quinta-feira, abril 25, 2024

Ecos da revolução do 25 de Abril na Imprensa Local


Falar em jornais de Penacova na década de setenta é falar do “Notícias de Penacova” que veio a lume em 1932 e suspendeu a publicação em finais de 1978, para não mais voltar.

Este periódico, em vésperas do 25 de Abril poucas notícias locais publicava, possivelmente por falta de colaboradores.

Começando a analisar em Janeiro de 1974, encontramos, por exemplo, a defesa da política ultramarina e da guerra colonial. Em Fevereiro ressalta uma crítica muito grande à ONU, associando-a a “uma feira de vaidades” ao mesmo tempo que censura as “políticas onusinas”. Ainda neste mesmo mês, é feita especial referência a discursos de Marcelo Caetano nos quais refere as “atoardas e calúnias” de “certa imprensa”. Sobre o regime, o mesmo afirma no jornal de 9 de Março que “a experiência Corporativa” é “um êxito” evidente. No jornal de 18 de Abril, meia dúzia de dias antes do 25 de Abril, é noticiada a visita de Américo Tomás às obras da Barragem da Aguieira.

A 23 de Março, citando-se um discurso do Ministro Moreira Baptista, salienta-se que os Governadores Civis devem evitar que “alguns eclesiásticos se façam eco de críticas destrutivas que com má-fé são postas a circular para combater a acção governativa, esquecendo-se que a sua missão na Terra deve ser somente evangélica e não política”. Neste particular, apesar de não ter sido notícia no jornal, como é evidente, dizia-se que o Padre António Veiga, pároco de Travanca, Oliveira e Almaça, com grandes preocupações sociais e culturais, chegara a ter informadores da PIDE a escutar as suas homilias.

Estranhamente (ou talvez não) o jornal que tem a data de 27 de Abril alheia-se por completo dos acontecimentos que estão na ordem do dia. Só a edição de 4 de Maio faz eco da Revolução, publicando fotografias de Costa Gomes e de António de Spínola. O editorial, intitulado “Mudança de Rumo” apresenta-se ainda muito cauteloso e desconfiado, indo rebuscar as convulsões da I República e apresentando o 28 de Maio de 1926 como o início de uma fase que “não obstante os naturais defeitos, manteve a paz e o sossego durante meio século e transformou completamente a fisionomia da Nação.” O autor do artigo duvida muito que os portugueses saibam usar a Liberdade e teme, mesmo, que “a emenda seja pior que o soneto.”

Nesta data, dá-se realce ao Manifesto do Movimento das Forças Armadas. O jornal seguinte virá a ser publicado só passados quinze dias, a 18 de Maio, dado que a edição do dia 11 não se publicou, por motivos logísticos, conforme foi comunicado. Neste 18 de Maio já não consta o nome de Joaquim de Oliveira Marques como director. Agora, é o Pároco de Penacova, João da Cruz Conceição, que assume a direcção. Joaquim de Oliveira Marques escreverá em 13 de Julho na pequena nota intitulada “Palavra de Despedida”, que saía porque “a vontade de no máximo 2% por cento da população do concelho” (…) elegera “novas autoridades“ que impuseram a sua saída.”

O 1º de Maio de 74 foi, também em Penacova, o dia em que o Povo “saiu à rua” de uma forma mais visível. A notícia de um ou outro episódio só virá a público no dia 18, como vimos. Relata o jornal que “muitas pessoas se concentraram no Terreiro (…) realizando-se em seguida uma sessão pública no Salão dos Paços do Concelho. Muitos democratas tomaram a palavra para enaltecer o Movimento de Libertação”.

Nesta sessão foi eleita “uma comissão para gerir os interesses do Município”. Comissão que integrava os seguintes nomes: “Fernando Ribeiro Dias, tesoureiro da Fazenda Pública, Manuel Ribeiro dos Santos (comerciante), Rui Castro Pita (engenheiro civil), Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão (notário), José Marques de Sousa (proprietário ), Teófilo Luís Alves Marques da Silva ( professor liceal), Américo Simões (industrial ), Adelaide Simões (farmacêutica ), Artur José do Amaral (estudante de Direito ), Artur Manuel Sales Guedes Coimbra (médico), António Coimbra Soares (professor e comerciante) e António de Sousa (electricista).

Esta Comissão alargada, que tomou posse em 2 de Maio, elegeu por sua vez o Presidente e o Vice-Presidente, respectivamente, Teófilo Luís Alves Marques da Silva e António de Sousa. Esta tomada de posse contou com a presença do Presidente e Vice- Presidente cessantes, Álvaro Barbosa Ribeiro e Francisco José Azougado da Mata. Os mesmos declararam ter solicitado e obtido a exoneração dos seus cargos junto do Comandante da Região Militar de Coimbra”. Álvaro Barbosa Ribeiro, à época Deputado, acabaria por passados alguns dias ser detido e preso em Lisboa e Coimbra, acabando o processo por ser arquivado por falta de provas.

Ainda sobre este 1º de Maio no concelho de Penacova lê-se numa local de Lorvão que se tratou de “um dia inesquecível em que todo o povo saiu em massa à rua e com ele a Filarmónica, entoando o Hino Nacional.”

No dia 5 de Maio, domingo, foram em diversas freguesias escolhidos os elementos para presidirem às respectivas Juntas. Em Penacova e Lorvão tal acto teve lugar no dia 12. Em Penacova também neste dia foi eleita nova direcção da Casa do Povo. Por sua vez em Lorvão, realizou-se uma sessão pública na sede da Associação Recreativa Lorvanense com a presença de membros da Comissão Administrativa concelhia e de um representante do Movimento Democrático de Coimbra. Foi notória a presença de um grande número de pessoas, sublinhando o articulista que predominavam as mulheres da povoação de Lorvão que “por mais de uma vez interromperam a sessão”. De Friúmes chega a notícia que ali se deslocara uma sub-comissão da Câmara Municipal para numa “grandiosa reunião sondar se era da vontade do povo continuar a mesma Junta, o que acabou por suceder.”

Sabe-se que em S. Pedro de Alva igual procedimento se fez e com os mesmos resultados: manutenção da Junta.

Com a finalidade de “instruir o povo, esse povo unido, esse povo honesto” para ser “pormenorizadamente instruído acerca da nossa política nacional actual – escreve o correspondente do NP em Friúmes – havia sido marcada uma reunião para o dia 9 de Junho. Recorde-se que estas sessões de esclarecimento e dinamização cultural, assim designadas e geralmente orientadas por elementos do MFA, no nosso caso, por militares da Região Militar de Coimbra, tiveram lugar na maioria das freguesias. Por exemplo, em Penacova a 17 de Fevereiro de 1975, as ovações ao MFA ( O povo está com o MFA) estenderam-se até cerca das 3 horas da madrugada! Ainda na vila, a 18 de Maio, teve lugar durante a tarde mais uma sessão de “Dinamização Cultural” com a presença das Filarmónicas do Concelho, da Orquestra Típica Infantil de Penacova e a Banda de Música do Regimento de Serviços de Saúde. Houve também uma sessão de cinema na Casa do Povo, dado que devido à chuva o programa não pôde ser feito no exterior como estava previsto. Refere o jornal que a dinamização da população em ordem à participação do povo neste programa fora feita pelos 1ºos sargentos penacovenses, José Alvarinhas e José Alberto. Penacova, Friúmes, mas também Chelo. Aqui, no dia 8 de Maio, no Ginásio Recreativo, teve lugar uma “sessão de esclarecimento pelas Forças Armadas”.

