“Horas
de Luto: a Pátria e a República em Crepes”
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O funeral de António José de Almeida |
António José de Almeida
morreu a 31 de Outubro de 1929, faz hoje 90 anos. O jornal A Voz de
S. Pedro de Alva, na edição de 16 de Novembro, noticia com grande destaque: ''A Pátria e a República
em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida. Está de luto a Pátria e a República,
está de luto o coração dos portugueses!''
Conta aquele
quinzenário que "assim que em S. Pedro de Alva, terra do venerando democrata,
se soube do tristíssimo acontecimento, os seus conterrâneos vestiram de luto.”
A bandeira nacional, “envolta em crepes”, foi hasteada “a meia adriça” na sede
do jornal, ao mesmo tempo que “eram expedidos muitos telegramas de pêsames à família
do egrégio cidadão.”
“Ainda há poucos meses
o ex-presidente da República, em carta, nos dizia que, quando estivesse melhor
dos seus padecimentos, escreveria umas linhas para o nosso jornal” – recorda A
VOZ DE S. PEDRO DE ALVA. Naquela missiva terá escrito António José
de Almeida que aquele periódico era “uma
gazeta interessante, despretensiosa e séria. E para mais, estruturalmente republicana.”
O quinzenário publicado
em S. Pedro de Alva (tendo como Director Francisco Cordeiro dos Santos, e como editor
e administrador, Eduardo Pedro da Silva) descreve os últimos momentos de vida de
António José de Almeida, bem como o funeral civil que teve a participação de
cerca de trezentas mil pessoas.
Enviaram pêsames, por
intermédio de A Voz de S. Pedro de Alva:
Francisco Cordeiro dos Santos, Rodolfo Martins Gomes, António Maria Marques, José
Maria Marques, Alípio Simões Bispo, Antero Gomes Fróis, José Cunha Martins, Joaquim
Marques Cordeiro, Joaquim Marques Morgado, Aníbal Ramos, António Jorge dos Santos,
António Henriques da Fonseca, Abel Lopes Figueiredo, Marques Basso, Valentim Ramos,
Júlio dos Santos, Martinho de Paiva, Francisco Fonseca Lourenço, António Costa Figueiredo,
Hermenegildo Pereira, Joaquim Pereira Castanheira, Francisco Cunha Martins, José
Alberto Coimbra, Oliveira Nascimento, José Campos Ribeiro, Augusto Sousa Gonçalves
e António Pereira da Costa. Em nome da Junta de Freguesia, Campos Ribeiro,
presidente, também endereçou mensagem de pesar através de telegrama.
A Voz de
S. Pedro de Alva não poupará elogios póstumos a este seu ilustre conterrâneo, dizendo que este fora um
grande "apóstolo da Democracia” e que “tinha um altar em todos os corações portugueses''.
José de Oliveira e
Costa escreverá que, perante o grande abalo que acabava de sofrer o país e ''sobretudo
a grande massa liberal'' havia que destacar o carácter bondoso deste vulto que ''professava
a religião do Bem por interesse do próprio Bem''.
Eduardo Silva (sobrinho
de Eduardo Pedro da Silva), no artigo ''Horas de luto'' destaca também as
qualidades de António José de Almeida, "o homem de palavra brotando da sua
alma límpida, que na tribuna arrastava multidões em delírio de fé e patriotismo".
A morte de António José
de Almeida também é notícia em grande destaque na edição de 2 de Novembro do Jornal de Penacova: " Morreu! Descubramo-nos perante o
seu cadáver. Curvemo-nos em respeito e admiração. É o cadáver de um grande
português. É o cadáver de um homem honradíssimo. A república portuguesa perdeu
um dos seus soldados mais valorosos e um dos seus filhos mais ilustres."
Eduardo Silva, que era
à data o redactor deste periódico, escreverá:
“O dr. António José de Almeida era nosso conterrâneo. Nasceu além,
na freguesia de S. Pedro de Alva, num lugarzito, lindo e pitoresco, que se
chama Vale da Vinha. Lá está o seu solar que nos desperta lembranças da sua
mocidade indómita de combatente pelo ideal republicano, desde os seus mais
verdes anos.[…] Foi um grande português, homem de uma honestidade
intransigente, a sua vida não teve mancha a diminuir o seu valor e o seu
prestígio, o seu carácter de fino e puro quilate esteve sempre de pé mantendo-se
numa integridade absoluta."
Em S. Pedro de Alva,
por iniciativa do professor Joaquim dos Santos Cordeiro, foi colocado na escola
do sexo masculino o retrato de António José de Almeida, oferta do ''fervoroso republicano”
Eduardo Pedro da Silva.
A Câmara de Penacova,
que se fez representar no funeral por António Rodrigues do Amaral, residente em
Lisboa, aprovou um "voto de profundo pesar".