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segunda-feira, dezembro 02, 2024

Notas breves para a história do Hospital da Misericórdia (II)


Inauguração das obras de remodelação e ampliação do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Penacova em 17 de Setembro de 1961


A reportagem do Notícias de Penacova:

"O cenário é de festa. No Terreiro e por todos os recantos onde se podiam arrumar canos eles lá estavam. Os restantes espaços eram para pessoais. Junto ao Hospital, enorme multidão esperava as autoridades convidadas. Substituindo o Sr. Arcebispo esteve presente e procedeu à bênção do belo estabelecimento hospitalar S. Ex.ª Rev.ª o Sr. D. Manuel de Jesus Pereira. Em representação do Senhor Ministro das Obras Públicas o sr. Dr. Coreolano Ferreira, Director-Geral dos Estabelecimentos Hospitalares, o Sr. Governador Civil, que cortou a fita simbólica, cuja tesoura lhe foi oferecida -pela graciosa filhinha do Sr. Provedor da Santa Casa da Misericórdia, sr. Dr. Augusto Leitão, tendo aberto as portas o Sr. Dr. Artur Soares Coimbra, médico hospitalar.

Estivaram presentes os Srs. Comandante Distrital da Legião Portuguesa, Comandante Distrital da Guarda Nacional Republicana, Sr. Capitão Fernando de Oliveira Leite, o Sr. Comandante da Policia de Segurança Pública, o Sr. Dr. Santos Bessa, Deputado da Nação Sr. Dr. Augusto Simões, Rev.º Arcipreste David Marques, de S. Pedro de Alva, Sr. Dr. Pimentel. Dr. António Honório e Dr. Namora e muitíssimas personalidades de destaque, cujos nomes nos não foi possível colher.

Após a bênção foram as instalações visitadas pelos convidados e por todo o povo que o não tinha já feito. Também a Capela de Nossa Senhora da Guia, Padroeira da Santa Casa da Misericórdia e em comunicação com o Hospital, foi visitada, ficando todos muito bem impressionados com a singeleza mas graciosidade do templo, como impressão igual ficou aliás de toda a construção hospitalar.

Estão de parabéns os incensáveis Provedor e Vice-Provedor bem como todos os que generosamente contribuíram para obra tão útil como necessária, tanta ao pobre como ao rico, mas de modo especial ao pobre.

NOS PAÇOS DO CONCELHO

No salão de festas dos Paços do Concelho foram recebidas todas as pessoas convidadas para a solene festa de inauguração do restaurado estabelecimento hospitalar e bem assim o descerramento de uma placa com o nome do jubilado Professor Doutor Bissaya Barreto, que foi dado à Avenida da frente do Hospital e Preventório.

Presidiu o Sr. Governador Civil que era Ladeado pelo Sr. Presidente da União Nacional do Distrito de Coimbra, Dr. Santos Bessa, pelo Representante do Senhor Ministro da Saúde e Assistência, sr. Dr. Coreleano Ferreira. Pelo Delegado do Instituto Nacional do Trabalho de Coimbra pelo Sr. Dr. Pimentel. Tinha lugar de destaque o Sr. D. Manuel de Jesus Pereira que substituia o Sr. Arcebispo. Também ali se encontravam os presidentes das Câmaras da Coimbra, Arganil, Poiares, Mira, Soure, Mortágua e outros concelhos que não conseguimos identificar, os membros da Santa Casa da Misericórdia, os Vereadores da Câmara com o Sr. Presidente.

Em nome do Sr. Engenheiro Horácio de Moura foi o Sr. Dr. Álvaro Ribeiro dando a palavra aos vários oradores inscritos.

Em primeiro lugar falou o sr. Dr. Augusto Leitão que historiou as fases e dificuldades da reconstrução do Hospital e das dificuldades que surgem da sua manutenção se faltar o auxilio e generosidade de todos.

O Sr. Fernando de Almeida historia a fundação da Misericórdia e do seu Hospital que seria o actual Preventório mas que por razões que explicou foi adido à Junta de Província da Beira Litoral a pedido do eminente Prof. Doutor Bissaya Barreto, surgindo ao lado aquele que a actual ampliação veio substituir.

Fala o sr. Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro que agradece a presença de tantas altas personalidades para acompanharem Penacova nesta hora de júbilo e refere nos termos mais o elogiosos a figura do devotado homem à causa da criança e da mulher que é o Sr. Doutor Bissaya Barreto a quem o Município homenageia consagrando-lhe a mais bela avenida de Penacova que é a do lado Sul do Preventório e do Hospital, saldando assim uma dívida que sobre ele pesava.

Fala o Sr. Dr. Pimentel que referindo-se aos dois acontecimentos do dia convida à união em volta do Estado para vencermos as vivas dificuldades da hora presente e
podermos continuar nesta obra de progresso que se iniciou há três dezenas de anos.

O Sr. Doutor Santos Bessa faz uma descrição magistral do grande homem que bem conhece e da sua larga obra – Prof. Doutor Bissaya Barreto.

