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quinta-feira, setembro 19, 2024

Governadores civis (6): Vítor Fernando da Silva Simões Alves


Naturais de Penacova, ou a este concelho ligados por casamento, contam-se seis Governadores Civis. Conforme já registado no Penacova Online, recordemos: José Joaquim dos Reis Vasconcelos (Governador Civil Interino de Lisboa, 1846); Fernando Augusto de Andrade Pimentel de Melo (Governador Civil de Coimbra, 1876 e 1878-1879); Júlio Ernesto de Lima Duque (Governador Civil de Évora, 1904-1905); Artur Ubaldo Correia se Sousa Leitão (Governador Civil de Leiria, 1904-1906); Luís Duarte Sereno (Governador Civil de Coimbra, 1905) e Vítor Fernando da Silva Simões Alves (Governador Civil de Bragança, 2009).

Completamos hoje a série de notas biográficas sobre estas seis personalidades, transcrevendo o que relativamente a Vítor Alves, nascido em Sazes do Lorvão em 1956, se encontra publicado em Os Governadores Civis do Distrito de Bragança ( 1835-2011), edição da Câmara Municipal de Bragança, 2024:



VÍTOR FERNANDO DA SILVA SIMÕES ALVES
"Professor do ensino secundário e superior. Licenciado em História e mestre em História Económica pela Universidade de Coimbra. Membro da Assembleia Municipal de Bragança (1989-1997 e 2005-2009). Vereador da Câmara Municipal de Bragança (1997-1998). Presidente da Assembleia de Freguesia de Sazes de Lorvão (2005-2009 e 2009-2013). Governador civil de Bragança (2009).

Natural da freguesia de Sazes de Lorvão, concelho de Penacova. Filho de Avelino Simões Alves e de Maria Idalina da Silva. Casado com Olga Maria Cabrita Nunes, de quem teve dois filhos, Ricardo Nunes Alves e Carolina Nunes Alves.

Em 1978, iniciou a carreira profissional como docente do ensino secundário, antes ainda de concluir a licenciatura em História, na Universidade de Coimbra, o que veio a acontecer em 1983, com a classificação de 16 valores.

Em 1987, passa a lecionar na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTiG) do Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

Neste âmbito, foi coordenador do Departamento de Ciências Sociais da Escola Superior de Educação de Bragança (1988-1990), coordenador do Departamento de Direito e Ciências Sociais da ESTiG durante vários anos, presidente do Conselho Pedagógico da ESTiG (1998-1999) e diretor da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Mirandela, do Instituto Politécnico de Bragança. (1999-2006).

Em 1989, obteve o grau de mestre em História Económica, também pela Universidade de Coimbra, com a classificação final de Muito Bom, tendo apresentado uma dissertação subordinada ao tema Sazes de Lorvão de 1660 a 1670. Organização do Espaço, Sociabilidade e Poderes numa Paróquia Rural.

Em 1991, efetuou uma pós-graduação em Economia na Universidade Lausanne (Suíça), e em 2009, requereu a prestação de provas de doutoramento em História Económica na Universidade de Coimbra, com uma tese sobre o Quotidiano e Poderes em Torre de Moncorvo, do Marquês do Pombal ao Liberalismo.

Publicou numerosos trabalhos em revistas nacionais e internacionais e foi coordenador de múltiplos projetos, entre os quais, A Expansão da Vinha no Douro Superior nos Séculos XVIII e XIX; As Políticas de Abastecimento no Douro Superior (1700- 1900); Poder e Sociedade em Torre de Moncorvo (1750-1830); Programa de Promoção de Trás-os-Montes e Alto Douro (2005-2006); Plano Regional de Ordenamento do Território de TMAD (2004-2006); e Avaliação do Programa da Rede Social de Mirandela (2006).

Fora do âmbito académico, foi gestor do Programa de Desenvolvimento Integrado do Vale do Côa (PROCÔA) em 1996 e 1997, e em março de 2010 foi nomeado diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde do Alto Trás-os- -Montes I – Nordeste.

Militante do Partido Socialista, desempenhou vários cargos de relevo na Câmara Municipal de Bragança, quer como membro da Assembleia Municipal (1989-1997 e 2005-2009), quer como vereador (1997-1998).

Foi também presidente da Assembleia de Freguesia da sua terra natal, Sazes de Lorvão (2005-2009 e 2009-2013).

Em 15 de julho de 2009, na sequência do pedido de exoneração de Jorge Gomes como governador civil de Bragança, foi nomeado para o mesmo cargo, por resolução do Conselho de Ministros de 9 de julho, sob proposta do ministro da Administração Interna, Rui Pereira.

O convite, nas palavras do próprio, “surpreendeu-me um pouco, pois nos últimos anos não tenho andado na política ativa, embora não me tenha afastado totalmente, pois mantive o sentido de ajuda pública”, mas foi essa “noção de serviço público e o facto de querer servir quando é necessário” que o levaram a responder afirmativamente, embora sob o compromisso de apenas “substituir o antigo governador civil enquanto se verifique essa necessidade, ou seja, até às eleições legislativas”.

