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domingo, junho 30, 2024

“Aristas”: sabe quem criou esta designação tão característica de Penacova?

Recortes do JP 

Não é estranho a qualquer penacovense o termo “arista”. Igualmente para muitos dos que ao longo dos anos têm visitado Penacova esta palavra não é desconhecida. Poderíamos até falar de um “neologismo” se a designação não existisse, de todo, na língua portuguesa. Os dicionários (salvo a Infopédia da Porto Editora) contemplam-na, mas com um sentido que nada tem a ver com turismo.

O Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa define “arista” como “pessoa que se desloca para determinado lugar a fim de se tonificar com ar puro”, que é, afinal, o mesmo sentido que se atribui em Penacova. Em todos os dicionários que consultámos o termo “arista” está relacionado com a botânica e também com a zoologia: “ponta filiforme de alguns órgãos vegetais”; o mesmo que aresta, pragana; “estrutura semelhante a uma cerda, existente na ponta das antenas dos animaís dípteros” ou ainda “peça óssea ou espinhosa do esqueleto de um peixe”.

Terá sido em Penacova que na década de 20 do século passado “nasceu” um significado muito diferente. O termo, mesmo por aqui, acabou por cair em desuso, até ao momento em que há poucos anos o Município recuperou a ideia, criando o “Roteiro do Arista”, selecionando oito locais de grande expressão turística, tantos quantas as letras que formam a palavra PENACOVA. Os visitantes são convidados a  a “apreciar cada um dos locais, e a desfrutar dos bons ares e da natureza, transformando-se assim em verdadeiros Aristas".

Sublinha o site da Càmara Municipal que “no início do século XX, Penacova era um local de eleição para aqueles que genericamente ficariam conhecidos como “aristas”. Pessoas que atraídas pela qualidade do ar que aqui se respirava, bem como pelas paisagens, permaneciam longas temporadas nesta vila.”

Quando se fala no início do séc. XX devemos ter em conta que foi só na primeira década que Penacova começou a ganhar alguma notoriedade nacional, principalmente pela mão de Emídio da Silva, Alfredo da Cunha e Simões de Castro, à volta da Sociedade de Propaganda de Portugal e do “Diário de Notícias”. Apenas nas décadas seguintes a presença dos tais “aristas” mais se fez sentir, prolongando-se até aos anos sessenta.

Mas voltemos à questão de saber como surgiu a designação de “arista”. Ora, no Jornal de Penacova, nº 1251, de 19 de Julho de 1930, podemos ler, sob o título “Penacova – Hotel” o seguinte: “Principiaram já a chegar os «aristas», vocábulo já velhote que deve vir de 1922 ou 1923. “Aristas” são os felizes mortais que vêm até nós provar a pureza magnífica dos nossos ares. Assim o decretou o famoso hoteleiro de Penacova-a-Linda, sr. José Alves de Oliveira Coimbra, numa fuga feliz da sua prosa proverbial. E o que é certo é que as bichas pegaram e agarraram-se com firmeza. O «Penacova Hotel”, já tem «aristas» e já são nove. Alves Coimbra espera mais por estes dias. Não tem vindo porque as caretas de este verão esquisito os traz indecisos, de pé no estribo (…).

Quem escreveu esta nota teria perfeito conhecimento do que estava a afirmar. A fazer fé nessa informação, ficamos então a saber que a designação de “arista” no sentido de veraneante que procurava a nossa vila para tonificar os pulmões (numa época em que grassava a tuberculose, não esqueçamos), foi José Alves de Oliveira Coimbra, personalidade carismática em Penacova no mundo do comércio e também da política local.


Quem foi José Alves de Oliveira Coimbra? Nasceu em Gavinhos, Figueira de Lorvão, no dia 19 de Julho de 1883. Filho de José Alves Marques e de Maria Manuela de Oliveira Coimbra,

Além de farmacêutico e comerciante em diversos ramos, fez parte do núcleo mais activo do movimento republicano em Penacova.

Integrou o grupo que no dia 6 de Outubro de 1910 percorreu a vila “convidando os cidadãos para assistirem à proclamação da República nos Paços do Concelho”, e fez parte da primeira Comissão Administrativa. Assumirá a Vice-Presidência da Câmara por diversas ocasiões.

José Alves de Oliveira Coimbra também se distinguiu no Jornal de Penacova do qual foi proprietário, editor e director durante quase toda a década de vinte. Em 1920, quando Amândio Cabral, já no Brasil, cedeu a propriedade daquele jornal, foi a empresa "Alves Coimbra & Cª Lda" que o comprou, passando a ser impresso na “Tipografia Alves Coimbra”.

Também foi farmacêutico, tendo mesmo, depois de “oito anos de boa prática farmacêutica”, feito exame para Farmacêutico de 2ª classe, em Julho de 1905 , na Escola de Farmácia de Coimbra.

Sócio principal da Firma Alves Coimbra & Cª Lda, mudou, em 1908, o comércio de mercearia e ferragens da Rua Alves Mendes "para o prédio no Largo Alberto Leitão, ainda em construção, propriedade de Augusto Leitão". Nos finais da década de vinte foi também proprietário e gerente da do Penacova-Hotel.

Faleceu em Penacova no dia 3 de Outubro de 1936, com 53 anos de idade.


segunda-feira, junho 03, 2024

Estudo sobre Turismo em Penacova analisa práticas de gestão sustentável, potencialidades, infraestruturas, eventos...


Um estudo recente, publicado pela Escola Superior de Educação de Coimbra (1)  analisa das práticas de sustentabilidade sócio-ambiental no alojamento turístico do município de Penacova e identifica as principais barreiras à sua implementação.

O conceito de turismo sustentável foi definido pela Organização Mundial do Turismo, agência especializada das Nações Unidas, como aquele que é ecologicamente suportável no longo prazo, economicamente viável e ética e socialmente equitativo para as comunidades locais, implicando a integração ao meio ambiente natural, cultural e humano e o respeito pelo equilíbrio das áreas ambientalmente mais sensíveis.
 
Práticas de gestão sustentável nos alojamentos em Penacova

Esta investigação incidiu em oito unidades turísticas situadas nas freguesias de Friúmes, Penacova, São Pedro de Alva e Oliveira do Mondego. que “tendo em conta que a investigação foi baseada numa metodologia qualitativa, através da realização de oito entrevistas” não é possível garantir que as conclusões “se apliquem à generalidade dos alojamentos em Penacova e de outras regiões do país”, o que “limita um pouco a investigação” -alerta o autor deste trabalho académico. Salienta-se igualmente que “a maioria dos responsáveis dos alojamentos ainda não tem qualquer tipo de formação em sustentabilidade, não conhece os guias de boas práticas do turismo de Portugal e o alojamento não é a sua principal atividade” o que “dificulta a recolha e seleção da informação.”

