sábado, março 26, 2016
segunda-feira, março 21, 2016
Luís Pais Amante: conectado com a terra, com o rio, com os locais onde trabalhou, passeou e foi feliz
Luís Pais Amante, advogado e consultor em Lisboa, é natural de Penacova. No dia 12 de Março, apresentou no Centro Cultural o livro de poesia a que deu o título de “Conexões”. É o próprio autor que esclarece que o título foi escolhido “por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.”
Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:
Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!
O Dr. Luís Amante revela-nos, de coração aberto, o seu percurso de vida e ajuda-nos a compreender melhor este “seu trabalho para além do trabalho” – a escrita poética.
“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”
“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.
Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!
Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.
Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.
Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.
Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.
E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.
Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.
Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.
Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!
Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.
E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinteressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.
Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.
Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liberdades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reformados, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.
Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guardando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus sentimentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.
Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.
Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, principalmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.
Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tempos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.
O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, também, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.
O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.
Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.
Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.
Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Margarida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bondade e conhecimento.
Bem hajam todos.
Aos meus leitores, bom proveito.
A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!
Do amigo, Luís Pais Amante
Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:
Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!
“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”
“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.
Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!
Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.
Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.
Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.
Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.
E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.
Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.
Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.
Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!
Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.
E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinteressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.
Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.
Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liberdades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reformados, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.
Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guardando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus sentimentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.
Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.
Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, principalmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.
Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tempos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.
O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, também, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.
O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.
Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.
Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.
Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Margarida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bondade e conhecimento.
Bem hajam todos.
Aos meus leitores, bom proveito.
A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!
Do amigo, Luís Pais Amante
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Fotos: Penacova Eventos
Fotos: Penacova Eventos
quarta-feira, março 09, 2016
Apontamento e homenagem aos penacovenses mortos na I Grande Guerra (no dia em que faz 100 anos que a Alemanha declarou guerra a Portugal)
CEMITÉRIO DE RICHEBOURG ONDE SE ENCONTRAM OS RESTOS MORTAIS DE MILITARES PENACOVENSES |
Faz hoje 100 anos
que Portugal entrou na Primeira Guerra
Mundial. Em Fevereiro de 1916, a Inglaterra pediu ao Estado português o
apresamento de todos os navios alemães e austro-húngaros que estavam ancorados
na costa portuguesa. Uma vez acatado esse pedido, a Alemanha declarou guerra ao
nosso país em 9 de Março de 1916 (apesar
dos combates que se vinham já travando em África desde 1914).
Em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo
Expedicionário Português, seguiam para a guerra na Europa, em direcção à
Flandres.
Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase
200 mil homens.
As perdas atingiram milhares de mortos e feridos, além de custos económicos e sociais muito superiores à capacidade
nacional.
Penacova também teve as suas vítimas: no Memorial dedicado
aos “FILHOS DA NOSSA TERRA SOLDADOS DE PORTUGAL MORTOS DA GRANDE GUERRA” e que
se encontra ao fundo da Pérgola, constam os nomes de Eduardo Pereira Viseu (Penacova),
João dos Santos (Carvoeira), António Couceiro (Ronqueira), Alípio da Cruz (Riba
de Baixo), Domingos Serafim Henriques (Carregal), António Carvalho (Rebordosa),
Daniel Alves (Aveleira), Artur Branco (Cácemes), Manuel da Costa (Cácemes) e
Manuel Alves (Palheiros).
Nos arquivos militares constam cerca de 120 sargentos e
praças naturais dos mais diversos lugares de Penacova e que pertenceram ao
Corpo Expedicionário Português.É também possível consultar muitos Boletins
Individuais destes militares. Aí, somos confrontados com o seu percurso desde a
data do embarque até ao momento do desembarque. Louvores, mas também punições.
Tudo aí está registado.
Por exemplo, sobre o malogrado combatente Daniel Alves,
soldado nº 432 do 2º Batalhão de Infantaria / Infantaria 35, sabe-se que era
casado com Maria de Jesus e filho de Estêvão Alves e Bernarda de Nossa Senhora.
Natural da Aveleira, embarcou em Lisboa em 15 de Abril de 1917 e morreu em
França em Agosto desse mesmo ano.
“Faleceu na 1ª linha, por virtude de ferimentos recebidos em combate em 14 de
Agosto de 1917, sendo sepultado no cemitério de Pont du Hem” – refere o Boletim
Individual. Recorde-se que mais tarde os restos mortais de muitos militares
portugueses foram trasladados para o Cemitério Português de Richebourg. É precisamente aí que podemos encontrar actualmente a campa deste soldado, conforme se
pode ver na gravura.
