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domingo, dezembro 29, 2024

Da minha janela: Fora do tempo

 


Fora do tempo


Tempo é a normalidade a passar

E também o calendário a abrir as suas folhas

Algumas de “pernas pro ar”

Sem parar no fim do ano

Eu sinto estar

Fora do tempo d’agora

Que parou para eu me vir embora

Fico do lado de cá, fora do tempo, a observar

O que se está a desenrolar

Do lado de lá do espelho da Vida

E a querer adivinhar o tempo que ainda irei ter

Para além do que tenho estado por aqui a sorver

É bom gozar o tempo enquanto se tem, frio

Usufruí-lo, dormir com a cabeça na fronha

Do relento com brio

Colmatar a necessidade

De ser sem-abrigo militante

Por vezes delirante

E vivenciar, realmente, o modo do perigo

É chato que o tempo esteja assim malparecido

Com Sol vazio

Sem Estrelas com brilho

Ou Luas de luar crescido

Imperdoável, até!


Luís Pais Amante

Casa Azul

Poema pra minha passagem do ano.


quinta-feira, dezembro 19, 2024

Da minha janela: Natal em desassossego



Natal em desassossego


Estamos cá a preparar a época do Natal

Sei que os nossos netos estão esfuziantes

Amantes da noite em si, passada por aqui

Na casa dos Avós

Há qualquer coisa em mim, que me desassossega

Que me aborrece

Que me entristece


Como o destino do mundo quase fatal

Com os adolescentes em transtornos delirantes

Resfriados nas sombras das guerras por ali

Nas tendas improvisadas

Onde há revolta, ao perceber que a vida está cega

O que me sabe a briga

O que me trás fadiga


Porque pudemos nós com génese igual

Produzir esta composição do ser militante

Em que a injustiça se regenera a si própria

Numa vingança cruel?

Desprotegendo o sol do amanhecer sem refrega

O que altera o Natal

O que só nos faz mal


São grandes áreas de desigualdade letal

Nesta actualidade cheia de guerras errantes

Em que o “ser criança” não tem mais valor

Nem o mínimo de prazer

Acabar a vivência infantil, por certo, já descarrega

Nas mentes mal amadas

Nas consciências pesadas


                 *


Tão bom que seria ter só crianças iguais

Em direitos

Ter pilares de sorte em todos os natais

Com igualdade

Ter vidas parecidas, sem “armas” fatais

Na comunidade

Ter as oferendas e as prendas “a mais”

Repartidas com amizade!


Luís Pais Amante  

Casa Azul

Em homenagem às Crianças vítimas das guerras, obrigadas a carregar o Mundo.


domingo, dezembro 08, 2024

Da minha janela: O pré Natal


𝓞   𝓟𝓡É   𝓝𝓐𝓣𝓐𝓛

Chega-se ao Terreiro e vê-se iluminada
A Árvore de Natal
Em frente do Município
E a Casa do Pai Natal
Mais uma tenda com prenda
Prás Crianças
Carroceis
Papel com pincéis
Uma rena com buracos pr’acertar
Uma mesa com caixas pra derrubar
Uma Árvore cintilante de cores
E lacinhos como amores
Até uma mesa de pintura
E uma panela que não é de “farturas”
Mas sim de algodão doce
Que todos adoram
Bolas de espelhos
Palco
E Palhaços mais tarde
Para rir
E curtir a amizade
Em certas idades
O convívio surge em 2 minutos
Franco
Resiliente
Contente
Música a condizer com a época
… E uma alegria imensa!
Estamos numa terra da Beira
Penacova
Que se adornou
Para receber a pequenada
E para ver se se renova
Até em inquietude
Daqui a pouco
A máquina das pipocas
Vai arrancar
Já estão todos na fila pra degustar
E a Sara e o Daniel
Prontos pra trabalhar

Luís Pais Amante
Casa Azul

Após uma tarde passada com as Netinhas no Espaço Natalício do Terreiro, em Penacova.

