quarta-feira, novembro 27, 2024

Da minha janela: E como o Fundo da Vila renasce!



E como o Fundo da Vila renasce!

No dia em que início esta minha crónica, o meu velho coração está a transbordar de alegria.

Recebi uma fotografia do perímetro do Mirante, no Fundo da Vila, em Penacova, já sem o edifício do antigo hospital, que se encontrava numa degradação que me deixava entristecido, cada vez que lá passava ou que para lá olhava.

Efectivamente, nenhum Menino do Cruzeiro -com toda a carga emotiva que essa caracterização representa- podia tolerar o tempo, o modo e a incúria, que “conspurcava” perdoem-me a expressão, uma das paisagens mais belas do mundo.

Do mundo, repito!

Tenho escrito muito sobre o Fundo da Vila; o sítio onde fui uma criança feliz; onde passei o melhor tempo da minha vida; onde retornei -dando o exemplo prático de como bem elevar a minha terra- no caso com um investimento que orgulha a minha família toda, na recuperação/reconstrução da Casa Azul, local onde fixei residência, também para lá pagar uma carga grande de impostos, que nalguma coisa reverte para o nosso Município.

Fiz um poema que está publicado no meu Livro A Liberdade Actual, 35, pág. 88., onde “gritei”, registando “…Não chego a nenhuma conclusão, todavia / A não ser que se fez murchar este recanto na sua beleza / Com inação sucessiva que confronta a natureza / E comove a própria degradação…”.

Antes disso - publicado nos Livros Reflexos e Penacova Intemporal, 9, pág. 55 - diz o poema Cruzeiro de Penacova: “…Símbolo da nossa forte identidade / Quase milenar / Referência da nossa enorme capacidade/Para resistir /…Para não se deixar perder / Ou destruir”…

E, seria muito injusto da minha parte, não realçar hoje, aqui, “Da minha Janela” -onde via aquele “mamarracho triste”- que a sua demolição só foi possível pela persistência de um Menino do Cruzeiro, o Álvaro Coimbra” (que até foi o diseur do poema, no lançamento do Reflexos)!

Independentemente de “politiquices” eu gosto muito de reconhecer o que se faz bem, com tenacidade, com foco e, sobretudo, cumprindo o dever do que se traçou como objectivo; esperemos pela evolução…

Muito obrigado!

Luís Pais Amante


terça-feira, novembro 26, 2024

Notas breves para a história do Hospital da Misericórdia (I)

Em cima: construção original de inícios dos anos trinta; 
em baixo: após remodelação em 1961

A ideia de se construir um hospital em Penacova remonta aos inícios do século XX. Em 1901, respondendo a um repto do Jornal de Penacova, a comunidade emigrante  penacovense radicada na região de Campinas (Brasil), liderada por Álvaro Leitão, de Vila Nova, lançou uma campanha no sentido de angariar fundos para esse fim. No ano seguinte, no Pará, Abel Pinto Guedes lançou uma subscrição junto dos compatriotas emigrados. A imprensa da época refere ainda o apoio de António Pita e a oferta de um terreno por um anónimo. Para suporte institucional dessa obra havia Artur Leitão criado a Irmandade de Nossa Senhora da Guia, que para além da sua função religiosa, tinha como fim a criação e manutenção de um hospital. Falecido prematuramente não foi possível obter fundos e rendimentos suficientes. 

Cerca de quinze anos mais tarde, aquela aspiração volta ao de cima, com o legado de quinze contos feito por António Maria dos Santos (que também destinara, em testamento, uma verba para a Escola que se viria a chamar Escola Maria Máxima, em homenagem à sua mãe). Na mesma altura, Alípio Augusto dos Santos fez, igualmente,  um legado de dois mil escudos para uma futura unidade hospitalar.

Por volta de 1918 discute-se como aplicar aquelas verbas ao mesmo tempo que são feitos apelos à união da Câmara, das Juntas, das Irmandades, dos “Proprietários e Negociantes” no sentido de ser construído um edifício com alguma dimensão.

