sexta-feira, setembro 26, 2025

A Batalha do Buçaco descrita por Wellington

Em véspera da Batalha do Buçaco, o Penacova Online, recorda alguns pormenores sobre um dos mais relevantes episódios da Guerra Peninsular, ocorrido há 215 anos. Para tal, trazemos aqui algumas notas tendo como base um excerto do artigo “A última campanha napoleónica contra Portugal [1810 1811]”, da autoria do coronel José Custódio Madaleno Geraldo, publicado na Revista Militar (nº 2501/2502 - Junho/Julho 2010).

Enquadrando o acontecimento, escreve ROBINSON * (Charles Walker Robinson, 1836 –1924):

 “Wellington, achando-se situado detrás das cristas da Mucela, e tendo oficiais colocados nas montanhas com o fim de observarem a direcção da marcha dos franceses, determinou que se procurasse impedir o caminho a Massena na serra do Bussaco, com o fim não só de levantar o espírito dos seus próprios soldados e do povo português, mas também de ganhar tempo, que lhe permitisse poder retirar os seus armazéns de Coimbra e Condeixa, e auxiliar os camponeses na destruição das suas colheitas, e na devastação dos campos. 

Esta serra oferecia uma posição muito forte, e havendo nesta ocasião chegado Hill e Leigh (o primeiro por se haver antecipado ás determinações de Wellington, marchando a reunir-se a este general logo que soube que Reynier seguira a encontrar-se com Massena, e o segundo vindo de Tomar).

Wellington formou, no dia 26 de Setembro, o seu exército em ordem de batalha sobre ela, com excepção das poucas tropas que tinha deixado na outra margem do Mondego em observação, e da cavalaria que fôra postada na estrada do Porto, ao sul do Sardão, vigiando a esquerda. 

Wellington ordenou também que algumas milícias portuguesas saíssem de Lamego sobre Sardão e o desfiladeiro de Boialvo, para obstarem a que os franceses o torneassem por aquela estrada. 

Quanto á estrada de Pena Cova era desnecessário guardá-la, por estar exposta ao fogo de artilharia da serra.

Massena aproximou-se no dia 26, e julgando que os ingleses estavam em menor força do que realmente [estavam], pois ignorava o facto da junção de Hill e de Leigh, tentou forçar a posição no dia 27 (com Ney e Reynier na frente e Junot na reserva), e deu a batalha do Bussaco. Nesta batalha os aliados eram em número de 49 000 e os franceses de 66 000” 

*ROBINSON, C. W. - A Guerra da Península: 1808-1814. Lisboa: Typographia de Mattos Moreira & Cardosos, 1883, p. 102. (Texto com grafia actualizada)

 Ofício de Lord Wellington a D. Miguel Pereira Forjaz

Escreve o Coronel José Custódio Madaleno Geraldo que nas suas pesquisas se deparou “com três descrições sobre os acontecimentos da Batalha do Buçaco, todas elas primeiras edições, de primeira água”, descritas na Gazeta de Lisboa, no Correio Braziliense e Recueil Choisi des Dépêches et des Ordres du Jourdu Field-Maréchal duc de Wellington, editados respectivamente em Lisboa (1810), Londres (1810) e Bruxelas (1843). 

Perante tanta riqueza deixada por Wellington, resolvemos – escreve Madaleno Geraldo -  seguir o texto que nos traz a primeira fonte ora descrita, isto é o Ofício de Lord Wellington a D. Miguel Pereira Forjaz, de 03 de Outubro de 1810. (Gazeta de Lisboa, n.º 237, Lisboa, 3 de Outubro de 1810). 

[...] Às 6 da manhã do dia 27 o inimigo fez dois desesperados ataques sobre a nossa posição, um na direita, e outro sobre a esquerda do mais alto ponto da Serra. O ataque sobre a direita foi feito por duas divisões do segundo Corpo naquela parte da Serra, ocupada pela terceira divisão de infantaria. Uma divisão francesa chegou ao cume da cordilheira a tempo e foi atacada com a mais bizarra maneira pelo regimento 88, comandado pelo Tenente Coronel Wallace, e pelo regimento N.º 45 pelo muito honrado Tenente Coronel Meade, e regimento Português N.º 8, comandado pelo Tenente Coronel Douglas, dirigidos pelo Major General Picton. Estes três regimentos avançaram com baioneta calada, e fizeram retroceder a divisão do inimigo do terreno vantajoso que havia obtido. A outra divisão do segundo Corpo atacou a maior distancia na direita, pela estrada que vem por Santo António do Cântaro, igualmente em frente da divisão do Major General Picton. Esta foi repelida antes que tivesse chegado ao cume da Cordilheira pelo regimento N.º 74 comandado pelo honrado Tenente Coronel Trench, e pela brigada de infantaria Portuguesa, comandada pelo Coronel Champalimaud, dirigida pelo Coronel Makinnon. O Major General Leith igualmente se moveu para a sua esquerda, para apoiar o Major General Picton, ajudando a destroçar ao inimigo nesta parte o terceiro batalhão do regimento das Reaes, o primeiro batalhão do regimento 9, e o segundo batalhão do regimento 38. Nestes ataques distinguiram-se os Majores Generais Leith e Picton, os Coroneis Makinnon e Champalimaud no serviço Português, (e o qual foi ferido), o Tenente Coronel Sutton do regimento Portuguez N.º 9, o Major Smith do regimento 45, o qual infelizmente foi morto, o Tenente Coronel Douglas, e o Major Bermingham do regimento Portuguez N.º 8.