terça-feira, outubro 15, 2024

Ainda o poema "Remoçar na Praia" ... agora em vídeo


No contexto da II Bienal de Música de Lorvão, o "Colectivo declAMAR poesia" apresentou, no dia 12, uma selecção de Poesia Portuguesa. Este grupo que iniciou a sua atividade no Salão Brasil, em Coimbra e, tem vindo a participar em diversas iniciativas poéticas, no Teatro Académico Gil Vicente e no Museu Machado de Castro, é composto por Catarina Matos, Lurdes Telmo, Olga Coval, Rui Amado e Vanda Ecm,  O programa teve momentos musicais de viola de arco, bem como um espaço aberto ao público para apresentação livre de poesias de poetas, preferencialmente locais.

Deste segundo momento, destacamos a intervenção de  Ricardo Coelho ( membro do Coral Divo Canto) que declamou, entre outros, o poema de Luís Pais Amante, "Remoçar na Praia" publicado há dias no Penacova Online. Por sua vez, Óscar Pereira Trindade transpôs tudo isso para vídeo, que podemos visualizar na sua página  YouTube (veja AQUI). 

Excelente texto, excelente interpretação, excelente vídeo! - permitam-me os leitores este sincero e pessoal reconhecimento. 



 Coletivo «declAMAR Poesia», 
composto por Catarina Matos, Lurdes Telmo,
 Olga Coval, Rui Amado e Vanda Ecm,

domingo, setembro 01, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: E a fantasia apareceu…


Ao terceiro dia de Festa

Aconteceu magia

Em dia dedicado às Crianças

Logo no meu Fundo da Vila

… Que, assim, rejuvenesceu!

SaltaRico em ação tarde fora

À volta do Mirante

Local estonteante

Das gerações dos Meninos do Cruzeiro

Não no pobre d’outrora

Mas no remediado d’agora

Como as Crianças merecem

Eram centenas as que desciam

Encavalitadas às costas

Ao colo, a pé, de carrinho de bebé

Ou de Tuc Tuc, eléctrico, pois é

Vinham com os Avós, os Pais ou os Tios

E distribuíam-se pelas “praias” dos Eventos

Aos rodopios

Havia Palhaços às Bandas

O Kid’s Corner

Teatro Infantil cheio de sentido

Escorregas e outras “bodegas” de brincar

Frutas de tocar

Ateliers de pinturas e de maquilhagens

E de Dança

Estivemos todos a dar mais sentido à vida

Fazendo-o em face das Crianças divertidas

Como o girassol a seguir a luz e a sorrir feliz

Ah

Realçar o Laboratório de Livros

E o Ficão Comigo

Que, para além da diversão

Formam gente para a Nação

Estivemos todos a dar mais sentido à Vida

Que é o que se deve fazer

Em face de uma Criança divertida

… Como faz o Girassol a seguir a luz!


Luís Pais Amante

Casa Azul

Num dia de Alegria no Fundo da Vila

-------------

NOTA DA REDAÇÃO: Hoje decorreu o festival infantil Saltarico no Mirante Emídio da Silva, em Penacova. O Saltarico constou de música, teatro, dança, palhaços, mascotes, insufláveis, animais para adoção, exibição da GNR, showcooking, pinturas faciais, ateliê de pinturas, laboratórios de dança e de livros, etc. O espetáculo de encerramento contou com presença da famosa dupla de palhaços “Batatinha & Companhia”, do programa da TVI “Batatoon”.

quarta-feira, agosto 14, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: A minha casinha [poema dedicado aos Emigrantes]





Estou a caminho da minha Aldeia

Não consigo que me saia da ideia

A casa onde nasci, cresci e vivi

Até começar a minha odisseia

De emigrar

Pra noutro lugar me poder remediar



Ai,

Como eu me lembro de te ver

No recorte temporal da memória

No decurso imersivo da nossa história

Consistente


Ai,

Como tens seguido o meu “ser”