Efetivamente, Vítor Alves seria exonerado a 19 de novembro seguinte, na sequência da recomposição do elenco de governadores civis feita pelo segundo Governo presidido por José Sócrates, que havia sido reeleito em setembro.

Apesar de curto, o seu mandato foi alvo de algumas atribulações. Desde logo, no contexto das referidas eleições legislativas, membros do Partidos Social Democrata de Vinhais reclamaram junto da Comissão Nacional de Eleições “em virtude de uma câmara de vigilância apontada diretamente” para um posto de voto, levando o governador civil de Bragança a pronunciar-se sobre o assunto, concluindo Vítor Alves que tais alegações não tinham qualquer fundamento.

Nas eleições autárquicas, realizadas no mês seguinte, houve necessidade de repetir a votação em três freguesias do distrito, depois de se observar um empate entre as candidaturas de PS e PSD, suscitando a intervenção de Vítor Alves na organização do novo processo eleitoral.

Foi ainda confrontado, durante o mês de agosto de 2009, com os graves incêndios florestais que afetaram o distrito de Bragança, com particular intensidade em Calvelhe, onde o fogo destruiu mais de mil hectares de floresta, trabalhando de perto com a Autoridade Nacional de Proteção Civil na articulação dos meios que intervieram no combate às chamas.

Ao presente [2015) reside em Bragança, onde continua a lecionar na ESTiG/IPB.

Fontes e Bibliografia: Informações prestadas por Vítor Alves | Diário da República, Série II, n.º 144/2009, 28.7.2009; n.º 166/2009, Série II, 27.8.2009; e n.º 230/2009, Série II, 26.11.2009; Série II, n.º 71, 13.4.2010 | Comunicado do Conselho de Ministros de 9 de Julho de 2009 http://www.portugal.gov.pt/pt/o-governo/arquivo-historico/governos-constitucionais/gc17/comunicados-cm/cm-2009/20090709.aspx| Jornal Nordeste, 15.7.2009 |Correio da Manhã, 11.10.2009|LUSA, 15.10.2009."

sábado, maio 25, 2019

Os santeiros de Sazes



O Inventário Artístico de Portugal (volume relativo ao distrito de Coimbra, publicado em 1952) menciona  que a Igreja de Sazes tinha “muitas esculturas espalhadas pelos altares e arrecadações, obra do pároco, Padre António Abílio dos Santos”.

Assinatura do Pe António Abílio dos Santos
quando, em 1890, era pároco de Sazes

Na Exposição Distrital de 1884 pôde ser apreciado pelos visitantes uma imagem de S. João, “pequena escultura em madeira”, tendo como autor “o reverendo António Abílio dos Santos, cura na paróquia de Sazes”. A estatuária religiosa de Sazes adquirira já alguma projeção regional. É numa publicação que descreve aquele certame que se pode ler uma curiosa referência a esta arte tradicional arreigada naquela freguesia:
“Naquela pitoresca aldeia das vertentes ocidentais da serra do Bussaco é tradicional nos seus diretores espirituais a tendência para a estatuária. Durante muitas gerações ali tem existido, junto da singela e rústica igreja, uma modestíssima oficina de modelação e estátuas religiosas.”
A origem desta arte, poderíamos dizer indústria, estaria relacionada com o Convento do Bussaco: “Neste eremitério dos Carmelitas Descalços houve alguns monges que se dedicaram à arte escultural e que legaram àquele convento algumas obras de merecimento”.  Sazes fica muito próximo do Bussaco e, provavelmente, foram aqueles “frades-artistas”, ao visitarem com alguma assiduidade as aldeias circunvizinhas, a origem da indústria de imagens existente em Sazes e muito conhecida não só no concelho de Penacova mas também no de Mortágua e na região da Bairrada. [1]
Nestas terras “o prior de Sazes e o seu cura são conhecidos e apontados como artistas estimáveis, e as suas obras por lá figuram em muitas capelinhas, ermidas e paroquias.” Esta indústria de Sazes assumiu alguma dimensão e “as encomendas” passaram a ser muitas “ porque a obra agrada[va] ao consumidor e os preços [eram] modicíssimos”.
A arte terá passado de uns párocos para os outros: “Terminados os ofícios divinos, o pároco despe as vestes sacerdotais, adorna-se com a simpática blouse do artista, e ei-lo que nos surge um verdadeiro operário, modelando ou esculpindo as obras que lhe são encomendadas!”




