O Grupo de Teatro e Variedades da
Casa do Povo de Penacova apresentou em Março passado o espectáculo “Recordar é
Viver”, inspirado na obra de Alípio Sousa Borges. No dia 20 de Julho vai, novamente,
ser apresentado ao público penacovense.
Além de recuperar textos e
músicas do Mestre Alípio Borges também, ao nível da cenografia, foram utilizados
alguns trabalhos do início da década de cinquenta do século passado.
Concretamente dois grandes painéis, representando a Igreja Matriz e a Ponte de
Penacova. Trabalhos que logo numa primeira observação indiciam mão de artista. No
entanto, passados cerca de setenta anos, já se torna difícil saber a sua
autoria. Diz-se que teria sido alguém da Anadia de apelido Iglésias. Dado que
se trata de um trabalho em tela com evidente qualidade artística, considerámos
que seria pertinente ir mais além no esclarecimento dessa questão.
Foi quando nos recordámos de uma
entrevista que o Sr. Alípio Borges deu ao jornal Nova Esperança. E ao reler
esse texto, cruzámo-nos com uma passagem que nos poderá levar à descoberta do autor
daqueles cenários. Conta Alípio Borges que aprendera muito sobre “os segredos”
do teatro não só com a D. Raimunda de Carvalho, à volta do Grupo Orfeónico
Católico Penacovense, mas também com o Padre Firmino Carvalhais, com o “cenógrafo
Pepe Iglésias” e com o Prof. Eliseu, no Grupo de Variedades da FNAT de Coimbra.
Cá está o apelido Iglésias. Procurando
indagar na Anadia, foi fácil chegar ao célebre Grupo de Teatro “Os Rouxinóis”,
nada mais nada menos que fundado em 1948 por José Luís Iglésias, também
conhecido por Zeca Iglésias, de seu nome completo, José Luís Fernandes Llano
Iglesias. Em 2017 foi apresentada na Assembleia Municipal da Anadia uma proposta
no sentido de atribuir ao Cineteatro o nome de Cineteatro Mestre José Iglésias,
músico, compositor “verdadeiro animador cultural”. Sabe-se que foi desenhador tipógrafo,
deixando “a sua marca artística nos rótulos das garrafas de espumante da
Bairrada e nas mesas do antigo Café Central”.
German Iglésias, pintor Galego, pai do autor dos cenários |
Resta dizer então de quem eram
filhos. O pai, German Iglésias, nascera em Ferrol (norte da Galiza) em 1884.
Morreu em Penafiel em 1955. Veio para Portugal por volta de 1912. Formado em
Belas Artes na Academia de San Fernando (Madrid) foi colega do futuro chefe
espanhol, Francisco Franco, de quem era conterrâneo. A actividade artística da
família Iglésias passou por Ovar, Penafiel e Anadia. Também no mundo do teatro amador. Enquanto autores
e actores e na qualidade de encenadores e cenógrafos. A sua dinâmica cultural,
que terá influenciado Alípio Borges, afirmou-se também na criação e pintura
de grandes e deslumbrantes cenários. Por essas
terras ainda perduram algumas das suas obras. E, curiosamente, também em Penacova.
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