Mesmo distante do meu crescimento

Em momentos difíceis de toda uma vida

Resiliente


Ai,

Como me emociona olhar pra ti

Agora, neste dia, de tão perto assim

E sentir ao teu lado este afago abençoado

Persistente


Ai,

Casinha da minha recordação

Tu estás no meu coração

Com o “reboliço” de então

Presente



Parece que me restituí na alegria de viver

Que me rebolei no ar da nossa fantasia

Como saltimbanco entrusado na magia

E que se me foi embora a saudade

De repente

Ao ver-te e ao tocar-te aqui, fisicamente

Luís Pais Amante
Casa Azul

Dedicado aos Emigrantes [perante os quais eu me vergo e com orgulho neles].

domingo, julho 28, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: A tapar o Sol...


A tapar o Sol …


Foi dia 10 de Junho
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
A “Festa” desenvolveu-se num local de muito azar
!… Em Pedrógão Grande …!
Por onde passou o fogo a matar
As Pessoas nunca irão esquecer
Como as deixaram ali à sua sorte
Prontas pra morrer
Lembrar-se-ão, sempre, dessa malapata sem nome
Deste tipo de gerir territórios sem noção ou coração
Como se fez -e faz- neste Interior amado e beirão
Passaram anos (sete)
As estradas continuam más
Os órfãos não tiveram paz
O emprego fugiu de lá, sagaz
A emigração continuou audaz
… mas julgaram-se Bombeiros que combateram o fogo!
E, por isso mesmo, não existem voluntários, agora
Nem lá, nem por este País fora
Como poder pensar-se cativar assim, no logro?
Neste dia absolutamente triste
Esteve a desenrolar-se um desfile
Da Política que por cá existe
Que não foi para lá definir-se
Dar nada do que é preciso ao Povo
Nem do que lhes foi prometido
Só rememorar o traumatismo
Só discutir balelas na televisão
Demonstrando-lhes má afinação
E nenhuma consternação
Não vale a pena dizer “coesão”
Jurar amor em tropeção
Falar em empenho, em trazer riqueza
Quando pela frente só se tem pobreza
Aqueles milhares de militares
Desfilando e entoando os ares
Foram em armas, sim
Mas em boa verdade
Para ajudar, em sentido, Rui Rosinha pra ele ser ouvido
Não para fazer festa em local de saudade, onde o fole
Da gaita
Leva muita gente a querer tapar o Sol
Com a peneira
Desta vida, que, afinal, continua traiçoeira

Luís Pais Amante
Casa Azul

Vergado ante o grito do Bombeiro Rui Rosinha, na sua condição de sobrevivente, grito esse que tem razões para ser repercutido nas Associações Humanitárias dos Bombeiros Voluntários.

quarta-feira, julho 10, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: a Estrela

 




Por vezes as estrelas ficam

Fora da vida de viver

Estando dentro da saudade

De se ter



Não é estrela quem quer

Nem são todos

Os que não se vão esquecer

Tempos fora

Mesmo sem querer



Tive a sorte de conhecer

Uma estrela corajosa

Humilde

Cheia de crer

Grande na luminosidade

Pensante da sua liberdade



Foi hoje passear pra fora

Da nossa amizade inteira

E fica como a nossa estrela

Maior e íntegra

Que nos representou a todos

Dignamente

Até, sem nos dizer, morrer



Luís Pais Amante

In memoriam da Minha Colega de Curso e Amiga Joana Marques Vidal
 (a Maria Joana).



segunda-feira, junho 10, 2024

𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆: uma nova rubrica de poemas (e crónicas) de Luís Pais Amante


Damos hoje início a um novo espaço no Penacova Online, assinado pelo penacovense e amigo Dr. Luís Pais Amante. Uma honra e um privilégio não só para o seu administrador, mas também para os leitores deste blogue que por estes dias completa 17 anos de existência.
 

