quinta-feira, junho 05, 2025

𝐇𝐄𝐑𝐂𝐔𝐋𝐀𝐍𝐎 𝐄𝐌 𝐋𝐎𝐑𝐕Ã𝐎 (𝐈)


Os "Apontamentos de Viagem de Alexandre Herculano" sĂŁo um conjunto de anotaçÔes e reflexĂ”es sobre as suas viagens pelo paĂ­s, no contexto da Academia das CiĂȘncias, especialmente em 1853 e 1854. No VerĂŁo de 1853 Herculano esteve na regiĂŁo de Coimbra, incluindo LorvĂŁo e Penacova.

No dia 10 de Julho assistiu Ă  ProcissĂŁo da Rainha Santa, no regresso a Santa Clara. No dia seguinte esteve no CartĂłrio da Fazenda da Universidade e depois, atĂ© ao dia 15, antes de seguir para LorvĂŁo e Penacova, consultou e analisou, com a ajuda de um paleĂłgrafo, muitos dos documentos, alguns em “lastimoso” estado, das Colegiadas de S. Pedro, S. CristĂłvĂŁo e de S. Tiago. Passou igualmente pelo o arquivo da CĂąmara.

No dia 15 parte para LorvĂŁo. Sobre esta viagem sĂŁo particularmente interessantes as observaçÔes que vai registando, ao calcorrear aquelas “duas lĂ©guas de Montes”: “SĂŁo grandes outeiros formando montanhas, e acumulados uns aos outros sem a intersecção de vales” – escreve Herculano. 

Observa os pequenos recantos de cultivo, “arroteaçÔes de recente data, cultivados na maior parte atĂ© aos cumes”.  Os acessos, como Ă© de imaginar nĂŁo passavam de “caminhos ladeirentos e tortuosos”.

 Curiosa Ă© tambĂ©m a descrição do panorama que do alto da Serra do Dianteiro (que seria jĂĄ o alto da Aveleira / Roxo) se avistava:

- “em frente, cordilheiras da serra da Estrela elevando-se-lhe os topos como barras pardo--escuras por cima das barras brancas de nuvens”

-  “para o lado do norte os territĂłrios levemente ondulados atĂ© o Vouga”: 

-  “para o poente os campos entre Coimbra e Montemor: o Mondego areado e quase sem ĂĄguas parece ao longe uma estrada tortuosa que atravessa a campina.” 

E o mosteiro? Nada se avista. AtĂ© porque  “sĂł se descobre ao chegar a ele, pela sinuosidade da descida Ă­ngreme e pelo relvoso da encosta.” 

Original Ă© a imagem do vale de LorvĂŁo. Herculano compara-o ao “cĂĄlice de um lĂ­rio” e sugere um exercĂ­cio de imaginação: “uma flor” com um “pistilo grosso e curto, rasgado por um lado”. É desse ponto, dessa “rotura” que “saem as ĂĄguas da bacia” !

Segue-se a descrição telegrĂĄfica (e geometrizante) do mosteiro: “O mosteiro Ă© um longo paralelogramo, a cujo topo para a nascente se liga outro muito mais curto formando com ele um Ăąngulo aberto: por detrĂĄs deste Ăąngulo levanta-se a cĂșpula do zimbĂłrio da igreja, que se prolonga com o edifĂ­cio pela parte interior.” 

Uma vez chegado Ă  portaria, registou:  

“EstĂĄtua de D. Teresa Ă  esquerda: letra antiga — POST THALAMUM ALFONSI REGIS THARASIA FUNDAT LORVANI MONACHAS ET MONIALIS OBIT.  EstĂĄtua de D. Sancha Ă  direita: letra moderna — REGIA PROGENIES PIA VIRGO CELLAS. EXTRUIT INDE OBIENS CAELICA REGNA PETIT. 

(Continua)



1 comentĂĄrio:

  1. Muito interessante e que nos permite conhecer mais um pouco da nossa histĂłria, do concelho de Penacova!

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