Remoçar na Praia
Uma pedra -se calhar de xisto - a desfazer-se
Rebolou
E amorteceu a sua viagem na acalmia
Do nosso Rio
Junto à “maternidade” no pedrario
Fazendo fugir os peixinhos em “pousio”
Nos círculos da água franca que abriu
Vieram-me rostos amigos que de lá viu
Antigamente em convívio são e Amizade
Um passarinho de bico esguio
Assobiou
E o som propagou-se como se fosse
Um arrepio
Também a rã quis coaxar
E a cigarra iniciou um concerto estridente
De rock da pesada em acasalamento tardio
Mais pra noite o pirilampo iluminará o breu
E as libelinhas adornarão o céu
Projectado na água
…
Neste vai e vem de tarde tardia
À cacofonia da bicharada (que rasga o silêncio)
Sobrepõe-se a faina poliglota dos veraneantes
Algumas crianças correm na ponte
De madeira tosca, resistente
Outras sorriem alegres
Mas com pés dormentes
Das pedrinhas que se lhes picam
Nos hábitos que não têm
Da Liberdade descalça
A que se contrapõe a do telemóvel na alça
- não saltes bebé que daí é perigoso!
- o limo é viscoso!
Diz uma Avó amorosa, ao meu lado
Por baixo do chapéu de sol de colmo
Africano
A que falta o côco para ser paisano
…
Está lá a areia, embora importada
Está lá a curva da barriga zangada
O Penedo da Viúva já é uma estrada
O tempo passou muito e depressa
Mas as coisas simples desta Praia do Reconquinho
[E as que deviam ser deste nosso fado mansinho]
Dão-lhe um ar que parece que ainda agora começa
A brisa do ar vindo dos salgueiros anda em circuito
A vista de cima faz-se num quadro a óleo bem culto
E o sol?
… Esse continua forte e ainda é gratuito!
quinta-feira, outubro 10, 2024
𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: Remoçar na praia
sexta-feira, julho 05, 2024
𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: a Procissão
A Procissão
domingo, agosto 14, 2022
O castelo de Penacova: um poema de Alfredo da Cunha
A existência de um Castelo em Penacova é comprovada por diversos documentos que a ele (ou às suas ruínas) se referem (veja-se por exemplo o site do município)*.
A juntar aos testemunhos referidos, publicamos um poema, algo desconhecido para os penacovenses, escrito por Alfredo da Cunha **, uma das personalidades da elite lisboeta - director do "Diário de Notícias" - que esteve na inauguração do Mirante em 1908.
O poema não refere expressamente o local deste castelo. No entanto, no livro "Versos II" (1912) o mesmo aparece incluído num capítulo intitulado "No Bussaco" e a seguir a um outro poema com o título "Penacova". Olhando em redor que outro castelo poderia ser? Cremos ser de concluir que seria o de Penacova, à época em ruínas.
terça-feira, abril 19, 2022
Lançamento do livro "Penacova (In)temporal" no Dia da Liberdade
Trata-se de um livro de poemas de Luís Pais Amante que contou com a colaboração de David Almeida e de Óscar Trindade. A apresentação, que terá lugar no Auditório do Centro Cultural de Penacova, pelas 15 horas, caberá a José Fernando Tavares, autor do prefácio.
A sessão será presidida por Álvaro Coimbra, presidente da Câmara Municipal de Penacova. O evento contará com a declamação de alguns poemas, por Humberto Matias, e também com a actuação dos grupos penacovenses Coral Divo Canto e Coro Vox et Communio e de alunos da Escola de Artes.
“Penacova (In)temporal” integra
sessenta e sete poemas de Luís Pais Amante, complementados, na sua grande maioria, por fotografias digitalmente editadas, de Óscar Trindade, e por textos de
enquadramento histórico e social, relacionados com os temas abordados.
O livro está dividido em três
partes. A primeira parte trata essencialmente de lugares icónicos da vila e do
concelho, sendo o segundo capítulo mais voltado para as instituições, as pessoas
e as tradições penacovenses. Por último, alguns poemas de carácter mais
pessoal, mas registando sempre a relação umbilical à terra natal do Autor, às suas
pessoas e aos seus lugares, à sua Penacova inserida no Tempo, mas que, ultrapassando os limites temporais, se projecta num tempo "sem tempo" no plano do rememorar e do sentir.
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domingo, março 14, 2021
Lenda de Penacova
Todo jovem, todo ledo
A Coimbra a estudar.
Levou os livros no intento
De passar bem o seu tempo
Se tivesse de parar.
Longa via já andada
Toda a roupa ensopada
No suor do corpo seu
Ali, na falda da serra
Deitou os livros em terra
E à fadiga se rendeu.
Lá do Céu meigo luar
Já cuidava em pratear
As negras cristas dos montes,
E o Mondego já tremia
Do medo que então sentia
Do rumor surdo, das fontes.
