sábado, abril 06, 2024

Penacova um olhar 1921 (II): as estradas, a indústria, a política...


Com o título “Monografia” e assinado por Bernardino Pereira, o Jornal de Penacova publicou em 1921 um artigo/crónica que nos dá uma imagem, nalguns aspectos curiosa, do nosso concelho no primeiro quartel do século XX. Damos hoje continuidade ao texto publicado há tempos:

Em 1921, um dos grandes “anseios” do concelho era a conclusão da estrada que devia “ligar esta região ao Luso para completar o tão desencantado triângulo de Turismo Coimbra - Luso – Penacova.” No entanto, esta via, apesar de faltarem alguns quilómetros para entroncar com o Luso, já ia servindo Galiana, Sobral, Casal, Casalito, Palmazes, Midões e Sazes.

As necessidades eram muitas. Enumera o articulista a urgência de “completar as estradas iniciadas”, proceder “a melhoramentos nos subúrbios” da vila, bem como “alamedas para promover excursões“. Contavam-se pelos dedos da mão as terras servidas por estradas: Oliveira, Rebordosa, Lorvão, Sazes e Penacova.

Outras obras a necessitar de resolução: “completar a ramada delineada em 1918 por Raúl Lino da Sociedade de Propaganda de Portugal e oferecida a este povo” e construir “um jardim público.”

No plano cultural é invocada a necessidade de “arranjar distrações” aos “briosos e cavalheirescos hóspedes.” Como propostas nesse sentido fala-se numa “casa de teatro ou cinematógrafo” e na criação de “uma boa filarmónica”.

Curiosamente, a questão do caminho de ferro ainda prevalecia por esta altura. “ A vila tem bastante comércio e mais teria, assim como as outras terras do concelho, se nela passasse a via férrea”.

Igualmente neste artigo são referidas as principais ocupações da população: “lavradores, barqueiros, comerciantes, madeireiros, fabricantes de telha, de cal, de palitos e de mós."

No plano industrial, salienta-se que é a “indústria paliteira” que “essencialmente caracteriza o povo do concelho de Penacova” e se exerce “com mais intensidade na grande freguesia de Lorvão”. Isto, porque “mulheres e crianças com a maior destreza e agilidade fabricam os tão conhecidos , higiénicos e apreciados palitos, tão desejados e usados pelas populações cultas do Velho e Novo Mundo.” São enaltecidos os “palitos de luxo, as facas especiais, garfos, rocas e elegantes sarilhos, tudo feito na mesma madeira dos palitos, devidamente ornamentada.”

As actividades transformadoras estendem-se, no entanto, a outros pontos do concelho. Refere-se a “Estrela d’Alva” e a “Empresa de Cal de Penacova”, bem como “diversos fornos de cal parda, fábrica de cartonagem de caixas para exportação [que seria em Chelo], fábricas de serração de madeiras, moagem, telha, tijolo, etc.”

No campo da política, o cronista tece, curiosamente, algumas considerações:

“A situação política é um tanto conservadora, habituada aos moldes antigos, e por isso é de parecer que politicamente alguma coisa tinha este concelho a aprender com outros concelhos do continente e até com a política de alguns concelhos vizinhos. Socialismo, democracia, República, são ideais ainda neste meio pouco conhecidos, que pairam no ar, sem terem encarnado em corpos de espíritos lúcidos.”

Causas de tudo isto?

“Pouco desenvolvimento da instrução e educação cívica, falta de unidade e coesão políticas, que devia imperar entre alguns elementos políticos avançados.”

(Continua)

UMA VISITA À QUINTA DE SANTO ANTÓNIO

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