No entanto, só nos finais da década de vinte se começa a concretizar aquele propósito. Numa entrevista no Notícias de Penacova (1932) Luís Duarte Sereno, conta que verdadeiramente quem arrancou com as obras fora a Comissão Concelhia de Assistência, enquanto estava em organização a Misericórdia (1). De facto, a Irmandade de N. S. da Guia assume o estatuto de Misericórdia, tendo como Provedor Duarte Sereno. Contando também com a intervenção do Dr. Sales Guedes (2) o objectivo de criar o Hospital da Misericórdia vai ganhando forma. Conta-se que foi ele próprio que elaborou o projecto do edifício aproveitando as paredes da capela de Nª Sª da Guia, com excepção da frontaria. 

Aconteceu que, quando o edifício já estava bastante adiantada a construção, Bissaya Barreto foi convidado por Sales Guedes para visitar as obras, ficando segundo se consta, deveras “encantado” com o que via. Na sua mente germinava a ideia de construir na região centro uma casa para receber crianças pertencentes a famílias atingidas pela tuberculose. Passado pouco tempo a Junta Geral do Distrito a que presidia propõe à Misericórdia o seguinte: esta cederia à Junta Distrital o edifício em construção bem como o largo adjacente. Por sua vez, a Junta Distrital ficaria com o compromisso de apoiar a construção de um novo edifício hospitalar nas imediações e “subsidiar” o seu funcionamento. As obras contaram com o dinheiro do legado de António Maria dos Santos (15 000$00), bem como de outros legados, como o já referido de Alípio Santos e também de Manuel Lopes Serra (3 000$00) a que se juntaram 5 000$ de Evaristo Lopes Guimarães. Estas importâncias estavam na posse da Misericórdia de Coimbra e com a criação da Misericórdia em Penacova foram para esta transferidas.  

Em Janeiro de 1933 o Jornal de Penacova noticia a abertura para breve do Hospital (cuja construção havia sido "arrematada" por 71 000$00)  descrevendo o seu interior: enfermaria para mulheres com oito camas e um quarto de isolamento, outra sala idêntica para homens; sala de operações, dispensário, raios X, farmácia e laboratório; quartos particulares com casa de banho privativa, balneários públicos e alojamento para o pessoal. 

Para sustentar o funcionamento do hospital, a Misericórdia contava com: - apoio da Junta Geral do Distrito, nos termos acordados; - um subsídio anual de 10 000$00 da Câmara Municipal ; - Juntas de Freguesia, 3 000$00 destinados ao dispensário; 
- "parcos" rendimentos próprios da Misericórdia.

Poucos anos mais tarde, escreve o Dr. José Albino Ferreira: “O Castelo que fora de grande poder defensivo contra os Mouros e a capela de N. S. da Guia bom farol para os navegantes, deram lugar a novas fortalezas contra as doenças, especialmente a tuberculose”.

Em 1961 o Hospital, que se tornara exíguo e inadaptado às exigências da moderna cirurgia, teve obras de restauro e remodelação (sob alçada do empreiteiro Alípio Pereira, da Cheira) que foram solenemente inauguradas em 17 de Setembro. Nesta data foi também descerrada a lápide que deu o nome de Bissaya Barreto à rua em frente do Hospital e do Preventório.

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(1) A 2 de Fevereiro de 1928 reuniu a Irmandade de N. Sª da Guia para aprovar os estatutos que instituiriam a Misericórdia na vila de Penacova. Foram aprovados por unanimidade. Assinaram a acta o Juiz, Padre António Pinto e os seguintes Irmãos: Dr. Daniel Silva, Dr. Luís Duarte Sereno, Albino dos Santos Júnior, Joaquim Correia de Almeida Leitão, Joaquim Augusto de Moura Cabral e Gualter Pereira Viseu.

(2) Manuel Ferreira Sales Guedes foi Presidente da Câmara de Penacova de 5 de Novembro de 1936 até finais de 1937, sucedendo a José de Gouveia Leitão. Pertenceu à Mesa da Misericórdia, quando era Provedor o Dr. Luís Duarte Sereno. O seu mandato não foi mais longo porque entretanto saiu uma lei que proibia os Médicos Municipais, ou qualquer outro funcionário municipal, de ocupar a Presidência da Câmara. Sales Guedes era natural de Poiares (Régua).

