Registo de Baptismo de António José de Almeida |
“Pelas nove horas da noite”- refere o registo de baptismo – do dia 17 do mês de Julho de 1866, no lugar de Vale da Vinha, freguesia de S. Pedro de Alva, nasceu António José de Almeida. Frequentou o ensino primário na sede da freguesia – Farinha Podre - tendo como professor, João Gama Correia da Cunha, que o acompanhará ao longo da sua vida de estudante em Coimbra. Quando em 1890, António José de Almeida se encontrava preso por crime de abuso de liberdade de imprensa, na sequência do artigo “Bragança, o Último”, publicado na folha académica Ultimatum, João Gama escreveu no jornal conimbricense “A Oficina” uma carta em apoio do seu antigo pupilo onde dizia que havia muito a esperar da “ilustração e boa vontade” daquele “rapaz” pois ''homens como ele” não apareciam todos os dias.
Possivelmente, as primeiras influências republicanas
dever-se-ão àquele professor das primeiras letras, que era republicano
convicto, bem como a outras personalidades daquela freguesia. Não de seu pai,
pois, José António de Almeida só aderiu ao Partido Republicano no dia em que o
filho entrou na cadeia e quando já era presidente da Câmara de Penacova.
A par da militância republicana em Coimbra, António José de
Almeida concluiu o curso de Medicina em 1895. Partiu para S. Tomé no ano
seguinte, onde exerceu a profissão de médico.
Regressou a Lisboa em 1903 e ainda nesse ano iniciou uma viagem de estudo que se estendeu até
Março de 1904, passando por França, Itália, Suíça e Holanda.
Em 1906 integrou o Directório do Partido Republicano
Português. Neste ano, foram eleitos os
primeiros deputados republicanos: António José de Almeida, Afonso Costa,
Alexandre Braga e João de Menezes. Em 28 de Janeiro de 1908, na sequência de uma tentativa de
golpe de Estado, foi preso, Em Abril desse ano o Partido Republicano conseguiu eleger
sete membros para a Câmara dos Deputados, entre eles António José de Almeida.
Em Abril do não seguinte , no congresso daquele partido e por indicação da
Carbonária assumiu a direcção civil do
Comité Revolucionário.
António José de Almeida continuou a marcar presença em muitos
dos comícios que se foram realizando por todo o país. Viseu no dia 8 de Março
de 1908 e Tábua no ano seguinte. Também no dia 1 de Agosto de 1909 que a S.
Pedro de Alva acorreram milhares de pessoas: 3000, segundo o Jornal de Penacova,
4000 de acordo com notícia de O Poiarense. Foi a primeira (e única
vez) que António José de Almeida
discursou . No discurso que proferiu, fez questão de esclarecer que “veio falar
à sua terra porque cá o chamaram.” Acentuou que não vinha “pedir nem votos, nem
influências, nem importância” pois “nada precisava da República, como nada
aceitava da Monarquia.” Vinha sim “junto dos homens da sua terra, para os
ajudar a redimir e salvar”, apresentando-se como “um combatente que vem
oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço.” No mesmo dia foi inaugurado o Centro Republicano de S. Pedro
de Alva. António José de Almeida, a dois meses do 5 de Outubro, reafirmou que
era preciso acabar com a ideia de que o
Partido Republicano não tinha força, e que se impunha uma reação ''não só pelas palavras mas também pelas
armas.''
Proclamada a República, António José de Almeida integrou o
Governo Provisório, assumindo a Pasta de Ministro do Interior, cargo que
desempenhará até ao dia 3 de Setembro de 1911. Ainda neste ano, verifica-se a
cisão do Partido Republicano. Democráticos (liderados por Afonso Costa),
Evolucionistas (liderados por António José de Almeida) e Unionistas (liderados
por Brito Camacho) irão, até 1919, ocupar o espectro político republicano.
Com a criação do Partido Evolucionista em 1913 a região das
Beiras, que já não era indiferente a António José de Almeida, aderiu
significativamente, em especial os concelhos pertencentes ao Círculo Eleitoral
de Arganil (Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Lousã, Oliveira do Hospital,
Pampilhosa da Serra, Penacova, Poiares e Tábua).
A carreira política de António José de Almeida registará um
novo capítulo em 1916. No contexto da I Guerra Mundial, assumirá as funções de
Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) (15 de Março de 1916) e de Ministro das Colónias no Governo da
“União Sagrada”, formado por Evolucionistas e por Democráticos.
Em 1919, foi eleito Presidente da República. Apesar de ter
enfrentado um dos períodos “mais trágicos da República”, foi o único a cumprir,
entre 1910 e 1926, integralmente os quatro anos de mandato presidencial. No
período que vai de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923, António José de
Almeida, além de muitos outros contratempos, terá que “lidar” com dezassete
Governos e terá que enfrentar os trágicos acontecimentos da “noite sangrenta”
de Outubro de 1921. No entanto, o sucesso da travessia aérea Lisboa-Rio de
Janeiro e, pouco depois, o momento “glorioso” e “triunfal” da sua Visita
Presidencial ao Brasil, nos finais do Verão de 1922, serão acontecimentos
positivos que marcarão o seu mandato.
É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”.
É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”.
Vitimado pela doença, morreu em Lisboa no dia 31 de Outubro
de 1929, com 63 anos.
Em 5 de Outubro de 1976 foi inaugurado na vila de Penacova
um busto em sua memória, obra escultórica do Mestre Cabral Antunes. Outro acto
de homenagem foi a instituição do dia 17 de Julho como Feriado Municipal de
Penacova, por deliberação da Assembleia Municipal (28 de Maio de 1976). E, em
1997, no dia 5 de Outubro, foi inaugurada uma estátua em S. Pedro de Alva, sede
da freguesia da sua naturalidade.
David Almeida
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