Ilustrativo do ambiente que se viveu por estes tempos, recordemos o “assalto” à Casa das Enfermeiras em Lorvão, edifício do antigo Hospício e que agora apenas tinha duas pessoas a residir. Em Agosto de 75, depois de várias reuniões inconclusivas e manifestações populares como aquela que uns tempos antes reunira mais de mil pessoas e onde falaram diversos oradores, entre os quais um representante do MRPP, em defesa da ocupação do edifício para Casa do Povo, que funcionava em condições muito precárias. Neste Agosto o povo decide avançar, pôr os móveis na rua e tomar conta das instalações. Sobre este episódio, António Simões, ex-cozinheiro do hospital, recordará mais tarde, a 30 de Abril de 1998 ao jornal penacovense Nova Esperança, essa “manifestação popular onde o povo é que mais ordenou”. A Comissão Instaladora do Hospital reconheceu, resignada, que “o povo entusiasmado com o que ouvia na rádio e lia nos jornais, resolveu tomar uma atitude sem o seu consentimento”. No fim de contas “O Povo é quem mais ordena!”

Outros episódios poderiam ser recordados. Vamos referir por agora o célebre “Dia de Trabalho pela Nação”. Foi a 6 de outubro de 1974 que, sob proposta de Vasco Gonçalves e tendo a dispensa da Conferência Episcopal, foi pedido que as pessoas dedicassem um dia de trabalho voluntário a favor do País. Referiremos o caso de Travanca, Rebordosa, Chelo e Lorvão. Em Travanca a Junta de Freguesia lançou o apelo e muitas pessoas, incluindo o Pároco, lançaram mãos à obra e procederam ao arranjo do caminho que ligava o ramal da Igreja ao Cemitério. Na Rebordosa, a Juventude (dos 12 aos 23) deixou “as ruas num mimo”. Em Chelo, um grupo “constituído por pessoas que normalmente não pegam na enxada e na picareta “deu início às escavações para a construção de um fontenário”. Por fim, em Lorvão os jovens estudantes reuniram em grupos de trabalho e (…) limparam as ruas da povoação. Mas Lorvão não se ficou por aqui. As paliteiras juntaram-se em grupos fazendo o seu dia de trabalho. Como resultado da venda de palitos (…) recolheram, juntamente com ofertas de voluntários a quantia de 2.485 escudos, que entregaram para os Deficientes-Mutilados das Forças Armadas.

Como sabemos, foi Teófilo Luís Alves Marques da Silva, que desde 1971 era professor de História e Director do Ciclo Preparatório, que assumiu a presidência da Comissão Administrativa Provisória. Em entrevista ao Jornal de Penacova de 15/12/2002 dirá que “tal como um pouco por todo o país a revolução dos cravos foi recebida em Penacova com grande júbilo, pelo menos pelas pessoas com quem contactava no café, na pensão e nas ruas.” Recordará entre outros aspectos a falta gritante de estruturas e de verbas. Por vezes eram uns cerca de 1000 contos feitos na venda de madeira que conseguiam tapar os buracos maiores. Com mágoa recordará, igualmente, quando certo dia um grupo de pessoas quis invadir a Câmara e como nesse dia não estava, agrediram à bofetada o Eng. Castro Pita,”um homem de 60 anos que tanto deu à sua terra”. “Achavam que eu era um indivíduo perigoso, que tinha levado a Câmara à falência, etc… Por estas e por outras acabou por pedir a demissão. Em Agosto de 1975 a comissão fica demissionária. Vai-se manter até Abril de 76. Nesta data dá-se a demissão, agora em bloco. Perante isso foi nomeado para assegurar a presidência da Câmara até às primeiras eleições autárquicas de Dezembro de 76 , como gestor municipal, José Alberto Rodrigues Costa.

Para terminar detenhamo-nos na legenda que acompanhava um foto de Penacova oferecido ao jornal pelo sr. LuísCunha Menezes e publicada na edição de 18 de Maio de 1974:

“Que à pureza dos ares que invadem a nossa região se possam assemelhar os ventos da libertação que sacudiu o país a partir do 25 de Abril. Que a caminhada de Paz e a Liberdade iniciada pelas Forças Armadas, de mãos dadas com o povo, não se detenha até alcançar toda a terra portuguesa.”

David Almeida 

(Comunicação apresentada hoje na sessão solene das comemorações do 25 de Abril em Penacova)




quarta-feira, abril 24, 2024

"Um menino chamado Zeca": Coro Vox et Communio assinala o 25 de Abril

Hoje, dia 24, e no dia 26 (sexta), o Coro Vox et Communio irá apresentar o seu
espectáculo “Um menino chamado Zeca” baseado no livro infantil de José Jorge Letria - informa-nos Maria da Graça Antunes, Presidente da direção deste Coro.

Os concertos, marcados para as 21:30h, terão lugar na Casa do Povo de São Pedro de Alva e no Auditório Municipal de Penacova, respectivamente.



A partir da narração dos textos do livro, os concertos pretendem celebrar os 50 anos do 25 de Abril revivendo, através dos textos e da música, a vida e obra de Zeca Afonso. 

O espectáculo unirá em palco as vozes do Vox et Communio e dos coros infantis e juvenis da Escola de Artes de Penacova (EAP), o ensemble de guitarras, ensemble juvenil e grupo de dança da EAP. 

Contará, ainda, com a participação de vários artistas naturais do concelho de Penacova: Sandra Henriques (narração), Maria da Graça Antunes (canto), Carolina Duarte (canto), Eduardo Henriques (violino), João Martinho (viola de fado) e João Alves (guitarra portuguesa), que se juntam num momento performativo evocativo das sonoridades de Abril. 

Os concertos são de entrada livre.

Ciclo de Concertos Divo Canto

No dia 20 de Abril, pelas 21h30, no Centro Cultural de Penacova viveu-se mais uma noite cultural com o Coral Divo Canto que se exibiu juntamente com os grupos convidados, Coral das Caldas da Rainha e o Chorale Crèche n’Do de França.

No dia seguinte, pelas 18h, no Mosteiro de Lorvão teve lugar o Concerto de Aniversário. O Coral Divo Canto e o Chorale Crèche n’Do voltaram a unir-se para uma actuação de alto nível artístico e cultural.







O Coral Divo Canto é um coro misto amador, constituído por cerca de 40
elementos. A actividade do grupo iniciou-se a 2 de Abril de 2003. Então designado Coro Poliphonico da Casa do Povo de Penacova, apresentou-se pela primeira vez em público no dia 24 de Abril de 2004. Desde 2009 que é dirigido pelo Maestro Pedro André Rodrigues.

O grupo conta com um repertório de que fazem parte composições clássicas,
contemporâneas, tradicionais portuguesas, sacras e profanas.

Já percorreu Portugal de Norte a Sul e primeira experiência internacional ocorreu em 2012 com a deslocação a Ponteareas, Espanha. Desde então participa regularmente em concertos no país vizinho. 