David Almeida

Fonte: Patrimónios de Penacova – J. Leitão Couto e David Almeida, 2012








quarta-feira, novembro 20, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: o deslumbramento dos Telhados



O deslumbramento dos Telhados


Os Barcos Rabelos d’agora
E outros que giram borda fora
Passam a ponte junta à Alfândega
Subindo o Rio Douro
Já bem perto da Foz
A corrente fica forte
Quando passa na Ribeira
Outrora sem eira nem beira
Estará embriagada, talvez
Com o “éter” das marcas seculares

Que se viram pr’ali em sucessivos patamares

As gaivotas gritam bem alto
E querem passar o socalco
Dos Telhados desnivelados
Que se põem caprichados
Na beleza que nos apresentam
São milhões de milhões de telhas
Umas novas, outras já feitas velhas
Pela humidade a bailar
Trazida de perto do mar

Lá da Foz, agarrada a São Pedro da Afurada

É bonito o rodopio do Rio
Belo o ar tranquilo do casario
Encantadora a arquitectura com brio
Notável o entrosamento das Cidades
Apetecível o cheiro dos petiscos
Agradável o palato após provas
Inconfundível o casamento das casas
Tanto novas como velhas
Mas deslumbrante, mesmo são as telhas

Na sua função de dar cobertura à ação, em fusão

Dos negócios da modernidade
Envoltos na novidade calibrada
Que desponta a cada esquina
Muitos provocando o Norte da vaidade
São telhas de todos os tipos
Cobrem os telhados dos pobres e dos ricos
Telhas cerâmicas, telhas de betão, telhas de ardósia
Lisas, de capa e canal, romanas, de marselha e de encaixe
E a boa telha lusa-predominante-que ao olhar traz relaxe

Sobretudo quando, ao pôr do Sol, se reflectem no espelho d’água no Rio

Luís Pais Amante
A minha “vista” a partir do “The Yaetman Oporto Hotel”

domingo, novembro 17, 2024

Personalidades (7): Júlio dos Santos Ribeiro (1886-1974)


Júlio dos Santos Ribeiro, filho de João Bernardes Ribeiro, serralheiro, e de Balbina dos Santos, doméstica, naturais da freguesia de Travanca, nasceu no lugar da Portela no dia 4 de Julho de 1886.

Neto paterno de João Bernardes e Delfina dos Santos, e materno de José Alexandre e Ana dos Santos, foi baptizado na igreja paroquial de Travanca no dia 13 de Julho do referido ano, pelo Pároco “Encomendado” Bernardo José Maria da Fonseca.

Por ocasião da sua morte o jornal Notícias de Penacova (NP12 Jan 1974) escreveu que Júlio Ribeiro, “filho de gente pobre e humilde, cedo deixou a sua terra e partiu para terras do Brasil”.

Geralmente no mês de Agosto, por alturas da Festa de Nossa Senhora dos Remédios, por quem tinha grande devoção, vinha passar férias a Travanca.

Grande benemérito da freguesia, a ele se deve:

- o restauro interior e exterior da Igreja Paroquial, com douramento de todos os altares.
- o arranjo do adro, incluindo os muros de suporte.
- restauro da Capela de Nossa Senhora dos Remédios, igualmente com douramento do altar e aquisição de algumas novas imagens.
- arranjo do recinto desta capela
- a instalação do relógio na torre sineira da Igreja onde fora baptizado. A este propósito, refira-se que ainda hoje podemos ler na placa que se encontra na torre o seguinte:

“AO BENEMÉRITO JÚLIO DOS SANTOS RIBEIRO QUE OFERECEU A ESTA IGREJA O ACTUAL RELÓGIO / DEDICA A FREGUESIA ESTA LÁPIDE COMO DEMONSTRAÇÃO DE AGRADECIMENTO E AINDA COMO MEMÓRIA DE SUA ESPOSA D. RITA AMÁLIA RIBEIRO / 1-1-1954”

Também o autor da crónica do NP “Casos e Coisas”, que assinava “Manuel do Freixo”, na edição de 23 de Janeiro de 1954, enaltece e louva Júlio dos Santos Ribeiro. Sob o título “Vamos a Travanca” sublinha-se o relógio da torre instalado pelo Natal de 1953 e que terá custado 18 contos (18 000$00), incluíndo os trabalhos de assentamento.