O Major General Picton reporta boa conduta dos regimentos Portugueses N.º 9 e 21, comandados pelos Tenentes Coronéis Sutton, e Araujo Bacellar, e da artilharia Portuguesa, comandada pelo Major Arentschild.

Tenho igualmente a mencionar de uma maneira muito particular a conduta do Capitão Dansey do regimento 88.

O Major General Leigth reporta a boa conduta do regimento Real, e do primeiro batalhão do regimento 9, e segundo batalhão do regimento 38; e peço permissão para assegurar a V. Ex.ª que nunca presenciei um mais bravo e denodado ataque do que aquele, feito pelos regimentos 88, 45, e pelo regimento Português N.º 8 sobre a divisão do inimigo, que havia subido a Serra.

Na esquerda o inimigo atacou com três divisões de infantaria do oitavo Corpo aquela parte da Serra, ocupada pela divisão de tropas ligeiras, comandadas pelo Brigadeiro General Crawford, e pela brigada Portuguesa, comandada pelo General Pack.

Uma única divisão de infantaria inimiga fez algum progresso na subida para o cume da Serra; porém foi imediatamente carregada à baioneta calada pelo Brigadeiro General Crawford com os regimentos 43, 52 e 95, e o regimento de caçadores Portugueses N.º 3; e obrigados a retroceder com imensa perda.

A brigada Portuguesa de infantaria, comandada pelo Brigadeiro Colemans, que estava em reserva, foi movida para suportar a direita da divisão do Brigadeiro General Crawford; e um batalhão do regimento Português N.º 19, comandado pelo Tenente-coronel Mack-Bean, fizeram um denotado e bem sucedido ataque contra um corpo de outra divisão do Inimigo, que estava procurando penetrar naquela paragem.

Neste ataque o Brigadeiro General Crawford, o Tenente-coronel Beckwith do regimento 95, e Barclay do regimento 52, e os Oficiais comandantes dos regimentos empregados nesta parte da acção distinguiram-se todos individualmente.

Além destes ataques as tropas ligeiras de ambos os Exércitos bateram-se durante todo o dia 27, e o regimento de caçadores Português N.º 4, e os regimentos N.º 1 e 16 dirigidos pelo Brigadeiro General Pack, e comandados pelos Tenentes Coronéis Rego, Barreto e Hill, assim como o Major Armstrong, mostraram grande firmeza e bravura.

A perda que o Inimigo sofreu neste ataque do dia 27, foi enorme.[...]

Wellington.”

Com adaptações e correcções de texto para a actualidade.



𝕄𝕠𝕤𝕥𝕖𝕚𝕣𝕠 𝕕𝕖 𝕃𝕠𝕣𝕧ã𝕠: 𝕦𝕞𝕒 𝕔𝕣𝕠𝕟𝕠𝕝𝕠𝕘𝕚𝕒


Séc. IX

878 - Documentação histórica da existência de um Mosteiro masculino dedicado a São Mamede e São Pelágio, após a Reconquista de Coimbra pelo Conde Hermenegildo; o Conde Ovieco Garcia doa a terra de Pala, em Mortágua, ao mosteiro.

Séc. X

966 - Abade Primo contribui para o seu prestígio.

Séc. XI

Segue, provavelmente, a partir deste século a Regra de São Bento; doações dos fiéis tornam próspero o Mosteiro, que alarga a sua esfera de influência;

1086 - 1118 - Com o Abade Eusébio o Mosteiro torna-se um importante centro religioso e cultural do reino.

Séc. XII

1183 - Aqui se copia e ilumina o Livro das Aves;

1189 - O Comentário do Apocalipse, à semelhança do livro anterior, também aqui é copiado e iluminado, constituindo obra ímpar da iluminura portuguesa.

Séc. XIII

1206 - Mosteiro reformado por D. Teresa, filha de D. Sancho I - ex-rainha de Aragão -, torna-se numa comunidade cisterciense feminina sob a abadessa D. Vierna.

Séc. XIV

Séc.14 - Imagem da Senhora da Vida referida no Santuário Mariano;

1349 - Período de crise com a Peste Negra.

Séc. XV

Data deste século a figura de Cristo em tamanho natural.

Séc. XVI

Neste século, atinge grande esplendor com as abadessas D. Catarina d'Eça e D. Bernarda Alencastre; esculturas do período manuelino.

Séc. XVII

É deste século a construção do claustro com algumas capelas devocionais;  as reformas do edifício conduzem à construção de 3 dormitórios, noviciaria, hospício; nos Séc. 17 - 18: igreja, coro, 2 claustros, refeitório, cartório, botica, oficinas e celeiro; mobiliário, peças de cerâmica;

1676 - Execução de um órgão positivo.