Em outubro de 2013 gravou um DVD ao vivo e no ano seguinte apresentou a ópera “Orfeo ed Euridice” de C.W. Gluck.

Em 2017 organizou o I Encontro Solidário de Penacova no qual participaram a grande maioria dos grupos corais paroquiais do concelho e o I Festival da Canção Divo Canto de Penacova.

Tem desenvolvido um importante trabalho de sensibilização para a música coral, realizando frequentemente concertos em diferentes freguesias deste concelho. Organiza anualmente o Concerto de Aniversário, o Encontro de Coros de Penacova e um Concerto de Natal com grupos nacionais e estrangeiros.

A Associação Cultural DIVO CANTO - que alberga o Coral Divo Canto - surge a Janeiro de 2015 tendo como finalidade o ensino e promoção de todo o tipo de artes, principalmente a música na vertente coral,  bem como o enriquecimento cultural do Concelho de Penacova em geral . 

É a Associação  que "tem feito um trabalho importante na música coral no nosso concelho, levando o nome de Penacova por todo o país e além fronteiras". Pretende, numa palavra, "construir um caminho sólido na promoção e enriquecimento da nossa cultura"- refere o site da mesma.

Destacam-se os Encontros Corais de Penacova, sobretudo os Internacionais e também o Encontro de Coros Solidário que uniu os grupos corais litúrgicos e a comunidade penacovense em geral. 


sábado, abril 20, 2024

Poetas penacovenses [14]: Cheirava a Abril


C h e i r a v a   a   A b r i l

Luís Pais Amante

 

Podia ter sido em Março, em Maio, quiçá em Junho

O momento para rebentar a pólvora junta no barril

Mas foi em Abril…

Abril era o mês sem tempo, sem ar cinzento, primaveril

No ano andámos no pressentimento preso na mudança

Em Março não deu p’ra ser

Se calhar deu-se com a língua no dente

Talvez o entusiasmo se tenha congelado

O Soldado ficado atrapalhado

Ou o Major, descoordenado

Certo é que não deu pra “construir” Revolução

Então, nessas horas de esperança


Começara 1974

Na Faculdade demos corda ao sapato

Uns chevrolet’s foram postos a arder

Uns vidros foram partidos a derreter

Uns tropeções ocorreram sem saber

Umas corridas valentes aos “gorilas”

E uma crença grande num amanhecer

Diferente


Podia ter sido muito antes de ter sido

A junção de uma quase toda Nação

Para nos dar carácter e legitimação

Mas foi em Abril…

Abril 25 em dia, antecipou Maio em 1

O Militar pôs-se ao lado do Trabalhador

Os rios passaram a correr em Liberdade

Dos céus vieram sons de Fraternidade

E nós, na Universidade, Estudantes

Começámos a sonhar

E, com ingenuidade, a equacionar

Vai haver oportunidades em Igualdade?


Apesar de espalhado o cheiro em Cravo

Sadio e bom, fresco em frisson, desde lá

Ainda não se conseguiu dar Igualdade cá

Sequer democrática, pá

E isso não pode deixar de nos fazer pensar

Porque, em boa verdade

Sem Igualdade básica, Democracia não há

Minha Gente!


Luís Pais Amante | Casa Azul

Memórias: Recordando o Dia 25, as cumplicidades e os sonhos…



sexta-feira, abril 12, 2024

Penacova um olhar 1921 (III): visita à Quinta do Sr. Carvalho


O "Jornal de Penacova" publicou em 1921 um artigo/crónica que nos dá uma imagem, nalguns aspectos curiosa, do nosso concelho naqueles primeiros anos do século passado. 
Levava o título genérico de “Monografia” e era assinado por Bernardino Pereira. 
Damos, hoje, continuidade ao texto que temos vindo publicar, com uma visita à Quinta de Santo António.

[...] Subimos a vasta escadaria e chegámos ao jardim que contorna a casa. Que vimos? Impossível é fazer a descrição de tudo. Um belo horizonte. 

Ao longe as cumeadas de algumas serras com urzes, tojos, ou circundadas pelas folhas verdes dos pinheiros; ao fundo o comprido vale das duas margens do majestoso Mondego; nos altos, fileiras inúmeras de moinhos de vento; nos baixos, azenhas de água e barcos deslizando para montante e jusante, no Mondego; a seus pés estende-se a graciosa vila de Penacova; Além, Riba de Baixo, Carvoeira... e mais além a Cheira, Chelo, Chelinho, Rebordosa... Aqui e acolá diversos montes e vales e lá no fundo a lisa corrente do cantado Mondego em amplo leite tortuoso e em cujos meandros a vista se enamora;

Junto às casas dos vizinhos, lindos pomares, belos jardins e algumas vinhas e por aqui e acolá, alcandorados nos montes, casais caiados, brilhantes e de nota alegre e poética, mesmo dentro da Quinta hospitaleira, vinha, horta, pomar, alamedas, grutas artificiais com graciosas estalagmites, lagos artificiais, aquário, repuxo, jardim ao ar livre e jardins de estufa.

Plantas de climas temperados e de climas quentes, tudo devidamente tratado com amor, cuidado e arte, e tudo dividido por lindos caminhos, com bancos de repouso e mesas especiais nas grutas onde têm descansado e tomado refeições diversas diplomatas e cavalheiros estrangeiros e portugueses.

O Sr. Carvalho que nos recebeu admiravelmente mostrar-nos tudo de boa vontade e convida-nos por fim para penetrar no seu chalet de habitação. Ali completa-se o encanto com toda o conforto.

Estética, ciência e arte. Ricamente atapetado, tudo bem instalado com mobília e outros artigos decorativos de luxo, lindamente ornamentados. As diversas salas de recepcão, de fumo, de música... são tão ricos alguns quadros e pinturas, que julgamos estar nalgum museu.

E fomos também até ao primeiro andar onde estava um bom piano e onde a Madame Raimunda Martins de Carvalho, de origem brasileira e professora de piano exímia, executou notáveis trechos de músicas estrangeiras. E para o sr Joaquim de Carvalho, honra ao mérito! Ali mora um fidalgo, por direito e merecimentos próprios, nobre descendente, como tantos outros, do concelho de Penacova, da antiga e heróica raça portuguesa!

Subimos a vasta escadaria e chegámos ao jardim que contorna a casa. Que vimos? Impossível é fazer a descrição de tudo. Um belo horizonte: ao longe as cumeadas de algumas serras com urzes, tojos, ou circundadas pelas folhas verdes dos pinheiros; ao fundo o comprido vale das duas margens do majestoso Mondego; nos altos, fileiras inúmeras de moinhos de vento; nos baixos, azenhas de água e barcos deslizando para montante e jusante, no Mondego; a seus pés estende-se a graciosa vila de Penacova; Além, Riba de Baixo, Carvoeira... e mais além a Cheira, Chelo, Chelinho, Rebordosa... Aqui e acolá diversos montes e vales e lá no fundo a lisa corrente do cantado Mondego em amplo leite tortuoso e em cujos meandros a vista se enamora;

Junto às casas dos vizinhos, lindos pomares, belos jardins e algumas vinhas e por aqui e acolá, alcandorados nos montes, casais caiados, brilhantes e de nota alegre e poética, mesmo dentro da Quinta hospitaleira, vinha, horta, pomar, alamedas, grutas artificiais com graciosas estalagmites, lagos artificiais, aquário, repuxo, jardim ao ar livre e jardins de estufa.

