quarta-feira, novembro 16, 2022
Lugares, monumentos e sítios de Penacova (10): Cruzeiro / Pelourinho
O Cruzeiro de Penacova tem como antecedente o antigo pelourinho, entretanto transformado, tendo a primitiva função judicial dado lugar a um marco de carácter religioso.
Refere o “Inventário Artístico de Portugal” que o cruzeiro é do séc. XVIII. A coluna, geralmente referida como tendo características dóricas, assenta sobre degraus de grandes silhares medievais siglados, provenientes do castelo. É encimada por uma cruz latina, substituindo o remate e o capitel que desapareceram. O monumento foi desmontado em 1950, para rectificação da rua, tendo sido reerguido passados dois anos.
Em 1933, quando foram classificados todos os pelourinhos que ainda o não tinham sido, foi considerado como Imóvel de Interesse Público.
terça-feira, novembro 08, 2022
Vida e obra de António José de Almeida: fragmentos (1)
EVOCANDO O 93º ANIVERSÁRIO DA SUA MORTE E O CENTENÁRIO DA VISITA PRESIDENCIAL AO BRASIL transcrevemos as referências feitas a António José de Almeida, ilustre penacovense, pela REVISTA DA SEMANA na edição de 9 de Novembro de 1929 publicada no Rio de Janeiro
“A morte do eminente estadista português António José de Almeida, ocorrida em fins da semana última, repercutiu dolorosamente na alma brasileira, por isso que o grande morto – figura inconfundível de revolucionário, de médico, de orador – era para os Brasileiros um vulto quase familiar: era um “cidadão carioca”, título que lhe foi conferido quando da sua honrosa visita, na qualidade de Presidente de Portugal, ao Brasil. Homenageando a memória do grande morto, reproduzimos nesta página dupla alguns aspectos fotográficos tirados há sete anos, quando da visita de António José de Almeida ao Rio de Janeiro, publicando em outro lugar a nota de redacção sobre o pensamento do eminente estadista.
Os fins do século XIX, que assistiram aos últimos esplêndidos crepúsculos da palavra arrebatadora de Emílio Castelar, na Espanha, iluminaram-se de súbito com a oratória flamejante do moço português que, ainda envolto no mistério da sua capa negra de “Coimbra Doutora”, lançava já no silêncio das multidões atónitas o gesto da fascinação maravilhosa e o sortilégio delicioso das imagens resplandecentes.
Aos vinte e quatro anos, surgiu António José dos bancos obscuros de estudante para a batalha, para a epopeia da Inteligência. A imprensa e a tribuna foram o seu largo campo de acção. Portugal lentamente despertava, a sua alma iluminava-se de princípios novos, de ideias novas. E António José ia ser o orador jovem, capaz de traduzir vigorosamente as aspirações e transformações da sua pátria. Ele aparecia assim, na agitação intelectual e social do país, como um renovador, um perdulário de ideias, um semeador de valores espirituais.
Revestido do fulgor da sua palavra como de uma armadura de aço faiscante – era ela o apóstolo do povo, o cavaleiro iluminado das multidões sem voz e sem defesa; e quando subia à tribuna, envolto numa auréola de predestinado, era como se realmente na sua voz se acendessem todas as vozes obscuras da pátria, todas as angústias anónimas do povo.
Ardente como um condottiere, sendo sempre a figura de primacial simpatia em todas as revoluções, republicano a sonhar uma República de nobreza e de liberdade, António José foi o poeta da acção, o idealista do progresso, arrecadando da forte e nobre alma portuguesa – que dera ao mundo os épicos navegadores do século XVI – estos de heroísmo e intensas vibrações patrióticas.
Esse irmão peninsular de Danton, talvez mesmo enamorado um tanto romanticamente das figuras violentas e decorativas da revolução Francesa, foi – na sua dialéctica luminosa e na grandeza demosténica do seu verbo um esplêndido espírito revolucionário, um eloquoentíssimo professor de energia.
Todavia, ao invés de cobrir a face com a máscara de ferro da acção fria e calculista, preferiu cobri-la com a máscara de ouro da beleza brilhante e imaginosa, tornando-se assim em toda a sua vida política um prodigioso fascinador, um harmonista cintilante de períodos rútilos, capaz de dominar pela suprema música da sua inteligência a multidão imensa e inquietante – que é uma serpente de mil cabeças.