Séc. XVIII

Novo período de destaque com as abadessas D. Bernarda Teles de Meneses, D. Teresa Luzia de Carvalho e D. Madalena Maria Joana Caldeira;

1715 - Feitura das urnas em prata de Santa Sancha e Teresa pelo ourives portuense Manuel Carneiro da Silva;

1722 - 1723 - Execução de um órgão por Calisto Barros Pereira;

1742 - Contrato, a 24 de Dezembro, para execução do órgão com Teodósio Hemberg, por 100$00 réis;

1747 - Execução do cadeiral;

1748 - 1761 - Construção da atual igreja, sagrada em 1761, datando desta fase as grandes telas dos altares sob o zimbório, representando São Bento e São Bernardo, de Pascoal Parente;

1790 - Contrato, a 28 de Janeiro, com o ourives António José de Carvalho e Silva para a execução de sete lampadários em prata;

1795 - Feitura do órgão de 2 fachadas, com 61 registos, por António Xavier Machado Cerveira, o seu n.º 47.

Séc. XIX

1820 - Extinção das ordens religiosas conduz à decadência do Mosteiro.

Séc. XX

1959 - Entrega do convento, a 7 de Abril, depois de adaptado a Hospital de Alienados ao Ministério da Saúde e Assistência;

1970 - Incêndio na igreja, a 18 de Maio, destrói 17 assentos do cadeiral;

1990 - O mosteiro passa, no final dos anos 90, a integrar a rede internacional de Mosteiros da Ordem de Cister, inserido no programa PACTE;

1992 - O imóvel é afeto, a 1 de Junho, ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126.

Séc. XXI

2000 / 2006 - Prevista a execução do plano de beneficiação pelo IPPAR, com financiamento do III Quadro Comunitário de Apoio destinado ao Património de Cister, integrando essencialmente a renovação de instalação elétrica (30 mil contos), restauro de recheio artístico (50 mil contos), limpeza e conservação de paredes (20 mil contos), e ainda a consolidação da torre sineira, conservação e restauro do claustro, montagem do órgão e reestruturação do Museu do Lorvão;

2000 - Aberto concurso público, a 21 de Novembro, para remodelação da instalação elétrica,iluminação interna, redes de deteção de incêndio e de segurança contra intrusão (DR nº 259, III Série);

2007 - O imóvel é afeto à Direção Regional da Cultura do Centro, a 20 de Dezembro, pela Portaria n.º 1130/2007, DR, 2.ª série, n.º 245;

2016 - O edifício integra, a 28 de Dezembro, a lista de 30 imóveis a concessionar pelo Estado Português a privados, para instalação de atividades que promovam o Turismo.

------------

FONTE: SIPE in Caderno de Encargos Programa REVIVE (Mosteiro de Lorvão), 2018

segunda-feira, setembro 22, 2025

Ferreira de Castro e Maria Lamas em Penacova


O escritor Ferreira de Castro terá mantido, entre 1930 e 1973 (um ano antes da sua morte) uma relação de "amizade amorosa" com a escritora e jornalista Maria Lamas. Foi público terem sido muito amigos.  

É o próprio neto desta, José Pereira Bastos, investigador e historiador, que admite que Maria Lamas e Ferreira de Castro tiveram um envolvimento amoroso forte, para além da amizade pública. 

Este dado pode não ter nada a ver com a presença, em datas diferentes, quer de um quer de outro, em Penacova. 

De acordo com notícia de 1932 (Notícias de Penacova) Maria Lamas esteve em Penacova de visita à sua prima Maria Lúcia Namorado, que como sabemos aqui viveu durante alguns anos. Por sua vez o mesmo jornal, uns bons anos mais tarde, refere que Ferreira de Castro permaneceu na vila, onde terá usufruido dos "bons ares" e escrito algumas páginas das suas obras. 

Duas personalidades marcantes da vida literária e jornalística do nosso país que, curiosamente, conheceram Penacova onde permaneceram algum tempo.  

Recortes do jornal Notícias de Penacova:



Notas biográficas

Maria Lamas (1893-1983) foi uma escritora, jornalista, tradutora e ativista feminista portuguesa, pioneira da imprensa feminina e figura proeminente na luta pela emancipação das mulheres e pelos direitos humanos em Portugal, especialmente durante a ditadura do Estado Novo. Nascida em Torres Novas, dedicou a sua vida à escrita e ao ativismo, sendo presa e exilada devido às suas convicções, e voltou a Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974, sendo homenageada diversas vezes. 

Carreira e Ativismo:

Jornalismo: Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais do país, dirigindo o suplemento "Modas e Bordados" da revista "O Século" e colaborando em diversas outras publicações. 
Ativismo Feminista: Em 1928, juntou-se ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), tornando-se sua presidente em 1945, posição que a levou a enfrentar a repressão do Estado Novo. 

