Com a devida vénia, publicamos o artigo de A Comarca de Arganil de 12 de Março de
2020, assinado por José Travassos de Vasconcelos:
“Rute Alexandra de Carvalho Serra é oriunda de Coja e no
passado sábado, dia 7, lançou o livro intitulado “A Assassina da Roda – A História
da última mulher executada em Portugal”, na Biblioteca Municipal de Penacova,
com a presença de muitos cojenses, familiares da escritora, entre eles o Padre
António Borges de Carvalho.
O livro relata um caso que remonta ao ano de 1772, em que Luísa
de Jesus, de 27 anos de idade [lapso da notícia de A Voz de S. Pedro de Alva,
pois teria 23], casada, praticou crimes horrorosos em Coimbra, onde se
descobriu que foram de tal natureza que eles ocupam um dos primeiros lugares na
criminologia em Portugal, sendo a última mulher executada em Portugal.
Como se lê num escrito da altura, lido pelo apresentador do
livro, Prof. David de Almeida, “Luísa de Jesus residia em Coimbra [era natural
de Gavinhos -Figueira de Lorvão, que na altura pertencia ao Termo de Coimbra] e
tinha por costume ir à Roda buscar recém-nascidos com o pretexto de se
encarregar da sua criação. Depois, em sua casa, ou no olival de Montarroio, matava
as crianças, esquartejando-as, asfixiando-as ou enforcando-as e assim conseguiu
eliminar 33. Ao confessar os crimes cometidos, declarou, porém, ter morto 28 e
não 33. Passada busca a casa, foram encontrados dentro de um pote de barro, não
muito oculto, crânios, ossos e pedaços dos pequeninos cadáveres em completo
estado de putrefação. O fétido dentro da casa era horroroso, parecendo incrível
que alguém ali pudesse residir. A monstra ia buscar as crianças para poder
receber a espórtula de 600 réis, 1 côvado de baeta e 1 berço por cada uma. O
julgamento efectuou-se em Lisboa, onde cumpriu a pena por sentença da Relação,
sendo atenazada pelas ruas públicas, cortadas as mãos em vida, garrotada e queimada
em 1 de Julho de 1772.”
É esta a história verídica que Rute Serra passou para as
páginas de um livro, lançado já em Lisboa, pela Guerra e Paz Editoras, um
romance histórico de intensa emoção, baseado em factos verídicos, que refere “aqui,
as nossas convicções sobre verdade, mentira, miséria e ostentação são postas
definitivamente à prova”.
Depois do Vice-Presidente da Câmara, João Azadinho, ter
elogiado não só a escolha daquele espaço para o relançamento do livro, como a
presença de alunos da Escola de Artes e do Grupo de Teatro de Penacova, que
veio enriquecer o momento, foi então a vez do Prof. David de Almeida falar
sobre o livro, que após desenvolver parte da história, focou que “na parte final do romance ficamos a
saber que o irmão de Luísa de Jesus terá assistido à execução e terá trazido as
cinzas numa “cista” para a Serra de Gavinhos…onde foram espalhadas ao vento, ao
mesmo vento que durante séculos fez
rodar as velas dos moinhos ainda hoje ali existentes.”
Para a autora do livro, Rute Serra, foi uma grande honra
estar ali num espaço emblemático de Penacova, tanto mais estando rodeada da
familiares vindos de Coja, e porque este lançamento tem um significado muito especial,
por ser o concelho de Luísa de Jesus, mas também por ser um concelho com uma
riqueza patrimonial inexcedível, citando o amor que tinha por Penacova Vitorino
Nemésio, que “se inspirou através dos seus escritos”.