Plantas de climas temperados e de climas quentes, tudo devidamente tratado com amor, cuidado e arte, e tudo dividido por lindos caminhos, com bancos de repouso e mesas especiais nas grutas onde têm descansado e tomado refeições diversas diplomatas e cavalheiros estrangeiros e portugueses

O Sr. Carvalho que nos recebeu admiravelmente mostrar-nos tudo de boa vontade e convida-nos por fim para penetrar no seu chalet de habitação. Ali completa-se o encanto com toda o conforto.

Estética, ciência e arte. Ricamente atapetado, tudo bem instalado com mobília e outros artigos decorativos de luxo, lindamente ornamentados. As diversas salas de recepcão, de fumo, de música... são tão ricos alguns quadros e pinturas, que julgamos estar nalgum museu.

E fomos também até ao primeiro andar onde estava um bom piano e onde a Madame Raimunda Martins de Carvalho, de origem brasileira e professora de piano exímia, executou notáveis trechos de músicas estrangeiras. E para o sr Joaquim de Carvalho, honra ao mérito! Ali mora um fidalgo, por direito e merecimentos próprios, nobre descendente, como tantos outros, do concelho de Penacova, da antiga e heróica raça portuguesa!

SABER + sobre a QUINTA DE STO ANTÓNIO



sábado, abril 06, 2024

Penacova um olhar 1921 (II): as estradas, a indústria, a política...


Com o título “Monografia” e assinado por Bernardino Pereira, o Jornal de Penacova publicou em 1921 um artigo/crónica que nos dá uma imagem, nalguns aspectos curiosa, do nosso concelho no primeiro quartel do século XX. Damos hoje continuidade ao texto publicado há tempos:

Em 1921, um dos grandes “anseios” do concelho era a conclusão da estrada que devia “ligar esta região ao Luso para completar o tão desencantado triângulo de Turismo Coimbra - Luso – Penacova.” No entanto, esta via, apesar de faltarem alguns quilómetros para entroncar com o Luso, já ia servindo Galiana, Sobral, Casal, Casalito, Palmazes, Midões e Sazes.

As necessidades eram muitas. Enumera o articulista a urgência de “completar as estradas iniciadas”, proceder “a melhoramentos nos subúrbios” da vila, bem como “alamedas para promover excursões“. Contavam-se pelos dedos da mão as terras servidas por estradas: Oliveira, Rebordosa, Lorvão, Sazes e Penacova.

Outras obras a necessitar de resolução: “completar a ramada delineada em 1918 por Raúl Lino da Sociedade de Propaganda de Portugal e oferecida a este povo” e construir “um jardim público.”

No plano cultural é invocada a necessidade de “arranjar distrações” aos “briosos e cavalheirescos hóspedes.” Como propostas nesse sentido fala-se numa “casa de teatro ou cinematógrafo” e na criação de “uma boa filarmónica”.

Curiosamente, a questão do caminho de ferro ainda prevalecia por esta altura. “ A vila tem bastante comércio e mais teria, assim como as outras terras do concelho, se nela passasse a via férrea”.

Igualmente neste artigo são referidas as principais ocupações da população: “lavradores, barqueiros, comerciantes, madeireiros, fabricantes de telha, de cal, de palitos e de mós."

No plano industrial, salienta-se que é a “indústria paliteira” que “essencialmente caracteriza o povo do concelho de Penacova” e se exerce “com mais intensidade na grande freguesia de Lorvão”. Isto, porque “mulheres e crianças com a maior destreza e agilidade fabricam os tão conhecidos , higiénicos e apreciados palitos, tão desejados e usados pelas populações cultas do Velho e Novo Mundo.” São enaltecidos os “palitos de luxo, as facas especiais, garfos, rocas e elegantes sarilhos, tudo feito na mesma madeira dos palitos, devidamente ornamentada.”

As actividades transformadoras estendem-se, no entanto, a outros pontos do concelho. Refere-se a “Estrela d’Alva” e a “Empresa de Cal de Penacova”, bem como “diversos fornos de cal parda, fábrica de cartonagem de caixas para exportação [que seria em Chelo], fábricas de serração de madeiras, moagem, telha, tijolo, etc.”

No campo da política, o cronista tece, curiosamente, algumas considerações:

“A situação política é um tanto conservadora, habituada aos moldes antigos, e por isso é de parecer que politicamente alguma coisa tinha este concelho a aprender com outros concelhos do continente e até com a política de alguns concelhos vizinhos. Socialismo, democracia, República, são ideais ainda neste meio pouco conhecidos, que pairam no ar, sem terem encarnado em corpos de espíritos lúcidos.”

Causas de tudo isto?

“Pouco desenvolvimento da instrução e educação cívica, falta de unidade e coesão políticas, que devia imperar entre alguns elementos políticos avançados.”

(Continua)

UMA VISITA À QUINTA DE SANTO ANTÓNIO

terça-feira, abril 02, 2024

Poetas penacovenses (13): "Ai Cravo, Cravo ! " de Luís Pais Amante




Ai Cravo, Cravo!

Oh meu cravo vermelho

Minha flor do jardim em coração

Como é que todos te querem

Se não foste bem feito assim

Para te prostituir

Para te dividir

Ou mesmo para em pétalas te cindir?

Uns querem-te usado, usurpado

Outros preferem-te moldado

Mas és símbolo do Abril singelo

Incorruptível

Derrota do mau conselho

Símbolo da Democracia

Longe da demagogia

Cravo da cor do nosso sangue

Da Revolução em Povo

Do sofrimento exangue

Da luta contra a pobreza

Contra a arrogância

Contra as manigâncias

Contra a prepotência

E contra a preponderância

Da política do mal fazer

Com memória do nada ser

Este mês não podes ter outra função

Serás a flor de mais relevo

Aquela que se canta com enlevo

E que se poeta

Com sonho alerta

E vontade desperta

Por seres discreta, também, fraterna

Com tom sublime

Nobre e firme

Bom para exibirmos na nossa lapela

em tom evocativo da Liberdade, bela!!


Luís Pais Amante | Casa Azul | 1Abr24; 7h10 | Na entrada do mês de Abril e dos 50 anos do aniversário da Revolução.

quinta-feira, março 28, 2024

Personalidades (3): Abel José Fernandes Ribeiro (1898-1962)


Abel José Fernandes Ribeiro nasceu no dia 23 de Novembro de 1898 em Arganil. Filho de José Ribeiro Mendes, industrial de marcenaria, e de Natalina de Jesus Fernandes, naturais e residentes na vila. Neto paterno de António Ribeiro Mendes e de Maria José Castanheira e materno de Manuel Fernandes e de Beatriz de Jesus Fernandes.

Fez o Curso Industrial em Coimbra no estabelecimento de ensino que a partir de 1951 adoptaria novas instalações e a designação de Escola Industrial e Comercial Brotero.

Quando já estava ligado à família da Estrela d’Alva (casara em 23 de Junho de 1919 com Maria da Natividade de Oliveira Coimbra, filha de Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra), adquiriu conhecimentos na área da cerâmica e viajou pelo país e estrangeiro para conhecer melhor os meandros técnicos e comerciais daquela indústria.

