Mostrar mensagens com a etiqueta escritores. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta escritores. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, setembro 22, 2025

Ferreira de Castro e Maria Lamas em Penacova


O escritor Ferreira de Castro terá mantido, entre 1930 e 1973 (um ano antes da sua morte) uma relação de "amizade amorosa" com a escritora e jornalista Maria Lamas. Foi público terem sido muito amigos.  

É o próprio neto desta, José Pereira Bastos, investigador e historiador, que admite que Maria Lamas e Ferreira de Castro tiveram um envolvimento amoroso forte, para além da amizade pública. 

Este dado pode não ter nada a ver com a presença, em datas diferentes, quer de um quer de outro, em Penacova. 

De acordo com notícia de 1932 (Notícias de Penacova) Maria Lamas esteve em Penacova de visita à sua prima Maria Lúcia Namorado, que como sabemos aqui viveu durante alguns anos. Por sua vez o mesmo jornal, uns bons anos mais tarde, refere que Ferreira de Castro permaneceu na vila, onde terá usufruido dos "bons ares" e escrito algumas páginas das suas obras. 

Duas personalidades marcantes da vida literária e jornalística do nosso país que, curiosamente, conheceram Penacova onde permaneceram algum tempo.  

Recortes do jornal Notícias de Penacova:



Notas biográficas

Maria Lamas (1893-1983) foi uma escritora, jornalista, tradutora e ativista feminista portuguesa, pioneira da imprensa feminina e figura proeminente na luta pela emancipação das mulheres e pelos direitos humanos em Portugal, especialmente durante a ditadura do Estado Novo. Nascida em Torres Novas, dedicou a sua vida à escrita e ao ativismo, sendo presa e exilada devido às suas convicções, e voltou a Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974, sendo homenageada diversas vezes. 

Carreira e Ativismo:

Jornalismo: Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais do país, dirigindo o suplemento "Modas e Bordados" da revista "O Século" e colaborando em diversas outras publicações. 
Ativismo Feminista: Em 1928, juntou-se ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), tornando-se sua presidente em 1945, posição que a levou a enfrentar a repressão do Estado Novo. 

Resistência à Ditadura: Participou ativamente em organizações antifascistas e campanhas políticas, o que resultou em perseguições e detenções pela PIDE. 

Exílio: Foi forçada a exilar-se em Paris em 1962, retornando a Portugal apenas após a Revolução dos Cravos. 

Obra e Legado:

Escrita: Autora de diversos géneros, incluindo poemas, crónicas, novelas e obras para crianças e mulheres. 

História das Mulheres: Foi uma investigadora pioneira e autodidata na História das Mulheres em Portugal, dedicando-se a recuperar e divulgar o seu papel na sociedade. 

Reconhecimento

Após o 25 de Abril, recebeu diversas homenagens, incluindo a Ordem da Liberdade (1980) e uma homenagem da Assembleia da República (1982). Maria Lamas é reconhecida como uma figura notável do século XX português e uma cidadã europeia que marcou o seu tempo pela sua inteligência, coragem e luta por um país mais justo e igualitário. 

Ferreira de Castro (1898-1974) foi um proeminente escritor e jornalista português, nascido em Ossela, Oliveira de Azeméis, conhecido pela sua obra de corte social realista, que aborda as questões dos desfavorecidos e da experiência da emigração, como em A Selva e Emigrantes. Após emigrar para o Brasil na infância, trabalhou numa floresta amazónica, experiência que inspirou A Selva. Após o regresso a Portugal, construiu uma carreira jornalística e literária, tornando-se um dos autores mais lidos e traduzidos, e um opositor do regime do Estado Novo. 

Primeiros Anos e Emigração

Nasceu a 24 de maio de 1898, em Ossela, Oliveira de Azeméis. 
Com doze anos, emigrou para o Brasil, onde viveu e trabalhou como seringueiro na Amazónia. 
Esta vivência na selva amazónica serviu de base ao seu mais famoso romance, A Selva, publicado em 1930. 

Carreira Literária e Jornalística

Começou a carreira na imprensa do Brasil, onde escreveu contos e crónicas, e fundou o jornal Portugal. 
Regressou a Portugal em 1919 e continuou o seu trabalho como jornalista, colaborando em jornais como O Século e A Batalha, e dirigindo jornais como O Diabo. Publicou o seu primeiro romance, Criminoso por Ambição, em 1916. Em 1928, lançou Emigrantes, um romance que o consagrou e marcou a transição para o neo-realismo na sua obra. Outras obras marcantes incluem Eternidade (1933), Terra Fria (1934) e A Lã e a Neve (1947). 