Resistência à Ditadura: Participou ativamente em organizações antifascistas e campanhas políticas, o que resultou em perseguições e detenções pela PIDE. 

Exílio: Foi forçada a exilar-se em Paris em 1962, retornando a Portugal apenas após a Revolução dos Cravos. 

Obra e Legado:

Escrita: Autora de diversos géneros, incluindo poemas, crónicas, novelas e obras para crianças e mulheres. 

História das Mulheres: Foi uma investigadora pioneira e autodidata na História das Mulheres em Portugal, dedicando-se a recuperar e divulgar o seu papel na sociedade. 

Reconhecimento

Após o 25 de Abril, recebeu diversas homenagens, incluindo a Ordem da Liberdade (1980) e uma homenagem da Assembleia da República (1982). Maria Lamas é reconhecida como uma figura notável do século XX português e uma cidadã europeia que marcou o seu tempo pela sua inteligência, coragem e luta por um país mais justo e igualitário. 

Ferreira de Castro (1898-1974) foi um proeminente escritor e jornalista português, nascido em Ossela, Oliveira de Azeméis, conhecido pela sua obra de corte social realista, que aborda as questões dos desfavorecidos e da experiência da emigração, como em A Selva e Emigrantes. Após emigrar para o Brasil na infância, trabalhou numa floresta amazónica, experiência que inspirou A Selva. Após o regresso a Portugal, construiu uma carreira jornalística e literária, tornando-se um dos autores mais lidos e traduzidos, e um opositor do regime do Estado Novo. 

Primeiros Anos e Emigração

Nasceu a 24 de maio de 1898, em Ossela, Oliveira de Azeméis. 
Com doze anos, emigrou para o Brasil, onde viveu e trabalhou como seringueiro na Amazónia. 
Esta vivência na selva amazónica serviu de base ao seu mais famoso romance, A Selva, publicado em 1930. 

Carreira Literária e Jornalística

Começou a carreira na imprensa do Brasil, onde escreveu contos e crónicas, e fundou o jornal Portugal. 
Regressou a Portugal em 1919 e continuou o seu trabalho como jornalista, colaborando em jornais como O Século e A Batalha, e dirigindo jornais como O Diabo. Publicou o seu primeiro romance, Criminoso por Ambição, em 1916. Em 1928, lançou Emigrantes, um romance que o consagrou e marcou a transição para o neo-realismo na sua obra. Outras obras marcantes incluem Eternidade (1933), Terra Fria (1934) e A Lã e a Neve (1947). 

Legado e Reconhecimento

Tornou-se um dos autores portugueses mais lidos e aclamados em Portugal e no estrangeiro, com obras traduzidas para várias línguas. É considerado um dos pais do romance social-realista em Portugal, que se debruça sobre as questões do povo e das classes trabalhadoras. Foi proposto várias vezes para o Prémio Nobel de Literatura, embora tenha recusado a nomeação. Morreu no Porto a 29 de junho de 1974, e o seu corpo repousa na Serra de Sintra, conforme o seu desejo. 

Notas para a história do Monumento da Serra de Gavinhos



A história do MONUMENTO AO CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA, na Serra de Gavinhos, remonta aos anos sessenta do séc. XX.

Foi do pároco de Figueira de Lorvão, Padre Hermano de Almeida, que partiu a ideia de construir o monumento. 

Logo se rodeou de alguns paroquianos para perceber se haveria "alma" para levar avante o projecto da construção do monumento ao Coração Imaculado de Maria, no alto da Serra de Gavinhos, para poder ser avistado, praticamente, de todos os lugares da paróquia. 

O jornal "Notícias de Penacova" (N.P.), cuja direcção estava entregue ao Prof. Joaquim de Oliveira Marques, noticiou pela primeira vez este "sonho" em 27 de Julho de 1968. Em Setembro desse mesmo ano começaram a formar-se quer a comissão central, quer as sub-comissões, abrangendo todos os lugares da freguesia. 

A Comissão Central era composta por Manuel Simões Flórido, Joaquim Oliveira Marques, António Soares Coimbra e Alípio Marques de Oliveira.  Era necessário angariar fundos para erguer a obra. 

Foi na tarde de 10 de Novembro de 1968 que foi benzida a primeira pedra. Era então Bispo de Coimbra D. Francisco Rendeiro e veio nessa data em visita Pastoral à Paróquia. Pela circunstância de ter de seguir para Poiares, delegou na pessoa do Cónego Abílio Costa, Vigário Geral da Diocese, para presidir a essa bênção. 

Depois de benzida a primeira pedra o local escolhido foi alterado. Contou ao Jornal de Penacova em 1996, Alípio Marques de Oliveira, que “toda a freguesia de Figueira de Lorvão queria ver o monumento". A princípio era virado para o lado de Penacova, depois decidiu-se pela actual localização, ponto da serra que é visto por quase toda a freguesia. 

No decorrer do ano de 1968 e seguintes procedeu-se à angariação de fundos e, curiosamente o N.P. noticiou dádivas adquiridas na "campanha do ovo", que decorreu em Gavinhos. Os conterrâneos emigrados também foram chamados a contribuir. 

