Interessantíssimo cartaz do Congresso, autoria de Raul Lino |
Apesar de não termos como princípio publicar neste espaço artigos que foram escritos para um determinado jornal, neste caso o FRONTAL, deixamos aos leitores do Penacova Online o seguinte texto:
Decorre este ano o Centenário da Institucionalização do Turismo em Portugal. Como ponto alto da eféméride, realizou-se em Lisboa o Congresso do Centenário evocando o IV Congresso Internacional do Turismo que teve lugar no nosso país em 1911.
Em 1906 havia sido criada a Sociedade de Propaganda de Portugal, também designada por Touring Club. Tinha como fins, entre outros, organizar e divulgar o inventário de todos os monumentos, riquezas artísticas, curiosidades e lugares pitorescos do País; publicar itinerários, guias e roteiros de Portugal; organizar ou auxiliar excursões; promover a concorrência de estrangeiros, e uma maior circulação de nacionais dentro do território.
Aquela associação vinha participando nos Congressos Internacionais de Turismo: em San Sebastian, 1909, e em Toulouse, em 1910. Daí a decisão de ter lugar no nosso país o IV Congresso. A Sociedade procurou obter junto do Ministério do Fomento os apoios necessários para a organização do evento. O Governo já tencionava criar uma estrutura voltada para este sector e desde há muito a Sociedade de Propaganda o vinha reivindicando. Assim, por ocasião daquele Congresso, foi instituída a primeira organização oficial de turismo – a Repartição de Turismo , integrada na Secretaria Geral do Ministério do Fomento.
Ligado, quer ao Touring Club de Portugal, quer à organização do Congresso, vamos encontrar Manuel Emídio da Silva. Figura bem conhecida da nossa região, em especial de Penacova. A recordar ainda hoje o seu nome, encontramos nesta vila o Mirante (inaugurado em 1908) e todo um conjunto de intervenções nos periódicos penacovenses. A imprensa local por várias vezes o apelidou de "Cristóvão Colombo de Penacova". Alguém o considerou como autêntico "descobridor deste mais surpreendente recanto da beleza de Portugal" e o seu melhor "pregoeiro".
Recordemos que no início do século, a Sociedade de Propaganda de Portugal incluiu Penacova no conjunto das 17 localidades portuguesas que mais mereciam ser visitadas. Emídio da Silva, através do Diário de Notícias, da revista Serões e em muitos outros areópagos onde tinha assento e auditório não se cansou de pugnar pelo desenvolvimento turístico do chamado triângulo Coimbra-Penacova-Bussaco.
Em 1916, aquando da vinda de Raul Lino a Penacova, para o arranque do projecto da Pérgola, a Sociedade tinha uma Delegação local, presidida pelo Conselheiro Luís Duarte Sereno. Mais tarde surgirá a Sociedade de Propaganda e Defesa de Penacova. Pretendia-se a promoção turística da vila, num tempo em que à mesma acorria já um número significativo de "aristas". As famílias "Fonseca" e "Silva" terão sido as primeiras a vir passar o Verão a Penacova. Estaríamos nos anos vinte. António Santos Fonseca, tesoureiro da Administração Geral dos Correios e Combatente na Rotunda em 5 de Outubro de 1910, e o cunhado Constâncio Silva, pintor paisagista de renome, ficaram de tal modo agradados com a vila que mandaram construir uma moradia em Santo António. Mais tarde, outro "arista", Manuel de Oliveira Cabral (e esposa Estefânia Cabreira), demandaram Penacova nos tempos de lazer, legando-nos muito das suas qualidades artísticas, poéticas e musicais. Oliveira Cabral terá sido, a seguir a Emídio da Silva, um dos maiores arautos deste lugar enquanto estância de repouso.
Por hoje, deixamos aos nossos leitores um excerto de uma carta de Manoel Emygdio da Silva, escrita em Lisboa a 10 de Setembro de 1931, poucos anos antes da sua morte, dirigida ao director do Notícias de Penacova:
"Solicita V. a minha colaboração para o primeiro número do seu jornal, honra que me desvanece e tanto mais por me dizer que igual solicitação fez ao meu erudito e bondoso amigo Dr. Augusto Mendes Simões de Castro, considerando-nos ambos entre os melhores amigos de Penacova, camaradagem e título que me envaidecem também.
Há um quarto de século que venho a Penacova e que desde o primeiro dia tenho sido um entusiástico propagandista das belezas pitorescas desta linda vila. A minha propaganda não tem sido porém tão desinteressada como muita gente crê, pois sou pago de cada vez que volto aqui pelo deslumbramento desta sublime paisagem que me inebria de prazer espiritual! …E sou ainda generosamente gratificado pelo acolhimento carinhoso e pelas distinções que ao mesmo tempo recebo dos Penacovenses entre os quais logrei criar amizades certas e duradouras."
De turismo em Penacova nas primeiras décadas do século XX, de potencialidades naturais e de entraves ao progresso, de propostas concretas apontadas na época para o desenvolvimento deste sector, de "aristas" e também de " excursionistas", falaremos nos próximos números.
Gosto
ResponderEliminarUm abraço
F. Videira