Os brasileiros que tiveram a fortuna de ouvi-lo, quando da sua viagem ao Brasil em 1922, de certo não esqueceram a lapidar maravilha dos seus improvisos, a prestidigitação sonora das suas imagens que sugeriam um microcosmo de lendas, frases de diamantes e de rosas, cheias do sortílego poder de transformar miríades de vocábulos inertes em miríades de cintilações de pensamento.
Agora, está morto o homem extraordinário. A morte capaz de todos os sacrilégios, transformou numa fria boca de mármore aquela boca onde turbilhonaram tempestades de sóis e harmonias universais.”
domingo, outubro 23, 2022
Lugares, monumentos e sítios de Penacova (9): Penedo do Castro
O Penedo do Castro ("do" e não "de", como por vezes se diz) é um dos locais mais emblemáticos de Penacova no que se refere às panorâmicas que a vila e seus arredores nos oferecem.Aquando do 24º aniversário da inauguração daquele miradouro, Emídio da Silva endereçou ao jornal “Notícias de Penacova” uma carta onde recorda as circunstâncias em que este miradouro natural foi valorizado e dignificado: “A Câmara Municipal de 1908, presidida pelo Dr. José Albino Ferreira (…) aprovou por aclamação a proposta do seu presidente, dando o nome de Penedo do Castro à levantada penha que domina o povo da Cheira e de cujo nível se desfruta um dos mais grandiosos panoramas circulares do nosso país.”
A lápide, em calcário, ali colocada em 1908, foi desenhada pelo arquitecto Raúl Lino. Também conhecido por Penedo da Cheira, consta que também já fora designado por Penedo do Cambo. A nova designação é uma homenagem ao Dr. Augusto Mendes Simões de Castro (1845-1932), amigo e propagandista de Penacova, que tantas vezes terá calcorreado os caminhos de Penacova, de Lorvão e do Buçaco, desvendando muito da história e arqueologia do nosso concelho.
domingo, outubro 09, 2022
Lorvão: o olhar de Joaquim de Vasconcelos no dealbar do séc. XX
O caminhante seguia então o curso do Mondego ou atravessava a serra do Dianteiro por uma sofrível estrada. Descendo o monte de Santo António dos Olivais passava-se o formoso vale de S. Romão e numa subida bastante íngreme alcançava-se o alto, chamado Espinhaço de Cão, onde um panorama esplêndido convidava o romeiro a descansar. Uma grande parte do valle do Mondego, semeado de vilas e aldeias, a capital da província com os seus monumentos históricos, o oceano rolando as suas ondas sobre a areia fulva e, alguns passos mais adiante, as cumeadas do Bussaco, enfim toda a Bairrada com a sua opulenta vegetação constata um cenário digno de ocupar uma geração de pintores. Caminhava-se então devagar, a pé, num terreno formado de xistos, apalpando as veredas numa descida vagarosa; e dobrando a montanha avistava-se de súbito o profundo vale de Lorvão.
A povoação é pobre; conta uns quinhentos fogos e vive hoje quase exclusivamente da pequena lavoura e de uma indústria caseira: a dos palitos, que apenas vegeta, mesquinhamente explorada por uma usura cruel. A primeira impressão antes de descer ao apertado vale, cortado por um mesquinho regato, era e é ainda hoje a de espanto perante o contraste dos dois elementos: o sagrado e o profano. A enorme construção que a estampa não abrange ainda assim completamente, caindo em ruínas, os dormitórios desabando, os celeiros nus, as cozinhas, os pátios e claustros desertos, mas ainda grandiosos, contrastando com a pobreza do casario da pobríssima aldeia.
Na época de maior esplendor, isto é, no meado do século XVIII, contava Lorvão para cima de cem religiosas, além das noviças e das serventes, e dispunha de um rendimento superior a oitenta mil cruzados. Os dotes que durante o século XVII orçavam por mil cruzados, foram no começo do século XVIII elevados a oitocentos mil reis. Viveu-se entre esses muros com opulência, com certo gosto e amor da arte; e não raras vezes com uma liberdade que provocava escândalos.