Lápide da sepultura de Daniel Alves em Richebourg |
No referido monumento, existente em Penacova, consta, como
referimos, o nome de Manuel Alves, natural dos Palheiros. No entanto, nos
documentos de arquivo, encontramos um
mesmo nome com a mesma naturalidade, mas que terá desembarcado com vida em
Lisboa em 15 de Junho de 1919. Era solteiro, filho de António Alves e Maria de
Jesus. Tratar-se-á da mesma pessoa?
Falemos também de Artur Branco. Primeiro Cabo, nº 50 da 4ª
Companhia, embarcou em Maio de 1917. Faleceu em Pont du Hem “por ter sido
ferido involuntariamente por um seu camarada em 2 de Junho de 1917, sendo
sepultado no cemitério daquela localidade, coval A8."
Era solteiro, natural de Lorvão, filho de Caetano Branco e
de Joaquina das Neves.
Boletim de Daniel Alves |
Recorde-se que além de defenderam o território nacional,
incluindo as ilhas atlânticas, os soldados portugueses estiveram presentes na
frente de Angola (18 000) em 1914-1915; em Moçambique, (30 000) entre 1914 e
1918; e em França, (mais de 56.000) em 1917 e 1918. Em todas as frentes se
travaram combates, mas os efectivos portugueses só participaram numa batalha, a
Batalha de La Lys, na Flandres, no dia 9 de Abril de 1918.
No total, Portugal perdeu cerca de 8 000 homens, a que se somam mais
de 16.000 feridos e mais de 13.000 prisioneiros e desaparecidos.
Neste Centenário da I Grande Guerra (1914/18-2014/18)
prestemos homenagem a todos os portugueses - e em especial aos penacovenses -
que se bateram nos campos de batalha deste trágico conflito.
segunda-feira, março 07, 2016
Penacova na Literatura Portuguesa
Está a Literatura Portuguesa (principalmente a Literatura de Viagens) semeada de referências a Penacova. Um levantamento que, segundo cremos, está
por fazer. Existe de facto material suficiente para coligir numa antologia o
muito que se escreveu sobre este recanto que viu nascer muitos de nós. Nem
todas as terras deste nosso Portugal se poderão orgulhar do mesmo. E, se
alargarmos o conceito estrito de literatura aos textos publicados, em prosa e
em verso, em revistas e jornais, locais
e nacionais, o volume aumenta significativamente. Algumas dessas referências a
Penacova são já conhecidas dos penacovenses, como será o caso do trecho que de
seguida publicamos, mas muitas outras haverá que são quase ou totalmente
desconhecidas. Quem sabe um dia consigamos ter tempo e engenho para levar por
diante uma obra que inclua estes e muitos outros aspectos da vida de Penacova (concelho) ao longo dos tempos e que permanecem por aí, dispersos, em letra de imprensa, seja
em livros, seja em muitos jornais e revistas.
ANTERO DE FIGUEIREDO (1866-1953) |
Agora, desde o leito do rio,
trepa-se sempre por uma estrada às laçadas, sob árvores, como a da Ribeira de
Santarém à cidade, como a de Tondela, pelo vale de Besteiros, ao Caramulo.
+++
Que extraordinário assunto para pintar
que não é este vale de Penacova, visto do Penedo do Castro, da Carvoeira, da
Senhora do Monte Alto; vasto, luminoso, colorido, com seu rio, campos, montes e
serras ; ou, mais simples e ameno, visto da Senhora da Guia, capelinha no alto
de um cone de verduras de árvores e de socalcos de campos, sobre farta várzea
de milheirais de ouro e olivedos de cinzas prateadas, que vão, uns e outros,
longe, até às colinas de lá , onde, a meia encosta, pousa o lugar da Carvoeira
— manchas de casais brancos, esparsos entre verdes postos na tinta estamenha
dos montes nus que, por esse lado, confinam a paisagem. De cá, nos
longes, - pinhais de alto a baixo; próximo, - cumiadas com pinheiros ralos a
escalarem lombas de margaças lilases, que a luz poente pintará com a tinta das
copas das olaias floridas. Em baixo, panos azuis de um rio, quási sem água,
parado num areal amarelo. Defronte, descendo até o Mondego, a pique, como os
penedos das Portas do Rodam, sobre o Tejo, formidáveis rochas estratificadas.
Amarelentas e musgosas, o sol da tarde transformá-las há num colossal «bloco»
de ouro esverdinhado. Na campina, fitas de estradas; nos altos, riscos vermelhos - carreirinhos - a
subir os montes, por entre penedos e pinheiros de troncos ardosiados; E
aqueles moinhos, a um de fundo, como monges de longada (para onde ?) na crista
da serra, além ! ...
(...)
Excerto de obra de 1919
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