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sábado, setembro 07, 2024

𝐍𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐞 𝐞𝐭𝐧𝐨𝐠𝐫á𝐟𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨 𝕄𝕠𝕟𝕥'𝔸𝕝𝕥𝕠 (3)



Texto do Professor Nelson Correia Borges (1977)

Vai longe já o colorido pitoresco de outrora das romarias da região. Às carroças e carros de bois enfeitados com verdura e fitas sucedeu o automóvel trivial; os altifalantes, berrando aos quatro ventos o último êxito da pop music, expulsaram as loas à santinha e os cantares regionais acompanhados pelo “ferum-ferum” da viola toeira. Coisas irreversíveis da nossa civilização. Já Gil Vicente se queixava em 1519:

“Em Portugal vi eu já
Em cada casa pandeiro,
E gaita em cada palheiro;
E de vinte anos a cá
Não há gaita nem gaiteiro.”

E também, anais recentemente (1902), exclamava Trindade Coelho: “Agora parece que vai aquilo tudo por água abaixo Deram as tricanas em meter na dança coisas de sala, marcadas em francês»

Ora, das romarias da região, uma das mais !concorridas era a da Senhora do Mont' Alto de Penacova. Povoavam-se as veredas das encostas no dia 8 ide Setembro, também conhecido por Dia das Sete Senhoras. Ao terreiro da capela afluía de todos os lados uma multidão de romeiros, ansiosos por cultuar a Mãe de Deus e também por conviver na mais sã alegria e descansar das lides da custosa lavoura ou dos palitos.

Entoavam-se loas ingénuas e dançava-se o vira. ou o malhão, ou escutava-se o desafio dos mais afamados cantadores.

Ainda andam na outiva algumas quadras alusivas. Em Lorvão recolhemos as que a seguir se arquivam.

A primeira tem o sabor das coisas reencontradas, depois de há muito perdidas :

A Senhora do Mont’Alto
Anda no monte sem roca,
Para acabar uma meada
Falta-lhe uma maçaroca.

As coisas simples do seu viver são transportadas pelo povo para o objecto da sua poesia, não sem um certo optimismo que parece também ter-se evolado na azáfama da vida moderna. Repare-se na carinhosa intimidade que se desprende dos seguintes versos:

A Senhora do Mont'Alto
Lá vai pelo monte acima,
Leva a cestinha no braço
Parra fazer a vindima.

A Senhora do Mont'Alto
Mandou-me agora chamar,
Que tem o seu manto roto,
Quer que eu lho vá remendar!

Se em Setembro é mês de vindimas, também é mudança de ritmo de vida quotidiana: começa o serão e acaba a sesta. A isso alude com um certo chiste a seguinte quadra:

Senhora do Mont'Alto
Eu não volto à vossa festa
Que me tirais a merenda
E mai-la hora da sesta!

Quadras como estas haverá muitas mais. Valia a pena anotá-las todas para um cancioneiro. São tesouros de arte popular e expoentes de uma cultura que aos poucos se vai perdendo. (...)

Nos carreiros dos montes cresce hoje a erva e o mato, mas a Senhora do Mont'Alto, apesar de toda a agitada vida moderna, avessa a sacrifícios, ainda tem os seus romeiros fiéis, por isso...continuaremos.

Correia Borges
NP 16 DE SETEMBRO DE 1977

quinta-feira, setembro 05, 2024

𝐍𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐞 𝐞𝐭𝐧𝐨𝐠𝐫á𝐟𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨 𝕄𝕠𝕟𝕥'𝔸𝕝𝕥𝕠 (2)


TEXTO DE NELSON CORREIA BORGES (1977)

O Mont'Alto avulta na paisagem, a norte da vila de Penacova, como formidável mole naturalmente defensável, ideal para a instalação de um castro em tempos proto-históricos, mas relegado para plano secundário devido ao alto valor estratégico do local onde depois se ergueu o castelo roqueiro, sobre o Mondego.

As ribeiras de Penacova e de Selga delimitam as suas vertentes escarpadas, onde trepam carreiros milenários que conduzem ao santuário, trilhados quase apenas pelos romeiros da Senhora. O acesso é, no entanto, também possível a carros, não sem algumas dificuldades, utilizando a estrada que conduz do Casal à Chã; a partir daí o caminho é florestal.

Cobre as encostas denso manto de pinheiros, eucaliptos e acácias, afogando a capelinha, ocultando-a às vistas das gentes da vila e roubando até, lá no cimo do monte, um dos maiores prazeres que se pode ter quando se lhe alcança o deliciar-se a gente com a dilatada paisagem circundante.