Da minha janela


É da minha janela que vejo este mundo

Plano, agitado ou com tez de rotunda

Que olho pró tempo de crescer

Para as memórias de me ter

E me introspectivo na saudade

Que mora cá, na minha idade

De mais novo do que ela

Também rememoro os tempos idos

As liberdades da alma

O pousio desta calma

Que é olhar pró infinito tão perto

Pra natureza em beleza sem igual

Há quem tenha ciúmes da minha janela

Porque como ela, não existe outra tão bela

Será só por ser um sítio único?

Será só porque ela é a singela?

Será porque é a fina donzela?

Eu penso que é por tudo isso

E pelo seu imaginário translúcido

Que circunda em alegria

E promove a democracia

Um lugar de sorriso e inspiração

Um observatório de ar puro

Que permite olhar para tudo

Até idealizar o que se requer

Quem sabe, capaz, de determinar

E moldar

O meu ser de rigoroso no meu crer

Resiliente em por aqui me manter

A admirá-la…

Vou mesmo tentar dar-lhe fantasia

Desde este Fundo da (minha) Vila

Austero, antigo

Mas sonhador e profundo … e amigo!


Luís Pais Amante

Casa Azul


sábado, junho 01, 2024

Poetas penacovenses [15]: De olhar entristecido


De olhar entristecido


De sobrolho olho

O quintal do fundo

Com nozes, cebolas e couves tronchudas


Um pouco além

A quinta do mundo

Com ínsulas, videiras e abóboras carnudas


Bem a direito

O Rio sempre belo

Com moçoilas novas a dar ao marmelo


Mais pra lá

O oceano imundo

Com plástico apodrecido e peixes a boiar


Dizem mas eu não vejo

Que junto aos desertos das Áfricas

Há gente a correr no sonho de algo querer ter


Que se afunda

Assim que vê terra

E que luta com a água -e treme- antes de morrer


Luís Pais Amante

Casa Azul



sábado, abril 20, 2024

Poetas penacovenses [14]: Cheirava a Abril


C h e i r a v a   a   A b r i l

Luís Pais Amante

 

Podia ter sido em Março, em Maio, quiçá em Junho

O momento para rebentar a pólvora junta no barril

Mas foi em Abril…

Abril era o mês sem tempo, sem ar cinzento, primaveril

No ano andámos no pressentimento preso na mudança

Em Março não deu p’ra ser

Se calhar deu-se com a língua no dente

Talvez o entusiasmo se tenha congelado

O Soldado ficado atrapalhado

Ou o Major, descoordenado

Certo é que não deu pra “construir” Revolução

Então, nessas horas de esperança


Começara 1974

Na Faculdade demos corda ao sapato

Uns chevrolet’s foram postos a arder

Uns vidros foram partidos a derreter

Uns tropeções ocorreram sem saber

Umas corridas valentes aos “gorilas”

E uma crença grande num amanhecer

Diferente


Podia ter sido muito antes de ter sido

A junção de uma quase toda Nação

Para nos dar carácter e legitimação

Mas foi em Abril…

Abril 25 em dia, antecipou Maio em 1

O Militar pôs-se ao lado do Trabalhador

Os rios passaram a correr em Liberdade

Dos céus vieram sons de Fraternidade

E nós, na Universidade, Estudantes

Começámos a sonhar

E, com ingenuidade, a equacionar

Vai haver oportunidades em Igualdade?


Apesar de espalhado o cheiro em Cravo

Sadio e bom, fresco em frisson, desde lá

Ainda não se conseguiu dar Igualdade cá

Sequer democrática, pá

E isso não pode deixar de nos fazer pensar

Porque, em boa verdade

Sem Igualdade básica, Democracia não há

Minha Gente!


Luís Pais Amante | Casa Azul

Memórias: Recordando o Dia 25, as cumplicidades e os sonhos…



terça-feira, abril 02, 2024

Poetas penacovenses (13): "Ai Cravo, Cravo ! " de Luís Pais Amante




Ai Cravo, Cravo!

Oh meu cravo vermelho

Minha flor do jardim em coração

Como é que todos te querem

Se não foste bem feito assim

Para te prostituir

Para te dividir

Ou mesmo para em pétalas te cindir?