De qualquer modo trata-se de um estudo pertinente e actual. De acordo com o mesmo “foi possível concluir que já são utilizadas algumas práticas de gestão sustentável nos alojamentos em Penacova, nomeadamente as que dependem de menos investimentos financeiros, sendo os empreendimentos turísticos o tipo de alojamento que mais práticas sustentáveis utiliza”. Verificou-se que todos os entrevistados se preocupam com a sustentabilidade, atribuindo, no entanto, maior importância ao consumo energético por questões orçamentais.

Todos utilizam lâmpadas led de baixo consumo, todos fazem a separação de resíduos para a reciclagem, todos os alojamentos ou edifícios têm isolamento térmico e todos utilizam e adquirem produtos locais.

A maior barreira com que os entrevistados se deparam para implementar práticas de sustentabilidade são os elevados custos na aquisição de equipamentos, eletrodomésticos e materiais mais sustentáveis. Todos afirmam que teriam como benefício para a sua atividade a redução de custos.

Em termos globais, consideram que a implementação destas práticas beneficiaria a poupança de recursos naturais. Todos consideram ser necessários mais apoios económicos para aquisição de equipamentos sustentáveis. Por sua vez, a maioria dos entrevistados destaca a importância de colocar ecopontos junto dos seus estabelecimentos para facilitar a separação de resíduos.

Alguns dos entrevistados consideram que a atribuição de prémios de desempenho ao alojamento seria um bom incentivo para implementar mais práticas sustentáveis.

Em síntese, “a gestão do consumo de energia é a principal preocupação dos responsáveis dos alojamentos, assim como a aquisição e divulgação de produtos locais. O principal obstáculo à implementação de novas práticas sustentáveis está relacionado com elevados custos na aquisição de equipamentos de baixo consumo.”

Características naturais, infraestruturas de apoio, eventos ... 

Reconhece o estudo que “o concelho de Penacova tem um “elevado potencial” de desenvolvimento turístico, já que “possui um conjunto de características naturais e de infraestruturas de apoio ao turismo que lhe permite desenvolver a atividade de forma sustentável” (…) possuindo “acessibilidades, infraestruturas, recursos e atrações que potenciam o desenvolvimento de atividades turísticas, nomeadamente de turismo de natureza, desportivo e gastronómico com a realização de diversos eventos nestas áreas.”

Esta investigação conclui que, em termos de alojamento, “Penacova já possui uma oferta variada com capacidade para alojar 354 hóspedes nas diversas unidades de alojamento local, sendo a modalidade de moradia a que mais se destaca.” Verifica-se igualmente que “em termos de empreendimentos turísticos tem capacidade para albergar 436 campistas nos dois parques de campismo existentes e 78 hóspedes nos cinco empreendimentos turísticos registados.”

Ficamos também a saber que “apesar da estada média em Penacova ser ligeiramente inferior à média da região centro, verifica-se que cresceu em dormidas e em receitas”. No entanto, tendo em conta os dados apresentados, não vai ao encontro ao estabelecido na ET2027, onde se pretende crescer mais em receitas que em dormidas.

A leitura desta dissertação de Mestrado conduz-nos também a um levantamento actualizado de algumas características naturais e de infraestruturas de apoio na medida em que se afirma que “Penacova possui um território muito diversificado a nível turístico, nomeadamente para o turismo de natureza, pois possui vales, serras, rios e paisagens que podem ser vistas dos penedos e miradouros, possui também moinhos e azenhas e outros recursos naturais que atraem turistas de todo o país.

Tendo como fonte o site do Município, salienta o autor que:

- “as suas praias fluviais atraem muitos visitantes no Verão, mas Penacova possui ainda outros recursos de elevado potencial turístico, como as tradições das suas gentes, a sua história, mosteiros, museus, igrejas, entre outros;

- que “o concelho de Penacova proporciona ainda enriquecedoras experiências na descoberta da sua fauna e flora, onde se destacam ao nível da fauna Árvores de Interesse Público, classificadas pelo ICNF, como a Sequoia e a Glicínia. Ao nível da flora destacam-se a rola, javali, perdiz, as trutas e a lampreia; que “em Penacova existem seis praias fluviais, sendo as mais conhecidas a do Vimieiro e a do Reconquinho ambas galardoadas com a bandeira azul;

- que “ao longo do rio Mondego existem também a livraria, um recurso turístico natural que marca a paisagem. Este monumento está classificado como Geomonumento ao Nível do Afloramento, pelas suas caraterísticas e constituindo-se como um dos mais singulares monumentos naturais de Portugal”;

- que “o miradouro Emydgio da Silva, a Pérgula Raúl Lino e o Penedo do Castro são os mais emblemáticos, onde visitantes e residentes se podem deliciar com a vista sobre o rio Mondego e as encostas da serra da Atalhada com paredes quartzíticas propicias à prática de escalada e rappel”.

Ainda de acordo com fontes do Município consultadas para este trabalho, é sublinhado que, em termos de recursos culturais, se destaca ”o Museu do Moinho Vitorino Nemésio e um dos maiores núcleos molinológicos do país espalhado pelas serras da Atalhada, Aveleira, Gavinhos e Portela de Oliveira com imensos moinhos de vento em atividade ou em condições de funcionar.

Recorda-se que “Penacova possui ainda dezoito azenhas espalhadas pelas ribeiras e vinte e três fornos de cal no concelho”.

Salienta-se também que “em termos de artesanato contam-se ainda quinze artesãos a trabalhar as diversas áreas onde se destacam a produção de palitos de madeira”.

Em relação a edifícios com valor histórico-patrimonial “destaca-se o Mosteiro de Lorvão que integrou a lista original dos primeiros edifícios classificados como Monumento Nacional em Portugal e o Núcleo Museológico dos Cabouqueiros e dos Carpinteiros.“

A nível gastronómico, “Penacova faz um excelente aproveitamento do rio com a confeção de seis pratos típicos à base de peixe e três de carne. Destacam-se também trinta e dois doces conventuais e onze produtos típicos como azeite, mel ou castanha.”

Ao nível do desporto de natureza, “para a prática de desportos terrestres existem dois percursos pedestres de grande rota, cinco percursos pedestres de pequena rota, nove ciclos com ligações para BTT, quatro percursos de Trail Running, sete locais de escalada e dois locais para prática de tirolesa e slide”, ao mesmo tempo que para a prática de desportos aquáticos “dispõe de 25 km ao longo do rio Mondego para prática de canoagem e rafting, uma pista de pesca desportiva para competição no rio Mondego e onze lotes no rio Alva. Além das seis praias fluviais propícias à prática de mergulho, possui uma pista de motonáutica na barragem da Raiva e espaço aquático para se realizarem passeios de barco.” As descidas de rio em Kayak são também importantes para o desenvolvimento e divulgação deste território.

Deste modo, eventos turístico-desportivos como a Maratona BTT, a etapa da Taça de Portugal de Enduro na modalidade de Downhill, a prova de Trail Running “Penacova Trail do Centro”, o campeonato nacional de Rally e Kart Cross na pista da Serra da Atalhada, o encontro nacional de montanha entre outros, são atividades suscetíveis de organização de que fazem deslocar centenas de pessoas para o território de Penacova - reconhece o estudo.