Poder-se-ia admirar, cá mais em baixo, o rio, a ponte, a vila, as várzeas e as povoações reclinadas nas encostas. Assim, restam-nos algumas frestas do Mondego, por entre as ramagens, umas quantas oliveiras no terreiro em volta da capela, um altaneiro cedro do Buçaco e uma figueira mirrada e, claro, a capelinha da Senhora do Mont'Alto.

A capelinha é um encanto, com aquela dignidade sóbria que só as ermidinhas portuguesas têm. A construção é seiscentista, muito simples. O corpo da capela tem um espaço interior de 8,13 x 4,75 m e a capela mór 3,3 x 3,03 m. A sacristia, pequena, encosta-se à ilharga esquerda da capela-mór. Rasgam-se na capela duas portas de verga curva, uma lateral e a outra axial, sob o alpendre, ladeado por duas janelas gradeadas, para espreitar o orago.

A obra não devia ter ficado um primor de segurança, pois toda a capela se encontra travejada e pos-teriormente foram feitos lateralmente à frente dois muros a servir de contrafortes. Enfim, construção modesta, feita pelo povo e onde os senhores e donatários da vila não deviam ter metido prego nem estopa.

Em toda a volta da capelinha e alpendre há um banco corrido, de pedra e cimento, para os romeiros se sentarem a saborear os seus farnéis. O alpendre que mais encanto dá à paisagem fica em frente da porta principal, definindo um espaço interior de 5,7 x 4,4 m. Tem seis colunas toscanas com 1,85 m de altura suportando o telhado de forma piramidal. Estas assentam por seu turno num pequeno muro com 0,8 m de altura.

Ontem como hoje, os visitantes continuam a comprazer-se em deixar o seu escrito pelos locais por onde passam, comportamento que, com mais ou menos vandalismo ou oportunidade, requer uma explicação psicológica que não está ao nosso alcance. Abundam aqui as inscrições nas colunas e nos muros. Cerca de 15.000 anos antes de Cristo já o homem pintava e imprimia a sua mão em grutas, como a de Cargas, nos Altos Pirinéus. Pois aqui viemos também encontrar no solo do alpendre três pares de mãos impressas no cimento enquanto fresco. «Nada de novo sob o sol».

Outras inscrições no mesmo local dão-nos conta de obras de conservação levadas a cabo em 1958 e 1964.

Correia Borges
NP 14/10/77



terça-feira, setembro 03, 2024

𝐍𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐞 𝐞𝐭𝐧𝐨𝐠𝐫á𝐟𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨 𝕄𝕠𝕟𝕥'𝔸𝕝𝕥𝕠 (1)


É já no próximo dia 8 que se realiza a tradicional Romaria do Monte Alto. Republicamos hoje um precioso texto do nosso conterrâneo Professor Doutor Nelson Correia Borges publicado em 1977 no Notícias de Penacova:

A Senhora do Mont'Alto

O culto à Senhora do Mont'Alto vem de muito longe no tempo. No exterior da capela, porém, nada nos autoriza a recuar além do séc. XVIII. Lembremos que em 1780 se faziam em Lorvão as varandas do claustro, cujas colunas podem muito bem ter servido de modelo às do alpendre da capela. Mas no interior há elementos mais antigos.

Vejamos o que há ali digno de atenção. Anotaremos primeiramente a pia da água benta, de calcário, bem lavrada, em forma de concha. O corpo da capela é separado da capela-mor por um arco triunfal de volta inteira, sem interesse. Na capela-mor se encontra um retábulo singelo, albergando a imagem da padroeira. Compõe-se de duas colunas marmoreadas, de capitéis compósitos, sustentando um entablamento simples sobre que se erguem duas volutas e, ao centro, uma glória solar com quatro cabeças aladas de anjos. Lateralmente há duas edículas com remate rococó; numa delas um pequeno Ecce Homo. Tudo finais do séc. XVIII.

A imagem da Senhora tem de altura 70 cm. Trata-se de uma escultura de madeira, regular, dos começos do barroco. A peanha é formada por três querubins alados que afloram sob as pregas do vestido. Envolve-se a imagem em largo manto do pregas esvoaçantes e sustém nos braços o Menino. O rito dos panejamentos é sublinhado pela posição do Menino que se inclina à direita. O rosto da Senhora ó bem modelado, emoldurado por farta cabeleira apartada ao meio e caindo aos lados em caracóis. Em suma, uma imagem da Virgem na verdade acolhedora, apesar do seu reduzido tamanho, pelo encanto do seu sorriso o pelo Menino que abre os braços para os romeiros.

