Estão por estes dias a
celebrar-se os 150 anos da Abolição da Pena de Morte em Portugal. Não sabemos
quantas pessoas ligadas a Penacova foram condenadas à pena capital ao longo dos
tempos, mas há dois casos que fizeram história: o caso de Luiza de Jesus (natural
de Figueira de Lorvão), por ter cometido cerca de 30 infanticídios, e o
fuzilamento de 6 penacovenses por envolvimento no episódio da “Queima da
Pólvora" na Estrada da Beira, junto à Cortiça.
Luiza de Jesus, uma mulher de 22
anos, ia buscar “enjeitados” à Misericórdia de Coimbra a “pretexto de criação,
matando-os e enterrando-os depois, para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis
de criação pagos adiantadamente!” – pode-se ler na bibliografia sobre o
assunto. Acharam-se enterradas trinta e
três crianças, confessando a ré haver garrotado vinte e oito por suas próprias mãos!
Foi atenazada pelas ruas de Lisboa,
cortadas as mãos em vida, garrotada e queimada. Corria o ano de 1772. Entre nós a pena de
morte era executada geralmente por estrangulamento (forca ou garrote), por degolamento,
pela queima do corpo da vitima (vivicombúrio) ou por esquartejamento, atando a vitima
pelas quatro extremidades ás caudas de quatro cavalos. De referir também o
fuzilamento.
Havia ainda modos de agravar: em
vida, o atenazamento, bem como o corte ou mutilação das mãos, o arrastamento da
vitima, no percurso, até o sitio da forca. Em casos mais cruéis podia ser arrancado
o coração. Depois da morte, era frequente o corte da cabeça, o esquartejamento (as
partes eram distribuídas pelos lugares centrais da cidade, ou colocados às
portas dela) e noutros casos, era queimado o cadáver.
Assento de Baptismo de Luísa de Jesus (publicado no jornal Expresso) |
Caricatura representando D. Pedro e D. Miguel disputando a coroa portuguesa, por Honoré Daumier, 1833 |
Passados 61 anos, em 1833, temos notícia do fuzilamento de 6 penacovenses, por motivos políticos: António Homem de Figueiredo e Sousa, natural da Cruz do Souto, freguesia de Farinha Podre, Padre António da Maya, natural da Cruz do Souto, freguesia de Farinha Podre, pároco encomendado da freguesia do Covelo de Ázere, Francisco Homem da Cunha, filho de Bernardo Homem e irmão de Guilherme Nunes, do lugar da Cortiça, Francisco de Sande Sarmento, solteiro, natural da Carvoeira, freguesia e concelho de Penacova, Felisberto de Sande, solteiro, natural da Carvoeira, freguesia e concelho de Penacova, Guilherme Nunes da Silva, filho de Bernardo Homem e irmão de Francisco Homem da Cunha e José Maria de Oliveira, natural da Cortiça, freguesia de Paradela.
Conta-nos Henriques Seco (Memórias do Tempo Passado e Presente –
1880) : “É sabida a perseguição que aos liberais foi feita desde 1828 a 1834.
Uma das terras do país que mais sofreu então foi a vila de Midões. Fugindo á perseguição,
alguns de entre eles vagavam por diferentes terras da província, e por acaso
nos primeiros dias do mês de Agosto de 1832 estacionavam junto à Cortiça (quilometro
42 da estrada de Coimbra a Celorico) onde os povos lhe não eram hostis, e havia
também muitos cidadãos comprometidos na causa liberal.”
Ao fim da tarde do dia 4 de
Agosto de 1832, os mesmos liberais foram avisados que havia chegado à Ponte da Mucela “um troço
de quarenta voluntários realistas, vindos de Abrantes, escoltando um comboio de
vinte carros com pólvora”. Os liberais envolveram-se e depois de vários
episódios (ver AQUI
e AQUI)
foram perseguidos, presos e por fim, muitos deles, condenados à pena capital. A povoação da Cortiça foi quase totalmente incendiada em 1832 pelas milícias miguelistas que quiseram vingar o assalto ao combóio de carros de bois carregados de pólvora, proveniente dos paióis de Abrantes e destinada ao cerco do Porto. A pólvora foi seguidamente destruída por explosão nas proximidades da Cortiça e, como não foi possível prender todos os guerrilheiros, sofreram as retaliações os moradores daquela localidade.
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