Legado e Reconhecimento

Tornou-se um dos autores portugueses mais lidos e aclamados em Portugal e no estrangeiro, com obras traduzidas para várias línguas. É considerado um dos pais do romance social-realista em Portugal, que se debruça sobre as questões do povo e das classes trabalhadoras. Foi proposto várias vezes para o Prémio Nobel de Literatura, embora tenha recusado a nomeação. Morreu no Porto a 29 de junho de 1974, e o seu corpo repousa na Serra de Sintra, conforme o seu desejo. 

domingo, janeiro 28, 2024

Encontro com a escritora Elisabete Pinho na Biblioteca Municipal



A escritora Elisabete Pinho esteve ontem na Biblioteca Municipal de Penacova. Além da especial referência ao seu mais recente romance, inspirado no antigo Hotel Palacete do Mondego, outrora Preventório, a autora falou também da sua experiência literária e do processo criativo.

O apontamento cultural contou com a presença da vice-presidente da Câmara Municipal de Penacova, Magda Rodrigues, que saudou a escritora e a felicitou pela sua já significativa obra.

Lamentando não ser possível no próprio hotel, Elisabete Pinho agradeceu a receptividade para ser apresentado na Biblioteca e confessou que alimentara o sonho, “o desejo secreto de poder apresentar o livro no local onde ele nasceu”.

Falando da sua trajectória literária, referiu que decidira “começar a escrever textos sem qualquer pretensão”, passando apenas para a escrita “aquilo que lhe ia na alma”. Entretanto um colega, poeta e escritor, lançou-lhe o desafiou para escrever algo mais estruturado. Depois de ler e “sem ela saber” enviou o original para algumas editoras, tendo, passado algum tempo, surgido o interesse em publicarem. “Assim em 2017 surge o primeiro livro, depois o segundo e o terceiro. Foi este 3º livro que realmente “fez pensar mesmo: é isto que quero começar a fazer!” O concurso para autores, que venceu, num universo de cerca de 250 trabalhos, foi, sem dúvida, um estímulo importante.

Sobre o mais recente trabalho O Pêndulo e a sua relação com o nosso concelho, Elisabete Pinho explicou como este romance nascera precisamente aqui em Penacova: “Encantei-me por este concelho quando vim aqui fazer uma visita há alguns anos. Estava na moda tirar fotos a locais abandonados e que tivessem a fama de assombrados”. Contou que ao pesquisar na Internet lhe tinha aparecido o Hotel Palacete do Mondego no Monte da Senhora da Guia, que antes tinha sido um Preventório. Além das fotos e das espreitadelas que deu àquele espaço abandonado, ficou encantada com “a vista fantástica sobre o Mondego” e por ela se “apaixonou”.

O impacto de tudo isto foi decisivo: “A partir daquele momento não me saía da cabeça a pergunta: como é que alguém abandona um local como este? Quem no seu juízo perfeito abandona assim um hotel destes, tão bonito, num sítio tão bonito? “

“E tudo começou a fazer sentido” – sublinhou - “ Não estava à procura de escrever nenhum livro mas o que é certo é que comecei logo a imaginar que aquele palco, aqueles corredores do refeitório, podiam ter sido palco de uma história de amor e de um drama familiar...”

Quem é Elisabete Pinho?



Podemos ler na badana de O Pêndulo: “Nasceu a 28 de abril de 1975, em Ovar. É licenciada em Direito. Estreou-se na literatura com Se houver uma próxima vez, em 2018, ao qual se seguiu A ampulheta, em 2019. Participou em diversas coletâneas e Antologias de Poesia. Em 2020, alcança o 2° lugar no XXI Concurso Literário Dr. João Isabel, com o poema “Escrito a Dois”. No mesmo ano, vence o 1° Concurso de Ficção Nacional Cordel d' Prata, com o romance Depois do Fim, galardoado também com o troféu Melhor Romance 2021, na 3ª Gala de Autores Cordel d' Prata. O Pêndulo é o seu quarto livro.“


Sinopse


Vejamos o texto da contracapa: “Quando Joaquina cai inanimada nas Festas de São Caetano, na aldeia de Telhado, as três pessoas que lhe são mais próximas não imaginam o que as espera. Joaquina deixou cinco envelopes para serem abertos após a leitura do seu testamento. Que segredos contarão? Porque não os revelou em vida? Artur, o seu afilhado, é um dos destinatários e a pessoa escolhida para entregar os restantes. Alice, a sua única filha, irá ter outras surpresas além de não ser a única herdeira. Violeta, a protegida de Joaquina, parece ser quem mais sabe e quem mais segredos guarda. Os outros dois destinatários envoltos em mistério. À medida que a verdade é revelada, Artur terá de escolher entre manter-se leal à sua madrinha ou poupar as pessoas que mais ama. Alice sentir-se-á um peão num jogo perverso. Violeta será consumida pela culpa. Todos irão descobrir que nenhum segredo deve impedir-nos de viver.”

***

E a tal pergunta teima em ressoar, também na nossa mente: “Quem no seu juízo perfeito abandona assim um hotel destes, tão bonito, num sítio tão bonito?”




Captura de écran em 28.1.2024