Para mostrar um pouco do mobiliário , dos instrumentos e dos materiais, encontra-se em Lorvão, cedida pela
Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, uma interessantíssima exposição que nos últimos
anos tem corrido o país. Com assessoria científica da Prof.ª Doutora Maria José Azevedo Santos,
esta exposição foi estruturada inicialmente no âmbito da exposição "Santa Cruz de Coimbra – A
Cultura Portuguesa Aberta à Europa na Idade Média", no contexto das iniciativas
Porto Capital Europeia da Cultura 2001.
Imagens da exposição patente em Lorvão |
No desdobrável que acompanha a exposição podemos ler:
“Entrou
num scriptorium. Ou melhor, está num "palco" onde se pretende representar
um centro de cópia de manuscritos, de um qualquer mosteiro ou catedral, da
Idade Média, no Ocidente Europeu.
Aqui encontra e pode admirar o mobiliário, os instrumentos,
os materiais e os utensílios indispensáveis à tarefa complexa e exigente de
reproduzir um saltério, uma bíblia, um missal ou outro livro litúrgico.
Em espaços semelhantes a este, foram copiados, de
Portugal à Itália, da Espanha à Suiça, milhares de códices.
Copistas, mas também correctores, iluminadores,
encadernadores, e outros artesãos da arte de fazer códices, foram os principais
responsáveis pela constituição de preciosas bibliotecas que nem a incúria dos
homens nem a voragem do tempo conseguiram destruir.
Pelos scriptoria
dos séculos VIII a XIII, e por todo o pessoal que citámos, na maior parte dos
casos sem rosto e sem nome, mas, igualmente, pelo pergaminho, pelas penas e
pelas tintas, passou inquestionavelmente, a divulgação da cultura monástica
europeia.
Todavia, desta magnífica empresa de transcrever livros,
deram os copistas, muitas vezes, no final das suas obras, um testemunho
condoído e melancólico. A grande maioria daqueles homens considerava a cópia
uma louvável mas muito penosa tarefa. É a referência à dor, à dor física, que
domina os seus desabafos. Uma múltipla dor (dos dedos, da mão, das costas, dos
olhos) causada por um trabalho que parecia não ter pressa de chegar ao fim. Como
a ideologia cultural da escrita proclama: "Era preciso matar o corpo para
que a escrita nascesse.”
O que podemos observar neste conjunto expositivo? (vamos seguir
algumas das notas do referido desdobrável):
Mesa de trabalho horizontal (banca), própria para a elaboração de documentos
avulsos
Pergaminho
- pele de animal que, depois de preparada, proporciona uma superfície com dois
lados (o do pêlo e o da carne) para nela se escrever.
Pele de peixe - utilizada para polir os pergaminhos na sua preparação.
Pedra-pomes
- rocha vulcânica seca, porosa e leve. Serve para polir o pergaminho e até
afiar o bico da pena.
Fac-simile do "Apocalipse de Lorvão" produzido em finais do séc XII neste Mosteiro e assinado pelo monge Egeas |
Facas -
servem para cortar as peles, raspar o pergaminho, talhar as penas, corrigir os
erros dos copistas.
Canivetes
- instrumentos usados no talhe (dar forma à ponta da pena, geralmente fendida
ao meio) das penas das aves.
Cornos -
chifres de animal utilizados como tinteiros.
Penas -
penas de ave que, depois de serem talhadas nas pontas servem para escrever.
Dedais -
objectos para proteger os dedos quando se cose o pergaminho.
Compassos
- servem para traçar círculos, medir, ou fazer a pautagem no pergaminho (ponta
seca).
Espátula
- instrumento de madeira utilizado para juntam as tintas moídas.
Sovelas
- instrumentos constituídos por uma espécie de agulha, direita ou curva, com
que se faziam os orifícios nas folhas de pergaminho para, unindo-os,
estabelecer o pautado.
Caixa
destinada a guardar os instrumentos necessários para escrever
Pena talhada - pena de ave, talhada. Com
tinta serve para escrever.
Régua -
instrumento de madeira utilizado no traçado das linhas rectas.
Tabuinhas
enceradas com seu estilete - destinam-se a receber escritos.
Palmatória
- castiçal em barro, para colocar velas, que serviam para iluminar.
Ampulheta
- instrumento que serve para calcular o tempo (o tempo que a areia gasta em
passar de um dos cones para o outro).
Tesouras
- serviam para cortar os pergaminhos, os fios e as penas.
Novelos
de fio - linha para coser rasgões no pergaminho.
Reprodução
de iluminuras antigas - iluminura é
um tipo de pintura decorativa aplicado às letras capitulares (letras maiúsculas
que iniciam o capítulo). O termo também se aplica aos elementos decorativos e representações
que surgem nos livros da Idade Média.
Armário
destinado a guardar manuscritos e outras peças relativas à escrita
Almofarizes
com seus pilões - serviam para machucar e macerar os bugalhos e gomas arábicas
destinadas à preparação das tintas.
Goma arábica - resina produzida por diferentes
árvores do género da Acácia. Ingrediente de receitas de tinta de escrever.
Sulfato
de ferro - sal metálico utilizado na preparação das tintas deescrever.
Associado a um agente tanino (noz de gralha) produz um precipitado castanho ou
negro (tinta).
Agulhas
- serviam para coser os pergaminhos.
Tábuas -
placas de madeira destinadas à encadernação dos livros. Forravam-se com pele ou
tecido
Vassouras.
Nozes de galha
ou bugalhos - elemento principal na preparação das tintas negras de escrever,
porque são ricas em tanino.
Móvel fixo
com superfície inclinada. Adapta-se fundamentalmente à cópia de livros
permitindo o emprego de folhas de formato grande
Frascos
com tintas de escrever - líquidos vermelho e preto.
Candeia
- objecto de metal com bico por onde sai a torcida. Deita-se-lhe azeite e
acende-se para dar luz.
Penas de
ave talhadas - compõe-se de duas partes: a haste e as barbas.
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