terça-feira, março 05, 2019

Da hospedaria da ti Leocádia à pensão da Altina do Amaral


Publicidade no Jornal de Penacova [1901]

É num livro publicado em 1903* pela Tipografia Vasconcelos (Porto) que, à volta de algumas aventuras de um grupo de estudantes de Coimbra pelas terras da Beira, passando pelo Luso, Mortágua, Foz do Dão, S. Pedro de Alva, Penacova,  vamos encontrar uma curiosa referência à Hospedaria da ti Leocádia, onde a menina Altina ajuda a mãe a receber os hóspedes e a servir as refeições.
Vindos da Foz do Dão, “pouco depois chegavam à Barca do Concelho, perto da vila, tendo passado antes Entre Penedos, duas altas serras de pedras de tal forma dispostas de uma e outra margem do rio, que um falecido poeta as cognominou de Livraria do Mondego, tendo junto à superfície da água um pedregulho que os barqueiros chamam de Frade. Atracaram por fim e em seguida começaram os viajantes a subir a serra da vila, alojando-se na hospedaria da tia Leocádia de Jesus. (…) Sabendo que os viajantes vinham da Foz do Dão, a graciosa menina Altina, elegante e apresentável filha da senhora Leocádia, tratou de indagar se por lá tinham visto ou se conheciam um tal senhor Nardo (…).
Há também uma referência às paisagens de Penacova: “O panorama que oferecia o rio Mondego visto da Hospedaria da tia Leocádia, era realmente encantador; na margem esquerda avistava-se a povoação da Carvoeira entre ínsuas bordadas de choupos, faias, e pela retaguarda do lugar alguns montes coroados de moinhos de vento.”

Edifício do antigo Hotel Altina, na rua Coselheiro Fernando de Mello
[imagens Google]

Altina do Amaral dará continuidade ao negócio da mãe. No Jornal de Penacova de 1901 é publicado o anúncio “Casa de Hóspedes de Maria Altina do Amaral” oferecendo “bons quartos e excelente comida.” Fica-se a saber que também vendia tabacos e vinhos.

Desde os tempos da ti Leocádia que a Pensão recebia grupos de estudantes, excursionistas, funcionários e políticos. No dia 1 de Dezembro de 1910 aquando da inauguração do Centro Republicano e da iluminação pública a acetilene, foi ali o jantar de confraternização. Em 1923 é um grupo de Finalistas da Escola Normal Superior de Coimbra que janta no “Hotel Altina” à volta de um passeio a Penacova e a Lorvão. Quando surgiu o Hotel Penacova, a pensão Altina chega a aparecer  na publicidade do Jornal de Penacova como “Hotel dos Contentinhos”. A D. Altina era uma pessoa “muito popular e simpática” - diz a Gazeta de Coimbra.
   

Maria Altina morre no dia 25 de Dezembro de 1926. O Hotel Altina” é então  posto à venda, tratando do assunto o advogado Daniel da Silva. A Gazeta de Coimbra  publica vários anúncios. 

No entanto, por volta de 1946 volta a aparecer no Notícias de Penacova o anúncio “Vende-se casa de habitação que antigamente serviu de hotel, conhecido por Hotel Altina. Óptimas vistas para o Mondego. Trata Álvaro Alberto dos Santos”.

Quando morreu Altina do Amaral a Gazeta de Coimbra escreveu que esta foi “a mais antiga hoteleira” da vila que “bastantes serviços lhe ficou devendo pelo muito que contribuiu para a boa propaganda da sua terra natal”.
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* "Estudantes de Coimbra" de B.M. Costa e Silva
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