Quanto ao levantamento de iniciativas é também referida a realização anual de “pelo menos onze eventos desportivos, dois de carácter local, dois regionais, seis nacionais e um internacional.”

No que diz respeito a outros eventos turísticos apontam-se “o festival Gerações, vinte e duas festas populares, quatro festivais e concursos gastronómicos, festas e romarias ou o mercadinho de natal.”

Para apoiar estas atividades, é referido, com base no Registo Nacional de Turismo, que se encontram “sedeadas em Penacova seis empresas de animação turística, duas agências de viagem e turismo e dois operadores marítimo-turísticos, com diversas atividades distribuídas por atividades de ar livre/aventura, atividades culturais/tour paisagístico e atividades marítimo-turísticas que fazem agitar o setor do alojamento.”

Caraterização do alojamento turístico no município de Penacova

Um outro aspecto de que nos são fornecidos alguns dados respeita aos alojamentos. Assim, “de acordo com o RNT, em Penacova existem quarenta e quatro Alojamentos Locais (AL), distribuídos pelas modalidades de moradia, apartamento e estabelecimento de hospedagem com capacidade total de trezentas e cinquenta e quatro pessoas.”- informa este estudo que estamos a analisar.

Outros dados:

- “Destas modalidades, a que apresenta maior número de registos é a moradia com trinta e cinco registos e capacidade para duzentos e vinte e nove utentes e a modalidade de apartamento têm com cinco registos e capacidade para trinta e nove utentes.”

- “Os estabelecimentos de hospedagem são apenas quatro, no entanto tem capacidade para oitenta e seis utentes. (Registo Nacional de Turismo).”

- “A nível de empreendimentos turísticos (ET), existem sete registos, distribuídos pelas diversas tipologias com capacidade para alojar quinhentos e catorze utentes. A tipologia com maior número de registos é a Casa de Campo com três registos, vinte e duas unidades de alojamento e capacidade para alojar quarenta e quatro utentes. Segue-se a modalidade de parque de campismo com dois registos, um com classificação de 3* e capacidade para cento e trinta e três utentes e outro sem qualquer tipo de classificação com capacidade para trezentos e três utentes, ou seja, ambos com capacidade total para quatrocentos e trinta e seis utentes. O empreendimento de turismo de habitação tem um registo com sete unidades de alojamento e capacidade para alojar catorze utentes. O hotel rural classificado com 4 estrelas tem dez unidades de alojamento com capacidade para vinte utentes (Registo Nacional de Turismo).”

- “Existem quarenta e quatro AL registados em Penacova e sete ET. A moradia é a modalidade de alojamento com mais registos, trinta e cinco no total, sendo que, em termos de ET, a tipologia que maior número de registos apresenta é a Casa de Campo.”

Em síntese, pode-se concluir que “Penacova possui acessibilidades, infraestruturas, recursos e atrações que potenciam o desenvolvimento de atividades turísticas, nomeadamente de turismo de natureza, desportivo e gastronómico com a realização de diversos eventos nestas áreas.

Podemos também afirmar que, em termos de alojamento, Penacova já possui uma oferta variada com capacidade para alojar 354 hóspedes nas diversas unidades de alojamento local, sendo a modalidade de moradia a que mais se destaca. Em termos de empreendimentos turísticos tem capacidade para albergar 436 campistas nos dois parques de campismo existentes e 78 hóspedes nos cinco empreendimentos turísticos registados.

Apesar da estada média em Penacova ser ligeiramente inferior à média da região centro, verifica-se que cresceu em dormidas e em receitas, no entanto tendo em conta os dados apresentados, não vai ao encontro do estabelecido na ET2027, onde se pretende crescer mais em receitas que em dormidas.”

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(1) O presente trabalho denominado “Práticas de Gestão Sustentável no Alojamento Turístico: o caso do município de Penacova”, com data de Dezembro de 2023, foi desenvolvido no âmbito do Mestrado em Turismo de Interior–Educação para a Sustentabilidade, ministrado na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra, por Hernâni José Oliveira Nogueira.

quinta-feira, janeiro 19, 2023

"Basta que os penacovenses tenham a iniciativa dos suissos”




A longa teoria de estrangeiros que todos os anos percorre sistematicamente a Suissa, sob as tirânicas imposições dos Baedecker (1), dos Kook, e de outros Dracons das vilegiaturas (2), a par de excursões extremamente pitorescas, sofrem a desilusão de muitas ascensões e caminhadas que não valem o tempo que perderam.

Pode-se dizer que não há na Suissa um recanto de vale, uma dobra de terreno, um píncaro de monte que não seja visitado por milhares de forasteiros que, mal chega o verão, invadem por todos os lados este afortunado país e por ele se espalham numa ânsia de subir às suas montanhas, ou de bordejar nos seus lagos pelo simples prazer da vista, pela necessidade de fortalecer os pulmões ou de acalmar os nervos.

Mas em cada cantinho de vale, em cada socalco de terreno, assim como nos vértices das montanhas, esse vai-vem formidável de estrangeiros encontra sempre uma pousada, um albergue, uma hospedaria confortável, quando não depara com um desses grandiosos edifícios, que abundam na Suissa, tanto á beira dos lagos como nas regiões alpinas e que, sob os nomes de Palace Hotel, Grand Hotel, Kurhauss Hotel, proporcionam aos seus hóspedes, além de bom alojamento e boa comida, os atractivos dos seus hall sumptuosos e dos seus salões de festas onde se realizam bailes, concertos e soirées dramáticas que em alguns desses hotéis chegam a dar a ilusão de festas particulares elegantíssimas.

A Suissa, que explora como nenhum outro país a indústria das viagens entendeu que, antes do caminho de ferro, do funiculare até da própria estrada, quando se não podem fazer duas coisas ao mesmo tempo, é mister começar por construir o hotel…

Quantos hotéis teve e tem ainda a Suissa que apenas são acessíveis por estradas e até por simples caminhos, enquanto a tracção mecânica não pode ser estabelecida em condições económicas de provável êxito?…

O hotel, principalmente o bom, é muitas vezes a única razão de ser de algumas vilegiaturas suissas que tanto andam na voga!…

Porque em Portugal as hospedarias são na maioria más, as camas duras e o asseio escasso, e muitas vezes nem boas nem más existem, o estrangeiro, em geral, limita a Lisboa e seus arredores, as poucas viagens que faz ao nosso país, que, mesmo dos próprios portugueses, não é inteiramente conhecido.

Há distritos e até províncias onde, à excepção do viajante do comércio e dos funcionários civis ou militares que viajam por obrigação, raríssimos são os viajantes de recreio que se têm aventurado a ir até lá!

O próprio Minho, que é a província mais percorrida nas viagens de prazer, tem tanta aldeia formosa e mesmo vilas das mais pitorescas, que nós não conhecemos!...

Nestas condições ainda há poucos anos se encontrava uma das regiões mais encantadoras do distrito de Coimbra, a qual nem mesmo com as estradas do reino estava sequer ligada !