Por fim entrou ali o rigor da lei. Extintas as ordens religiosas em 1834, o governo de D. Pedro mandou liquidar as contas. Os monges bernardos que administravam a casa, saíram dali, deixando tudo empenhado; uma divida de cerca de oito contos de reis, destruídas as matas, vendidas as madeiras, e a caixa do dinheiro vazia. Sobreveio o fisco e reclamou vinte e cinco contos de décimas relaxadas, que os venerandos administradores tinham dado como satisfeitas! Daí em diante a situação das religiosas piorou rapidamente. Os foreiros, inquilinos e outros devedores, reconhecendo que os privilégios históricos haviam perdido a sua força, cerceavam ou negavam pagamentos. Procuradores e advogados armaram questões intermináveis, mas rendosas para eles. E contudo, a abadessa de Lorvão ainda era e foi durante anos a mãe dos pobres até 1851. Passados dois anos, porém, alguém pedia uma esmola para ela. Foi Alexandre Herculano.
«Escrevo-lhe do fundo do estreito vale de Lorvão, defronte do mosteiro onde repousam as filhas de Sancho I; deste mosteiro melancólico e mal assombrado como as montanhas abruptas que o rodeiam por todos os lados: escrevo-lhe com o coração apertado de dó e repassado de indignação.
Descendo a examinar o arquivo das pobres cistercienses, penetrei no claustro por ordem da autoridade eclesiástica. Lá dentro, nesses corredores húmidos e sombrios, vi passar ao pé de mim muitos vultos, cujas faces eram pálidas, cujos cabelos eram brancos. Esses cabelos nem todos os destingiu o decurso dos amos: a amargura embranqueceu os mais deles. Quase todas essas faces tem-nas empalidecido a fome. Morrem aqui lentamente umas poucas de mulheres, fechadas numa tumba de pedra e ferro.
Estas mulheres ouvem de lá, do seu túmulo, o ruído do burgo apinhado na encosta fronteira, e dividido do mosteiro apenas por um riacho. Naquelas casas de telha vã, negras, gretadas, desaprumadas, com o aspecto miserável da maior parte das aldeias da Beira, vive uma população laboriosa, que até certo ponto se pode chamar abastada, e a que, pelo menos, não falta o pão nem a alegria.
No mosteiro sumptuoso, vasto, alvejante, com um aspecto exterior quase indicando opulência, é que não há pão, mas só lágrimas... aqui vê-se, por entre as grades de ferro, a luz do céu, a árvore que dá os frutos, a seara que dá o pão, e tudo isto vê-se para se ter mais fome... Imagine, meu amigo, uma noite de inverno, no fundo desta espécie de poço perdido no meio da turba de montes que o rodeiam: imagine dezoito ou vinte mulheres idosas, metidas entre “quatro paredes húmidas e regeladas, sem agasalho, sem lume para se aquecerem, sem pão para se alimentarem, sem energia na alma, e sem forças no corpo, comparando o passado, sentindo o presente e antevendo o futuro. Imagine o vento que ruge, a chuva ou a neve fustigando as poucas vidraças que ainda restam no edifício; imagine essas orgias tempestuosas da natureza que passam por cima das lágrimas silenciosas das pobres cistercienses, e as horas eternas que batem na torre...
Há poucos dias passou-se em Lorvão uma cena tremenda. Num acesso de desesperação, parte destas desgraçadas queriam tumultuariamente romper a clausura; queriam ir pedir pão pelas cercanias. Custou muito contê-las. Tinha-se apoderado delas uma grande ambição; aspiravam à felicidade do mendigo, que pode apelar para a compaixão humana, que pode fazer-se escutar de porta em porta. Era uma vantagem enorme que obtinham. A sua voz é demasiado frac e os muros de Lorvão demasiado espessos. Gemidos, brados, prantos, tudo é devorado por esse túmulo de vivos.» (Herculano, Opúsculos, vol. 1, pág. 195 e seg.)
A eloquente carta do grande escritor, publicada então pela imprensa, despertou o governo e produziu algum benefício, o que é muito para louvar, porque o martírio poderia haver-se prolongado por muito tempo.
