Praia do Vimieiro

No dia 5 de Outubro foi inaugurada a Rota do Pão (PR6-Penacova), trajecto de traçado linear com cerca de 17 Km de extensão, que se inicia no Forno Comunitário da aldeia do Sobral. Daí,  segue para a Fonte do Castinçal, passa pela Fonte do Púcaro e atinge a Vila de S. Pedro de Alva. Depois, numa extensão de cerca de 5 km, por caminho florestal, dirige-se a Laborins. Seguindo a margem esquerda do Rio Alva, atinge a Praia Fluvial do Vimieiro, passando junto a terrenos agrícolas e moinhos, bem como pela Praia do Cornicovo. 


A "Comarca de Arganil" publicou ontem uma reportagem assinada por Alfredo Fonseca e que nós dá uma imagem do ambiente que se viveu neste dia que considera "memorável". Além de transcrevermos o seu texto, publicamos igualmente uma síntese das muitas fotografias que podemos ver na página do Facebook da União de Freguesias. 


"Foi sem dúvida um dia muito grande em eventos, pois logo pela manhã iniciava-se no Vimieiro uma monumental caminhada sob a égide da Rota do Pão, passando por Hombres, onde foi servido um pequeno almoço aos caminhantes, seguindo de-pois até ao Caçote, Bica e Cornicovo à beira do rio Alva, outro ex-libris da nossa Freguesia a jusante do Vimieiro que espera, na próxima época balnear, obter a Bandeira Azul na sua praia fluvial. 

A caminhada seguiu para Laborins, onde foi muito bem acolhida pala população local. Foram ainda à Maria Delegada, onde permanece uma moenda e casa do moleiro em bom estado de conservação. De Laborins seguiram para a povoação da Ribeira, passando nas alminhas da Servacã e pelo Vale acima em plena comunhão com a natureza, saboreando a beleza que esse vale nos oferece. 

Findo este percurso de elevado sentido histórico e pedagógico, a próxima etapa seria rumarem para a Fonte do Púcaro (um aprazível parque de merendas), aproveitado e embelezado pelo executivo municipal anterior, mas hoje já com alguns indícios de vandalismos praticados por alguém sem escrúpulos que estão sempre contra tudo e contra todos, até um dia serem apanhados na ratoeira. O tempo chuvoso, com aquela chuva de "molha tolos," aconselhava a não irem para lá e ficarem no salão polivalente da Casa do Povo a degustarem um maravilhoso porco no espeto. 

Mas o dia ainda era uma criança e mais eventos esperavam a comitiva e não só, pois para cumprir cabalmente a égide da Rota do Pão, nada melhor que ir inaugurar um forno comunitário, que foi construído na aldeia rural do Sobral (terra da naturalidade do nosso presidente da União das Freguesias de S. Pedro de Alva e S. Paio do Mondego, Victor Manuel Cunha Cordeiro), cuja obra deve ser enaltecida a todos os níveis até pelo que simboliza, pois daqui a alguns anos, a continuar assim, os mais jovens não sabem nem fazem ideia como nos tempos recuados se cozia o pão e muito especialmente a broa, que era a principal iguaria para matar a fome, colocada nas mesas dos agregados familiares. 

Todos os caminhantes rumaram para o Sobral. Alguns notava-se algum cansaço, mas com o apoio de um pau ou dois, não desistiram até chegar à meta dos mais de dezassete quilómetros. O Sobral nunca terá visto tanta gente dentro das suas fronteiras e havia fortes razões para que assim acontecesse. 

O espaço onde foi implantado o forno, foi oferecido por um familiar, herdeiro de Serafim Alves, que foi um bom e santo homem daquela comunidade e, por isso, foi descerrada uma placa dando o seu nome ao forno comunitário aquele espaço.

Estiveram presentes as altas esferas do Município. com o presidente da Câmara, Álvaro Coimbra, e todos os membros do executivo, o presidente da Assembleia Municipal, Humberto Oliveira, o presidente da Adelo, Mário Fidalgo, que financiou aquele empreendimento e muito mais entidades, a quem peço desculpa por não os nomear (única e simplesmente) porque não fixei os seus nomes.

