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sexta-feira, agosto 09, 2024

Personalidades (6): Alípio de Sousa Borges (1932-1997)


Alípio Sousa Borges, filho de António Borges e de Bigadaila de Jesus Sousa, nasceu em Lorvão no dia 26 de Agosto de 1932, mas desde tenra idade veio para Penacova, onde casou e faleceu em Dezembro de 1997.

Electricista de profissão, trabalhou na Companhia Eléctrica das Beiras (que mais tarde viria a integrar o grupo EDP), tendo passado também pela Câmara Municipal no início da sua carreira.

Apesar de bom profissional, foi no campo da Música e do Teatro de Revista que se notabilizou. Em Penacova deixou a sua marca indelével. Também fora do concelho, se afirmou como credenciado instrumentista.

É através da entrevista que deu ao jornal Nova Esperança, em Junho de 1986, que nos chegam alguns pormenores da sua vida artística.

Conta Alípio Borges que sempre gostara de música - em especial da harmonia, mais do que propriamente dos aspectos melódicos - e que já uma sua bisavó fora uma mulher voltada para esta arte.

Recorda igualmente que convivera com Raimunda de Carvalho, um nome grande da música, e que desde muito cedo tivera o privilégio de lhe mudar as folhas da partitura quando ela tocava piano. Com esta exímia cultora da arte musical e com o Mestre Eliseu, de Coimbra, aprendeu solfejo durante a adolescência e juventude (1944-49). Estudou também teoria musical, harmonia e composição. Com Alípio Costa Alvarinhas Miguel (Catarino) aprendeu saxofone, entrando pela sua mão para a Filarmónica. Tocou também saxofone-alto na Orquestra do Clube Desportivo Penacovense, dirigido pelo Mestre Eliseu. Por este nome importante do panorama musical conimbricense foi também convidado, já com carteira de músico, para fazer parte da Orquestra da FNAT (instituição que deu origem ao INATEL). Músico multifacetado passou por muitos Grupos de Baile, entre os quais “Os Alegres” e o afamado “Ases do Ritmo”. Foi ainda, durante muitos anos, Mestre das Filarmónicas de Penacova e de S. Pedro de Alva.

Outra faceta de Alípio Borges e que marcou gerações de penacovenses foi o teatro. Ao Nova Esperança contou que se devera à acção de Raimunda Martins de Carvalho, enquanto dinamizadora do Grupo Orfeónico Católico Penacovense, bem como ao Padre Firmino Carvalhais, ao cenógrafo Pepe Iglésias[1] e ao Mestre Eliseu, no Grupo de Variedades da FNAT, a sua entrada no mundo do teatro de revista que culminaria com o Grupo de Teatro de Penacova, onde, como referiu foi "actor amador, electricista, carpinteiro de cena, músico”. Enquanto criador dos textos, poeta[2], actor e músico (autor e executante), prestou um inestimável serviço à cultura do nosso concelho. Na entrevista ao NE, apesar de ter “absoluto conhecimento dos seus limites” e ter “pena de muitas vezes não ter alcançado os objectivos”, reconheceu que fizera “alguma coisa pela cultura nesta terra”.

O Grupo de Teatro e Variedades da Casa do Povo de Penacova apresentou em 2019 e 2020, em vários locais do concelho, o espectáculo “Recordar é Viver”, inspirado na obra de Alípio Sousa Borges. Além de recuperar textos e músicas do Mestre também, ao nível da cenografia, foram utilizados alguns trabalhos do início da década de cinquenta do século passado.

No campo da intervenção social, foi Presidente da Junta de Freguesia de Penacova nos anos 60 e durante muitos anos pertenceu aos Bombeiros Voluntários de Penacova, onde foi membro da Direcção e Ajudante de Comando do Quadro Honorário.

David Almeida
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[1] Fundador do Grupo de Teatro “Os Rouxinóis”, fundado em 1948 na Anadia, por José Luís Iglésias, também conhecido por Zeca Iglésias, de seu nome completo, José Luís Fernandes Llano Iglesias.