Referimo-nos à região de Penacova-Lorvão, nos contrafortes da Serra do Bussaco e na margem direita do Mondego.

O desleixo dos governos e as frequentes alternativas da política não permitiram ainda até hoje que fosse concluída a estrada do Bussaco a Penacova, nem tão pouco a que liga esta vila com Lorvão, que continua acessível apenas por uma íngreme e tortuosa ladeira!

Mas já se pode ir a Penacova por Coimbra e a estrada que lá nos conduz levará ali todos os estrangeiros que visitem Portugal, quando esta região estiver nas condições de os hospedar. Esta estrada por si só vale a viagem, quando o panorama que se goza em Penacova, do Penedo do Castro ou do Mirante Emygdio da Silva não sejam dos mais deslumbrantes que é dado contemplar aos que percorrem o mundo na demanda do pitoresco e do belo surpreendente !

A estrada de Coimbra a Penacova segue a margem direita do Mondego, cingindo- se tanto quanto possível ás ondulações da encosta e à linha caprichosa do talweg desse rio que percorre uma das regiões mais pitorescas e variadas, ora espraiando-se por campos feracissimos através de hortas e laranjais, ora apertado entre aprumados alcantis onde a vegetação nem sempre consegue ocultar os maciços de rocha que se destacam majestosos daquela paisagem luxuriante.

Essa estrada, que nem mesmo uma fita cinematográfica seria capaz de reproduzir, é com efeito um dos mais belos trechos do Portugal pitoresco e não conhecemos muitas que sob este aspecto se lhe avantagem na Europa dos touristes.

E’ no meio deste cenário deslumbrante e cheio de contrastes flagrantes, que surge a vila de Penacova, debruçada sobre o Mondego, que domina de grande altura, abrangendo por isso um vasto panorama em que os olhos se perdem extasiados num horizonte longínquo que serve de esfumada moldura a uma imensa paisagem, ora retalhada de pinhais ou sobrepujada de penedias que dão ao quadro uma tonalidade grave e austera, ora entrecortada de pomares, de vinhas e de milheirais, numa harmonia quase geométrica que é felizmente quebrada aqui e acolá, perto ou longe, inúmeras vezes, pela casaria branca das vilas, das aldeias e dos lugarejos que põe manchas alegres e dá vida e animação a esta grandiosa tela do maior e mais divino dos mestres - a Natureza! E através de todo esse tranquilo e ridente quadro descobre-se sempre o curso do poético Mondego, que ora veste o coturno trágico ao passar Entre Penedos, ora desliza na amenidade da paisagem coimbrã espraiando-se pelos campos a jusante de Penacova.

Uma vez ligada a Lorvão e ao Bussaco pelas estradas que estão em adiantada construção, Penacova fica ocupando o vértice de um triângulo de vilegiatura que há-de constituir um percurso de turismo obrigatório, dependendo apenas da edificação de um hotel simples e moderno a fixação dessas colónias ambulantes. . .

Não faltam para isso atractivos à linda vila, e não é de certo o menor deles a visita ao histórico mosteiro de Lorvão que fica a meia hora de distância, pelo ramal da estrada que está em construção.

Centro de numerosas excursões, como qualquer dos outros vértices do triângulo que tem por base Coimbra-Bussaco, a região penacovense pode ser um dia tão afamada como algumas estações da Suissa.

Basta para isso que os penacovenses tenham a iniciativa dos Suissos.

L. MANO


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(1) Karl Baedeker (Essen, 3 de novembro de 1801 — Koblenz, 4 de outubro de 1859, notação contemporânea: Karl Bædeker) foi um editor alemão e fundador do mundialmente famoso e ainda hoje publicado Guia de Viagem Baedeker.

 (2) Temporada que se passa fora da zona de habitação habitual, a banhos, no campo ou viajando, para descansar dos trabalhos habituais.






sábado, junho 20, 2020

Os dias dos aristas: oxigenar os pulmões, piquenicar, pescar, conviver na Pérgola, dançar no Club ...




Durante algumas décadas caído em desuso, o termo foi agora recuperado para a promoção turística de Penacova. O "Roteiro do Arista" selecciona oito locais de maior expressão turística, tantos quantos as letras que formam a palavra Penacova. 

A criação da Sociedade de Propaganda de Portugal (1906), onde militavam destacadas personalidades, entre elas Alfredo da Cunha e Manuel Emygdio da Silva e a criação da Repartição de Turismo, no seio do Ministério do Fomento (1911), foram decisivas para o desenvolvimento do turismo no nosso país. 

Acompanhando o movimento europeu de valorização do turismo, e acreditando-se que o turismo podia ajudar o país a sair da profunda crise social e económica que atravessava, realizou-se em Lisboa, em 1911, o IV Congresso Internacional de Turismo, de cujo secretariado fez parte Emídio da Silva. Também Alfredo da Cunha, director do Diário de Notícias, teve um papel importantíssimo neste processo. 

A inauguração do Mirante em 1908 que além de Emídio da Silva, que tinha conhecido Penacova pela mão do Deão Leite, e de Alfredo da Cunha, trouxe a Penacova nomes importantes da elite lisboeta e catapultou as belezas da vila para as páginas dos jornais (Diário de Notícias), das revistas (Serões) e dos roteiros turísticos que começaram a surgir. 

Estamos convencidos que Penacova, com as suas belezas naturais, com os seus “bons ares”, com a vantagem de integrar o triângulo turístico Coimbra- Luso – Penacova, só beneficiou deste movimento nacional e se afirmou como estância turística porque teve a sorte de seduzir “apaixonadamente” pessoas influentes do nosso país que se tornaram embaixadores de Penacova em todos os areópagos que frequentavam. Recordemos alguns dos seus nomes: Emídio da Silva, Alfredo da Cunha, Raul Lino, Simões de Castro e Oliveira Cabral (mais tarde). 

Foi assim que Penacova se tornou terra de “Aristas” e na década de quarenta “regorgitava” já de “ilustres creaturas” que “atraídas pelos bons ares, águas e pitorescas paisagens“ aqui vinham gozar as suas férias para “oxigenarem os seus pulmões e tonificarem os nervos” envolvidos pelo “magnífico ambiente" de "verdadeiro sanatório" e "carinhosa hospitalidade". 

Gazeta de Coimbra[1] noticia em 1932: "Penacova tem sido este ano muito concorrida por famílias que ali foram passar a época calmosa, sendo também numerosas as excursões que têm vindo à Sintra do Mondego". Ficamos também a saber que "a maior parte das famílias que ali têm feito vilegiatura são de Lisboa e, em geral, divertem-se pescando no Mondego, realizando pic-nics, passeando em barcos, reunindo-se na Pérgola e organizando bailes no Club." 