O N.P. de 14 de Julho de 1969 publicou a maquete do monumento. Em Julho de 1970, este periódico anunciou que a obra já se estava a erguer e em 7 de Novembro de 1970 informou que a base estava pronta para se instalar a estátua. 

A edição seguinte do mesmo jornal informou igualmente que o custo da imagem era de mais de meia centena de contos. Foi a Família Pereira da Costa, residente no Porto, mas natural de Gavinhos que ofereceu esse valor. Por sua vez, o custo do pedestal ultrapassou os cem contos e foi custeado por ofertas de todos os lugares da Paróquia. 

Em 28 de Novembro de 1970 o N.P. anunciou que a imagem (com 5 metros de altura, não incluindo o pedestal) já “brilhava” no alto da Serra de Gavinhos. A imagem do Coração Imaculado de Maria é constituída por cinco peças, com um peso total de dois mil e cem quilos e tem cinco metros de altura.

 Foi adquirida a uma empresa de Coimbra por quarenta e cinco contos. O monumento foi pago na totalidade com os donativos e custou à freguesia a quantia exacta de 98.869$00. Por fim, no dia 8 de Dezembro de 1970, teve lugar a Benção Solene do Monumento com a presença do Bispo de Coimbra D. Francisco Rendeiro. 

Fontes: Desdobrável publicado pela Unidade Pastoral no Centenário das Aparições (1917-2017); Jornal de Penacova, 26/9/1996





Fotos: David Almeida | 2025


Maquete inicial


sexta-feira, setembro 19, 2025

𝕆ℙ𝕀ℕ𝕀Ã𝕆 | Oh Juventude: para onde irá o Jornalismo?


Ao longo da minha vida, sempre defendi a Liberdade dos Jornalistas, a liberdade de expressão, desde que cumprida (na sua base de informação) a Liberdade de Imprensa, tout court, como se encontra plasmada legal e constitucionalmente.

Também alertei para a precariedade dos Jornalistas (principalmente dos mais Jovens) dado o facto de entidades que têm surgido sem escrúpulos, da área, os aproveitarem “até ao tutano” para produzirem um tipo de “jornalismo alarmista” e, algumas vezes, “vergonhoso”!

São os célebres “recibos verdes” como base contratual toscamente ilegal;

São as condições gerais de trabalho sem horários, sem direitos, até sem Seguro;

São os “arautos da riqueza a qualquer preço” sem história na comunicação a apoderarem-se dos meios da comunicação social, para dela servirem os seus “instintos”;

É a comunicação social a servir interesses duvidosos, até do ponto de vista político…através dos seus comentadores, na tentativa de manterem nos círculos do poder determinadas personalidades …

Tudo isto junto, provoca a estupefação quase geral, mas silenciosa, num cenário de crescimento absurdo da “noticia agressiva”, da “notícia repetitiva” até da “notícia paga”, por interesses objectivamente obscuros.

Em tal traçado contexto, temos todos de, naturalmente, trazer à luz do dia os casos em que este jornalismo anormal se vê e, principalmente, ajudar a cuidar do percurso são da tal “Liberdade de Imprensa”!

As televisões, muito particularmente, usam e abusam destas “técnicas mais perniciosas” de marketing de comunicação, afinal correspondente a “propaganda”, pura e simplesmente, como é o caso dos anúncios de jogos de azar dos casinos.

Há casos recentes que evidenciam os tópicos que acabámos de referir:

- Os fogos, com horas e horas de programação, na procura da desgraça, acerca do que se pode questionar se isso não incentiva os incendiários, nãos lhes dá “combustível”?

- O Acidente do Elevador da Glória, que alimenta todos os horários das televisões, acerca do que se pode questionar se trás algum benefício objetivo para o nosso país;

- A questão da “Imigração” onde se vergam e alimentam  poderes muito questionáveis, que promovem o apagão pretendido pelas castas das opções políticas que nos trouxeram até aqui;

- Os julgamentos mediáticos que se transformaram em fonte de propaganda da “criminologia encartada” e da advocacia de televisão, que confronta o EOA;

- As fugas das prisões que norteiam aprendizagens criminógenas absolutamente inadmissíveis;

E há casos mais antigos em que se verificou um tipo de jornalismo (com “j”pequeno) que alarmou, muito para além da normalidade, o nosso tecido social, sobre a questão da “Praxe Académica”, genericamente empolada aquando da Tragédia do Meco!

Ora bem,

Neste concreto caso, está provado [vd Proc.  365/18.8T8CSC] que tivemos acções perniciosas, abusivas e irregulares de uma televisão em concreto: A TVI!

Através de uma jornalista (com “j” pequeno), de seu nome, Ana Leal.

Com a cumplicidade de outro jornalista, José Alberto Carvalho.

Acabaram de ser todos condenados em primeira instância por uso abusivo da imagem de um cidadão português, com uma criança ao colo, que disso proibiu aquele órgão de comunicação, a sua administração e direcção, num contexto da criação de uma confabulação e da manutenção (para majorar os lucros) de uma “historieta falsa”, nos meios que explora!

