Francisco Rodrigues Lobo nasceu
em Leiria, em 1580. Frequentou a Universidade de Coimbra, onde se diplomou em
Leis. Foi aí que começou a interessar-se pela literatura e a escrever as suas
primeiras composições poéticas. Concluídos os estudos voltou à sua terra natal,
onde tinha algumas propriedades. Deslocava-se com frequência a Lisboa, mas
regressava com prazer à tranquilidade do campo. Terá mantido ao longo da sua
vida relações bastante amistosas com algumas famílias da alta nobreza,
principalmente o Marquês de Vila Real e o Duque de Bragança, pai do futuro D.
João IV. Faleceu em 1622, vítima de um naufrágio no rio Tejo, numa viagem de
Santarém para Lisboa.
Como era frequente na época,
escreveu em português e castelhano. Numa primeira fase, Rodrigues Lobo foi
influenciado pela literatura espanhola, mas depois virou-se mais para Camões e
Sá de Miranda. Considerado o precursor do barroco português, entre as
suas obras contam-se três novelas: O
Pastor Peregrino, A Primavera e O Desengano. O texto bucólico A Primavera (1601) tem, desde há muito
tempo, assumido um papel importante na Literatura Portuguesa.
Por meio de A Primavera, primeira novela pastoril portuguesa (ficção narrativa em prosa do final
do século XVI até o século XVIII) na
qual se utiliza apenas a língua portuguesa, notava-se na escrita do autor uma
certa influência da lírica de Camões nomeadamente nos temas do bucolismo e do
desencanto. A obra é composta por trechos em que as prosas são alternadas com
as formas poéticas, o que permite considerar por alguns autores A
Primavera mais como cancioneiro do que como novela.
A Primavera divide-se em
três partes: Vales e montes entre Lis e o Lena, Campos de Mondego e Praias do
Tejo. Cada parte corresponde à caracterização e representação de três espaços
marcados pelo protagonista, nas passagens a três momentos que o destino lhe vai
ordenando, correspondentes à peregrinação de Lereno. O Vale e montes entre Lis
e Lena corresponde ao espaço da terra natal, o que compara a Lereno a sua
identidade, por ser pastor nato e criado por essas terras, onde cuidou do seu
rebanho enquanto as canções lho permitiram. Já Campos do Mondego, o segundo
espaço, é caracterizado como um espaço de banir, pois Lereno obrigado pelo
destino é condenado a deixar sua terra e viver em outra terra desconhecida e
tomar “o caminho dos campos do Mondego.” Aqui, o tempo vivido é o de saudade da
terra distante que foi deixada para trás e também do amor perdido. Podemos
dizer que também é caracterizado como um tempo de provação do seu fiel amor.
Por onde entre penedos e aspereza passa o Mondego ....rompendo os montes seus... Corre por entre as serras furioso, perto donde o rio Alva se derrama... |
Se alevanta uma pena graciosa...uma profunda cova se descobre |
Em A Primavera existem espaços em que o texto enraíza uma realidade
geográfica, porém também há espaços situados fora da realidade, num universo
fascinante e sobrenatural, como por exemplo, lugar da morada de alguns sábios e
o bosque desconhecido – local “ilocalizável” que dá acesso á uma passagem
subterrânea que desaparece conforme a vontade da pastora amada de Lereno –
espaço este que acede Lereno acidentalmente, depois conscientemente e
posteriormente por mandado da pastora misteriosa. Em relação a ponto de vista
temporal, a novela se localiza em um plano “an-histórico”, pois não há
referências que permitam a acção do enredo num tempo real histórico.
"No episódio de Penacova o espaço aparece
descrito com realismo e o elemento temporal é distante da realidade histórica
devido a transformação das personagens reais e seres mitológicos. A ruptura de
laços que ligariam a história narrativa ao tempo histórico é mais uma
característica da construção da narrativa da novela pastoril."(1)
(1) Cf.
estudo de Sirlene de Lima Corrêa Cristófano, mestre
em Literatura, Culturais e Interartes, pela Faculdade de Letras Universidade do Porto – FLUP (2009).
Sem comentários:
Enviar um comentário