Outros gestos de benemerência:

- donativo de 50 mil escudos para apoio à electrificação da freguesia.
- oferta de avultadas verbas para as pessoas mais necessitadas.

“Dos mais ricos aos mais pobres, dos mais velhos aos mais novos, lhe devem alguma coisa de importante”- salientava o jornal Notícias de Penacova aquando de uma das suas vindas a Portugal.

Quando em inícios de Agosto de 1958 foi inaugurada a Luz Eléctrica, o NP escreveu o seguinte:

Vem Sua Ex.ª, de propósito do Brasil a esta sua querida terra onde nasceu, foi baptizado e viveu até aos 14 anos, para assistir à inauguração da luz eléctrica e às festas de Nossa Senhora dos Remédios. […] Travanca agradece e louva os seus beneméritos sem os quais continuaria às escuras.”

O autor da crónica do NP “Casos e Coisas”, que assinava “Manuel do Freixo”, na edição de 23 de Janeiro de 1954, enaltece e louva Júlio dos Santos Ribeiro. Sob o título “Vamos a Travanca” sublinha-se a instalação pelo Natal de 1953, do relógio da torre, que terá custado 18 contos (18 000$00), incluindo os trabalhos de assentamento.

Júlio dos Santos Ribeiro faleceu no Brasil nos primeiros dias do ano de 1974.
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Observação:

Por falar em Júlio dos Santos Ribeiro e do seu decisivo apoio no restauro de bens da Igreja, refira-se o contributo financeiro de outro travanquense em relação à Capela de S. João (Covais) e à electrificação da freguesia. Serafim Ferreira de Almeida, radicado no Brasil há 40 anos, contribui com cerca de 40 mil escudos para a reparação daquela capela. Obras que também contaram com o apoio de João de Almeida Coimbra e de Alberto de Almeida Coimbra. Para a electrificação da paróquia Serafim Ferreira de Almeida contribuiu com 5 mil escudos.

sábado, novembro 16, 2024

Reis Torgal: livro 𝙑𝙞𝙜𝙞𝙖𝙨 𝙙𝙖 𝙄𝙣𝙦𝙪𝙞𝙨𝙞çã𝙤 premiado


A Academia Portuguesa da História (APH) premeia, anualmente, 10 trabalhos publicados nesta área do saber. A lista dos 10 premiados (2024) acaba de ser divulgada. Entre eles, destacamos o Professor Doutor Luís Reis Torgal (1) que venceu o Prémio Joaquim Veríssimo Serrão / Fundação Engenheiro António de Almeida, pela obra Vigias da Inquisição, trabalho que analisa o processo “paradigmático” de Manuel Fernandes Vila Real.(2) 

Os restantes premiados foram:

Prémio Lusitânia: Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975 – Episódios menos conhecidos, de Irene Flunser Pimentel. 

Prémio Gulbenkian/História da Presença de Portugal no Mundo: Parecer e Ser: Excursus Vital de D. António Paes Godinho, Bispo de Nanquim, de José António Falcão

Prémio Gulbenkian/História Moderna e Contemporânea: O Bobo e o Alquimista: Deformidade Física e Moral na Corte de D. João III,  de David Soares. 

Prémio Gulbenkian/História da Europa Agostinho Barbosa. L’attività spirituale del giurista e sacerdote portoghese nella Villa e Corte di Madrid, de Massimo Bergonzini.

Prémio Augusto Botelho da Costa Veiga: Segredos da Beja Romana, de José d’Encarnação. 

Prémio EMEL (Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa): Altares da Memória: o advento das micro-histórias na periferia das periferias, de Assunção Melo, 

Prémio CTT/D. Manuel I “Direitos Humanos em Portugal: História e Utopia – Das Origens à Época Contemporânea” Susana Mourato Alves-Jesus 

Prémio Câmara de Oeiras/Octávio da Veiga Ferreira: A Metalurgia do Povoado de Pragança, Cadaval, no Contexto da Idade do Bronze – I Idade do Ferro na Estremadura, de Ana Ávila de Melo.

O Prémio Santa Casa da Misericórdia de Braga/Dr. João Lobo, Amélia de Leuchtenberg: Imperatriz do Brasil, Duquesa de Bragança, de Cláudia Thomé Witte.

