Conta-se que em Coimbra
era frequente os comerciantes da baixa para distraírem os fregueses, enquanto mediam
ou pesavam as mercadorias, fazer troça da Cavalaria de Penacova.
Diziam eles que em
Penacova a pobreza era geral e atingia
mesmo indivíduos de posição elevada, como eram os cavaleiros. Quando algum
destes se via forçado a vir à cidade, como não tinha cavalo, fazia toda a jornada
a pé. No entanto, com vergonha, tinha uma maneira engenhosa de encobrir a sua
penúria.
Vestia-se e calçava-se
como bom cavaleiro de botas e esporas e saía de Penacova sempre acompanhado do
seu cão. Lá vinha pela Serra da Aveleira e do Dianteiro atravessando montes e
vales até chegar ao fundo da Calçada do Gato, já perto de Santo António dos
Olivais.
Ali, agarrava o cão e esporava-o fortemente até que as rosetas das esporas ficassem tingidas de sangue e com pêlo agarrado. Este, logo que o deixavam, fugia vertiginosamente para casa. O “cavaleiro” continuava a pé por Santo António e Celas até entrar na cidade. Aqui as pessoas das suas relações faziam-lhe cumprimentos, com a devida consideração e ofereciam-lhe a casa perguntando logo onde tinha prendido o cavalo.
Ali, agarrava o cão e esporava-o fortemente até que as rosetas das esporas ficassem tingidas de sangue e com pêlo agarrado. Este, logo que o deixavam, fugia vertiginosamente para casa. O “cavaleiro” continuava a pé por Santo António e Celas até entrar na cidade. Aqui as pessoas das suas relações faziam-lhe cumprimentos, com a devida consideração e ofereciam-lhe a casa perguntando logo onde tinha prendido o cavalo.
- Olhe, tenho em Santo
António dos Olivais uma pessoa amiga que me faz o favor de recolher o cavalo e
ter-mo devidamente tratado – dizia prontamente o cavaleiro. Quando eu tiver
dado as voltas que tenho de dar, regresso e encontro-o pronto a marchar!
A cavalaria
penacovense ... a história dos cavaleiros sem cavalo, são anedotas que remontam a
tempos antiquíssimos. Pensa-se que esta “graçola” até terá o seu fundamento. É
que, como refere Alexandre Herculano, havia realmente peões que eram elevados à
categoria de cavaleiros quando se distinguiam pela bravura e feitos de armas,
ainda mesmo que por falta de meios não pudessem ter nem sustentar cavalo. Aquele
historiador cita mesmo o Foral de
Penacova, documento que mostra a grande importância militar do concelho e do
castelo de Penacova no largo período da reconquista cristã. Estas anedotas e historietas serão a prova indiscutível de
que houve em Penacova uma falange de guerreiros cristãos que muito se
notabilizaram.
Daí virá a fama da
briosa Cavalaria Penacovense em que entravam cavaleiros... sem cavalo. Não tinham por falta de meios, mas tinham as esporas que haviam conquistado pelas
suas provas de bravura e feitos de armas.
Nota: Esta e outras crónicas que se seguirão têm como base um conjunto de textos publicados no jornal Notícias de Penacova nos anos trinta do séc. XX, que pensamos serem da autoria de José Albino Ferreira.