Uns querem-te usado, usurpado

Outros preferem-te moldado

Mas és símbolo do Abril singelo

Incorruptível

Derrota do mau conselho

Símbolo da Democracia

Longe da demagogia

Cravo da cor do nosso sangue

Da Revolução em Povo

Do sofrimento exangue

Da luta contra a pobreza

Contra a arrogância

Contra as manigâncias

Contra a prepotência

E contra a preponderância

Da política do mal fazer

Com memória do nada ser

Este mês não podes ter outra função

Serás a flor de mais relevo

Aquela que se canta com enlevo

E que se poeta

Com sonho alerta

E vontade desperta

Por seres discreta, também, fraterna

Com tom sublime

Nobre e firme

Bom para exibirmos na nossa lapela

em tom evocativo da Liberdade, bela!!


Luís Pais Amante | Casa Azul | 1Abr24; 7h10 | Na entrada do mês de Abril e dos 50 anos do aniversário da Revolução.

sexta-feira, março 08, 2024

Poetas penacovenses (XII): "Tanto caminho..." - Poema de Luís Pais Amante


ANA PAULA CAMPOS
"Tanto caminho por percorrer". Acrílico sobre tela  40x50 . Coleção Incompletude

Tanto caminho…

Só vejo pela frente

Um caminho longo

Que me põe dormente

Caminho feito à mão

E na medida da dor

O Espaço é pequeno

E gira sereno

Nas perspectivas da vida

As pedras a sobressaírem

Dificultando a caminhada

As árvores refilando

Por lhes não darem nada

E eu

A olhar pra mim sem esperança

Carregada de problemas demais

De circunstâncias reais

Pensando:

“Tanto caminho por percorrer”

Tanta distância pra Liberdade

De me ter


Luís Pais Amante

Telheiras Residence | 23Set23; 10h45 
A olhar para uma pintura em acrílico sobre tela, da Minha Amiga Ana Paula Campos.

quarta-feira, dezembro 06, 2023

Poetas penacovenses (XI): um poema de Luís Pais Amante





 Sem abrigo


Eu sei quão dolorosa vai a actual situação

Os momentos que passas sem nada comer

O frio que te aperta a coluna em ondulação

As pessoas que passam sem nada te dizer


Eu reconheço que este tempo está fingido

Que quem não tem eira nem beira está mal

As Autoridades não enxergam bem o perigo

Nas ruas da nossa cidade já só há frio termal


Estar sem abrigo e só é estar a bater no fundo

A vida não existe para se suportar em angústia

Para andar de saco na mão percorrendo mundo


Caminhando à noite és mesmo um errabundo

O tua fome persistente já só te dá parageustia

A Sociedade oferece-te estatuto de vagabundo


Luís Pais Amante

Casa Azul

A cogitar sobre o modo como cresceu, ultimamente, este fenómeno triste.


quinta-feira, agosto 31, 2023

Poetas penacovenses (X): A Lua Azul vista pelo poeta... da Casa Azul


"Na última noite, os céus foram iluminados por uma super lua azul, um fenómeno raro que foi visível também em Portugal. A última super lua do ano foi vista em vários pontos do mundo. Da Europa à Ásia, passando por Brasil, Estados Unidos e Portugal. Em Portugal, o fenómeno conseguiu ser visto às 2h30 desta quinta-feira. A Lua Azul, como é chamada - por ser também a segunda lua cheia do mês -, esteve a 357 344 quilómetros de distância da Terra e parecerá ter mais “área” do que a média. Segundo a NASA estima-se que o a próxima Lua Azul apenas apareça novamente em 2037.”

in Rádio Renascença, 31 agosto 2023

Do amigo Luís Amante recebemos um poema (acompanhado de foto), alusivo a este fenómeno que também nos céus de Penacova foi motivo de curiosidade. Muito obrigado!  Com todo o gosto o publicamos, em primeira mão, no Penacova Online. 


