Por volta de 1915 apontavam-se
como “bandeiras” da industrialização do concelho, a Estrela d’Alva, a Fábrica
de Cal da Galiana e o Lagar de Vila Nova, tendo como principais investidores,
respectivamente, Alípio Barbosa, Amândio Cabral e José Maria de Oliveira.
Nos inícios do século XX, encontramos
na freguesia de Sazes pedreiras de mármore e de calcário. Na freguesia de
Penacova a extração de cal preta de muito boa qualidade e também granito, para
cantaria e mós. Granito igualmente explorado na freguesia de Friúmes. Há
notícia do registo, na comarca de Penacova, de dez minas de metais preciosos,
carvão, ferro e chumbo que, no entanto, não se encontravam em fase de
exploração. De referir ainda as indústrias da cal, dos palitos, da madeira e da lenha, que detinham já
algum peso no panorama concelhio.
A indústria cerâmica ocupava um
lugar muito modesto. Como já referimos, a Fábrica da Estrela de Alva só alguns anos mais tarde iniciaria a sua laboração. Um documento do Ministério das
Obras Públicas, Comércio e Indústria intitulado “ESTUDO SOBRE O ESTADO ACTUAL
DA INDÚSTRIA CERÂMICA”, publicado em 1905, apresenta, no entanto, três polos
industriais neste sector: freguesias de Figueira de Lorvão, S. Pedro de Alva e
Sazes. Em Figueira e em S. Pedro de Alva fabricava-se telha ordinária. Em Sazes,
panelas e caçarolas.
É a parte do documento referente ao concelho de Penacova onde
se faz um apanhado geral, com o número de oficinas e fornos, o pessoal
empregado e o rendimento anual nas diferentes freguesias e no concelho que, a
seguir, se transcreve (grafia actual). Publicamos também algumas das gravuras que integram aquela publicação.
Freguesia da Figueira de Lorvão
“Nesta freguesia e lugar da Sernelha existem 2 fornos de
cozer telha ordinária. Em cada um dos fornos empregam-se o dono do forno, mais
2 operários, 2 trabalhadores e 1 rapariga. A duração do trabalho é desde abril
a outubro. Os preços dos jornais são de 300 réis para os operários e 240 réis
para os trabalhadores, as raparigas não vencem jornal por serem filhas dos
donos dos fornos. O barro empregado é avermelhado e é explorado aos lados dos
sítios onde estão os fornos, tem a plasticidade necessária para o fabrico a que
é destinado, os utensílios empregados no fabrico são os usados nesta espécie de
produtos. Não apresentam também novidade alguma. Cada forno produz anualmente
50 milheiros de telha, que vendem na própria freguesia e nas vizinhas a 5$500
réis (em média), sendo, portanto, o rendimento anual de cada forno 275$000
réis, ou 550$000 réis para os 2 fornos.”
Freguesia de S. Pedro
de Alva
“Nesta freguesia e lugar da Cruz do Souto existem 3 fornos
de cozer telha ordinária, nos sítios denominados Cabecinho, Carvalhinho e
Serra. Em cada um d’estes fornos trabalham permanentemente, durante os meses de
laboração, agosto e setembro, 2 operários e 1 carreiro. Os preços dos jornais
regulam por 280 réis para os operários
1$200 réis para o carreiro. O barro empregado é esbranquiçado,
regularmente plástico e é explorado no sítio do Val do Grou, que fica á
distancia de 500 metros aproximadamente dos 3 fornos. Os fornos, utensílios e
processos de fabrico são precisamente iguais aos da Figueira de Lorvão. Cada
forno produz anualmente 36 milheiros,ou 108 milheiros para os 3 fornos, que
vendem a 4$000 réis na própria freguesia e nas vizinhas, sendo portanto o
rendimento anual dos 3 fornos réis 432$000. Em Lufreu, lugar pertencente a esta
freguesia, está-se montando uma fábrica a vapor para o fabrico de telha tipo
marselhês, mas asua construção está ainda bastante atrasada. “
Freguesia de Sazes
“Há 4 anos pouco mais
ou menos veio de Molelos um oleiro com sua mulher, 3 filhos e 2 filhas, todos
maiores, estabeleceram-se nesta freguesia para exercer a sua industria. Começaram
fazendo as suas pesquisas à procura de barros e, conseguindo encontrá-los
razoáveis, principiaram a fabricar louça preta pelo sistema de Molelos. Tem 3
rodas ou tornos de oleiro, um bocado de sola e outro de cana, únicos utensílios
que empregam. Fabricam unicamente panelas e caçarolas. A louça é cozida em
covas abertas no chão. De tempos a tempos desloca-se parte da família, andando
por outras freguesias a fazer e cozer louça, isto é, são fabricantes de louça
ambulantes. Desde que vêem que numa freguesia os seus produtos já não têm fácil
venda, mudam-se para outra, até que passados 6 ou 8 meses de peregrinação
regressam a Sazes, sede do seu estabelecimento. Não se pode fixar bem a
produção e rendimento anual d’esta indústria, mas não se deve avaliar em menos
de 200$5000 réis.”
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