Temeroso ajoelhou
E de mãos postas rezou
Ao Senhor de quanto havia,
Que do Céu prestes mandasse
Um Anjo que lhe falasse
E fizesse companhia.
E o Senhor atento ouvia
E depois pena sentia
Do seu amargo penar…
Seu pedido despachou
E um anjo, prestes mandou
Num raio do seu lar.
E nessa noite distante
Jovem Mondego estudante
Dormindo naquela cova
Dos livros fez livraria
Da pena fez alegria
Da Cova fez Penacova
E o anjo da caridade,
Todo amor, todo bondade,
todo puro e sem labéu
Em sua visão infinda
Achou a terra tão linda
Que não mais voltou ao Céu
E quando um beijo de amor
Quis dar ao seu protector
No momento de partir
O anjo tornou-se astro
E sobe ao monte do Castro
E a meio pôs-se a sorrir
Não posso subir ao Monte
Para pôr na tua fronte
O meu beijo apaixonado?!
Ficarei aqui, ao fundo
Enquanto o mundo for mundo
Dizendo muito obrigado!
E a promessa do Mondego
Todo jovem todo ledo
Foi promessa de valor.
Sabe a gente velha e nova
Que o rio de Penacova
Nunca mais se fez Doutor!
P.e Agostinho
In Notícias de Penacova ,1950
domingo, janeiro 10, 2021
Poetas penacovenses (VIII): A tentar descodificar este tempo, em sofrimento: um poema de Luís Amante
Pela manhã, da minha janela, por baixo dela
O meu circuito parecia que encolheu
... ou que, dando guarda à liberdade, se encheu!
Hoje é Domingo, segundo do novo ano
Que se segue a um outro, espartano
As pessoas encolhidas de geada branda
Sem benesses ou compadrio
Vieram respirar ar puro
Vieram a fugir do confinamento
Vieram ganhar coragem para o sofrimento
Que se avizinha ...
Desci pra me juntar à multidão
Pra sentir de perto o bater do coração
Sapatilhas calçadas
Ceroulas apertadas
E calças de fato de treino por cima
Com anorac de neve
De frente no caminho solto
Uma família de máscaras: uma azul clara; outra verde; outra
preta
Atrás com distância de segurança
Outra família sem máscara
Rapaz atleta; rapariga de olhar suave ... os filhos de
bicicleta
A seguir um grupo grande a correr sem gemer
De gente madura transportando frescura
Quatro voltas alargadas no espaço do meu tempo
Outras quatro circunscritas à volta do Estádio Universitário
E, sempre, o mesmo pensamento:
- quem será que está livre do vírus danado?
- como é que, afinal, ele se tem propagado, assim, tão
descontrolado?
Daqui a cinco dias terminam os meus sessenta e seis
Gostava que a passagem fosse no ambiente do “ar puro” da
minha terra
Encostadinho ao cheirinho da nossa serra
A olhar pro Rio, envergonhado com frio
Mas não vai dar
Não posso passar
Os meus conterrâneos estão lá a sofrer
... e no meu novo “circuito”, só dá pra temer!
Luís Pais Amante
Telheiras Residence,10Jan21; 14h00
A tentar descodificar este tempo, em sofrimento.
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Obrigado Dr. Luís. Muita saúde! Abraço
quarta-feira, janeiro 22, 2020
Poetas penacovenses (V): Penacova no olhar [poético] de Luís Pais Amante
Pintura de Sofia Alves (2019) |
22Jan20; 12h30
Emocionado ao ver a nossa Casa Azul restaurada, já com a sua cor primitiva.
NR: Obrigado Dr. Luís. É uma honra publicar em primeira mão este poema dedicado a Penacova.
domingo, junho 16, 2019
“Penacova-a-Linda” na poesia e na música
Também no jornal “Comércio do Porto”, sob o título “Belezas de Portugal” foi publicado aquele poema sobre Penacova.
Partitura da composição gravada em disco nos anos quarenta |
segunda-feira, julho 10, 2017
Poetas penacovenses (II): Reconquinho...
O arvoredo circundante / Nas tuas margens /
A curva da estrada do /Reconquinho / Está mais cavada, mais / Curvada, /
Embora / Reconfortante /
Canta connosco e tira / Suores ao povo /
As formas bizarras das / Canoas /
E a velha Barca Serrana /Alberga o pescador que /
Tudo harmoniosamente / Colocado / Tudo estoicamente conservado
/ Tudo belo / Para não dizer / Encantado!
domingo, junho 11, 2017
domingo, março 05, 2017
domingo, novembro 27, 2016
Reflexo(s): título do novo livro de poesia de Luís Pais Amante
Poema "O que Penacova tem" in Reflexo(s), livro a ser lançado no dia 9 de Dezembro |
“Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência” - escreveu, por ocasião do lançamento de “Conexões.
Reflexo(s), o seu novo livro, vai ser apresentado pela Prof.ª Doutora Luísa Branco Vicente, no dia 9 de Dezembro de 2016 às 18 horas, na Associação 25 de Abril, em Lisboa.