Depois do descerramento da placa alusiva, dando o nome do saudoso Serafim Alves, usou da palavra o presidente da União das Freguesias, Victor Cordeiro, que com palavras amistosas e calorosas, cumprimentou e agradeceu todas às entidades presentes para quem teceu palavras ter-nas e de agradecimento. Seguiu-se Mário Fidalgo, que com muita destreza explicou que quando lhe chegou às mãos a candidatura daquele projeto não teve qualquer objeção em o aprovar dado que se enquadrava plenamente no âmbito da recuperação das aldeias rurais, como era o caso em apreço.

Seguidamente foi o presidente da Câmara Municipal, confessando-se rendido àquela obra ali erguida. Comungamos com ele quando se referiu às mulheres e jovens que voluntariamente se empenharam ali, não só na organização mas também na confeção daquele abundante repasto a que todos tiveram acesso, mas também a outro grupo que se dedicaram a aquecer o forno para cozer uma deliciosa fornada de broa, que foi saboreada quentinha, partida à mão como se impunha enquanto o pão estiver quente. A tarde já ia avançada e os visitantes e caminhantes começaram a afastar-se dando assim por findo este magnifico evento, que honra sobremaneira os seus autores, com especial destaque para o presidente da União das Freguesias, Victor Cordeiro. 

Mas o dia ainda era uma criança e outro evento nos esperava na Casa do Povo. Assim, promovido pelo grupo voluntariado comunitário do concelho de Penacova da Liga Portuguesa Contra o Cancro, foi leva-do a efeito um magnifico espetáculo que ficará gravado na nossa memória na qualidade de grata recordação. Este evento foi enriquecido com a preciosa colaboração da dona Natália Amaral, médica ginecologista e secretária geral do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, a qual proferiu uma brilhante palestra aconselhando e incentivando as senhoras após atingirem os 50 anos a fazerem o rastreio do cancro da mama pois é fundamental para evitar males maiores. À voluntária Lígia Fonseca, coube a tarefa de fazer as apresentações e agradeceu a todos por terem vindo. Finda a palestra da dra Natália Amaral, que foi ouvida com muita atenção e agrado pela vasta plateia, foi oferecido a Saudade Lopes um lindo ramo de flores em agradecimento pelo brilhante trabalho que desempenhou quando liderou o grupo de voluntariado de Penacova.  Depois deu-se início a um magnifico "Café Concerto" à luz das velas, que nos proporcionou um maravilhoso momento musical com os encantadores fados de Coimbra, sublimemente cantados por uma jovem chamada Beatriz Villar, que não só cantou como encantou o vasto publico arrancando-lhe vibrantes aplausos num reconhecimento inequívoco de que o fado de Coimbra não é para ser cantado apenas por homens, pois a Beatriz demonstrou que pode e deve ser cantado também por senhoras. Foi acompanhada à viola por Diogo e à guitarra portuguesa por João Martinho, que com os seus vibrantes acordes, arrancaram do público prolongados aplausos. Momentos muito altos lá vividos foi quando a fadista Beatriz Villar pediu ao público que a acompanhassem em vários trechos da canção coimbrã que a aplaudiram de pé. Parabéns à organização de tão profícuo espetáculo e queremos mais. Assim terminou este dia memorável, que deverá ficar gravado a letras de ouro na história desta União das Freguesias de S. Pedro de Alva e S. Paio do Mondego. 
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terça-feira, outubro 15, 2024

Ainda o poema "Remoçar na Praia" ... agora em vídeo


No contexto da II Bienal de Música de Lorvão, o "Colectivo declAMAR poesia" apresentou, no dia 12, uma selecção de Poesia Portuguesa. Este grupo que iniciou a sua atividade no Salão Brasil, em Coimbra e, tem vindo a participar em diversas iniciativas poéticas, no Teatro Académico Gil Vicente e no Museu Machado de Castro, é composto por Catarina Matos, Lurdes Telmo, Olga Coval, Rui Amado e Vanda Ecm,  O programa teve momentos musicais de viola de arco, bem como um espaço aberto ao público para apresentação livre de poesias de poetas, preferencialmente locais.