Oh Lua Cheia


Esta Lua d’hoje

Veio cheia de intenção

Nesta despedida do Verão


Ilumina-me a Casa toda

E, também, a minha necessidade

De a sorver, porque rara, com solenidade


!… É Lua Cheia Azul …!


Parece feita de lã e algodão

Sobressai do céu bem escurecido

E dá-lhe vida, pra ficar bem parecido


Corre espelhada no Rio

Pondo o Espelho d’Agua quase quente

Motivos -muitos- para me manter contente


Luís Pais Amante

Casa Azul
A observar a Lua Cheia Azul, como a minha Casa.

quinta-feira, dezembro 01, 2022

O rio Mondego na poesia de Ulisses Baptista

Regresso às Origens é o título do novo livro de poesia de Ulisses Baptista, autor penacovense. Já em 2012 havia publicado Meu Rio de Prata, uma “Breve História de Penacova e suas Tradições”, de acordo com o subtítulo desta obra, toda ela traduzida em estrofes de quatro versos, num total de cento e oitenta e três.

Agora, além da temática do Rio Mondego, Ulisses Baptista, Engenheiro do Ambiente, reúne um conjunto de cinquenta e um poemas onde se cruzam recordações de infância, passada na Carvoeira, preocupações ambientais e sentimentos perante a Vida e a Natureza.

Além das duas poesias sobre o Mondego, que transcrevemos, encontramos também o poema “Lembranças do Mondego”. Fica um excerto: “Nunca julguei que um dia ao te domar / O Homem, que tem voz no meu lamento / Servisse pra tão só te ver passar”.

Ulisses Baptista vem publicando textos em prosa e em verso na página do Facebook “Carvoeira, terra amiga”, de que é administrador. Um espaço que tem como conteúdo as “histórias e as lendas”, bem como, “fotos e factos sobre a Carvoeira, seus lugares e suas gentes”.


MONDEGO, MEU RIO DE PRATA

Meu rio de prata,
Outrora fecundo,
Morro de saudade,
Por não me rever
No que te fizeram.
Que é feito de ti
Meu rio de prata?
Águas cristalinas
E areias tantas,
Taludes orlados
Com moitas de junco.
Meu rio de prata,
Outrora fecundo,
Que há em ti que eu veja:
Um simples canal,
E ao largo os montes
E o azul do céu,
Não em ti espelhado.
Mas tu, um príncipe folião,
Perdeste a garra
Neste canhão.
Meu rio de prata,
Bem que eu te queria
Como eras dantes:
Seixos roliços
Postos ao acaso
E tapetes de erva,
Que pisei descalço,
Porque era criança.
E criança fui
E em ti me fiz homem
E assim me deixaste,
Meu rio de prata,
Outrora fecundo.


MONDEGO

Tinhas as orlas espraiadas
Em linhas ténues nas areias,
As curvas pouco fechadas
No correr das tuas veias.
Por ti se encantaram povos,
Distantes na madrugada,
Que vieram trazer aos novos
Mensagens de paz velada.
Revoltoso no Inverno,
Quando inundava as terras,
E as águas, num inferno,
Vinham do cimo das serras.
No auge da estação quente,
A cor da prata no leito,
Límpido e transparente,
Num panorama perfeito.
Em ti refletiam as cores,
O celeste azul do céu,
As praias desses amores
Que tanto poeta escreveu.

E quando a força bruta
Trouxe o mal que te quebrou,
A beleza, em forma astuta,
Ainda assim nos encantou.



quarta-feira, setembro 09, 2020

Poetas penacovenses (VII): Cogitando sobre as consequências deste tempo...

