Por pouco - a fazer fé na crónica do Dr. José Albino Ferreira
(A Carochinha) - que o exemplar concelhio do Foral de 1513 não desapareceu no monte de papéis velhos. Aqui
se conta como, graças ao antigo Secretário da Câmara, Alípio Correia Leitão, esta
preciosidade foi salva do desleixo (ou intenção) de quem se quis desfazer dos testemunhos
da nossa história . Felizmente que o podemos observar ainda hoje em bom estado,
depois do seu restauro no último mandato do Engº Maurício Marques, enriquecido com a publicação de uma edição fac-similada do mesmo.
O Dr. José Albino Ferreira que faleceu no início dos anos
quarenta, foi notário e também padre. Foi várias vezes Presidente da Câmara.
Nessa qualidade inaugurou, por exemplo, o Mirante em 1908. Era uma pessoa
com uma vasta cultura e muito reconhecida em Penacova. Vamos, pois, acreditar na
veracidade destas peripécias.
A crónica começa assim:
“Era o foral o estatuto fundamental, a carta constitucional
do concelho, que devia ser religiosamente guardada com os livros e papéis da
secretaria da Câmara.
As crónicas publicadas no Notícias de Penacova |
A guerra civil em que o povo português se envolveu,
dividindo-se em dois partidos, o conservador chamado legitimista e o liberal ou
constitucional, teve em Penacova grande repercussão. Dividiram-se e
hostilizaram-se rijamente os penacovenses.
Vencidos os legitimistas que queriam para seu rei D. Miguel,
houve por cá também liberais vencedores que acharam que a história de Penacova devia
começar só em 1834, ou, quando muito, em 1820. Era preciso fazer desaparecer
tudo o que contrariasse os ideólogos do liberalismo. Despedaçaram o pelourinho
e não se sabe o que fizeram dos livros e dos papéis do Arquivo Municipal.
O certo é que na Secretaria da Câmara, só existe dos tempos
anteriores, o foral de D. Manuel e este mutilado, faltando-lhe a primeira folha,
a traça e o tempo dilaceraram gravemente a forte encadernação, mas respeitaram
admiravelmente o pergaminho das folhas e as vivas cores das letras.
Um dia encontrou-se na secretaria da Câmara, a Carochinha,
com o ilustre penacovense que foi grande orador sagrado, Alves Mendes, e apresentou-lhe
o foral, lamentando o desaparecimento da primeira folha. Alves Mendes viu e
disse: Olhe, sabe a razão? É que havia, sem dúvida, como era de uso, a
iluminura artística da primeira letra. Algum amador a viu e cobiçou para a sua
coleção, e…foi um ar que lhe deu…
Referência aos 5oo anos do Foral in Revista Municipal |
Quando, há poucos anos se aposentou Alípio Leitão, que
durante mais de 30 anos foi secretário da Câmara, encontrou-se na Pérgola a
Carochinha com o saudoso penacovense Dr. Daniel da Silva que lhe disse: sabe,
apareceu o foral!
A Carochinha que
ignorava o seu desaparecimento estranhou o caso. O Dr. Daniel continuou:
Eu sabia, porque me tinham dito, ignorando-se como se dera o
facto. Eu suspeitava que tivesse sido o meu amigo que o houvesse escondido, não
para ficar com ele, mas para o ter mais bem guardado…
Nada disse e perdoei logo ao Dr. Daniel a injusta suspeita.
Agora o Alípio Leitão fazendo entrega da Secretaria ao
sucessor, apresentou-lhe uma caixa em que tinha guardados vários papéis e bem
assim o foral que se julgava perdido…
Logo que a Carochinha se encontrou com Alípio Correia
disse-lhe: então tu sonegaste o Foral fazendo que durante mais de 20 anos
pesasse sobre mim a suspeita de o ter roubado?!
O meu amigo Alípio Correia, então, diz-me muito naturalmente:
Eu fui a uma mercearia cá da terra e vi, sobre o balcão o
foral sobrecarregado com as balanças da loja!... Fiquei surpreendido, mas não
disse nada. Voltei no dia seguinte e lá estava o foral na mesma tortura. Ainda
desta vez nada disse ao logista. Ainda nesse dia voltei, não encontrando ninguém
no estabelecimento. Peguei no foral e levei-o para a Secretaria, onde ele devia
estar sob minha guarda e pu-lo numa caixa fechada onde tinha outros papéis que
guardei no fundo duma gaveta.
Nunca ninguém me perguntou pelo foral e por isso a ninguém
disse onde o tinha.
Eu louvei muito a discreta prudência do Secretário…
Carochinha “
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Em 17 de Julho de 2008 foi apresentado o livro
"Os Forais de
Penacova", edição fac-similada com nota introdutória,
transcrição, tradução e glossário da Prof. Doutora Maria
Alegria F. Marques
Apresentação da edição fac-similada dos Forais de Penacova (Foral Sanchino e Foral Manuelino) em 17 de Julho de 2008. |
Sobre o Foral Manuelino ter também em consideração a seguinte obra:
Análise codicológica do Foral
Manuelino de Penacova*
Monografia
Autor : Queirós, João Paulo dos Santos
Editor Coimbra [J. P. S. Queirós], 1998
•Trabalho realizado no âmbito da cadeira
de Codicologia do Curso de Especialização em Ciências Documentais da Fac. de
Letras da Univ. de Coimbra.
Desc. Física 40 f. : il. ; 30 cm.
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Comentários:
Antonio Calhau
O
falecido meu estimado amigo e colega Dr Homero Pimentel , grande professor do
nosso concelho disse-me há cerca de 30 anos exatamente o que aqui está escrito
e referiu que a 1ª página do foral poderia ter servido de cartucho nessa
referida mercearia. (através do Facebook)
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