Deste segundo momento, destacamos a intervenção de  Ricardo Coelho ( membro do Coral Divo Canto) que declamou, entre outros, o poema de Luís Pais Amante, "Remoçar na Praia" publicado há dias no Penacova Online. Por sua vez, Óscar Pereira Trindade transpôs tudo isso para vídeo, que podemos visualizar na sua página  YouTube (veja AQUI). 

Excelente texto, excelente interpretação, excelente vídeo! - permitam-me os leitores este sincero e pessoal reconhecimento. 



 Coletivo «declAMAR Poesia», 
composto por Catarina Matos, Lurdes Telmo,
 Olga Coval, Rui Amado e Vanda Ecm,

sábado, outubro 12, 2024

Coral Divo Canto: 18º Encontro de Coros de Penacova


O 18º Encontro de Coros de Penacova vai realizar-se hoje, 12 de outubro, a partir das 21h30, no Mosteiro de Lorvão tendo como convidados Orfeão da Santa Casa da Misericórdia de Gouveia e Coro da Cruz Vermelha de Águeda, no âmbito de protocolos de intercâmbio cultural que o DIVO CANTO vem desenvolvendo com coros de todo o país e do estrangeiro. Amanhã, dia 13 , a partir das 18h00, vai estar de novo no mesmo palco a participar no concerto conjunto das Associações que integram o Conselho Consultivo da Escola de Artes, também integrado na 2ª Bienal de Música do Mosteiro de Lorvão.

O Coral Divo Canto, com sede em Penacova, organiza anualmente dois encontros de coros no concelho (um internacional e um concerto de Natal). Para além destes, desloca-se regularmente pelo país para participar em concertos para o qual é convidado no âmbito desses intercâmbios culturais, participando ainda em diversas iniciativas culturais promovidas por entidades oficiais e outras.

No ano de 2023, em que comemorou o seu 20º aniversário, participou em duas sessões do programa Praça da Alegria, da RTP, nos Duelos da Páscoa, participou ainda num espetáculo do cantor Paco Bandeira e no evento “Sabores de Penacova”, no Casino da Figueira da Foz, onde partilhou o palco com o cantor e humorista Fernando Pereira. Neste ano é de referir igualmente a organização de um ciclo de 6 concertos de música sacra e uma digressão a França.

No corrente ano já se deslocou ao Reino Unido, onde ofereceu um concerto à comunidade portuguesa em Londres dedicado aos 500 anos do nascimento de Luís de Camões e participou nas comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com a presença do Senhor Embaixador de Portugal naquele país. 

No conjunto das suas actividades, para além de participações em diversos concertos no país, organizou o 8º Ciclo de Concertos Divo Canto, em Penacova e Lorvão, recebendo o Coral das Caldas da Rainha e o Chorale Crèche n’Dó, de França, .

quinta-feira, outubro 10, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: Remoçar na praia

 

Remoçar na Praia


Uma pedra -se calhar de xisto - a desfazer-se

Rebolou

E amorteceu a sua viagem na acalmia

Do nosso Rio

Junto à “maternidade” no pedrario

Fazendo fugir os peixinhos em “pousio”

Nos círculos da água franca que abriu

Vieram-me rostos amigos que de lá viu

Antigamente em convívio são e Amizade

Um passarinho de bico esguio

Assobiou

E o som propagou-se como se fosse

Um arrepio

Também a rã quis coaxar

E a cigarra iniciou um concerto estridente

De rock da pesada em acasalamento tardio

Mais pra noite o pirilampo iluminará o breu

E as libelinhas adornarão o céu

Projectado na água



Neste vai e vem de tarde tardia

À cacofonia da bicharada (que rasga o silêncio)

Sobrepõe-se a faina poliglota dos veraneantes

Algumas crianças correm na ponte

De madeira tosca, resistente

Outras sorriem alegres

Mas com pés dormentes

Das pedrinhas que se lhes picam

Nos hábitos que não têm

Da Liberdade descalça

A que se contrapõe a do telemóvel na alça

- não saltes bebé que daí é perigoso!