O altar assenta sobre uma base de arenito, vendo-se também no chão algumas pedras de calcário, bem aparelhadas, que bem poderiam ter pertencido a outra capela mais antiga. Aliás o vestígio mais antigo que ali encontrámos foi um azulejo sevilhano de cresta, do lado esquerdo do altar, que bem poderá ser do séc. XV ou XVI.

No lado direito, encontra-se também no chão o que resta de uma inscrição sepulcral, em tijolo, que ostenta a seguinte legenda:

PECADOR
DE MT EAL
EIS DEIA 663

É evidente que se trata de um fragmento da inscrição. Talvez a segunda linha possa ler-se DE M (ON) T (E R) EAL; o resto é impossível. Tem, porém, um elemento importante: a data de 1663, ano em que teria falecido a pessoa que ali foi sepultada, que atesta a existência do santuário naquela época.

Em 1721 a Academia Real da História pediu informações de todas as paróquias para a diocese de Coimbra, para servirem de base a uma história eclesiástica. O Cabido da Sé de Coimbra enviou aos respectivos párocos os questionários em Abril desse ano. Por motivos que se desconhecem o original das informações ficou em Coimbra, seguindo apenas para Lisboa um apanhado. Isto foi uma sorte porque os elementos enviados para a capital perderam-se no terramoto de 1755 e os originais permanecem a bom recato no Arquivo da Universidade de Coimbra.

As informações relativas à freguesia de Penacova têm data de 18 de Maio de 1721 e foram fornecidas pelo padre Simão de Moraes da Serra, À sua letra miúda e certinha, mas difícil, vamos buscar algumas informações sobre a Senhora do Mont'Alto, ainda inéditas.

Ao tempo o único habitante do Mont'Alto era um eremitão que, no dizer do P. Simão de Moraes assistia a Nossa Senhora.

Que o culto vinha já de muito longe é-nos relatado através de um uso, hoje perdido mas que bem merece ser anotado para o estudo da etnografia da região. Nesse tempo «os moradores de Vila de Botão, e os de S. João de Figueira» todos os anos vinham em procissão até à Senhora do Mont'Alto, em cumprimento do um «voto antiquíssimo», trazendo as suas ofertas em tabuleiros ou à cabeça de donzelas, «como tradição antiga».

A informação mais extraordinária, que aliás nos é dada sob curiosa forma dubidativa, é a que a seguir se transcrevo em leitura corrente, para maior comodidade:

«Ao pé deste Monte, contam os naturais, que nascem umas pedras redondas como seixos, as quais partidas se lhe acha dentro outra pedrinha do tamanho e redondeza de uma noz, que com pouca violência se desfaz em pó, e este aplicado à enfermidade da asma é singular remédio, e tanto que por singular, e único de muitas partes deste Reino são procuradas, e como se fossem milagrosas saram os asmáticos e ficam de todo livres».

Como se faria aplicação desse pó, não o diz o P. Simão. Ignoramos também se haverá alguém que tenha actualmente conhecimento destas pedras. Confessamos a nossa grande curiosidade sobre o assunto.

Para já, o que fica exposto é tudo quanto conseguimos indagar e observar sobre a Senhora do Mont'Alto. Se alguém puder dar mais alguma achega será óptimo para o estudo e divulgação deste santuário mariano de tantas tradições que o povo de Penacova deve proteger, valorizar e transformar num ponto de atracção do concelho, tal como em tempos idos.

Correia Borges

in jornal Notícias de Penacova de 23 /12 /1977


quarta-feira, setembro 07, 2022

Lugares, monumentos e sítios de Penacova (8): Mont'Alto



No dia 8 de Setembro, data da grande Romaria, o “Dia das Sete Senhoras” ou de Nossa Senhora da Natividade, muitas famílias rumavam (e rumam ainda hoje) ao Mont’Alto, movidos pela Fé, mas também pelo Convívio. Tudo convida a estender a toalha e partilhar os deliciosos comes e bebes que neste dia não faltam. 

No livro “Coimbra e Região” (1987) Nelson Correia Borges faz referência a esta “capelinha” que “é um encanto na sua singeleza de ermidinha bem portuguesa”.  A Romaria da Senhora do Mont’Alto era uma das mais concorridas da região. As "Informações Paroquiais" de 1721 referem que os moradores da Vila do Botão e de S. João de Figueira (de Lorvão), vinham todos os anos em procissão (…) em cumprimento de “um voto antiquíssimo” trazendo as ofertas em tabuleiros. 