Só passados vinte e quatro anos é que expirou a ultima freira professa D. Luiza Magdalena Tudella (3 de Julho de 1877). E durante esse longo período de um quarto de século tiveram as freiras à sua disposição, para as empenharem ou venderem, alfaias, quadros, peças de ourivesaria, móveis antigos, louças, azulejos, etc., enfim: objectos de considerável valor de que apareceram restos ainda importantes na Exposição de Arte Ornamental de 1882. Apesar de tudo, as senhoras religiosas resistiram à tentação de se pagarem por suas mãos; apenas nos derradeiros anos da última freira se cometeram abusos a coberto da sua incapacidade mental.
O actual sr. Bispo-Conde, apesar das suas enérgicas providências, encarregando uma comissão de fazer inventario minucioso (Junho de 1877), não conseguiu reaver certas preciosidades, por exemplo, uns relicários medievos de marfim, vendidos para fora do reino por quantias consideráveis.
Emquanto as freiras de Lorvão morriam lentamente à fome em 1853, havia mosteiros cujas habitadoras viviam na opulência e onde o supérfluo se desbaratava de um modo escandaloso. Herculano, que os conhecia bem, porque fôra encarregado de examinar oficialmente os arquivos eclesiásticos do país, declara na mesma carta, já citada: «Na secretaria da justiça encontram-se as provas de que a renda dos bens que ainda possuem os conventos do sexo feminino em Portugal excede a 200 000$000 reis, e todavia há centenares de freiras que morrem à mingua. São dois factos que não carecem de comentário. É a manifestação mais eloquente de que não há governo nesta terra.» (Loc. cit, pag. 203).
O convento de Lorvão pouco valor tem como obra de arte. As reconstruções alteraram todas as suas feições antigas. Durante a segunda metade do século XVII e todo o século imediato não houve descanso; uma febre de modas e feitios novos apoderou-se das freiras. Pelos anos de 1688 foi sacrificado o claustro velho que, a julgarmos por alguns fragmentos de escultura existentes no Museu do Instituto de Coimbra, devia ainda abrigar restos valiosos de lavores mediévicos.
O claustro novo é banal, pesado, sem graça, se descontarmos umas três capelas em estilo da Renascença que escaparam : S. João Baptista -1602, Nossa Senhora de Nazareth -1603 e a do Calvário – 1644.
A casa do Capitulo, refeitório, dormitórios e outras serventias nada apresentam de notável. O frontispício da igreja, que existiu algum dia, desapareceu sem vestígio! No interior uma grande nave, ampla, de estilo pseudo-clássico do fim do século XVIII, iluminada por uma formosa cúpula na intersecção do cruzeiro com a nave. Belas cantarias, finamente rendilhadas num lavor rococó, muito discreto, que respeitou e pôs em relevo proporções arquitetónicas bem estudadas.
É celebre o côro com as suas majestosas cadeiras de pau santo e nogueira. Neste estilo, não há em todo o reino trabalho superior para documentar a suma perícia de uma escola de entalhadores bem portuguesa. Tinha grande semelhança com este o cadeiral do convento de freiras de S. Bento do Porto (Ave-Maria) há pouco demolido, talvez obra da mesma oficina.
A entrada do côro é vedada por uma grade monumental de ferro forjado e bronze que representa outra obra de arte muito notável. Foi executada em 1784 e custou 7 200$000 réis. Temos visto e comparado os artefactos mais notáveis dos nossos antigos serralheiros dos séculos XVI, XVII e XVIII em repetidas e demoradas excursões, há mais de trinta anos, mas confessamos que esta grade de Lorvão não tem par em Portugal.
Merecia uma estampa especial, assim como as duas urnas de prata lavrada, que guardam os restos das infantas portuguesas D. Teresa e D. Sancha.
São antes dois cofres de grandes dimensões, com o feitio de urnas, forrados de veludo carmesim, cobertos de lavores de prata, recortada em arabescos, guarnecidos de pedras de varias cores. O ourives Manuel Carneiro da Silva, natural do Porto, traçou as duas obras num estilo semelhante, largo, com um grande efeito decorativo, que não exclui primorosos detalhes de buril e cinzel nos desenhos heráldicos e arabescos menores, porque os grandes lavores são batidos a martelo ou repuxados. Custaram ambos perto de oito mil cruzados.