- o limo é viscoso!

Diz uma Avó amorosa, ao meu lado

Por baixo do chapéu de sol de colmo

Africano

A que falta o côco para ser paisano



Está lá a areia, embora importada

Está lá a curva da barriga zangada

O Penedo da Viúva já é uma estrada

O tempo passou muito e depressa

Mas as coisas simples desta Praia do Reconquinho

[E as que deviam ser deste nosso fado mansinho]

Dão-lhe um ar que parece que ainda agora começa

A brisa do ar vindo dos salgueiros anda em circuito

A vista de cima faz-se num quadro a óleo bem culto

E o sol?

… Esse continua forte e ainda é gratuito!


Luís Pais Amante

Casa Azul

Após uma tarde boa, passada na Praia Fluvial do Reconquinho, 
com o Clube da Netaria e rememorando as traquinices 
que eu próprio -e as minhas amigas e amigos 
dos anos 60/70- por ali alimentávamos …

sábado, outubro 05, 2024

No 5 de Outubro evocar António José de Almeida

A 31 de Outubro de 1937 era inaugurado em Lisboa o monumento a António José de Almeida, oito anos após a sua morte. Um projeto do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro e do escultor Leopoldo de Almeida. 

A revista "Ilustração" publicou uma reportagem destacada sobre esta prestigiosa homenagem.

Durante o Estado Novo (1933-1974), o monumento acabaria por se transformar num local de "romaria" da oposição ao regime, em datas simbólicas como o 5 de outubro. Nessas ocasiões, a homenagem seguia muitas vezes para junto do jazigo de António José de Almeida no Cemitério do Alto de S. João.

Revista "Ilustração" nº 286, 16 de Novembro de 1937




𝓐𝓷𝓽ó𝓷𝓲𝓸 𝓙𝓸𝓼é 𝓭𝓮 𝓐𝓵𝓶𝓮𝓲𝓭𝓪
António José de Almeida nasceu em Vale da Vinha a 17.07.1866 e faleceu em Lisboa a 31.10.1929.

Formado em Medicina pela Universidade de Coimbra (1895) aderiu logo nessa época ao Partido Republicano e em 23 de Março de 1890 publicou na folha académica Ultimatum o artigo «Bragança, o último», que lhe custou a pena de três meses de prisão.

Exerceu medicina em Angola e depois, em São Tomé e Príncipe até 1903, após o que estagiou em Paris e regressou a Lisboa onde abriu o seu primeiro consultório, na Baixa, primeiro na Rua Áurea, que depois transferiu para Largo do Camões nº 6 – 1º (hoje, Praça Dom João da Câmara), onde ganhou fama de médico dos pobres.

A sua carreira política foi intensa. Começou por ser eleito deputado pelo círculo oriental de Lisboa (1906) e integrou a Maçonaria (1907) ainda antes da proclamação da República. 

Exerceu depois as funções de Ministro do Interior do Governo Provisório (1910-1911). Em 1912 fundou o Partido Republicano Evolucionista. Foi Chefe do Governo da chamada «União Sagrada» e Ministro das Colónias (1916-1917) e ainda Presidente da República (1919-1923).

É de destacar o seu papel na reforma do Ensino Superior, sobretudo no estudo da medicina e na criação das Universidades de Lisboa e do Porto, bem como a sua visita ao Brasil em Setembro de 1922 por ocasião do Centenário da  Independência daquele país, de que Luís Derouet fez reportagem: Duas Pátrias – O que foi a visita do Sr. Dr. António José de Almeida ao Brasil.

António José de Almeida colaborou em vários periódicos e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o jornal República (1911). Em 1934, foram coligidos os seus principais artigos e discursos e publicados em 3 volumes sob o título Quarenta anos de vida literária e política