Ainda não se tinham "descoberto" as praias, por isso de banhistas não tem Penacova histórias para contar… mas de aristas e excursionistas muitas marcas ficaram nesta " terra de encantamento", nesta terra que inspirou muitos escritores e poetas:

  “Eis ao longe Penacova… / P'ra lá vai o pensamento / É formosa e sempre nova / E terra de encantamento // D'aquele Mirante altivo / E de tamanha grandeza / Fica nosso olhar cativo / De tanta, tanta beleza …”[2]


[1] Setembro de 1932
[2] Grupo Musical Recreativo de Coimbra


sábado, junho 10, 2017

Cem anos de turismo em Penacova...

Turismo... um tema recorrente em Penacova. Páginas e páginas que ao longo do século vinte (e nestes inícios do segundo milénio) vêm sendo escritas na imprensa local. Muitas ideias, muitas opiniões, e o eterno lamento e atirar de culpas perante as escassas concretizações  no sentido de  aproveitar o grande potencial natural e cultural da vila e do concelho. Ao longo dos tempos fomos vivendo momentos de esperança num futuro mais "progressivo".  No entanto,  logo a seguir,  veio o desalento porque afinal tudo continuava na mesma. 
Este conflito não é exclusivo de Penacova nem do tema do Turismo. É verdade. Mas seria curioso analisar tudo o que nos últimos cem anos, incluindo a semana que termina, se foi dizendo e escrevendo sobre o malfadado desenvolvimento turístico de Penacova.
Apenas a título de exemplo, deixamos um texto do grande arista e amigo de Penacova, Manuel de Oliveira Cabral, publicado no Notícias de Penacova há 70 anos:


sábado, janeiro 12, 2013

Jovens empreendedores aprendem a fazer negócios no Turismo

 

O Turismo de Portugal vai ajudar jovens empreendedores a criarem o seu negócio no setor do Turismo, apoiando-os na concretização de ideias inovadoras e na construção de planos de negócios.
A Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra será a próxima a receber as Jornadas do Empreendedorismo Turístico, a 16 de janeiro, depois de a iniciativa ter passado por Lisboa e Porto. O ciclo termina no Estoril, a 24 de janeiro.

Com esta iniciativa, o Turismo de Portugal pretende estimular os jovens empreendedores a criar os seus negócios turísticos, dando a conhecer alguns dos mecanismos de apoio às empresas e partilhando casos de sucesso nesta área.
Durante a formação, uma equipa de colaboradores do Turismo de Portugal, do IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação), do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) e da Banca vão também dinamizar um workshop para ajudar a construir um plano de negócios.
As inscrições – gratuitas - são feitas no portal http://escolas.turismodeportugal.pt/, onde constam as datas das sessões e também o programa provisório. As presenças estão limitadas à capacidade das salas.
 
Esta e outras notas à Comunicação Social estão disponíveis para consulta no Portal do Turismo de Portugal – www.turismodeportugal.pt – em “Imprensa”.
 
 

segunda-feira, setembro 17, 2012

Penacova comemora Dia Mundial do Turismo


Integrado nas Jornadas Europeias do Património vai ralizar-se no dia 27 pf em Lorvão um colóquio subordinado ao tema "MOSTEIRO DE LORVÃO - O FUTURO DA MEMÓRIA".

sábado, abril 21, 2012

Um apelo de há 75 anos ...

in Notícias de Penacova 1937

Portugueses procurai conhecer Portugal
Visitai Penacova
e
descobrireis as mais belas paisagens

Visitai o Preventório
e ficareis encantados

Visitai o magestoso Convento de Lorvão

domingo, outubro 02, 2011

PENACOVA DEBATEU TURISMO

 Realizou-se no dia 1 de Outubro de 2011, no Auditório do Centro Cultural de Penacova, o Colóquio “Turismo, Inovação e Empreendorismo”.

Abriu os trabalhos o Presidente da Assembleia Municipal, Engº Pedro Coimbra. Seguiu-se a intervenção do Presidente da Região de Turismo do Centro, Dr. Pedro Machado. Recordou que estamos perante um novo paradigma turístico em que, do modelo em que a oferta dominava a procura se começa assistir a uma realidade diferente onde é a procura que determina a oferta. Reforçou a ideia de que é necessário aumentar a competitividade, transformando os recursos existentes em produtos turísticos, implicando uma dinâmica empresarial colectiva e uma preocupação muito grande com a formação e a qualificação. O Presidente da Câmara Municipal, Dr. Humberto Oliveira, reafirmou a aposta no Turismo, dizendo que em cada discurso, em cada opção política, o turismo tem que estar na ordem do dia. Ainda na sessão de abertura, a Drª Paula Silva apresentou uma síntese histórica sobre o turismo em Penacova no primeiro quartel do século XX. Também a Drª Ana Sousa, Técnica do Município, com base no vídeo promocional do concelho, fez uma caracterização do mesmo e dos seus recursos turísticos.

O 1º painel do programa teve como tema "A importância da Gastronomia na afirmação de um destino turístico" que contou com as intervenções do Dr. Fernando Lopes, da Confraria da Lampreia, do Prof. Horácio Flórido, da escola Beira-Aguieira, dos Chefes Hélio Loureiro e Albano Lourenço e do Dr. Gonçalo Reis Torgal. O saber receber, o saber-fazer, a competitividade, a exigência profissional, o saber reinventar, a defesa dos pratos tradicionais, foram alguns dos muitos aspectos abordados.

No  2º painel, " Turismo Aventura: uma aposta estratégica",  o Dr. António Martins, da Região de Turismo do Centro fez o enquadramento do Turismo de Natureza, afirmando que o mesmo representa cerca de 70% do turismo nacional, sendo um potencial em crescimento também a nível internacional. Seguiu-se a intervenção do Dr. Luís Antunes, da Câmara da Lousã que apresentou a experiência daquele concelho ao nível do Turismo Activo, com principal destaque para o Downhill. Representando a APECATE - Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, o Dr. Paulo Rocha, deixou quatro tópicos que considera importantes: a integração de produtos locais e regionais, a integração das populações locais, o trabalho em rede/parceria e a criação de oferta de "pacotes" turísticos consistentes.
O último painel " A importância da Inovação em turismo: empresas e experiências" contou com a presença da Drª Cláudia Rebelo que apresentou o projecto Douro 41, em Castelo de Paiva. A Trans-Serrano, empresa sedeada em Góis, foi apresentada pelo Dr. Paulo Silva. Empresa que conjuga, por exemplo, no nosso concelho, actividades como a canoagem com a Rota da Farinha e da Broa. A terminar este painel, o Dr. Alberto Gradim, director- geral do Hotel Vila Galé em Coimbra, falou de empreendedorismo em hotelaria.