Havendo sido feita a trasladação dos antigos túmulos de pedra para estes cofres em 1715, é de presumir que o trabalho do ourives não seja muito anterior.
Foi uma grande festa que custou grossa quantia, excedida só pela que as religiosas pagaram pela beatificação da infanta D. Teresa (Bula de Clemente XI a 23 de Dezembro de 1705). Esta senhora, cujo casamento com Afonso IX de Leão fôra anulado por impedimento de parentesco, entrou para Lorvão na véspera de Natal de 1200; e para ali fez trasladar os restos de sua irmã D. Sancha (também beatificada) que falecera no mosteiro de Celas (1229), perto de Coimbra, fundação sua.
As lutas destas princesas e ainda de uma terceira irmã D. Mafalda (fundadora do célebre mosteiro de Arouca) com el-rei D. Afonso II, o Gordo, por causa da herança paterna, redundaram em proveito das ordens religiosas que as três ilustres senhoras favoreceram. Ter uma irmã em Lorvão ou Arouca correspondia quase a um título de nobreza. Em Lorvão figurou ainda outra princesa, a infanta D. Branca, filha de D. Afonso III, heroína do famoso poema de Garrett; e ali enclausuraram a célebre inspiradora da écloga Crisfal, do nosso ilustre escritor Cristóvão Falcão, delineada de 1525/30. D. Maria Brandão, filha do opulento Contador da Fazenda do Porto, João Brandão e de D. Brites Pereira, pagou a audácia do seu casamento clandestino com o poeta, entre os muros do cenóbio: «escondida entre serras onde o sol não era visto»... Falcão, transportado em sonho à serra de Lorvão, aí se encontra com a esposa amada:
«a vista no chão pregada,
com o seu cantar pensoso,
e passadas esquecidas
ao tom dele medidas,
vestida de arenoso,
as mãos nas mangas metidas»
(Estrofe 69)
Iríamos longe se fôssemos à resumir somente os casos mais memoráveis da cronica da ilustre casa que ainda teve a honra de hospedar Wellington e o seu estado-maior. Depois a fortuna declina rapidamente, como vimos. E hoje, se não fôra a generosa e esclarecida proteção do actual sr. Bispo-Conde, já o cadeiral do côro teria sido arrancado, fundida a esplêndida grade e os cofres de prata reduzidos a bons... patacos, mesmo sem o auxilio de franceses.
Joaquimde Vasconcelos, “Lorvão” in A arte e a natureza em Portugal: album de photografias com descripções, clichés originaes, copias em phototypia inalteravel, monumentos, obras d'arte, costumes e paisagens / Directores F. Brüt [e] Cunha Moraes. - Porto : Emilio Biel, 1902-1908 (Porto : Typ. de António José da Silva Teixeira). - 8 v. : il. ; 30x40 cm + Catálogo manuscrito
sexta-feira, setembro 30, 2022
Lorvão 1900: "população depauperada ...rebanho sem pastor"
Nos inícios do séc. XX foram publicados 8 volumes de uma obra intitulada A ARTE E A NATUREZA EM PORTUGAL - Album de photographias com descripções; clichés originais; copias em phototypia inalterável; monumentos, obras d’arte, costumes, paisagens.
segunda-feira, setembro 26, 2022
Buçaco: grafia e origem do termo
Em que ficamos, então?
De acordo com a versão mais corrente o termo será derivado de “Bosque Sagrado” ou “Bosque Sacro”, ou de “Sublaco” ou “Subiaco”, um nome atribuído pelos beneditinos da Vacariça em memória da gruta do “Subiaco”, perto de Roma, onde S. Bento fizera penitência.
Há uma terra em Arcos de Valdevez (S. Vicente de Távora) chamado Buçaco e também existe Bussacos em Figueiró-Paços de Ferreira. (Cf Jorge Paiva, A Crise Ambiental).
Também no sudoeste da França, há dois topónimos: Bussac-sur-Charante (diz-se no site da localidade que Bussac» virá do latim «Buxus») e Bussac-Forêt. A Infopédia também remete para o baixo-latim [campus] Bucciacus, 'campo de Buccius'. Para alguns autores, na origem deste topónimo está um termo celta com a terminação genitiva (Bucci-acum): "terra de..." ou "terra dos...".
