Fui Bombeiro Voluntário de Penacova, na minha juventude!
Sou sócio desta Corporação Humanitária há tanto tempo, que já não me lembro bem a data, quase de certeza aproximada a meio século.
Tínhamos um carro (Bedford) e uma ambulância (VW sanduíche). Mas éramos bravos, estóicos, resilientes e, ao mesmo tempo, gratificados por vestir aquela farda!
Orgulhosos!
As pessoas da terra sabiam como nos expúnhamos ao perigo e, sem dúvida, reconheciam-nos.
Um dia, num incêndio fora do nosso concelho (em Vale da Ovelha, do concelho de Mortágua) mas bem nas nossas extremas, que eu já não consigo datar, mas entre 1969 e 1971) o Vasco Viseu, há pouco regressado da tropa (Angola, Pedra Verde) após o toque da sirene, pegou no volante e, acompanhado pelos irmãos (Quim Zé e Luís) e por mim (acho que me chamavam Cadete) arrancou em direção ao fogo. Pelo caminho (à Igreja) apareceu o António Dias ainda a vestir-se, porque tinha estado noutro fogo há pouco tempo.
E lá fomos nós (tanque cheio, moto-serras, picaretas, pás, etc) para fazer o bem, num terreno vizinho, voluntariamente. Até Vale da Ovelha.
Do que interessa contar é a circunstância de termos sido “quase comidos” pela chama, que se preparava para nos passar por cima, sem sabermos donde surgiu.
O saudoso Vasco (que ainda não tinha digerido já não estar no meio dos tiros) e que veio a ser um Comandante de uma enorme dimensão e prestígio da nossa Corporação, abriu a porta do carro e começou aos gritos:
- saiam todos por esta porta (o fogo estava na direita do Bedford): rolar, rolar, rolar.
E assim foi: enrolados serra abaixo, capacetes pelo caminho, machados a dar de frosca, corda queimada e roçada, entrámos numa ribeira com água…
E o fogo passou, o carro chamuscou, mas nenhum de nós se afogou!
O Vasco tinha visto o local para onde nos ia levar. Era o Comandante daquela “brigada?” e, como tal, assumiu a nossa proteção.
Este foi, só, um dos sustos maiores da minha vida; o outro foi na Costa do Marfim…
E perguntará o Leitor:
- qual o interesse disso agora?
É só o facto de, ali perto, terem falecido 3 Bombeiros há poucas horas; ou melhor, duas Bombeiras e um Bombeiro (Sónia Melo, Susana Carvalho e Paulo Santos) da Corporação vizinha de Vila Nova de Oliveirinha, que me fazem vergar perante os seus familiares, que não conheço.
A vida do Bombeiro está sempre em perigo!
A vida do Bombeiro continua a não valer nada!
A Família do Bombeiro está, sempre, com o coração nas mãos!
O reconhecimento aos Bombeiros não existe nesta sociedade da cadeira e do computador, do Ipad e do telemóvel…
Só se sabe que os Bombeiros existem em ocasiões como a que estamos a passar, já com baixas contabilizadas.
Há dinheiro “a jorro” para tudo, menos para dar dignidade ao Estatuto do Bombeiro Voluntário!
Mas estarão 5.500 a trabalhar sem dormir; sem descansar; se calhar sem comer; muitos, a muitos quilómetros de casa.
E, se tiverem um qualquer problema de sinistralidade, muito provavelmente, poucos lhes darão a mão.
É tempo de gritar!
Já não é tempo de mendigar…
Vivam os Bombeiros Voluntários Portugueses!
Luís Pais Amante