A encerrar o Colóquio, a Vereadora do Turismo, D. Fernanda Veiga, salientou a importância deste espaço de debate e prometeu  a realização de mais  espaços de reflexão. A concluir o Dr. Humberto Oliveira,  reafirmou a importância estratégica deste tema e mostrou-se confiante no futuro do turismo em Penacova.


quinta-feira, setembro 29, 2011

Revisitar o passado em Dia Mundial do Turismo


Conforme estava anunciado, o Dia Mundial do Turismo foi assinalado em Penacova com uma visita guiada aos pontos principais da vila, através de uma recriação do início do século XX que esteve a cargo dos grupos folclóricos de Penacova, Chelo e São Pedro de Alva. O serão foi animado e bastante participado.
A iniciar o percurso foi escutado, junto à Igreja, o discurso de Simões de Castro, proferido em 30 de Maio de 1908 quando o Penedo da Cheira passou a designar-se por Penedo do Castro. Seguiu-se uma visita à Igreja Matriz, onde além de se apreciarem os aspectos históricos e arquitectónicos, se ouviram antigos cânticos ao Santíssimo Sacramento.
Junto ao Chafariz que ostenta a data de 1909 (chafariz que desde o momento em que Joaquim Leitão o ofereceu à Câmara e foi implantado no Largo Alberto Leitão, mudou de lugar diversas vezes),  um casal de namorados  e mulheres que ali vão encher os cântaros recriam um ambiente há muitos anos desaparecido. Ali perto não faltou a figura do barbeiro, homem que geralmente era enfermeiro e dentista.
O grupo de figurantes e público seguiu para a Casa da Freira onde foi encenado um serão sobre a ancestral confecção de palitos em Lorvão. À volta do Cruzeiro assiste-se ao "tirar de um cobranto" e mais acima os romeiros detêm-se junto à Capela de N. Sª da Guia (cuja frontaria se encontra hoje integrada no Hotel. Neste local terá existido a antiga Igreja Matriz que tinha a fachada principal voltada a nascente. Uma vez em ruinas, parte da estrutura deu lugar à capela, voltada a poente, aproveitando restos das antigas paredes. Naquele monte existiu também o cemitério antigo, até finais do século XIX, dando depois lugar ao da Eirinha.
A visita prossegue e eis-nos no Mirante Emídio da Silva. Ao lado do presidente da Câmara em exercício em 1908 (Dr. José Albino Ferreira , padre sem paróquia e notário) ouvimos o discurso  de Manuel Emídio da Silva, proferido naquele local em 31 de Maio de 1908. Memórias bem retratadas no Jornal de Penacova que descreve ao pormenor a inauguração do Mirante.
De regresso ao Terreiro é feita uma referência a Raul Lino e à sua obra – a Pérgola -  e à Sociedade de Propaganda de Portugal.
A terminar, a satisfação pelo êxito da iniciativa.  Usaram da palavra a Vereadora da Cultura, Fernanda Veiga e o Presidente da Câmara, Humberto Oliveira.

David Almeida

segunda-feira, setembro 26, 2011

Friúmes: entre o Rio e a Montanha - a dinâmica das suas Gentes

Festa da Freguesia - 24 de Setembro


A Freguesia de Friúmes encontra-se entre o rio e a montanha, entre a água e o vento.
Ladeada por 2 rios, Mondego e Alva, na margem esquerda possui um espaço de lazer, Vale da Chã, composta por: areal, caneiro, roda (doida), bar, mesas pic-nic, vegetação impar entre amieiros e freixos, tudo para poder disfrutar das águas calmas e amenas características deste rio.
Na montanha: Serra da Atalhada, existe uma cordilheira de 24 moinhos de vento, agora quase todos reconstruídos, uns transformados para habitação (quarto, casa banho) os quais podem ser alugados para disfrutar de um fim de semana na natureza; outros fidedignamente transformados em museu, para assim poder transmitir aos mais novos o que era um moinho de vento e para que servia. Existem infraestruturas de apoio como: restaurante, bar, posto de turismo e uma eira antiga (em fase de conclusão), espaço para autocaravanas. Vistas impares de perder de vista, tanto para a serra da estrela como para a serra do bussaco.
Outros pontos de interesse a visitar: Igreja matriz, capela N.S.Conceição, Fontanário de Miro, Zagalho e Carregal, ruínas fornos da cal no Zagalho e Vale do Tronco, velha mina abandonada chamada “Toca da Moura”
Artesanato Típico: Tecelagem do linho, latoaria, tamancaria, barcas serranas em madeira, rodas doidas de rio, moinhos vento, azenhas, colchas de trapos, entre outros.
Gastronomia: Lampreia, folar doce, chanfana e peixe do rio.
António Fernandes

Conjunto de imagens sobre o complexo de Moinhos de Vento da Serra da Atalhada e dos recantos fluviais de que dispõe a freguesia. Também fotografias de uma actividade desportiva: o ténis.

quinta-feira, setembro 22, 2011

A Bela Adormecida: Oliveira Cabral e o Turismo em Penacova

"A BELA ADORMECIDA"
ARTIGO PUBLICADO NO FRONTAL
DE 16 SET 2011
A Bela Adormecida

O tema do turismo em Penacova já é antigo, como antigos são os contos de fadas. Ao longo dos últimos cem anos não faltou quem enumerasse as potencialidades do nosso concelho, quem avançasse propostas para a sua exploração enquanto fonte de riqueza, quem identificasse constrangimentos, quem apontasse culpados para o seu paradoxal atraso turístico.
Este debate passou muitas vezes pelos jornais locais e regionais. Muito se argumentou e contra-argumentou. Recordamo-nos que por volta de 1952, apareceram artigos que já falavam da velha e gasta crítica de que Penacova andava a dormir – talvez baseada numa teoria que circulava por estes lados, no sentido de se pensar que, certo dia, esta vila teria sido invadida por um "enxame" de moscas tzé-tzé, aquele " repulsivo insecto do sono" .

Em resposta a um editorial intitulado "Penacova não pode adormecer" surge uma reacção assinada por um "Zé Nicolau" defendendo que Penacova podia e devia adormecer, a par de uma outra opinião assinada por um " João Ninguém" que acrescenta: "Penacova não pode adormecer? – é conforme!". E a rematar esta troca de opiniões, surge um artigo de Oliveira Cabral garantindo que "Penacova não adormecerá".

Mas não só de críticas se alimentava a opinião pública penacovense. Já em 1932 Alípio Barbosa Coimbra defendia no artigo "Penacova e o Turismo" que para fixar os turistas havia que "cercá-lo" de comodidades, criando por exemplo um Hotel de Intercâmbio, estabelecendo "entendimentos" com os grandes hoteleiros de Coimbra e do Bussaco. Defendia também um Restaurante de Montanha na zona de Entre-Penedos e a exploração da água das Caldas. Certamente para calar outros articulistas que se limitavam a criticar o marasmo de Penacova – baseado também numa outra teoria que apontava a falta de dinamismo local aos miradouros que seriam um convite ao "quietismo do corpo e ao sonho da alma", gerando nas pessoas "o pasmo" e o "sonambulismo" de que parecia enfermarem - avança de imediato com a proposta da criação de uma Comissão de Melhoramentos. Propõe para presidente honorário Manuel Emídio da Silva e sugere depois os nomes do Dr. Sales Guedes, de José Leitão, Armando Leitão, Mário Barbosa e Dr. Alberto de Castro.