Sobre a grafia, deve escrever-se Buçaco ou Bussaco?
O termo foi tendo várias grafias: BUZACO, BUZZACO, BUSSACO e BUÇACO. Em “Ciberdúvidas da Língua Portuguesa” diz-se que antes da reforma ortográfica de 1911, era muito frequente escrever Bussaco. O “Mappa de Portugal Antigo e Moderno”, publicado em 1762, regista Bussaco. Depois de 1911 (e principalmente com o acordo ortográfico de 1945), a grafia do topónimo passou a ser Buçaco. A grafia com ç é mais coerente com a história do termo desde o século X («monte buzaco», num documento do mosteiro de Lorvão, do ano 919 , época a que parecem remontar as primeiras atestações). Na Idade Média, a palavra era, escrita não com com s ou ss, mas, sim, com z (por exemplo, nos séculos X e XI), dando mais tarde lugar ao grafema ç.
No caso de Buçaco, a etimologia é controversa, mas a documentação existente sugere que, até ao século XVI, este topónimo se escrevia com ç. Tal levou a que, com a reforma ortográfica de 1911, Buçaco passasse a ser a forma correcta, como que restaurando a escrita medieval.
Contudo, a grafia Bussaco permanece nalgumas situações: «Palace Hotel do Bussaco», «Fundação da Mata do "Bussaco"», «Casas do Bussaco». refrigerantes “Bussaco”… Em síntese – escreve Carlos Rocha - a forma correcta actual é Buçaco, mas, para fins comerciais, turísticos ou no âmbito da cultura local, é possível usar a forma adoptada a partir do século XVII , Bussaco.
quarta-feira, setembro 07, 2022
Lugares, monumentos e sítios de Penacova (8): Mont'Alto
No dia 8 de Setembro, data da grande Romaria, o “Dia das Sete Senhoras” ou de Nossa Senhora da Natividade, muitas famílias rumavam (e rumam ainda hoje) ao Mont’Alto, movidos pela Fé, mas também pelo Convívio. Tudo convida a estender a toalha e partilhar os deliciosos comes e bebes que neste dia não faltam.
No livro “Coimbra e Região” (1987) Nelson Correia Borges faz referência a esta “capelinha” que “é um encanto na sua singeleza de ermidinha bem portuguesa”. A Romaria da Senhora do Mont’Alto era uma das mais concorridas da região. As "Informações Paroquiais" de 1721 referem que os moradores da Vila do Botão e de S. João de Figueira (de Lorvão), vinham todos os anos em procissão (…) em cumprimento de “um voto antiquíssimo” trazendo as ofertas em tabuleiros.
Aquele documento do séc. XVIII fala também da existência na encosta do monte de umas “pedras redondas” que tinham propriedade milagrosas.
O local está também associado à Batalha do Bussaco, dado que o general inglês Arthur Wellesley, Duque de Wellington, terá mandado colocar algumas peças de artilharia junto à capela, ponto estratégico militar.
Do alto do monte, quando os eucaliptos ainda não dominavam as encostas, gozava-se dum soberbo panorama sobre o vale do Mondego.
Em 1994 foi projectada a construção, no recinto da capela, de um miradouro de 10 metros de altura, encimado por um cruzeiro, obra que certamente permitiria admirar a vastidão da paisagem circundante. Ainda chegou a ser lançada uma campanha de angariação de fundos, mas a iniciativa não foi avante. Quem sabe...não fosse, afinal, má ideia construir uns passadiços ao longo da encosta, retomando a ideia dos antigos carreiros, culminando com um miradouro acima da copa das árvores circundantes...
2º Centenário da Independência do Brasil: a Visita de António José de Almeida àquele "país irmão"
A viagem teve alguns contratempos. Um deles foi o facto de o navio que levou o nosso presidente ter chegado com mais de uma semana de atraso. O convite havia sido feito com muita antecedência, mas os preparativos terão ficado para a última hora.
A primeira viagem de um chefe de Estado ao Brasil fez-se num "recauchutado" navio. Um antiquado paquete alemão, entretanto rebaptizado de “Porto” necessitou de grandes reparações mas mesmo assim as obras atrasaram-se e a partida foi sendo sucessivamente adiada. Pouco tempo depois de sair de Lisboa, teve de aportar às Canárias, devido a uma avaria. Avarias que se multiplicaram em todo o trajecto e a lentidão era tal que se chegou a pensar que havia falsificação do carvão!