A imprensa regional, designadamente A Comarca de Arganil, aquando do seu prematuro falecimento (contava apenas 63 anos), destacou as suas qualidades organizacionais, intelectuais e técnicas, numa palavra, predicados de um “óptimo empreendedor”.

Na fábrica da Estrela d’ Alva levou avante um conjunto relevante de reformas e na fábrica de Taveiro, de igual modo “mostrou com vigor aquelas capacidades.”

Foi Presidente da Câmara Municipal de Penacova “prestando relevantes serviços ao concelho” em especial no domínio da electrificação, extinguindo os Serviços Municipalizados e fazendo um contrato com a Companhia Eléctrica das Beiras.

A nomeação para a Presidência da Câmara ocorreu a 12 de Dezembro de 1945. A seu pedido, foi exonerado em 15 de Fevereiro de 1950. Sucedeu a Alberto Alçada, seu cunhado, que exercia o cargo desde 17 de Fevereiro de 1939. Refira-se ainda que quem se lhe seguiu naquela presidência foi Francisco Rodrigues Martins.

Abel Fernandes Ribeiro, que já tinha o seu nome na toponímia de Taveiro, vai igualmente dar o nome ao arruamento que serve a antiga fábrica de cerâmica da Estrela d’ Alva.

Retrato publicado no livro 
100 anos de História - Cerâmica Estrela d' Alva

Pai de Alípio Ribeiro Barbosa Coimbra (1920-2003) e de Álvaro Barbosa Ribeiro (1921-1999) que também foram presidentes da Câmara de Penacova e figuras de relevo nas empresas da família em S. Paio e Taveiro.

Abel José Fernandes Ribeiro, ”um dos mais importantes e conceituados industriais desta região e antigo presidente da Câmara de Penacova”, para citar o título de A Comarca de Arganil de 3 de Julho, faleceu na Estrela d’ Alva no dia 30 de Junho de 1962. No seu funeral incorporaram-se muitas centenas de pessoas. Os seus restos mortais repousam no cemitério das Ermidas (S. Paio) em jazigo de família.

segunda-feira, março 11, 2024

“Do Mondego: notas históricas e culturais”: um texto de Nelson Correia Borges


Recordamos a intervenção proferida pelo Professor Doutor Nelson Correia Borges no âmbito do Colóquio “Mondego Vivo” realizado em Penacova a 21-01-2012, quando se lutava contra a construção da Mini Hídrica na zona do Caneiro. Um dos muitos excelentes textos históricos e literários deste nosso insigne conterrâneo. 

“Do Mondego: notas históricas e culturais”

“O Mondego não é apenas o mais importante dos rios nascidos em Portugal. É também o mais português por ter sido cantado por quase todos os grandes poetas portugueses.

O lirismo de que impregna a paisagem mondeguina desperta em quem o contempla a vontade de ser poeta. Ninguém o pode ver sem com isso sentir prazer. A poesia portuguesa está cheia de páginas vibrantes e sentidas, gravadas de forma imorredoura por quantos o têm cantado desde Luís de Camões a António Nobre, desde Sá de Miranda a José Régio. Bernardim Ribeiro, António Ferreira, Almeida Garrett, João de Deus, Soares de Passos, Antero de Quental, Gonçalves Crespo, Teixeira de Pascoaes, Camilo Pessanha, Afonso Lopes Vieira, Eugénio de Castro, Afonso Duarte, Campos de Figueiredo, Manuel da Silva Gaio, Fausto Guedes Teixeira, António Homem de Melo, Alberto de Serpa, Alberto de Oliveira, José Freire de Serpa, Miguel Torga, Manuel Alegre e tantos mais, celebraram cada um à sua maneira, as “doces e claras águas”, “entre choupais murmurando”, “os saudosos campos”, o “cristalino curso”, “os salgueiros a cantar”, as “falas mais tristes” do “lânguido Mondego”.

Orlado de encostas verdejantes e campos férteis, de frondosos laranjais com pomos de ouro e olivedos verde cinza, de salgueiros pendentes e choupos buliçosos, as suas águas, ao passar, murmuram desde há séculos a canção da beleza que não passa.

O grego Estrabão já se lhe refere, designando-o por Muliades. Munda ou Monda lhe chamaram os romanos, enquanto o árabe Edrisi descreve o rio que banhava Colimbria, dando-lhe o nome poético e sonhador de Mondik. E já num documento de 946 do Mosteiro de Lorvão surge a forma Mondeco, bem próxima da atual. Mas, nem uns nem outros foram os padrinhos, pois que a raiz da palavra (Mond-) é seguramente pré-romana.

O Mondego, esse rio que dessedentou celtas, romanos, godos e mouros, foi também a linha fronteiriça entre a cruz e o crescente, ao tempo da reconquista, a linha estrema, pontilhada de fortalezas – Seia, Penacova, Coimbra, Montemor-o-Velho -, onde Afonso Henriques veio estabelecer a capital do seu jovem reino. Castelos roqueiros, de pedraria talhada, como o de Penacova, dominando altaneiro os meandros do rio desde as Fragas de Entre Penedos às lonjuras da Rebordosa e de Louredo. Castros de pedra seca e terra batida alinhados na margem esquerda, eram sentinelas vigilantes do tráfego fluvial e de fossados e razias feitos por gente da moirama. Dois deles são referidos na demarcação dos limites feita em 1105 entre os monges de Lorvão e os homens do castelo de Penacova: o Castro de Cima de Louredo e o Castro Retundo em frente do Caneiro. Foram refúgio de camponeses e marcas dominiais, juntamente com outras rústicas fortificações ao longo deste nosso rio, de que apenas restam topónimos como Cabeço da Pedra, Castelo Viegas, ou vestígios arruinados como Torre de Bera.

Pachorrento e remansoso, o poético Mondego, afirmou-se a razão de ser e vida de toda a região, no passado. Não admira que por aqui tivessem florescido povos luso romanos nas terras que são hoje Penacova, Lorvão, Cheira, Chelo e tantas outras… O peixe abundava e povoava as suas ribeiras. Lembremos que as monjas de Lorvão tinham o privilégio da exclusividade da captura de trutas na sua ribeira e recebiam lampreias como pagamento de foros pelo povo da Rebordosa.

Impetuoso e brutal nas cheias súbitas de outros tempos, semeou muitos desesperos por entre esperanças geradas em torno de si. Quem não se lembra dele, engolindo as casas baixas da Rebordosa, dominando as várzeas marginais, transportando no seu dorso tudo quanto encontrava pela frente, subindo às laranjeiras e roubando-lhes os frutos dourados, ou transformando a baixa de Coimbra numa cidade lacustre?

Quantas memórias carrega consigo este rio, hoje domesticado e quase ignorado, das populações ribeirinhas, da cidade que lhe deve quase tudo e hoje praticamente lhe vira as costas !?