Dando mão a uma factualidade voluntária, abusiva, ilícita e culposa.

O que determinou a condenação dos três, no pagamento de indemnizações solidárias por danos patrimoniais e por danos não patrimoniais, com obrigação de tornarem impossível a identificação futura da Pessoa em causa, sob pena do pagamento de uma sanção pecuniária compulsória diária, no caso de desobediência aos termos da condenação!

O que me leva a divulgar esta concreta situação, não é vangloriar-me pelo facto de ter sido o meu escritório e a minha Equipa, com dedicação e paciência e saber, a obterem esta decisão corajosa, histórica e meritória de uma Juíza digna de registo da primeira instância do Tribunal de Cascais.

Ela (decisão) pode vir a ser alterada, ainda…

Meios não faltam a esta organização!

É, sim, o facto de estes tais jornalistas terem atingido uma projecção tal no nosso país, que se julgam vedetas quase imaculadas e são, hoje, professores dos Jornalistas do futuro!

E é a esses “Jornalistas do Futuro” (que vemos hoje de microfones na mão à espera da sua oportunidade de vida) que a Sociedade aconselha muita atenção; principalmente que não colidam com as normas da Liberdade e que não coloquem as pessoas anónimas em situações desconfortáveis, que criam situações traumáticas por vezes muito nefastas.

O resto será avocado pelos Organismos de tutela da Liberdade de Imprensa, sã!

Luís Pais Amante


segunda-feira, setembro 08, 2025

A propósito da Senhora do Monte Alto que hoje se venera em Penacova


PARA QUE NASCE A VIRGEM MARIA…

Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina,

dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde;

perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios;

perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo;

perguntai aos desconsolados,

dirão que nasce para Senhora da Consolação;

perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres;

perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança.

Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz;

os discordes, para Senhora da Paz;

os desencaminhados, para Senhora da Guia;

os cativos, para Senhora do Livramento;

os cercados, para Senhora da Vitória.

Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho;

os navegantes, para Senhora da Boa Viagem;

os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso;

os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte;

os pecadores todos, para Senhora da Graça;

e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.

E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser

Maria e Mãe de Jesus: Maria, de qua natus est Iesus.


Pe. António Vieira, Sermão do Nascimento da Mãe de Deus (excerto)

__________

Obrigado, Drª Ana Faria, pela partilha


quarta-feira, setembro 03, 2025

Honrar os que nos precederam: flores para o Deão Leite




Morreu há 129 anos, é certo. No entanto, o seu nome permanece na toponímia de Penacova e também no cemitério da Eirinha está a sua campa (em tal estado de abandono e corrupção que bem merecia que a autarquia procedesse ao seu restauro). 

Quem passar pelo cemitério da Eirinha, verifica que, afinal, Joaquim Maria Leite, ainda tem quem lhe ponha flores, em atitude de respeito e de consideração por este ilustre penacovense. Sabemos que este gesto, que muito nos sensibiliza, partiu de uma sua conterrânea, pessoa culta que valoriza as raízes penacovenses: a Profª Lídia Cabral Costa.

Quem foi o Deão Leite?

Do livro recentemente publicado “125 Nomes da História de Penacova” extraímos os seguintes dados biográficos:

Joaquim Maria Leite nasceu em Julho de 1829. Filho de José Manuel Leite, oriundo de Fafe, e de Florência Efigénia, natural de Penacova, moradores no Largo do Cruzeiro, na chamada “Casa dos Leite”.

Foram seus irmãos, entre outros, José Maria da Conceição Leite, que foi pároco e arcipreste em Penacova, e António Maria Leite, chefe dos Correios.

No ano lectivo 1847/48 iniciou os estudos de Teologia. Na época era professor da Universidade João Crisóstomo de Amorim Pessoa. Joaquim Maria foi seu aluno e, quando aquele catedrático de Teologia foi nomeado Arcebispo de Goa e Patriarca das Índias (1862/63), convidou este seu pupilo para seu secretário pessoal.

Em Goa, Joaquim Maria Leite foi mais do que um mero “funcionário administrativo”. Foi professor de Ciências Eclesiásticas e Reitor do Seminário de Rachol, além de Chantre da Sé Primacial de Goa.

Quando Amorim Pessoa chegou à Índia procurou elevar o nível da formação eclesiástica reformando os estudos, centralizando-os naquele Seminário e nomeando Reitor Joaquim Maria Leite.

Por motivo de doença teve de abandonar a Índia, sendo pouco depois convidado para Professor do Liceu da Guarda, onde conheceu Emídio da Silva e ascendeu a Reitor.

Nesta cidade integrou o Cabido da Sé, na qualidade de Cónego-Deão. Ser Deão do Cabido da Sé implicava presidir àquele órgão. Daí o atributo de “Deão Leite”. Nesta cidade da Beira Alta presidiu à Comissão criada para fundar o Asilo da Mendicidade.