Aquele documento do séc. XVIII fala também da existência na encosta do monte de umas “pedras redondas” que tinham propriedade milagrosas.

O local está também associado à Batalha do Bussaco, dado que o general inglês Arthur Wellesley, Duque de Wellington, terá mandado colocar algumas peças de artilharia junto à capela, ponto estratégico militar.

Do alto do monte, quando os eucaliptos ainda não dominavam as encostas, gozava-se dum soberbo panorama sobre o vale do Mondego.  

Em 1994 foi projectada a construção, no recinto da capela, de um miradouro de 10 metros de altura, encimado por um cruzeiro, obra que certamente permitiria admirar a vastidão da paisagem circundante. Ainda chegou a ser lançada uma campanha de angariação de fundos, mas a iniciativa não foi avante. Quem sabe...não fosse, afinal, má ideia construir uns passadiços ao longo da encosta, retomando a ideia dos antigos carreiros,  culminando com um miradouro acima da copa das árvores circundantes...






sábado, setembro 08, 2018

Penacova e a Senhora do Mont'Alto

Gravura publicada no século passado
 na imprensa local
O nascimento de Nossa Senhora ou a Natividade de Maria é uma festa litúrgica celebrada no dia 8 de Setembro, precisamente nove meses depois da festa da Imaculada Conceição. 

Muitas vilas e cidades de Portugal têm neste dia o seu feriado municipal, associado a importantes festas marianas correspondendo a uma grande diversidade de invocações. Aquando da instituição do feriado municipal de Penacova, as opiniões dividiram-se entre o dia 8 de Setembro e o dia 17 de Julho dada a importância que a romaria do Mont'Alto assume para as gentes da região. Com feriado ou sem feriado a tradição mantém-se. Se coincidir com um sábado ou domingo, tanto melhor. É o que acontece hoje. A romaria promete. 

Recordemos o que escreveu em 1987 o Professor Nelson Correia Borges na obra “Coimbra e Região” sobre a Senhora do Mont’Alto: 

“O Mont’Alto avulta na paisagem, a norte de Penacova, como formidável mole defensável, uma das derradeiras manifestações da Serra do Buçaco. As ribeiras de Penacova e de Selga delimitam as suas vertentes escarpadas, onde trepam carreiros milenários que conduzem ao santuário da Senhora. O acesso é, no entanto, também possível a carros, não sem algumas dificuldades. A estrada conduz-nos do Casal à Chã; a partir daí o caminho é florestal. 

O excelente miradouro é prejudicado pelo arvoredo circundante. A capelinha, todavia, é um encanto, na sua singeleza de ermidinha bem portuguesa. Antecede-a um alpendre de seis colunas toscanas do século XVII e em toda a volta tem um banco corrido, para os romeiros se sentarem a saborear os farnéis. 

Ocorria aqui, em tempos idos, uma das mais concorridas romarias da região. Segundo as informações paroquiais de 1721, nesse tempo “os moradores da Vila de Botão e de S. João de Figueira” vinham todos os anos em procissão à Senhora do Mont’Alto, em cumprimento de um “voto antiquíssimo”, trazendo as suas ofertas em tabuleiros à cabeça de donzelas “ como tradição antiga”. 

Hoje a festa continua a realizar-se no dia 8 de Setembro, a que o povo dá o nome de Dia das Sete Senhoras, mas os romeiros já não vêm de tão longe, nem cantam no terreiro da capela as modas de outros tempos: 
A senhora do Mont’Alto
Mandou-me agora chamar,
Que tem o seu manto roto,
Que que eu lho vá remendar! 
A senhora do Mont’Alto
Lá vai pelo monte acima,
Leva a cestinha no braço
Para Fazer a vindima. 
Se nesta época se preparam as vindimas, também se faz a mudança de ritmo da vida quotidiana. Agora, muda-se a hora dos relógios. Não vão lá muitos anos, começava o serão e acabava a sesta. Tudo isto se pode comungar com a entidade que se cultua, em tocante familiaridade. 
Ó senhora do Mont’Alto,
Eu não volto à vossa festa,
Que me tirais a merenda
E mai-la hora da sesta! 
O único habitante do Mont’Alto foi, em outros tempos, um ermitão que tomava conta da capela e a franqueava aos devotos. As mesmas informações paroquiais de 1721 dão a propósito a seguinte nota curiosíssima: 
Fotos de Varela Pècurto, inícios dos anos oitenta