Finalmente o representante do Sr. Ministro da Saúde e Assistência, foca o grande papel das Misericórdias e, dentro destas, dos hospitais e salienta que não bastam edifícios e camas e aparelhos indispensáveis. É preciso cooperar nessa grande obra em que está empenhado o Ministério a que pertence mas que só por si não pode sustentar. É preciso que todos ajudem na medida do possível.

Ao encerrar a sessão o Sr. Governador Civil prestou também homenagem ao Sr. Dr. Bissaya Barreto, felicitando a Mesa da Misericórdia pela sua acção e agradeceu a presença do representante do Sr. Ministro da Saúde e a do Sr. Bispo, dando a sessão por terminada."

A imprensa local não deixou também de enaltecer “o bom povo do concelho de Penacova que tão generosamente através dos Cortejos de Oferendas, contribuiu para o Hospital admirável" que era inaugurado” e igualmente a “tenacidade invulgar dos Provedor, Vice-Provedor, Secretário, Tesoureiro e Vogal da Santa Casa, respectivamente, Dr. Augusto Leitão, Fernando de Almeida, Álvaro Alberto dos Santos, Laurindo da Cunha Martins e Manuel Lopes Ferreira”, não esquecendo a “generosidade do Comendador Abel Rodrigues da Costa”.


O PROGRAMA publicitado foi o seguinte:

ÀS 14 HORAS - Concentração das Filarmónicas e Orquestras em frente dos Paços do Concelho e início da tarde desportiva que constava de: corridas de bicicleta em estrada, corridas de saco, pé coxinho, ovos, cântaros, negativas de bicicletes, etc., etc.
ÀS 17 HORAS - Chegada do Ex.mo Governador Civil e outras altas individualidades aos Paços do Concelho.
ÀS 17,15 HORAS - Descerramento da placa toponímica da Avenida Professor Doutor Bissaia Barreto.
ÀS 17,30 HORAS - Inauguraçáo do Hospital e sessão solene.
ÀS 21 HORAS - Festival no Parque Municipal com a exibição do Rancho Folclórico “Corações Unidos”, da Venda Nova de Poiares. Esplanadas, pistas de baile, barracas de chá, etc., etc...

terça-feira, novembro 26, 2024

Notas breves para a história do Hospital da Misericórdia (I)

Em cima: construção original de inícios dos anos trinta; 
em baixo: após remodelação em 1961

A ideia de se construir um hospital em Penacova remonta aos inícios do século XX. Em 1901, respondendo a um repto do Jornal de Penacova, a comunidade emigrante  penacovense radicada na região de Campinas (Brasil), liderada por Álvaro Leitão, de Vila Nova, lançou uma campanha no sentido de angariar fundos para esse fim. No ano seguinte, no Pará, Abel Pinto Guedes lançou uma subscrição junto dos compatriotas emigrados. A imprensa da época refere ainda o apoio de António Pita e a oferta de um terreno por um anónimo. Para suporte institucional dessa obra havia Artur Leitão criado a Irmandade de Nossa Senhora da Guia, que para além da sua função religiosa, tinha como fim a criação e manutenção de um hospital. Falecido prematuramente não foi possível obter fundos e rendimentos suficientes. 

Cerca de quinze anos mais tarde, aquela aspiração volta ao de cima, com o legado de quinze contos feito por António Maria dos Santos (que também destinara, em testamento, uma verba para a Escola que se viria a chamar Escola Maria Máxima, em homenagem à sua mãe). Na mesma altura, Alípio Augusto dos Santos fez, igualmente,  um legado de dois mil escudos para uma futura unidade hospitalar.

Por volta de 1918 discute-se como aplicar aquelas verbas ao mesmo tempo que são feitos apelos à união da Câmara, das Juntas, das Irmandades, dos “Proprietários e Negociantes” no sentido de ser construído um edifício com alguma dimensão.

No entanto, só nos finais da década de vinte se começa a concretizar aquele propósito. Numa entrevista no Notícias de Penacova (1932) Luís Duarte Sereno, conta que verdadeiramente quem arrancou com as obras fora a Comissão Concelhia de Assistência, enquanto estava em organização a Misericórdia (1). De facto, a Irmandade de N. S. da Guia assume o estatuto de Misericórdia, tendo como Provedor Duarte Sereno. Contando também com a intervenção do Dr. Sales Guedes (2) o objectivo de criar o Hospital da Misericórdia vai ganhando forma. Conta-se que foi ele próprio que elaborou o projecto do edifício aproveitando as paredes da capela de Nª Sª da Guia, com excepção da frontaria. 

Aconteceu que, quando o edifício já estava bastante adiantada a construção, Bissaya Barreto foi convidado por Sales Guedes para visitar as obras, ficando segundo se consta, deveras “encantado” com o que via. Na sua mente germinava a ideia de construir na região centro uma casa para receber crianças pertencentes a famílias atingidas pela tuberculose. Passado pouco tempo a Junta Geral do Distrito a que presidia propõe à Misericórdia o seguinte: esta cederia à Junta Distrital o edifício em construção bem como o largo adjacente. Por sua vez, a Junta Distrital ficaria com o compromisso de apoiar a construção de um novo edifício hospitalar nas imediações e “subsidiar” o seu funcionamento. As obras contaram com o dinheiro do legado de António Maria dos Santos (15 000$00), bem como de outros legados, como o já referido de Alípio Santos e também de Manuel Lopes Serra (3 000$00) a que se juntaram 5 000$ de Evaristo Lopes Guimarães. Estas importâncias estavam na posse da Misericórdia de Coimbra e com a criação da Misericórdia em Penacova foram para esta transferidas.  