[1]O sr. padre A. Abílio dos Santos esculpiu uma imagem do Senhor morto que se venera na Igreja de Sangalhos, próximo a Oliveira do Bairro, uma do Senhor crucificado na capela do cemitério de S. Martinho da Cortiça, concelho de Arganil, outra dita  na Igreja de Alvaiázere, outra de Nossa Senhora na capela do lugar de Monte-Novo, junto ao Bussaco, outra dita em uma capela do Souto, freguesia de Espinho, de Mortágua. É também autor de duas de Santo António, uma na Igreja da Brenha nas proximidades da Figueira da Foz, e outra n’uma capela próximo a Vale da Mó, concelho de Anadia, além de muitas outras em capelas e casas particulares.”- pormenoriza aquele documento que descreve a Exposição Distrital  de 1884.

domingo, outubro 02, 2016

Sazes: no 118º ano de existência, Irmandade do S.S. e N.S. do Rosário afirma vitalidade



O Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, esteve hoje em Sazes. Inaugurou as obras de restauro e ampliação da Casa Paroquial, culminando assim, dum modo solene, o meritório trabalho do Conselho Económico da Paróquia, reconhecido que é também o empenhamento de toda a freguesia.
A Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora do Rosário esteve igualmente em destaque, dado que foi benzido o novo estandarte desta secular instituição que tem como membros da Mesa, Horácio Neves (Juíz), Sílvio Costa (Tesoureiro) e Inácio Ferreira (Escrivão).

Alvará de 1898, publicado no caderno
 que em 1907 divulgou
 o Compromisso da Irmandade
Recordemos um pouco do percurso desta Irmandade:
Até 1898 existiam em Sazes duas Irmandades: a do Santíssimo Sacramento e a de Nossa Senhora do Rosário. Nesse ano, fundiram-se e o respectivo Compromisso (Estatutos) foi aprovado pelo Governo Civil de Coimbra em 13 de Julho daquele ano.
Existem referências (anotações constantes dos Orçamentos que se encontram no Arquivo da Universidade de Coimbra) que atestam que a Irmandade de N.S. do Rosário se regia por Estatutos aprovados pelo Ordinário (Bispo) em 1799 (provisão de 8 de Junho). Quanto à Irmandade do S.S. não dispomos dessa informação. No entanto, Vitor Simões Alves, historiador, natural de Sazes,  refere na Bibliografia de um  seu trabalho sobre esta freguesia (cuja leitura recomendamos) a existência de Estatutos da Confraria do Santíssimo com data de 1750 e também da Confraria de N. Sª do Rosário com data de 1699. Seja como for, a sua antiguidade é um facto.
Com o advento da República, esta Irmandade, erecta em 1898,  viu-se obrigada a reformular os seus estatutos. Curiosamente o alvará que aprova esse aditamento está assinado por um penacovense, na altura (1915) Governador Civil, o Juíz de Direito, Luís Duarte Sereno. Não dispomos desses estatutos, mas tudo leva a supor que vêm na sequência da Lei de Separação e das convulsões político-religiosas que se viveram em Portugal.
Vejamos um pouco da história geral das Irmandades em Portugal:
Foi no Concílio de Trento (1545-1563) que foram definidas as competências das confrarias, que entretanto se estavam a difundir pelo mundo católico. O culto eucarístico, foi então incrementado com a reforma católica deste concílio Tridentino, influenciando a expansão das




confrarias do Santíssimo Sacramento.O modelo, aprovado pelo Papa Paulo III em 1537, promovia o culto eucarístico, zelo pelos sacrários, visita aos enfermos, acompanhamento do sagrado Viático, realização da festa em honra do Santíssimo, celebração de missas por intenção dos irmãos, fomento da oração diária. Entretanto existiam já outras Irmandades: das Almas, de Nossa Senhora do Rosário…
Com o advento da Época Moderna, o poder real começou  a exercer um maior controlo sobre as irmandades: aprovando os seus estatutos e fiscalizando as suas contas; estas instituições dependiam ainda de autorização superior para o pedido de empréstimos ou aceitação de legados pios.
 Após a mudança política em Portugal operada com a revolução liberal, a autoridade da coroa sobre as irmandades continuou a ser exercida praticamente nos mesmos termos.
Com a implantação da República, as irmandades sentiram dificuldades em assegurar o seu dinamismo e a situação política vivida, condicionou fortemente a ação pastoral do clero e dos fiéis. O novo regime avançou com o plano de substituir as Irmandades por associações cultuais, cujos preceitos organizativos eram impostos pelo poder político. No mínimo, a esses novos poderes ficaram, diríamos, completamente submetidas.
Algumas harmonizaram os estatutos, ao abrigo do artigo 17º da Lei da Separação, transformando-se em associações cultuais. Outras reformaram os seus compromissos ao abrigo do artigo 38º da mesma lei.  Entretanto, com o esbater dos anos e com as alterações políticas, ainda ao longo da I República, a situação tendeu a normalizar-se.
Oportunamente voltaremos ao assunto para desenvolver mais alguns pontos do historial e da orgânica desta Irmandade do Santíssimo e Nossa Senhora do Rosário de Sazes: pessoas, orçamentos da segunda metade do século XIX, normas do Compromisso, e outros pormenores.

Estatutos de 1898, impressos
 num pequeno livro com data de 1907

Diploma em formato A3