De propostas e de reparos se vai mantendo o debate. Em 1956, é ainda António dos Santos Fonseca que, também no periódico local, escreve que "os penacovenses defendem os seus interesses colectivos au ralenti", convencidos que basta ao turista ficar "todo o dia a ver dormitar o Mondego." Também pela mesma altura, será Vasco Viseu a dizer que nesta terra " falta coesão, união", existindo, pelo contrário, uma super-abundância de política anti-progressiva". António Fonseca recorda ainda a criação de uma Comissão de Melhoramentos que, nos tempos da presidência de José Albino Ferreira, sonhou com um "Hotel Regional" no Penedo do Castro e com a construção de um espaço para concertos, récitas e jogos nas proximidades do mesmo. "Lunáticos" foi o que lhes terão chamado – lamenta-se. Projectos que foram sendo alvitrados, como o caso da piscina no final dos anos quarenta. A ideia teve vários apoios, houve mesmo uma subscrição pública que recolheu algum dinheiro. Em 1953 a Comissão presidida pelo Dr. António Amaral decide avançar, anuncia-se que o Engº Rui Castro Pita iria fazer a planta e os cálculos e que as obras iam mesmo começar no dia 15 de Setembro. No entanto, o assunto morreu à nascença, tendo-se concluído que a falta de água era um motivo para desistir da ideia. Mas em 1957, segundo confidencia Oliveira Cabral, na mente de Alípio Barbosa Ribeiro, presidente da Câmara, (neto de Alípio Barbosa Coimbra) ainda estaria a construção da mesma por detrás do Café Turismo. Outra obra que ainda hoje é motivo de debate é o velho "Ténis" ou " Parque Municipal". Em 1940, com pompa e circunstância, estando presentes "distintos tenistas do Porto" foi inaugurado o campo de ténis, construído sobre uns velhos paredões que ali existiam e que eram os vestígios de um outro sonho não concretizado: a construção de um Teatro. A prática do ténis pouco sucesso terá tido e mais tarde com o forte apoio financeiro de Abel Rodrigues da Costa, este espaço passa a ser conhecido também como "Parque Municipal" e ganha outra forma.

Piscina, campo de jogos, ringue de patinagem, cinema ao ar livre, parque infantil "com espelho de água", baloiços, montanha russa, praia fluvial, são propostas feitas no editorial "O Futuro de Penacova" (1952) no sentido de atrair "gente nova". A nível geral, outros melhoramentos vinham sendo sugeridos e alguns concretizados. Em 1953 preconiza-se um Miradouro para o ponto mais alto da Serra da Abarqueira, junto do marco geodésico. Para a zona que vai de Entre-Penedos até ao Reconquinho aponta-se a criação de uma zona de pesca à linha.

Um dos grandes constrangimentos foi, a dado momento, o abastecimento de água. É que, como alguém escreveu, se os turistas ao chegar se deparam "com rajadas de poeira" e com a "desolação das plantas secas" fazem como os cucos: "ao verem os restolhos vão-se embora…".

A "nova era" sonhada com a construção do Preventório nos anos trinta, afinal, não tinha modificado muita coisa. Assim, no Notícias de Penacova (1949) surge a troca de argumentos à volta de títulos como "Penacova, a Linda?", "Penacova, a Triste?" Aí se fala duma "Penacova de Sombras em Pé", de um " marasmo esmagador", de um "piano que ninguém toca", de um "turismo em agonia" e, no meio de outras críticas, procura-se atingir o Grupo dos Amigos de Penacova e a Sociedade de Recreio e Propaganda (de que falaremos futuramente). Muito se foi fazendo mas verificamos que esta tensão ainda hoje perdura. Este sentimento de inconformismo e de procura de bodes expiatórios prevalece em muitos dos debates sobre Turismo. Na polémica que refirimos atrás, entram articulistas anónimos (um "Assinante da Vila", um "Amigo de Penacova") e Oliveira Cabral, que tal como em 1952 dá a cara e expressa a sua opinião. E também, como sempre, com o seu espírito conciliador, propõe: "Penacova, a Linda? Penacova, a triste? Como queiram, mas propomos também uma designação com a qual ninguém poderá susceptibilizar-se, porque não será fácil desmenti-la: Penacova, a Bela Adormecida! "

David Almeida
in Frontal de
 16 de Setembro

domingo, setembro 18, 2011

Turistas, aristas e excursionistas

O triângulo Coimbra-Penacova-Bussaco foi, nos primórdios do turismo no nosso país, um dos circuitos mais divulgados pela Sociedade de Propaganda de Portugal. A conclusão da estrada que liga Penacova ao Luso, a "estrada dos Emídios", assim designada porque à história da sua construção ficaram ligados quer Emídio Navarro, quer Emídio da Silva, permitiu que a Penacova afluissem muitos mais visitantes, vindos de "trem" ou de automóvel.


De vários pontos do país, de Lisboa, de Coimbra, chegavam excursionistas que aqui faziam uma paragem e seguiam depois para o Luso-Bussaco. Por vezes as excursões eram recebidas ao som de música e tinham direito a uma recepção oficial. A título de exemplo, recorde-se o passeio do Grupo Musical Recreativo de Coimbra que, ao chegar a Penacova em 1932, transportado em  cinco "camionetas", é surpreendido pela Filarmónica dos Bombeiros e recebido nos Paços do Concelho pelo Secretário da Câmara, António Casimiro Guedes Pessoa. É este ambiente que leva os jornais locais a escrever que "são numerosos os que de passagem para o Luso e Bussaco, vêm apreciar este pequeno retalho da Suiça, que os deixa enamorados por mais demorada visita."
Hemetério Arantes (1854-1932), jornalista, escritor e conferencista de renome, um "arista ocasional" como ele próprio se designa, ao escrever no Notícias de Penacova um artigo intitulado "Turismo e Arismo", distingue o turista do arista. O turista seria aquele que passa "na volta consuetudinária Coimbra-Penacova-Luso" e que desce do veículo, defronte da Pérgola, do Mirante, dos "terraços do Preventório", fica deslumbrado por instantes…mas segue viagem. Pelo contrário, o arista é aquele que "procura, na delícia do ambiente, a estância de repouso, propícia à restauração dos corações cansados e nervos gastos". O primeiro é de sua natureza, efémero, "passa como um meteoro". O segundo, vem para ficar e procura alojamento com "uma cama macia num quarto arejado, alimentação sóbria e saudável".
Sobre a questão do passar e do ficar, Emídio da Silva dirá também, pela mesma altura naquele periódico (inícios da década de trinta) que de nada valem as estradas boas se as "hospedarias" forem más, pois o excursionista passa "como o Ahasverus da lenda, sempre a correr.".
Entretanto, a partir daí, Penacova terá melhorado muita coisa e, de facto, o número de aristas começou a crescer. A imprensa local escreve que Penacova "regurgita de aristas" vindos de Lisboa, Porto e de outros pontos do país, "acossados pelo calor das cidades" para "oxigenarem os seus pulmões e tonificarem os nervos com este magnífico ambiente de verdadeiro sanatório e carinhosa hospitalidade". As três pensões (à época) já são insuficientes e começam a ser alugadas muitas casas particulares.
O termo está na moda e até as notícias de S. Pedro de Alva dão conta de muitos aristas que "vêm aproveitar, no seu repouso, as águas puras e as belezas panorâmicas". Nesta localidade permaneciam também, durante os meses de Verão, quer grupos significativos de jovens da JOC, quer "gaiatos" do Padre Américo.
Não é apenas a imprensa local que procura noticiar todo este fervilhar. Também a Gazeta de Coimbra, em Setembro de 1932, escrevia: "Penacova tem sido este ano muito concorrida por famílias que ali foram passar a época calmosa, sendo também numerosas as excursões que têm vindo à Sintra do Mondego". A completar a informação refere que " a maior parte das famílias que ali têm feito vilegiatura são de Lisboa e, em geral, divertem-se pescando no Mondego, realizando pic-nics, passeando em barcos, reunindo-se na Pérgola e organizando bailes no Club."
O Grupo Musical Recreativo de Coimbra, aquando da memorável visita a Penacova escreveu: Eis ao longe Penacova… / P'ra lá vai o pensamento / É formosa e sempre nova / E terra de encantamento // D'aquele Mirante altivo / E de tamanha grandeza / Fica nosso olhar cativo / De tanta, tanta beleza …
Ecos de tempos distantes em que os "excursionistas" tinham recepções especiais na vila e retribuiam através da poesia. Tempos em os "aristas" escolhiam Penacova para fazer "vilegiatura", outro termo caído em desuso mas que significa muito simplesmente a temporada que se passa fora das grandes cidades, no campo ou na praia. De banhistas não tem Penacova histórias para contar…mas de aristas e excursionistas muitas marcas ficaram nesta " terra de encantamento"
David Almeida
in jornal Frontal
2 Set 2011
 