Da lista de galardões apenas aguarda deliberação o Prémio Pina Manique, que distingue obras sobre o período do Iluminismo à Revolução Liberal.

A entrega dos prémios será no próximo dia 4 de Dezembro, pelas 15:00, no Palácio dos Lilases, em Lisboa, numa sessão que evocará Luís de Camões, onde a historiadora Isabel Almeida proferirá uma oração de sapiência intitulada “Camões e a Incerteza”.

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(1) Luís Reis Torgal é professor catedrático aposentado da Universidade de Coimbra e membro fundador do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra (CEIS20). Publicou diversas obras e artigos sobre vários temas de várias épocas, entre elas o tempo do Estado Novo. Neste âmbito destaca-se a obra Estados Novos, Estado Novo (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2009). 

(2) Sinopse (Bertrand): "Depois de experiências como militar e financista, Vila Real partiu para França em 1638, onde teve um papel importante em apoio às embaixadas de Portugal e desenvolveu um labor intenso como escritor ao serviço da Restauração.

Colecionador de livros, Vila Real regressou a Portugal em 1649, na comitiva do conde da Vidigueira, trazendo consigo um conjunto de obras, algumas delas proibidas pela Censura. O rei D. João IV, que terá concedido a Vila Real o título de «real cavaleiro fidalgo» da sua Casa, estava para o enviar em nova missão, em reconhecimento pelos serviços distintos que prestara em França ao serviço de Portugal, quando o Santo Ofício o prendeu por ser um «dos que leem e retêm livros de hereges ou de alguma ímpia seita».

A Inquisição, «Estado dentro do Estado», tinha como alvo preferencial os cristãos-novos e os judeus, mas estendia também as suas garras a todas as «heterodoxias» e a todos os «maus costumes». A prisão de Vila Real revela as lutas entre os poderes, da Coroa e da Igreja, e mostra como era impossível ter-se uma «outra cultura» em Portugal, sobretudo se ela afirmasse ou fizesse sobressair ideias que fossem contrárias à fé católica oficial.

E nem os cristãos-novos que apoiaram, economicamente e através da ação diplomática, a Coroa portuguesa escapavam ao castigo e execução pela Inquisição por, alegada ou efetivamente, «judaizarem», como sucedeu no processo paradigmático de Manuel Fernandes Vila Real. "


quarta-feira, novembro 13, 2024

ℙ𝕖𝕟𝕒𝕔𝕠𝕧𝕒 𝕕𝕠𝕤 𝕒𝕟𝕠𝕤 𝟠𝟘: 𝕚𝕞𝕒𝕘𝕖𝕟𝕤 𝕕𝕖 𝕦𝕞 𝕔𝕒𝕣𝕥𝕒𝕫 𝕥𝕦𝕣í𝕤𝕥𝕚𝕔𝕠





Terá sido na primeira metade da década de oitenta que o Município publicou um cartaz turístico mostrando fotos de alguns sítios icónicos do concelho, tendo como pano de fundo a Vila de Penacova. 

Uma observação atenta leva-nos, por exemplo, a uma época em que o "Terreiro" de atraente tinha pouco, em que a zona de Entre-Penedos ainda mal sonhava ser algum dia rasgada pelo IP3. Nem a Pista de Pesca, na margem esquerda, nem a empresa "Água das Caldas de Penacova", na margem direita, faziam parte da humanizada paisagem.

Muitas outras alterações na fisionomia poderiam ser apontadas. Exercício esse que deixamos para os leitores mais cuiriosos...











quarta-feira, novembro 06, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: Um Mundo de pernas pró ar


Estamos a aproximarmo-nos rapidamente do Natal.

O Natal é um momento marcante em grande parte do mundo, que evoca a vida de Cristo em Fé, mas também o necessário apoio aos mais desfavorecidos.

Os mais desfavorecidos, nesta hora, crescem exponencialmente neste mundo triste cheio de ganância.

Ganância misturada com arrogância e com prepotência e todos com violência e morte…

No post Primeira Guerra, fruto do trabalho de Pessoas de bem, Humanistas e Políticos de primeira água, que conseguiram sentar-se à mesa e discutir as diferenças e o modo de se relacionarem com regras, criou-se a SDN - Sociedade das Nações (também conhecida como Liga das Nações), em 1919, como primeira organização intergovernamental, que começou a sua actividade de manter a paz e a segurança entre os países-membros.