Mas o Mondego é um dom de Deus, um espetáculo da natureza. No concelho de Penacova tem talvez a sua página mais bela. Logo a jusante da confluência com o Alva surge a garganta de Entre Penedos, a Livraria do Mondego, muralha silúrica que do Buçaco se prolonga para a Atalhada e que o Mondego cortou – e o IP3 quase destruiu. Então alarga-se o vale, até aí mais angustiado. O rio está na sua plenitude iniciando a ação de depósito: são as férteis várzeas de Penacova, cujo vetusto morro do castelo e as águas sussurrantes contornam. Carvoeira, Ronqueira, Rebordosa, Caneiro, são pitorescos povoados que devem a sua existência e o nome à faina fluvial. Raiva, Ronqueira, têm a ver com a torrente caudalosa em épocas de invernia. Carvoeira, com a matéria-prima que daqui enchia as carvoarias de Coimbra, transportada nas barcas serranas. Rebordosa e Louredo são nomes ligados à flora das suas margens… Caneiro, a paliçada que os monges de Lorvão mandaram colocar no rio para apanha de peixe.

E o Mondego lá segue em meandros, a contornar as atalaias poderosas dos montes marginais, por entre vertentes de pinheiros, eucaliptos e oliveiras, entremeados de urzes, tojo, giestas e rosmaninho, hoje em vias de desaparecer das nossas encostas… Aqui e ali recebe idílicas ribeiras, talvez as musas inspiradoras das Ribeiras do Mondego, do poeta seiscentista Elói de Sá Sotto Maior – Abarqueira, Lorvão, Arcos, Vale Bom -, ou riachos que no inverno chuvoso se despenham em rugidoras torrentes…

Mas o Mondego foi, principalmente, desde tempos imemoriais, uma importante via de comunicação. Por ele circularam pessoas, mercadorias, obras de arte, coisas simples, novidades, ideias… Nas suas águas, passaram jangadas de madeiras para construção. Assim foi com os imensos troncos de castanho vindos da Mata da Margaraça em carros de bois até ao Porto da Raiva, daí seguindo a estrada fluvial até Coimbra para serem esculpidos nas monumentais colunas barrocas do retábulo-mor da Sé Nova. Assim foi também com os toros de castanho vindos da mesma Mata da Margaraça para construir o dormitório do Mosteiro de Lorvão e com muitos outros lenhos necessários à vida do grande complexo monástico. Poderia este mosteiro ter alcançado a grandeza que teve sem o Rio Mondego? Talvez. Mas lá que ajudou, não há dúvida. As grandes obras, como as grades do coro, os toros de pau-preto para o cadeiral, a pedra de Ançã para as capelas do claustro, vieram em barcas até ao porto da Granja do Rio, donde seguiram para o recôndito vale, e muitas outras teriam feito o mesmo percurso.

O assoreamento progressivo foi reduzindo as possibilidades de navegação, exigindo barcos de pequeno porte: as barcas serranas, para as cargas, e as bateiras ou barcos do lavrador, mais móveis e utilitários.

Se o Sado, o Tejo, o Lima, o Douro ou a Ria de Aveiro acolheram as embarcações que se tornaram uma imagem de marca, o Mondego não lhes ficou atrás com as barcas serranas que ainda há mais de meio século lhe sulcavam as águas, com as suas largas velas dilatadas pelo vento. Eram barcos compridos e estreitos, de fundo chato, como uma grande canoa primitiva, desenvolvida e aperfeiçoada. Quando não havia vento, ou este era contrário, a navegação fazia-se à vara e muitas vezes à sirga, mas a complementação destes processos era frequentemente comum.

Outrora o trânsito no Mondego era intenso. Todo o sal e grande parte do peixe consumido no interior das Beiras eram transportados desde as salinas de Lavos e da barra de Buarcos até ao Porto da Raiva ou à Foz do Dão, donde os almocreves os levavam. Na descida do rio as barcas serranas traziam vinhos, batatas, frutos, madeiras, carvão, carqueja e os mais diversos produtos, como a roupa das lavadeiras ou os palitos, que se destinavam a Coimbra ou à exportação pelo porto da Figueira.

Passageiros aproveitavam as barcas para se deslocarem, sobretudo para a beira-mar durante a época estival.

Até a Bairrada tirava enorme proveito do tráfego fluvial, fazendo exportar os seus produtos agrícolas, principalmente os afamados vinhos, pelo Porto do Rol, na Vala de Ançã. Por aqui saíram também, em bruto, toneladas de pedras de Ançã, que chegaram tão longe quanto Santiago de Compostela.

No Verão todo o rio se agitava de vitalidade. Aqui e além eram as noras a chiar, vazando os alcatruzes para a rega das ínsuas. Os caneiros ou paliçadas de estacaria, que desviavam a água para elas, interrompiam por vezes a navegação, pelo que os barqueiros, ao aproximar-se, vinham gritando de longe: Ó da roda!..., para que lhes abrissem a passagem. Por todo o lado, as lavadeiras tagarelavam e pintalgavam as areias, de roupa estendida a corar. Às vezes metiam-se com os barqueiros, chacoteando-os com a dificuldade da passagem na Pedra Aguda. Mais além um pescador solitário concentrava as suas energias na captura de peixe em que o rio era fértil, com destaque para a apreciada lampreia. Acolá era uma azenha temporária, montada durante a estiagem, quando a água era pouca nas ribeiras e levadas.

E havia o prazer de gozar o rio, com tudo o que ele tinha para dar. Assim surgiram as praias fluviais de Coimbra, pelos anos 20 a 40 do século passado, sofisticadas, com passadiços, toldos, chapéus e piscina. À noite, deixaram memória as serenatas no Mondego, em barcas serranas, feitas por tricanas e futricas, que os estudantes, esses de há muito cantavam pelas suas margens fados e baladas, ao desafio com rouxinóis. Este costume das serenatas mondeguinas estendeu-se também a Penacova, já que as ligações à cidade eram imensas e naturais.

Hoje, reduzido à sua função primitiva, invadido pela vegetação marginal, disciplinado para bem da agricultura, mas muitas vezes ignorado pelos que se deviam preocupar com o desenvolvimento das suas potencialidades, e agora na eminência de sofrer mais uma agressão que o desfigurará, o Mondego continua a ter os seus amigos e fiéis admiradores, que continuam presos dos seus encantos e outros que durante o Verão o continuam a desfrutar.

E enquanto os povos das suas margens cantarem canções tradicionais, ele continuará a ser lembrado e vivido, pois em quase todas ele está presente, como elemento fundamental de uma cultura.”

“Do Mondego: notas históricas e culturais” 
Prof. Doutor Nelson Correia Borges intervenção proferida 
no âmbito do Colóquio “Mondego Vivo” Penacova, 21-01-2012

sexta-feira, março 08, 2024

Poetas penacovenses (XII): "Tanto caminho..." - Poema de Luís Pais Amante


ANA PAULA CAMPOS
"Tanto caminho por percorrer". Acrílico sobre tela  40x50 . Coleção Incompletude

Tanto caminho…

Só vejo pela frente

Um caminho longo

Que me põe dormente

Caminho feito à mão

E na medida da dor

O Espaço é pequeno

E gira sereno

Nas perspectivas da vida

As pedras a sobressaírem

Dificultando a caminhada

As árvores refilando

Por lhes não darem nada

E eu

A olhar pra mim sem esperança

Carregada de problemas demais

De circunstâncias reais

Pensando:

“Tanto caminho por percorrer”

Tanta distância pra Liberdade

De me ter


Luís Pais Amante

Telheiras Residence | 23Set23; 10h45 
A olhar para uma pintura em acrílico sobre tela, da Minha Amiga Ana Paula Campos.

sábado, março 02, 2024

Soou o alarme: Por que deixaram de entrar as lampreias nos nossos rios?