No dia previsto para a chegada, 7 de Setembro, ainda a comitiva estava a meio do caminho. Na Rio de Janeiro iniciaram-se as comemorações do 1º Centenário da Independência e inaugurou-se uma exposição internacional (os nossos pavilhões não estavam prontos e tiveram de ser cobertos para não dar mau aspecto...). E mais grave: o único chefe de Estado convidado - António José de Almeida – não estava presente.
Apesar de todas estas contrariedades, António José de Almeida terá reagido com enorme calma e sentido de Estado. A viagem havia sido acompanhada com muita ansiedade dos dois lados do Atlântico e os brasileiros prepararam uma recepção apoteótica. O Presidente Português foi recebido por milhares de pessoas em todos os locais onde se deslocou, muito bem acolhido pelas entidades oficiais e civis. A retribuição revestiu-se de enorme simpatia (uma das características de António José de Almeida) a que se juntaram muitos discursos que arrebataram as plateias, confirmando perante os brasileiros a expectativa criada de grande orador. Muitas cerimónias tiveram lugar onde não faltaram grandiosos banquetes.
A viagem ficou marcada , mais pelos afectos do que pelos ganhos políticos, já que do ponto de vista oficial apenas três tratados de pouca relevância foram assinados.
UM DOS DISCURSOS DE ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA NO BRASIL
Provavelmente poucas pessoas conhecerão o discurso no palácio do Catete por ocasião do Banquete oferecido pelo Presidente do Brasil. Aqui fica, tendo como fonte a Revista da Semana de 1922, publicada no Brasil.
A independência do Brasil não data do grito de Ypiranga, como à primeira vista podia supor-se; ela partiu de
mais longe, porque se vinha formando lentamente na consciência nacional, visto que, de facto, o Brasil apesar de colónia, foi desde cedo nação, tendo mais condições de vida própria do que tantos outros povos que, ao longo da história, com aparência de independentes, mais não foram do que organismos subordinados a outros mais poderosos que os dominaram.
O nervosismo, mais feito afinal de desolação e despeito do que de má vontade, que em Portugal se manifestou logo após o acto definitivo da Independência, deasapareceu sem demora, porque aqueles que lá lutavam contra uma forma de governo retrógrada e reacionária compreenderam que, se para eles a fórmula da própria independência individual e colectiva era a revolução liberal, aqui, no Brasil, a revolta contra a mesma opressão só podia revestir um aspecto: o da independência.
Como V. Ex. acaba de dizer com firme exactidão e escrupulosa verdade, Portugal descobriu, povoou e defendeu contra a cobiça dos estrangeiros o vasto território do Brasil. O Brasil independente de hoje tem pois que agradecer a Portugal o facto de ele lhe ter legado, intacto, à custa de torrentes de sangue e torrentes de lágrimas, tamanho e tão rico património. Mas Portugal tem que agradecer ao Brasil independente de hoje a energia, a bravura, a inteligência e o amor da raça com que ele tem sustentado,
aumentando-a, desenvolvendo-a e dourando-a de uma maior magestade e beleza, a obra que foi a maior glória do seu grande passado.
Creio que estamos pagos perante a história.
É nesta missão de que venho investido e que teve ontem tão auspicioso início na maneira inexcedível de entusiasmo e carinho com que V. Ex., o seu governo, as autoridades civis e militares e o povo quiseram receber-me, ao entrar nesta formosa cidade, estou reconhecendo, por mim próprio, o que já sabia por depoimentos alheios, isto é que o Brasil tem sabido criar uma civilização própria que é, em parte, feita da velha tradição portuguesa, em parte devida ao forte e sadio ambiente americano, mas sobretudo é o resultado do esforço intrépido e inteligente dos homens resolutos que o povoam e na verdade se formaram um estado de alma, colectivo, poderoso e resplandecente, a que com justeza se deve chamar brasilidade - força nova, serena e ousada que está intervindo eficazmente nos destinos do mundo.
Brasil e Portugal são duas pátrias irmãs, cada uma vivendo em sua casa, tendo um passado até há cem anos comum e um futuro em muitos pontos diverso, mas em tantos outros equivalente.