Joaquim Maria Leite ocupou, mesmo que por pouco tempo, por motivos de saúde, o cargo de Deputado por Penacova.

Acabou os seus dias em Penacova, onde viveu alguns anos, paralítico, vitimado pelo reumatismo gotoso, mas ajudando os necessitados e recebendo muitas visitas.

Morreu no dia 6 de Agosto de 1896, há 129 anos, com apenas 67 anos. Os seus restos mortais repousam no cemitério da Eirinha, onde existe uma campa-memorial com a seguinte inscrição:

À MEMÓRIA / DE / SEU IRMÃO O DEÃO DA / SÉ DA GUARDA / JOAQUIM MARIA LEITE / NATURAL DE PENACOVA ONDE / FALECEU / EM 6 DE AGOSTO / DE 1896 / JOSÉ MARIA LEITE

Na sessão de 4 de Janeiro de 1902, a Câmara Municipal, presidida por Daniel da Silva, deliberou atribuir ao Largo do Cruzeiro a designação de “Largo do Deão Leite”.

Crónicas do Avô Luís: Tutto passa...





O meu neto mais velho [o André, de 19 anos, estudante de Informática na Universidade Nova de Lisboa] foi fazer um interrail que terminou há pouco tempo.

E apareceu com uma tatuagem no braço direito. A tatuagem tem escrito: “TUTTO PASSA”.

Em italiano significa “a impermanência da vida e a ideia que tanto os momentos bons quanto os ruins são passageiros”.

Verifiquei, entretanto, que subsiste uma história à volta de um homem idoso napolitano que foi conhecido por ter essa mesma frase tatuado no tórax.

Essa fotografia corre mundo e glorifica o fotógrafo Ciro Pipoli.

Eu não sou fã de tatuagens, mas não tenho nada contra elas, desde que discretas e significativas.

Mas fiquei, sinceramente, orgulhoso da iniciativa que o André decidiu ter.

Aos 19 anos, eu tinha sobre os meus ombros a necessidade de começar a constituir uma vida, a 200 quilómetros dos meus pais (à altura, 5 horas de viagem) trabalhando na HPE e estudando já no segundo ano da FDL.

O André não tem problemas com a vida dele, felizmente, e os que possa ter tido - que dão endurance - já passaram, pelos vistos.

E isso é muito bom!

A pergunta que eu faço a mim próprio [que bem podia ter esta frase numa qualquer parte do meu corpo] é a de saber se as coisas serão mesmo assim?

E a minha abordagem, sempre exigente, sempre prudente, conclui que não!

As coisas (boas, más, assim assim) até podem passar, mas não vão, pura e simplesmente para o “cano de esgoto da vida”.

Ai não vão não!

Se tudo passa (agora em português) porque será que sinto tanto, ainda, as coisas que aconteceram há 60, 50, 40, 30, 20, 10, 5 anos, ou há poucos dias, até?

Poderá ser por que não tem comparação a vida que eu tive de ter e a que o André tem?

Ou por que a idade do André ainda não permite a distância que este tipo de análises precisa?

Para um desportista (como o André é, praticante de futsal) a lesão do dedo grande do pé direito está ultrapassada e, portanto, passou…

Para o Fisioterapeuta do André, passou, mas deixou mazelas que não se podem descurar…

Para o Treinador, passou, deixou mazelas e merece desconfiança: afinal posso contar contigo a 100%, 90%, 80% ou só 50%?

Para uma qualquer das muitas Psicólogas ou Psicanalistas que conhecem o meu neto, desde muito pequenino, o assunto é outro: o que se deve fazer para que o André esteja em condições (apto) para assumir tão firmemente que, no alto dos seus 19 anos, tudo passou e que, ao longo da vida venha a ser um jovem/homem trabalhador, responsável e solidário.

Eu quero acreditar que a ousadia é uma característica importante do ser humano; que deve ser acompanhada da ambição saudável, rumo a uma vida em que nós próprios pensemos que uma boa parte de nós se pode entregar aos outros que precisam de ajuda; e que não é mau que coisas menos boas deixem alguns resquícios que, de vez em quando, nos permitam pensar melhor (nelas) e nas suas razões profundas !

E assim, pensando no TUTTO PASSA, já deixei passar uma boa tarde de praia.

Mas, estou certo, irei pôr os nossos Andrés, todos, a reflectirem bem sobre os factores de sorte que a vida lhes deu e, sobretudo, que os seus próprios Andrés, num futuro próximo, também precisarão dela.

Ao mesmo tempo, sem dar por isso, coloquei os avós da minha idade a ir um pouco ao fundo das vidas que tiveram.

E bem assim das que estão a ter, num contexto em que a reforma contratada diminui sistematicamente pela via do aumento da tributação e, também, pela ocorrência do aumento do custo de vida.

Sem contar com as situações em que são o suporte de vida a um agregado familiar que aumenta pela ocorrência de situações de desemprego e outras!