Organizado pelo Município de Penacova, Confraria da Lampreia de Penacova e Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade de Évora, realizou-se no dia 24 de Fevereiro um colóquio que procurou responder à interrogação “Por que há menos lampreias nos nossos rios?”.

Poucos dias antes a Câmara Municipal noticiara que o Festival da Lampreia de Penacova, que se vinha realizando há 25 anos, tinha sido cancelado.

“Devido à escassez de lampreia, município e restaurantes decidiram cancelar o evento previsto para esta altura. Foi uma decisão ponderada por todos. Com as atuais condições de escassez de lampreia e preços elevadíssimos era impossível satisfazer todos os apreciadores deste prato”- informam as páginas oficiais do município.

O referido colóquio “juntou a comunidade científica, associações de pescadores de vários pontos do país, autarcas, empresários da restauração e autoridades marítimas.”

Associação de Pescadores Profissionais do rio Minho, Associação dos Pescadores Profissionais da Figueira da Foz, Associação de Pesca de Aveiro, Empresa Irmãos Norinho, alguns Restaurantes de Penacova, Restaurante O Gaveto (Matosinhos), Emílio Torrão (Presidente da CIM-), Raposo de Almeida (da Universidade de Évora), Carlos Fonseca (Biólogo), Fábio Nogueira (Mordomo-Mor da Confraria da Lampreia) e, naturalmente, Álvaro Coimbra (Presidente da Câmara Municipal), foram algumas das individualidades e instituições presentes.


Afirmou Álvaro Coimbra que há “evidências mais do que suficientes para constatar que se trata de um problema muito sério que afeta todo o país e para o qual é necessário agir de imediato.” De acordo com dados oficiais em 2014 atravessaram a passagem para peixes na Ponte Açude de Coimbra 21 967 lampreias, ao passo que no ano 2023 aquele número decresceu drasticamente para 1508 indivíduos, recordou o autarca.


Perante esta realidade, observou Álvaro Coimbra que o que é mais preocupante é “o declínio da espécie”. Há pois que “perceber as razões que conduziram a este estado de coisas e sobretudo ajudar a encontrar respostas”, salientou, afirmando igualmente que ”não podemos continuar a assistir passivamente ao desaparecimento gradual da lampreia nos nossos rios. Chegou o momento de ouvir os especialistas e propor medidas para a sua protecção [...] Penacova tem essa responsabilidade e é essa a razão de estarmos aqui.”

“Este colóquio – explicitou - surge com o propósito de “dar um sinal de alerta, traçar um quadro real do actual estado da espécie, diagnosticar problemas ouvindo os especialistas, os pescadores, os empresários da restauração, os autarcas, as autoridades com responsabilidade neste tema, e encontrar caminhos que conduzam a uma salvaguarda da lampreia.”

Por sua vez, Emílio Torrão, Presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (e Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho), manifestou-se “solidário com os Presidentes de Câmara que têm a coragem e ousadia de tomar decisões difíceis e muito sensíveis.” Referiu ainda, a dado momento da sua intervenção, que “o problema da lampreia não é só o de perdemos um produto endógeno da gastronomia”, pois ”a lampreia tem muito mais valor que o valor gastronómico.”


“A lampreia não é só uma espécie que tem um valor gastronómico incrível, que é um fenómeno, mas é uma espécie que tem um importante papel a desempenhar […] no habitat, na saúde e na sobrevivência do próprio ecossistema, nos moldes em que ele se desenvolveu”- precisou.

Durante o período de debate, referindo-se aos pescadores, o Presidente da CIM sublinhou que estes “têm que querer fazer parte da solução” e que “o facto de se fechar a pesca comercial nos rios não quer dizer que deixam de ter rendimento”, dando o exemplo da “transumância” que é possível fazer também neste campo. “Sois os maiores vigilantes dos rios” – destacou. Além disso, frisando a importância dos profissionais, foi peremptório, afirmando que “os free lancers tem que acabar!”


O Mordomo-Mor da Confraria da Lampreia, Arquiteto Fábio Nogueira, usou da palavra a terminar o encontro, para, além de outros aspectos, sublinhar que uma confraria como a Confraria da Lampreia “para além defender o prato, tem o dever de ir mais além, deve salvaguardar e defender o ecossistema do Rio Mondego, em particular a Lampreia, sendo uma voz activa na sua defesa”, recordando que “desde a sua fundação está envolvida na promoção e conservação da natureza e da biodiversidade”, tendo-se afirmado sempre como “uma voz activa na defesa do Rio Mondego, estando presente em várias iniciativas.”

Prosseguiu, anunciando que a Direcção da Confraria da Lampreia decidira propor na Assembleia Geral de 1 de Março que a realização do Capítulo apesar de decorrer “nos moldes normais dos anos anteriores” apresente uma “ressalva”: a lampreia não ser incluída no almoço deste ano. Esta posição entronca na necessidade de “salvaguardar” a espécie “que está na génese fundadora” da Confraria.

“Não podemos ficar indiferentes à agenda da ecologia e defesa ambiental” e, nessa medida, nos próximos anos o habitual Capítulo da Confraria “terá de ser repensado”- acentuou.


O Professor Catedrático (Biologia) da Universidade de Évora, Pedro Raposo de Almeida, apresentou uma comunicação rica de informação, plena de sensibilização, mas também de crítica. Começou por afirmar que “ao contrário de outros problemas […] nós sabemos o que é que temos que fazer. A única coisa que temos que concordar é estarmos todos orientados para o mesmo objectivo.”

“É um problema que leva 8 a 10 anos a resolver – prosseguiu - se não houver surpresas. E estas vêm ou da nossa administração (quem tem responsabilidade na gestão dos recursos das nossas bacias hidrográficas) ou (e isso nós não podemos controlar de maneira nenhuma) daquilo que são as vicissitudes da natureza.”

Sobre a extinção da lampreia (neste caso, da lampreia marinha) reconhece que, de facto, “pode desaparecer de algumas bacias hidrográficas, pode rarear aqui no Mondego, mas ela (que tem quase 300 milhões de evolução) não se vai extinguir. Aquilo que se vai extinguir é toda a actividade cultural e comercial à volta da espécie.”

A intervenção de Raposo de Almeida foi acompanhada de diversas imagens e infografias deveras elucidativas. Falou do ciclo de vida da lampreia marinha que tem a particularidade de ter uma fase em água doce e outra no mar, assumindo pelo meio um período em que faz uma metamorfose.

“As larvas vivem enterradas nos sedimentos dos rios, nas areias, durante cinco anos – explicou. Não é móvel, permanece nos mesmos locais, formando os leitos de amocetes. Fica extremamente vulnerável a qualquer intervenção que se faça no leito do rio.”

Neste sentido teceu contundentes críticas ao que “aconteceu no ano passado, aqui no Mondego, com aquela intervenção feita pela APA. Fizeram uma regularização, aqui a jusante de Penacova e junto ao Ceira, onde havia grandes leitos de amocetes. Basicamente, entraram e limparam tudo! […] Cada vez que se faz isso, digo aqui olhos nos olhos, recuamos dez anos!”

