Escreve
Albano José Ribeiro de Almeida:
(…) Ainda neste período,
fins de 1640, Brás Garcia encontra-se de novo envolvido em rixas e cenas
violentas, das quais se destaca a ocorrida em Travanca de Farinha Podre.
A paróquia de Travanca era de provimento
alternativo da Sé Apostólica e do bispo de Coimbra. Em 1638, o Padre Pantaleão,
prior desta igreja, ausentou-se da paróquia deixando-a entregue ao cura João
Fernandes.
A paróquia foi, entretanto,
considerada vaga, tendo sido provido outro pároco. Perante esta situação Brás
Garcia acciona um processo judicial. Como a justiça eclesiástica demorava a
solucionar a situação, Brás Garcia e o seu séquito resolveu-a, arrebatando da
bainha a espada, no dia em que o novo pároco se preparava para um banquete,
depois do qual, pela tarde, iria assumir aquele priorado, de grande interesse
em réditos; caíram sobre os convivas, espadeirando-os e confundindo-os; alguns
conseguem saltar pelas janelas e fugir, outros resistem, mas debalde.
Excerto do livro de banda desenhada sobre a história de Oliveira do Hospital com referência a Brás Garcia de Mascarenhas |
“Como um furacão entram todos pela porta dentro, e de espada
em punho uns, outros de cacetes erguidos, caem sobre os convivas espadeirando-os
e confundindo-os. Alguns conseguem saltar pelas janelas, por baixo da mesa,
rolam corpos feridos gravemente, jazem outros sem movimento.
Alguns dos convivas
haviam-se escapado do presbitério para a igreja onde supuseram encontrar asilo
inviolável. Faliu-lhes o cálculo. Ali mesmo foram feridos e espancados, ficando
assim poluída a casa do Senhor”. [...] “Quando toda a resistência dentro de
casa tinha acabado, os agressores descem ao pátio, para dali e do adro varrerem
a população e a criadagem. Mas não encontraram ninguém. O pavor tinha-se
apoderado de toda essa gente”....“Foi uma cena sangrenta em que foi
protagonista Brás Garcia e na qual houve mortos e feridos”
Depois deste episódio violento, bem ao sabor do século XVII, o poeta aventureiro homiziou-se, mais uma vez, mas por curto período, na região de Avô; nesta situação e neste período, chega-se ao dia 1 de Dezembro de 1640, à esperada Revolução.
ALBANO JOSÉ RIBEIRO DE
ALMEIDA, BRÁS GARCIA MASCARENHAS, AVENTUREIRO, GUERREIRO E POETA,COIMBRA.
FL.UC- 2010
BRÁS GARCIA DE MASCARENHAS
Brás Garcia
Mascarenhas nasceu na Vila de Avô, Oliveira do Hospital a 3 de fevereiro de
1596 e faleceu a 8 de agosto de 1656 no mesmo local. Foi estudar para Coimbra,
mas teve de fugir para Madrid perseguido pela justiça por ter cometido um
crime. Viajou por vários países da Europa e fixou-se algum tempo no Brasil,
regressando a Portugal na altura em que D. João IV é aclamado rei. Durante a
Guerra da Restauração organizou um batalhão de voluntários, a Companhia dos Leões
da Beira, participou ativamente nas lutas pela independência contra o domínio
filipino e, sendo acusado de alta traição, foi preso. Absolvido pelo rei devido
à falsidade das acusações, termina os seus dias escrevendo a epopeia em vinte
cantos e oitava rima Viriato Trágico (1699). Além desta obra, escreveu ainda Ausências
Brasílicas e Labirinto do Sentimento na morte do Sereníssimo Príncipe D. Duarte,
atualmente desaparecidas.
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