Em 1926 a SDN tinha 58 países-membros; mas vicissitudes diversas ocorridas em 1931 (invasão da Manchúria pelo Japão) 1935 (invasão da Abissínia pela Itália e reintrodução do serviço militar na Alemanha de Hitler que (em 1936) ocupa a zona desmilitarizada do Reno), a qual a SDN não conseguiu evitar, fez com que reunisse pela última vez em Dezembro de 1939, sendo dissolvida em 1946.

Antes disso (24 de Outubro de 1945, em São Francisco, nos EUA) por outros Homens e Políticos de bem, daquela qualidade deveras superior, que já não existe, foi criada a ONU – Organização das Nações Unidas -actualmente com 193 Estados Membros- para promover a cooperação internacional.

O foco foi impedir outro conflito como a Segunda Guerra Mundial.

A ONU tem sede em Nova Iorque e extraterritorialidade com escritórios em Geneva, Nairóbi e Viena.

Os objectivos da ONU eram:

- manter a segurança e a paz mundial;
- promover os direitos humanos;
- auxiliar no desenvolvimento económico e no progresso social;
- proteger o meio ambiente;
- e prover ajuda humanitária em casos de fome, desastres naturais e conflitos armados.

A Organização evoluiu, desmesuradamente, a partir da leitura extensiva da Carta das Nações Unidas (o Tratado fundamento), tendo como Órgãos principais a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, O Conselho Económico e Social, o Conselho de Direitos Humanos, o Secretariado e o Tribunal Internacional de Justiça.

E como Agências, a OMS – Organização Mundial de Saúde, o PAM – Programa Alimentar Mundial, a Unicef, a Unesco, a OIT – Organização Internacional do Trabalho e a ACNUR.

O Secretário Geral é, desde 2017, o português António Guterres, figura democrática de Estatuto Mundial.

Aqui chegados -e conhecendo pessoalmente António Guterres, por quem tenho enorme estima pessoal- é-me muito difícil entender as suas últimas opções. Não estão lá questões de Fé, nem daquela astúcia fina que lhe reconhecia.

Efectivamente, na minha visão -exigente- não se pode conviver com as suspeitas sistemáticas de corrupção e negociatas e violações, sobre as extravagâncias existentes, sobre o aburguesamento evidenciado nas benesses, sobre o encobrimento de suspeitas relativas aos que se abrigam e trabalham por ali, sobre a estratégia que se vai seguindo e, muito principalmente, sobre a política errática nas intervenções, nas opções e nos convívios, mormente perante violações estrondosas das decisões em vigor.

Todas estas questões somadas -que confrontam os objectivos acima- não libertam fundos para a missão que, hoje, devia constituir “o foco principal” da ONU, qual seja a de “promover ajuda humanitária em casos de fome (que não pára de crescer) desastres naturais (que atingem foros de desequilíbrio absoluto) conflitos armados (que criam o caos e se multiplicam pelo mundo, sem intervenção firme da Organização) com aumento exponencial de Refugiados a morrer.

Justamente a área “menina dos olhos” de Guterres, que foi Alto Comissário da ACNUR, Agência para os Refugiados, cuja restruturação promoveu com enorme êxito, saliento.

O Mundo está de pernas pró ar! As eleições americanas demonstram isso mesmo. A desgraça humana avança sem controle em situações de terreno pobre, de exploração sem escrúpulos do totalitarismo sangrento, de refúgio necessário e de apoio urgente à sobrevivência, com acolhimento incluído!

Os financiamentos de toda esta “máquina imensa” começaram a escassear e vão estar em causa a breve trecho, paralisando-a, como não é difícil prever!

E António Guterres [o Homem da independência de Timor que não gosta de pântanos e de que nós devemos ter muito orgulho pelo que fez de meritório durante a sua vida] já não é mais parte da solução, infelizmente para o Mundo, para ele próprio, para a sua Família e para o nosso País.

Por vezes é de bom tom saber sair de cena pela porta grande! E essa via in casu está a estreitar, dramaticamente…empurrada por Israel, que hoje obteve via verde para a “matança”!

Luís Pais Amante