“Ao pé deste monte, contam os naturais, que nascem umas pedras redondas como seixos, as quais partidas se lhe acha dentro outra pedrinha do tamanho e redondeza de uma noz, que com pouca violência se desfaz em pó, e este aplicado à enfermidade da asma é singular remédio, e tanto que por ser singular e único de muitas partes deste Reino são procuradas, e como se fossem milagrosas saram os asmáticos, e ficam de todo livres” 

Como se aplicava o pó não o diz o padre informador, porém, atendendo mais ao valor estratégico do monte do que às suas virtudes salutares, o general Wellington mandou colocar junto à capela algumas peças de artilharia, por ocasião da batalha do Buçaco. 

Hoje em dia já ninguém se lembra dos episódios da batalha, mas quem subir ao santuário pelos caminhos tortuosos pode encontra ainda alguns dos tais seixos e , se quiser, verificar a veracidade da informação… "

In Novos Guias de Portugal, Coimbra e Região - Nelson Correia Borges – Editorial Presença, 1987 

UM RECORTE DE 1912...


OUTRO RECORTE: AGORA DE 1920 (JP)


quarta-feira, setembro 13, 2017

Poetas penacovenses (III): Mont’Alto - memórias poéticas de Luís Amante

Foto de Luís Amante, publicada no
Penacova Actual
Mont’Alto


É para a colina que nos encima

Que corremos hoje

E a festa que ali se manifesta

Dar-nos-á prazer e recordação, depois

Levamos farnel às costas ou à cabeça

Água, vinho a granel, broa e panados

Enrolados em papel

Chouriço, febras para assar, tremoços

Bacalhau em pastel

Limonada

Laranjada

Tudo misturado com boa disposição

As moças, no caminho,

Vão “agarradas“ às saias das mães

Mas há outras que lhes fogem e ficam mais à frente

… De repente

Os rapazes aproveitam para as tentar seduzir

Elas ficam tão nervosas que só lhes dá para rir

O nosso Mont’Alto é uma romaria cristã

Centenária

O local é ermo durante quase todo o ano

Só se lhe conhece um vizinho sonhador

Chamado Aviador

Mas o Jovem não se esquece

Do tempo que ali se aquece na manifestação pagã

As toalhas à chegada são bem estendidas no chão

Mais à sombra ou mais ao sol pr’a passar a Procissão

Esta decorre alinhada logo a seguir à missa

Que por vezes é cantada pelo coro sem preguiça

As vendas são apregoadas

As fogaças leiloadas

Os donativos cumpridos

Até que o baile começa antes que ali anoiteça

E todos se vão embora

Ano, após ano, religioso ou profano

Esta vai sendo a nossa boa sina

enquanto Povo

Manter lá alto, na ermida, as tradições

Cozinhar - e regar - cá em baixo as ilusões

Porque isso nos ensina!


Luís Pais Amante
Telheiras Residence
8 Set 17, 19:30

Lembrando uma romaria popular a que ia antes de vir

para Lisboa, agora recordada pelo Prof. David Almeida, que muito estimo.

quinta-feira, setembro 08, 2016

A Senhora do Mont'Alto e as Pedras Milagrosas

Capela do Mont'Alto - Penacova
[PenacovaOnline_2016]
Houve mesmo quem defendesse que o feriado municipal deveria ser no dia 8 de Setembro dada a importância que a romaria do Mont'Alto assume para as gentes de Penacova. Tal pretensão não vingou mas isso não impede que muitos continuem a subir o monte sobranceiro à vila,  onde apesar de escondida pela invasão dos eucaliptos se encontra a muito antiga capela que acolhe a imagem de Nossa Senhora da Natividade.
Muitos autores têm vindo, ao longo dos tempos, a escrever sobre este santuário mariano. Em 1711, Frei Agostinho de Santa Maria e, mais perto de nós, o Professor Nelson Correia Borges. Do livro Coimbra e Região (Novos Guias de Portugal, da Editorial Presença):

“A capelinha é um encanto na sua singeleza de ermidinha bem portuguesa. Antecede-a um alpendre de seis colunas toscanas do século XVII e em toda a volta tem um banco corrido, para os romeiros se sentarem a saborear os farnéis.” 

De acordo com as informações paroquiais de 1721, nesse tempo «os moradores da Vila de Botão e os de S. João de Figueira vinham todos os anos em procissão à Senhora do Mont’Alto em cumprimento de um voto antiquíssimo, trazendo as suas ofertas em tabuleiros à cabeça de donzelas."