Luís Pais Amante
Casa Azul



quarta-feira, agosto 27, 2025

Ainda a presença do Coral Divo Canto no Festival de Llangollen


No passado mês de julho, nas terras galesas, realizou-se o “Llangollen International Eisteddfod, considerado o maior festival cultural da Europa, com início em 1947. Curiosamente, nesse mesmo ano -e pela única vez - a organização convidou emigrantes portugueses a participar. Um grupo de pessoas do Porto alugou uma carrinha e viajou até àquele local para se juntar ao evento. Este festival tem levado à cidade centenas de milhares de pessoas ao longo das décadas, reunindo culturas e idiomas diferentes.

Em 2025, assinalou-se o 80.º aniversário das Nações Unidas e, como sempre, Llangollen celebrou a criatividade e a diversidade dos povos, mantendo-se firme na defesa da paz mundial.

É através da dança, do canto, da poesia e das artes criativas que as mensagens de fraternidade são transmitidas, tanto no palco principal como nos palcos secundários espalhados pelo recinto.

As apresentações foram memoráveis: grupos de crianças, jovens e adultos mostraram, em cada encenação, a importância da união e da paz entre os povos. Demonstraram que a paz mundial começa dentro de cada um de nós.

Foram quatro dias inspiradores e emocionantes, rodeados de homens e mulheres de diferentes cores, trajes garridos e idiomas próprios, todos unidos por um mesmo propósito: Deixem-nos viver em paz! Quem dera que todos os líderes mundiais assistissem a este festival, absorvessem estas mensagens e as pusessem em prática. Afinal, se fossem picados os 4.000 participantes, o sangue correria sempre da mesma cor.

O desfile pela cidade, onde 35 países mostraram a sua identidade através das suas bandeiras, fez-me perceber como Portugal continua a ser pequeno. Recordei as palavras da minha professora de inglês, no liceu, que dizia que, em Inglaterra, Portugal era apenas conhecido pela Amália e pelo Eusébio.

Ao gritar “Portugal!”, percebi que as pessoas associavam o nome ao Cristiano Ronaldo. Houve euforia e aplausos que me tocaram profundamente: senti-me pequenina no meio daquela imensidão, mas orgulhosamente portuguesa “à beira-mar plantada”.

Um dos momentos altos foi a atuação do Divo Canto, um grupo de 30 coralistas amadores de várias idades, que sacrificam horas de descanso semanais para aprender e ensaiar. Tiveram a ousadia de subir a um palco onde já cantaram Luciano Pavarotti (durante 30 anos consecutivos) e tantos outros músicos e compositores de renome.

Foi uma sensação enternecedora. Senti o peso da responsabilidade: tinha de dar o meu melhor depois de meses de ensaios, alguns deles realizados junto a antigas campas, com mosquitos a incomodar e a entrar pela boca sempre que a abria para cantar.

No imponente palco, diante de uma plateia de várias nacionalidades, a minha missão era cantar, transmitir paz e alegria e representar Portugal em sintonia com as vozes dos meus colegas.

De repente, vi uma bandeira portuguesa erguida pela comunidade lusa de Wrexham. Vieram apoiar-nos e gritar “Viva Portugal!”. As lágrimas caíram-me de alegria, pois ali estavam representados a minha família, marido, filhos, netos e todos os portugueses espalhados pelo mundo.

À boa maneira portuguesa, os nossos conterrâneos de Wrexham ainda prepararam e levaram um delicioso caldo verde, servido no recinto para nos aquecer o estômago. Gesto solidário e cheio de carinho! Também nos mostraram a sua cidade e organizaram surpresas, incluindo uma bela refeição no restaurante Vasco da Gama.

Tivemos ainda a honra de ser convidados a cantar no encerramento do festival, numa celebração dominical na igreja medieval de St. Collen’s Church, onde se agradeceu a Deus pelos compositores e músicos que transformam vidas através da união e da paz. A viúva de Luciano Pavarotti e o diretor do festival também marcaram presença.

Passados 78 anos, um grupo português voltou a pisar aquele palco. Isso só foi possível graças à coragem e dedicação de pessoas que se entregam de corpo e alma, abdicando de muito das suas vidas para concretizar momentos assim. O Divo Canto é privilegiado por ter quem o dirija, tanto na vertente artística como na organização.

O maestro Pedro Rodrigues, jovem trabalhador noutra área profissional, dedica os seus tempos livres à paixão pela música. Com calma e persistência, vai colocando partituras e melodias nas cabeças dos coralistas ... tarefa nada fácil!

Destaco também o presidente Eduardo Ferreira, homem de causas, que trabalha incansavelmente para atingir os objetivos do grupo, muitas vezes à custa da própria saúde.

Assim, o Divo Canto vai abrindo caminhos em terras distantes, experimentando outras culturas e formas de ver o mundo.

Importa sublinhar que todos os coralistas, direção e maestro pagam as suas próprias despesas de alimentação, estadia e viagem. Recebem alguns apoios, subsídios pontuais e verbas das vendas em festas, mas estão longe de cobrir os custos.

E que fique claro: isto não é um lamento, mas sim uma informação para os mais distraídos.

Saudade Lopes