Amando ou brigando por cartas
Dizer que antigamente era assim pode dar a impressão de algo muito
afastado no tempo, quando na verdade o passado está logo ali; quarenta,
cinquenta, sessenta anos! Pois é, como antigamente a paixão distante era
curtida e mantida na base das cartas, nas juras eternas de amor, o anúncio do
rompimento, as lágrimas pela separação passavam também pelo correio. Se assim
era na vida, não havia como a música popular não retratar esses momentos, daí existirem
vários registros dessa época eternizados pela música.
“Devolvi” é uma dessas preciosidades, gravada primeiramente por Nelson
Gonçalves (1919-1998), cantor de muito sucesso nas décadas de 40, 50 e 60, sendo
ainda apreciado pelos mais velhos. O autor português, Adelino Moreira de Castro (1918-2002) nasceu em Covêlo e
faleceu no Rio de Janeiro.
“Devolvi o cordão e a medalha de ouro / E
tudo que ela me presenteou /Devolvi suas cartas amorosas / E as juras
mentirosas / Com que ela me enganou. / Devolvi a aliança e também seu retrato/ Para
não ver o seu sorriso /no silêncio do meu quarto...”
“Mensagem”
de Aldo Cabral e Cícero Nunes, composta em 1946 foi
gravada inicialmente por Isaura Garcia, mais conhecida como Isaurinha Garcia (1923 -1993), uma das
maiores cantoras brasileiras, a Edith Piaf brasileira.
“Quando o carteiro chegou/ E o meu nome gritou / Com uma
carta na mão / Ante a surpresa tão rude / Nem sei como pude / Chegar ao portão
/ Vendo o envelope bonito / E no seu sobrescrito / Eu reconheci / A mesma
caligrafia / Que disse-me um dia / Estou farta de ti / Porém não tive coragem /
De abrir a mensagem...”
“Pombo Correio” composta
em 1965 por Dodô e Osmar, ao ganhar letra
de Moraes
Moreira em 1978, fez logo sucesso, dançada no ritmo frenético do frevo
pernambucano é exigida em toda apresentação do artista.
“Pombo correio / Voa depressa / E esta carta
leva / Para o meu amor. / Leva no bico / Que eu aqui / Fico esperando/ Pela resposta / Que é pra saber / Se ela ainda / Gosta de mim...”
Bem mais recente, “Devolva-me” música do
tempo da Jovem Guarda, 1966, com Leno e
Lilian foi grande sucesso entre a juventude romântica.
“Rasgue as minhas cartas / E não me procure
mais/ Assim será melhor, meu bem! / O retrato que eu te dei/ Se ainda tens, não
sei / Mas se tiver, devolva-me!...”
Como
essas coisas não acontecem somente aqui no Brasil, busquei na grande Amália Rodrigues (1920-1999) um exemplo
das choramingas nas canções portuguesas feitas através das cartas, o que
encontrei em Fado do Ciúme, música
que aparece no filme Capas Negras,
de 1947, que marca a primeira participação da artista no cinema. Há no Youtube vários trechos do filme. [clique na imagem]
“Se não esqueceste / O amor que me dedicaste, / E o que escreveste
/ Nas cartas que me mandaste, / Esquece o passado / E volta para meu lado, / Porque
já está perdoado / De tudo o que me chamaste.”
P. T. Juvenal Santos
Boa lembrança, ótimo texto.
ResponderEliminarParabéns!!!!!