Em Janeiro de 1933 o Jornal de Penacova noticia a abertura para breve do Hospital (cuja construção havia sido "arrematada" por 71 000$00)  descrevendo o seu interior: enfermaria para mulheres com oito camas e um quarto de isolamento, outra sala idêntica para homens; sala de operações, dispensário, raios X, farmácia e laboratório; quartos particulares com casa de banho privativa, balneários públicos e alojamento para o pessoal. 

Para sustentar o funcionamento do hospital, a Misericórdia contava com: - apoio da Junta Geral do Distrito, nos termos acordados; - um subsídio anual de 10 000$00 da Câmara Municipal ; - Juntas de Freguesia, 3 000$00 destinados ao dispensário; 
- "parcos" rendimentos próprios da Misericórdia.

Poucos anos mais tarde, escreve o Dr. José Albino Ferreira: “O Castelo que fora de grande poder defensivo contra os Mouros e a capela de N. S. da Guia bom farol para os navegantes, deram lugar a novas fortalezas contra as doenças, especialmente a tuberculose”.

Em 1961 o Hospital, que se tornara exíguo e inadaptado às exigências da moderna cirurgia, teve obras de restauro e remodelação (sob alçada do empreiteiro Alípio Pereira, da Cheira) que foram solenemente inauguradas em 17 de Setembro. Nesta data foi também descerrada a lápide que deu o nome de Bissaya Barreto à rua em frente do Hospital e do Preventório.

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(1) A 2 de Fevereiro de 1928 reuniu a Irmandade de N. Sª da Guia para aprovar os estatutos que instituiriam a Misericórdia na vila de Penacova. Foram aprovados por unanimidade. Assinaram a acta o Juiz, Padre António Pinto e os seguintes Irmãos: Dr. Daniel Silva, Dr. Luís Duarte Sereno, Albino dos Santos Júnior, Joaquim Correia de Almeida Leitão, Joaquim Augusto de Moura Cabral e Gualter Pereira Viseu.

(2) Manuel Ferreira Sales Guedes foi Presidente da Câmara de Penacova de 5 de Novembro de 1936 até finais de 1937, sucedendo a José de Gouveia Leitão. Pertenceu à Mesa da Misericórdia, quando era Provedor o Dr. Luís Duarte Sereno. O seu mandato não foi mais longo porque entretanto saiu uma lei que proibia os Médicos Municipais, ou qualquer outro funcionário municipal, de ocupar a Presidência da Câmara. Sales Guedes era natural de Poiares (Régua).

David Almeida

Fonte: Patrimónios de Penacova – J. Leitão Couto e David Almeida, 2012








quinta-feira, setembro 30, 2010

Penacova Actual recordou hoje o Cortejo de Oferendas para o Hospital realizado no início dos anos Cinquenta

Mais alguns contributos:
NOTÍCIAS DE PENACOVA DE 19 DE JANEIRO DE 1952,
noticiando o Cortejo de 30 de Setembro de 1951, domingo.(1)

O Penacova Actual  trouxe, hoje,  à memória dos penacovenses algumas imagens do Cortejo de Oferendas para angariação de fundos para o Hospital da Misericórdia, já lá vão cerca de sessenta anos.  Cortejo que envolveu todas as freguesias do nosso concelho duma forma entusiástica .
O Penacova Online, numa linha de complemento e de partilha desinteressada, não quer deixar de contribuir com mais alguns elementos, extraídos do jornal que se publicava na época: o Notícias de Penacova, que tinha como director Joaquim de Oliveira Marques.
Assim, o nº 923 de 19 de Janeiro de 1952, dedica uma página a este acontecimento, apresentando inclusivamente o relatório de contas da Comissão Central do Cortejo ,  que tinha como presidente o Dr. Augusto Leitão. Verificou-se um saldo líquido de 153 875$00. É enaltecido o esforço de todos e  dum modo especial  do benemérito Abel Rodrigues da Costa que no Brasil, por meio de uma subscrição,  conseguiu obter cerca de metade da receita total.
Pelo Notícias de Penacova, ficamos a saber que na tarde do dia trinta, no Largo D. Amélia, afluíram filarmónicas, orquestras, ranchos, dezenas de carros de bois, camionetas, ornamentadas com pormenores típicos e alegóricos. Depois de  organizado, o cortejo parte em direcção à vila, onde é visível o contentamento de todos. Este terá sido o segundo cortejo organizado para este fim.
(1) Em 1952 o dia 30 de Setembro foi a uma terça - feira.
Foto do NP

Em 2010, o estado de degradação em que se encontra o edifício... junto ao Hotel ... num local privilegiado de Penacova...