[2] Ao leme da Barca Serrana/À vara, a remo ou à vela/Fosse ele, noite ou fosse dia/Guiava-se à sua boa estrela/Chamada Senhora da Guia

sexta-feira, julho 05, 2019

A família Iglésias e os cenários do Grupo de Teatro da Casa do Povo


O Grupo de Teatro e Variedades da Casa do Povo de Penacova apresentou em Março passado o espectáculo “Recordar é Viver”, inspirado na obra de Alípio Sousa Borges. No dia 20 de Julho vai, novamente, ser apresentado ao público penacovense.
Além de recuperar textos e músicas do Mestre Alípio Borges também, ao nível da cenografia, foram utilizados alguns trabalhos do início da década de cinquenta do século passado. Concretamente dois grandes painéis, representando a Igreja Matriz e a Ponte de Penacova. Trabalhos que logo numa primeira observação indiciam mão de artista. No entanto, passados cerca de setenta anos, já se torna difícil saber a sua autoria. Diz-se que teria sido alguém da Anadia de apelido Iglésias. Dado que se trata de um trabalho em tela com evidente qualidade artística, considerámos que seria pertinente ir mais além no esclarecimento dessa questão.
Foi quando nos recordámos de uma entrevista que o Sr. Alípio Borges deu ao jornal Nova Esperança. E ao reler esse texto, cruzámo-nos com uma passagem que nos poderá levar à descoberta do autor daqueles cenários. Conta Alípio Borges que aprendera muito sobre “os segredos” do teatro não só com a D. Raimunda de Carvalho, à volta do Grupo Orfeónico Católico Penacovense, mas também com o Padre Firmino Carvalhais, com o “cenógrafo Pepe Iglésias” e com o Prof. Eliseu, no Grupo de Variedades da FNAT de Coimbra.
Cá está o apelido Iglésias. Procurando indagar na Anadia, foi fácil chegar ao célebre Grupo de Teatro “Os Rouxinóis”, nada mais nada menos que fundado em 1948 por José Luís Iglésias, também conhecido por Zeca Iglésias, de seu nome completo, José Luís Fernandes Llano Iglesias. Em 2017 foi apresentada na Assembleia Municipal da Anadia uma proposta no sentido de atribuir ao Cineteatro o nome de Cineteatro Mestre José Iglésias, músico, compositor “verdadeiro animador cultural”. Sabe-se que foi desenhador tipógrafo, deixando “a sua marca artística nos rótulos das garrafas de espumante da Bairrada e nas mesas do antigo Café Central”.
German Iglésias, pintor Galego,
pai do autor dos cenários
Podemos então afirmar, desde já, que o autor dos cenários é o Mestre José Iglésias? Ainda não. É que Alípio Borges fala no cenógrafo Pepe Iglésias. Qual dos três irmãos? Germano José Ignácio Iglésias (1909-1971), José Fernandes Iglésias (1913-1965) ou José Luís Fernandes Llano Iglésias (1924-2005)? Como sabemos, o hipocorístico de José, em espanhol, é Pepe. É sabido também que todos eles tinham grande vocação para a pintura, já que, como veremos, eram filhos de um pintor espanhol. Todos eles terão trabalhado com o pai no restauro da capela dos Passos de Ovar. Temos a informação que o mais versátil dos irmãos (pintor, cenógrafo, executante de violino) era o José Luís. Mas, fica a dúvida. A qual deles se referia Alípio Borges? Ao José, ou ao José Luís? Na verdade, foi o José Luís que em 1948 veio viver para a Anadia e também nesta vila da Bairrada os cenários dos irmãos Iglésias ganharam fama...
Resta dizer então de quem eram filhos. O pai, German Iglésias, nascera em Ferrol (norte da Galiza) em 1884. Morreu em Penafiel em 1955. Veio para Portugal por volta de 1912. Formado em Belas Artes na Academia de San Fernando (Madrid) foi colega do futuro chefe espanhol, Francisco Franco, de quem era conterrâneo. A actividade artística da família Iglésias passou por Ovar, Penafiel e Anadia.  Também no mundo do teatro amador. Enquanto autores e actores e na qualidade de encenadores e cenógrafos. A sua dinâmica cultural, que terá influenciado Alípio Borges, afirmou-se também na criação e pintura de grandes e deslumbrantes cenários.  Por essas terras ainda perduram algumas das suas  obras. E, curiosamente, também em Penacova.