sábado, setembro 03, 2011

O Centenário do Turismo, Penacova e Emídio da Silva

Interessantíssimo cartaz do Congresso,
autoria de Raul Lino
Apesar de não termos como princípio publicar neste espaço artigos que foram escritos para um determinado jornal, neste caso o FRONTAL, deixamos aos leitores do Penacova Online o seguinte texto:
Decorre este ano o Centenário da Institucionalização do Turismo em Portugal. Como ponto alto da eféméride,  realizou-se  em Lisboa o Congresso do Centenário evocando  o IV Congresso Internacional do Turismo que teve lugar no nosso país em 1911.
Em 1906 havia sido criada a Sociedade de Propaganda de Portugal, também designada por Touring Club. Tinha como fins, entre outros, organizar e divulgar o inventário de todos os monumentos, riquezas artísticas, curiosidades e lugares pitorescos do País; publicar itinerários, guias e roteiros de Portugal; organizar ou auxiliar excursões; promover a concorrência de estrangeiros, e uma maior circulação de nacionais dentro do território.
Aquela associação vinha participando nos Congressos Internacionais de Turismo: em San  Sebastian, 1909, e em Toulouse, em 1910. Daí a decisão de ter lugar no nosso país o IV Congresso. A Sociedade procurou obter junto do Ministério do Fomento os apoios necessários para a organização do evento. O Governo já tencionava criar uma estrutura voltada para este sector e desde há muito a Sociedade de Propaganda o vinha reivindicando. Assim, por ocasião daquele Congresso, foi instituída a primeira organização oficial de turismo – a Repartição de Turismo , integrada na Secretaria Geral do Ministério do Fomento.
Ligado, quer ao Touring Club de Portugal, quer à organização do Congresso, vamos encontrar Manuel Emídio da Silva. Figura bem conhecida da nossa região, em especial de Penacova. A recordar ainda hoje o seu nome, encontramos nesta vila o Mirante (inaugurado em 1908)  e todo um conjunto de intervenções nos periódicos penacovenses.  A imprensa local por várias vezes o apelidou de "Cristóvão Colombo de Penacova". Alguém o considerou como autêntico  "descobridor deste mais surpreendente recanto da beleza de Portugal" e o seu melhor "pregoeiro".
Recordemos que no início do século, a Sociedade de Propaganda de Portugal incluiu Penacova no conjunto das 17 localidades portuguesas que mais mereciam ser visitadas. Emídio da Silva, através do Diário de Notícias, da revista Serões e em muitos outros areópagos onde tinha assento e auditório não se cansou de pugnar pelo desenvolvimento turístico do chamado triângulo Coimbra-Penacova-Bussaco.
Em 1916, aquando da vinda de Raul Lino a Penacova, para o arranque do projecto da Pérgola, a Sociedade tinha uma Delegação local, presidida pelo Conselheiro Luís Duarte Sereno. Mais tarde surgirá a Sociedade de Propaganda e Defesa de Penacova. Pretendia-se a promoção turística da vila, num tempo em que à mesma acorria já um número significativo de "aristas". As famílias "Fonseca" e "Silva" terão sido as primeiras a vir passar o Verão a Penacova. Estaríamos nos anos vinte. António Santos Fonseca, tesoureiro da Administração Geral dos Correios e Combatente na Rotunda em 5 de Outubro de 1910,  e o cunhado Constâncio Silva, pintor paisagista de renome, ficaram de tal modo agradados com a vila  que mandaram construir uma moradia em Santo António. Mais tarde, outro "arista", Manuel de Oliveira Cabral (e esposa Estefânia Cabreira), demandaram Penacova nos tempos de lazer,  legando-nos muito das suas qualidades  artísticas, poéticas e musicais. Oliveira Cabral terá sido, a seguir a Emídio da Silva, um dos maiores arautos deste lugar enquanto estância de repouso.
Por hoje, deixamos aos nossos leitores um excerto de uma carta de Manoel Emygdio da Silva, escrita em Lisboa a 10 de Setembro de 1931, poucos anos antes da sua morte, dirigida ao director do Notícias de Penacova:
"Solicita V. a minha colaboração para o primeiro número do seu jornal, honra que me desvanece e tanto mais por me dizer que igual solicitação fez ao meu erudito e bondoso amigo Dr. Augusto Mendes Simões de Castro, considerando-nos ambos entre os melhores amigos de Penacova, camaradagem e título que me envaidecem também.
Há um quarto de século que venho a Penacova e que desde o primeiro dia tenho sido um entusiástico propagandista das belezas pitorescas desta linda vila. A minha propaganda não tem sido porém tão desinteressada como muita gente crê, pois sou pago de cada vez que volto aqui pelo deslumbramento desta sublime paisagem que me inebria de prazer espiritual! …E sou ainda generosamente gratificado pelo acolhimento carinhoso e pelas distinções que ao mesmo tempo recebo dos Penacovenses entre os quais logrei criar amizades certas e duradouras."
De turismo em Penacova nas primeiras décadas do século XX, de potencialidades naturais e de entraves ao progresso, de propostas concretas apontadas na época para o desenvolvimento deste sector, de "aristas" e também de " excursionistas", falaremos nos próximos números.
 David Almeida,
publicado no jornal Frontal de meados de Agosto de 2011.