Diz-nos ainda este historiador penacovense que, nos referidos documentos de 1721, podemos ler o seguinte:

  “ao pé do monte, contam os naturais, nascem umas pedras redondas como seixos, as quais partidas, se lhe acha dentro outra pedrinha do tamanho e redondeza de uma noz, que com pouca violência se desfaz em pó, e este aplicado à enfermidade da asma é singular remédio e tanto que por singular é único de muitas partes deste Reino são procuradas, e como se fossem milagrosas saram os asmáticos e ficam de novo livres." 

Como se aplicava o pó não o diz o Padre informador…mas quem subir ao santuário pelos caminhos tortuosos pode encontrar ainda alguns dos tais seixos…” - escrevia Nelson Correia Borges em 1987 na referida obra, acrescentando:

“Hoje a festa continua a realizar-se (…) mas os romeiros já não vêm de longe, nem cantam no terreiro da capela as modas de outros tempos:


A Senhora do Mont’Alto
Mandou-me agora chamar.
Que tinha o seu manto roto,
Quer que eu lho vá remendar!

A senhora do Mont’Alto
Lá vai pelo monte acima,
Leva a cestinha no braço
Para fazer a vindima.

Ó Senhora do Mont’Alto,
eu não volto à vossa festa,
Que me tirais a merenda
E mai-la hora da sesta!



terça-feira, setembro 08, 2015

Marcas do progresso chegaram ao Mont'Alto...em 1947

A romaria ao Mont'Alto continua a marcar a vida de Penacova num misto de Fé,  Tradição e Convívio. Muitas "histórias" vividas ao longo dos tempos podiam ser recordadas...

Nos finais do século XIX o percurso era feito a pé e os carros de bois transportavam os farnéis para aliviar o peso da caminhada:

"O Joaquim Catarino e o Benêjo andavam a trote a juntar os farnéis para os carros de bois da D. Maria da Pureza enquanto na casa da D. Joaquina de Melo e da D. Natividade se fazia outro tanto. Só pelas onze horas é que deslizava a caravana com os carros cobertos de verdura para ser mais fresco." 
                                                                                 Recorte de jornal

Outros tempos...

Mais tarde aparecem os automóveis, as camionetas, as motorizadas...
Quem se lembra do ano em que pela primeira vez subiu ao "Monte Alto" uma camioneta... ( a "Vagarosa Ligeira" ?) e uma moto?
Terá sido em 1947... E felizmente o fotógrafo estava lá!

A "triunfal" chegada da "camionete" do
Sr. Heliodoro do Casal
No ano seguinte alguém recordou em verso tão importante acontecimento:

TRANSFORMADO EM CARRO DE ASSALTO
FOI A PRIMEIRA VEZ UMA CAMIONETE
SEM ESTRADA À Sª DO MONTE ALTO
EM SETEMBRO DE MIL NOVECENTOS
E QUARENTA E SETE

ISTO COM GRANDE ALEGRIA
SEM PENSAR NO GASTO DA MOTA
FOI AO MONTE ALTO NO MESMO DIA
SEVERINO FIGUEIREDO DA MOTA

HOJE NOVECENTOS E QUARENTA E OITO
QUE JÁ VAMOS SEM SUSTO
IMITAI ESTES BEM FOITO
PORQUE JÁ VAMOS SEM CUSTO

AVANTE PROGRESSO

Nota: agradecemos ao Sr. José Alberto Costa a cedência da imagem bem como do recorte com as quadras alusivas.

quarta-feira, setembro 07, 2011

8 de Setembro: Senhora do Mont' Alto em Penacova

Fotografia recente da Capela

ROMARIA À NOSSA SENHORA DO MONT'ALTO

A 8 de Setembro era tradição ir a pé à Sr.ª do Mont'Alto. Com o cesto do farnel, onde não faltava a broa de milho e a cabaça cheia de bom vinho, lá se iam cantando versos dedicados a Nª Sr.ª: "A Senhora do Mont`Alto / Mandou-me agora chamar / Que tinha o seu manto roto / Que lhe o fosse arremendar".
Actualmente, os penacovenses continuam a ir ao Mont`Alto no dia 8 de Setembro. De manhã, o tempo é de fé, assiste-se à missa e à procissão. À tarde é tempo de farra. No arraial as concertinas e as flautas foram substituídas por instrumentos mais modernos e o baile começa.
in website da Câmara Municipal
Recortes...

1941