domingo, maio 05, 2019

Ponte do Alva (1908-1986)

A Ponte do Alva por alturas da inauguração
(foto cedida por Luís Calafate)

A nova ponte em construção, vendo-se ao fundo a antiga travessia.
(Foto publicada no NE em 1986)

Quem se recorda da Ponte do Alva? Foi no dia 2 de Janeiro de 1986 que terminou os seus dias. Eram 10 horas da manhã. Poucos segundos antes tinha passado o Expresso da Rodoviária com destino a Viseu, carregado de gente. Conta o jornal Nova Esperança que também um motociclista se salvou por pouco, graças a um furo no pneu que o fez parar antes de atravessar a ponte. Houve uma vítima mortal (um jovem da zona de Cantanhede) mas na sequência de trabalhos de desobstrução das estruturas (da velha e da nova ponte).

Na altura, as obras da nova ponte já estavam quase concluídas, o que permitiu que logo a 22 de Janeiro fosse aberta ao trânsito, evitando um maior transtorno com o desvio por Friúmes ou Poiares para apanhar a estrada da Beira ou pela Barragem da Raiva e Gondelim em direcção a Penacova. 

As obras da velha ponte foram lançadas em 1908, com a presença de José Maria de Oliveira Matos, deputado progressista pelo círculo de Arganil. Esta ponte terá mesmo sido designada por Ponte Oliveira Matos (a par da ponte de Penacova também com o nome de outro membro do Partido Progressista, Luciano de Castro). As obras só terão ficado concluídas passados mais de seis anos. Em 1914 ainda o Jornal de Penacova dizia que a ponte lá estava, "como um coreto sobre o rio", à espera que se fizesse "o encontro da margem direita”. 

Imagem  recolhida num documento (cedido por Luís Calafate )
datado de 1920  em que é possível saber que tinha 70 metros.
A Ponte do Alva representava, em termos de engenharia de construção, um dos primeiros exemplares de pontes construídas em Portugal com cimento armado. Foi construída pela empresa Moreira de Sá e Malevez[1], concessionária em Portugal do sistema de betão armado Hennebique. O cimento armado fora uma invenção do construtor francês Monnier, realizada por volta de 1860, ao embeber no cimento fios ou redes de aço aumentando-lhe, assim, a resistência. No entanto, para as construções de maior vulto foi preciso aperfeiçoar esta técnica. Tal foi conseguido em 1892 pelo engenheiro francês François Hennebique. 

A revista francesa na área da construção civil "Le Béton Armé", de 1908, refere esta obra tendo como concessionário, precisamente, “Moreira de Sá e Malevez”. O engenheiro responsável terá sido João Theophilo da Costa Goes. 

Por tudo isso, pena foi que tivesse desaparecido para sempre. Quem sabe, se tivesse tido obras de conservação ainda hoje poderia ser um caso de estudo no campo da engenharia e obras públicas, coexistindo com a actual ponte que serve o IP3. 



[1] Ainda há poucos anos, fomos contactados por um bisneto do Eng. Bernardo Moreira de Sá, Luís Calafate (Professor universitário) no sentido de obter informações sobre a velha Ponte do Alva (além das que já possuía e que amavelmente nos disponibilizou).

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