“Por que não entram nos nossos rios [as lampreias]? Por que não estão no mar? Porque não saíram! Não há larvas, não há adultos! Não há adultos, não há larvas!”

Sobre a escassez generalizada na Europa, referiu que não há lampreia em Portugal, mas também não há em Espanha e de igual modo não há em França! É convicção sua que a proibição da pesca na região de Bordéus é sinal claro que existe uma grave crise, pois “quando se fecha a pesca significa que temos um problema muito sério!”

Uma das muitas causas é a mortalidade por pesca. Ora, em Portugal “temos que reduzir a mortalidade por pesca.[…] E é já para o ano! […] Na minha opinião este ano já a devíamos ter fechado.”- não hesitou em afirmar.

A intervenção do Professor Raposo de Almeida foi bastante completa e assertiva. No sentido de deixar um pouco mais de informação aos leitores, transcrevemos alguns dos conteúdos dos diapositivos que foram apresentados e devidamente comentados.

Causas para o declínio populacional

Mar

a) Aumento da mortalidade natural (escassez de presas, alteração padrão das presas preferenciais, predação). A este nível muito pouco se sabe, alguns estudos estão em curso. OBS: Neste colóquio foi também apresentado em síntese o Projecto DiadSea- Cooperação transnacional para melhorar a gestão e conservação dos peixes diádromos no mar, coordenado pela Universidade de Évora.


Estuários e rios

- Mortalidade por pesca e captura ilegal
- Deterioração da qualidade do habitat ( por ex. regularização do leito do Mondego, incêndios)
- Perda do habitat ( e.g. Ponte Açude, Rio Novo do Príncipe ( Vouga))
- Efeitos sub-letais (e.g. osmorregulação, migração, sucesso reprodutor, provocado por poluentes emergentes
- Doenças
- Predação por espécies exóticas (e.g. Peixe gato europeu no Tejo).

Soluções para a recuperação da população de lampreia marinha

Mar

- Colmatar as lacunas de conhecimento relativamente a esta fase do ciclo de vida da lampreia

Estuários e rios

- Reduzir a mortalidade por pesca (paragem total em sistema rotativo entre rios, durante os próximos 10 anos; proibição total no Guadiana)
- Implementar um programa de monitorização robusto
- Generalizar o uso do selo de origem
- Banir a captura ilegal (reforço da fiscalização, controlo restaurantes /ASAE)
- Restaurar habitat (e.g. eliminar barreiras obsoletas – por ex. açude Louredo, construção de passagens para peixes, evitar regularizações destrutivas)
- Implementar programa de translocação de lampreias adultas
- Avaliar a existência de efeitos sub-letais (e.g. osmorregulação, migração, fecundidade) provocado por poluentes emergentes
- Despistar a existência de doenças
- Controlo de espécies exóticas (e.g. peixe gato europeu no Tejo)




domingo, fevereiro 25, 2024

Exposição sobre António José de Almeida no Palácio de Belém até 31 de Março


A primeira visita de um Chefe de Estado português ao Brasil, após a  independência daquele país, foi concretizada por António José de Almeida no contexto das Comemoraçöes do 1º Centenário da Independência, que ocorreram a 7 de Setembro de 1922.

Apesar de muitas contrariedades, principalmente relacionadas com a viagem por via marítima, que fizeram atrasar a data prevista para a chegada,  António José de Almeida manteve o sentido de Estado e acabou por ser recebido apoteoticamente por milhares de pessoas, tendo as entidades oficiais e civis lhe prestado significativas homenagens.

Os discursos de António José de Almeida arrebataram plateias, atestando, perante os brasileiros, a fama de grande orador. A viagem, observam alguns historiadores, ficou marcada, mais pelos afectos do que por reais proveitos políticos, já que do ponto de vista oficial apenas três tratados de pouca relevância foram assinados.

Esta viagem ao Brasil do Presidente António José de Almeida mereceu especial atenção do Museu da Presidência da República que desde Agosto tem patente uma exposição não apenas sobre a viagem em si, mas também sobre a Vida e a Obra do Estadista.

Cerca de 200 peças da coleção do Museu, mas também de museus nacionais e de colecionadores privados – algumas delas recebidas e expostas no Rio de Janeiro, há 100 anos –, trazem ao presente aquela «viagem gloriosa», lembrando também o percurso pessoal de António José de Almeida, desde a terra que o viu nascer, Vale da Vinha, em Penacova, até ao monumento que o homenageia, em Lisboa.

A exposição encerra no dia 31 de Março. Ainda está a tempo de a visitar. Já o fizemos e recomendamos vivamente.


























segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Governadores Civis (5): Luís Duarte Sereno (1863-1948)

 GOVERNADORES CIVIS NATURAIS DE PENACOVA

ou ao concelho ligados por casamento

O famoso "chalet" de Luís Duarte Sereno na vila de Penacova 


Natural de Oliveira do Bairro, Bacharel em Direito e Juíz, foi Governador Civil de Coimbra entre 5 de Fevereiro de 1915 e 24 de Maio do mesmo ano.

Luís Duarte Sereno, filho de Joaquim Duarte Sereno, negociante, e de Carolina Augusta de Almeida, “lavradora”, nasceu em Bustos no dia 21 de Janeiro de 1863.

Foi no exercício das funções de magistrado que conheceu Penacova e Maria Pureza Correia Leitão, filha o Conselheiro Alípio Leitão, com quem viria a casar em 1893.

Formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, em 2 de Julho de 1887. De imediato foi colocado como Juiz Municipal em Albergaria-a-Velha, tendo em 1888 pedido a transferência para Vagos. Seguiu-se Penacova, para aqui ocupar o lugar de Delegado do Procurador Régio, assumindo-se como “magistrado austero no cumprimento dos seus deveres”.

O seu elegante “chalet”, em Santo António, aparece em fotografias de 1909, por exemplo na Revista “Serões” e era considerado, a par do palacete de Joaquim Augusto de Carvalho, um dos ex-libris de Penacova.

Durante muitos anos esteve à frente da Misericórdia, como Provedor, ocupando esse cargo na altura em que foram negociadas, com Bissaya Barreto e a Junta da Província da Beira Litoral, as condições para a construção do Preventório e do Hospital.

Esteve também ligado à Conferência de S. Vicente de Paulo que durante alguns anos funcionou na vila.

Em 1915, foi Governador Civil de Coimbra durante o Governo de Pimenta de Castro, num período muito conturbado da vida política. O elenco governativo fora nomeado pelo presidente Manuel de Arriaga sem a sanção do Congresso da República e durou apenas de 25 de Janeiro a 14 de Maio.

De acordo com informação do “Notícias de Penacova” o Dr. Guilherme Moreira, que era Ministro da Justiça, convidara-o para Governador Civil de Coimbra.

O Conselheiro Luís Duarte Sereno faleceu em Penacova no dia 23 de Fevereiro de 1948. Eugénio Mascarenhas Viana de Lemos, Governador Civil, fez-se representar no funeral pelo Delegado Policial do concelho de Penacova. Acompanharam o cortejo fúnebre até ao jazigo de família no Cemitério da Eirinha, as Irmandades do Santíssimo e de Santo António, a Cruzada Eucarística e as Crianças do Preventório.