Nu

Poema de Luís Amante

Neste tempo de percurso cinzento, fiquei nu

Corri devagar, pensei sem saber, contive a tristeza

Não sorri, nem o exteriorizei, nem falei com o cu

Apenas dei por mim a percorrê-lo só, com leveza


A minha rua, sem gente, vai nua de despojada

E eu despido no silêncio que me afaga

De beijos francos, carinhos em laço de vaga

De abraços ternos, de ti como sorte almejada

 

Nu é o despido de tudo, até de auto-estima

Silêncio é o ponto mais assertivo da rima

Gente é vida, amizade é culto abrangente

 

A tristeza cresce nesta condição dormente

O mundo entorpece até para lá do pungente

A crença desvanece, passando a saber a lima

 

Luís Pais Amante
Telheiras Residence
9Set20; 17h45
Cogitando sobre as consequências deste tempo

quarta-feira, março 25, 2020

Poetas penacovenses (VI): Poesia em tempo de pandemia


Em prosa ou em verso, Penacova já se habituou às reflexões de Luís Pais Amante.
Agradecemos o envio deste texto que o autor fez questão de partilhar - em primeira mão connosco - e que entendemos dever ser também partilhado com os leitores do Penacova Online.

A DISRUPÇÃO DO MUNDO

O nosso tempo entrou em modo de quebradura
Distanciou, inda mais, o mundo já em fractura
Colocou-nos em quarentena
Afastou-nos da fala à “boca pequena”
E separou-nos
Do abracinho da Madalena

Estamos em disrupção
Não podemos dar a mão
Nem abrir o coração
Nem correr em contramão
Nem tocar no corrimão
A nossa civilização está em colapso
Cavado nos fregueses do relapso
Está instalada a rutura
Do carinho e da ternura
Estão fechadas as fronteiras
Separadas as nossas esteiras
Confinadas povoações
Com tampões colocados nos próprios dos aldeões
Donos do livre ar sem convulsões
Temos que acabar com isto, alterar o paradigma
Cantarmos em sol com rima
Unir esforços
Mandar para trás os remorsos
Confinarmos os destroços
Puxarmos pela destreza
Darmos mais atenção à limpeza
Trabalharmos com mais firmeza
Responder com luva branca à safadeza
Adoptar só a justeza
... e esperar ...
... que venha o Verão e o vírus fique sem ar!

Luís Pais Amante
Telheiras Residence
25Mar20; 17h15

Concentrado no meu novo modo de vida de “solitário solidário”.


sexta-feira, janeiro 13, 2017

Associação Cultural Divo Canto promove apresentação concelhia do novo livro de Luís Pais Amante

Depois de ter sido lançado em Lisboa (ver aqui na Associação 25 de Abril e na Casa do Concelho de Penacova, o livro REFLEXO[s], de Luís Pais Amante, vai ser apresentado em terras penacovenses, por iniciativa da Associação Cultural Divo Canto. A sessão de apresentação deste segundo livro de poemas será no próximo dia 21, sábado, pelas 16 horas, no auditório do Centro Cultural de Penacova. A cerimónia contará com dois momentos musicais proporcionados pelo Coral Divo Canto e pelo Grupo de Concertinas do Caneiro.

segunda-feira, março 21, 2016

Luís Pais Amante: conectado com a terra, com o rio, com os locais onde trabalhou, passeou e foi feliz

Luís Pais Amante, advogado e consultor em Lisboa, é natural de Penacova. No dia 12 de Março, apresentou no Centro Cultural o livro de poesia a que deu o título de “Conexões”. É o próprio autor que esclarece que o título foi escolhido “por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.”

Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:


Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!





O Dr. Luís Amante revela-nos, de coração aberto, o seu percurso de vida e ajuda-nos a compreender melhor este “seu trabalho para além do trabalho” – a escrita poética.

“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”

“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.

Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!

Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.

Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.

Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.

Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.

E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.

Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.

Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.

Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!

Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.

E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinte­ressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.

Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.

Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liber­dades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reforma­dos, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.

Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guar­dando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus senti­mentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.

Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.

Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, princi­palmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.

Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tem­pos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.

O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, tam­bém, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.


O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.

Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.

Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.

Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Marga­rida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bon­dade e conhecimento.

Bem hajam todos.

Aos meus leitores, bom proveito.

A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!

Do amigo, Luís Pais Amante
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Fotos: Penacova Eventos