Os brasileiros sentem-se em Portugal como na sua Pátria.
Os portugueses, em vastos núcleos de trabalhadores, sentem-se no Brasil como na sua própria terra. As mesmas constituições republicanas, embora sob aspecto diferente, governam e dirigem as duas nações que tem dado provas, ambas elas de amar sinceramente a democracia.
Uma língua incomparável, que retine o melhor ouro da linguagem humana e dispõe de um poder plástico sem igual, serve - maravilhoso instrumento de civilização e solidariedade - os dois povos, que se sentem presos nas espiras desse verbo quasi divino.
Que outra coisa é precisa para que eles auxiliem sempre e se entendam cada vez mais. Creio que coisa nenhuma, já que o sentimento fraterno que enleia os corações, perenemente alvoroçados pela estima comum, é tão forte que em caso nenhum a vontade dos homens o pode quebra. E o nosso encontro aqui, senhor Presidente, é um eloquente testemunho dessa esplêndida realidade.
domingo, agosto 28, 2022
Locuções populares (XII): OK
Quanto à sua origem já não é assim tão consensual. Esta locução inglesa (norte-americana) é uma das mais controversas em relação à sua etimologia, tendo sobre o assunto sido já escritos imensos livros e artigos.
A explicação mais fundamentada defende que terá derivado de uma brincadeira jornalística, de um simples trocadilho. Em 23 de Março de 1839, num artigo publicado no ‘The Boston Morning Post’, a propósito de uma polémica local, apareceu a dado momento escrito "...et ceteras, o. k. [all correct]...", tal e qual assim. Tratava-se pois de uma piada editorial em que a expressão ‘O.K.’ era utilizada como abreviatura de ‘all correct’ pronunciado como ‘Oll Korrect’. De imediato entrou na linguagem coloquial da altura, tendo-se tornado, como agora se diz, viral.
Mas, muitas outras explicações têm sido invocadas:
Numas eleições americanas o candidato Martin Van Buren (1782-1862), nascido em Kinderhook, New York, tinha a alcunha de ‘Old Kinderhook’. Então, o acrónimo de ‘Old Kinderhook’ deu origem ao slogan da campanha, utilizando o ‘O.K.’ com duplo sentido, o de ‘all correct’/‘Oll Korrect’, e o de ‘Old Kinderhook’ que identificava o candidato.
Outra explicação remete para o mundo do telégrafo, em que, das estações, era enviada a mensagem telegráfica ‘OK’ para indicar que o comboio aí tinha passado sem problemas.
Outra hipótese vai no sentido de achar que a expressão se teria originado durante a Guerra da Secessão (1861-1865) em que era içada uma bandeira com os caracteres "OK", significando "0 Killed" (zero mortos), o que correspondia a dizer "tudo bem".
Há quem atribua também ao general Jackson os símbolos O.K. dado que os usava nos documentos públicos que aprovava. No entanto, não parece ser muito aceitável esta tese porque mesmo sabendo que Jackson não era muito culto, não seria assim tão ignorante ao ponto de pensar que ‘all correct’ se escrevia 'oll korrect’. Mas há quem defenda que o "O.K." tem a ver com os Choctaws [...] povo que viveu no Mississippi, tendo deles o General Jackson tomado a expressão.
Defendem outros que a locução teria nascido ainda no século XVIII, numa ordem de serviço de 6 de Setembro de 1780, em que se indicava como senha ‘RICHMOND’ e como contra-senha ‘O.K.’.
Outra teoria é a de que, quando começou a Guerra da Secessão (1861-1865), existia em Chicago uma firma conhecida como O. Kendall & Sons, liderada por Orrin Kendall, a qual começou a fabricar biscoitos para o exército, biscoitos que tinham gravadas numa das faces asletras ‘OK’, identificadoras da empresa.
Alguém defendeu que que a locução OK foi introduzida por escravos norte-americanos provenientes de África Ocidental, ou que vem do françês ‘aux quai’. ‘Aux Cayes’ (actualmente Les Cayes) é o nome de um porto no Haiti, que em crioulo haitiano se pronuncia precisamente Okay.
Outra versão situa a origem na Luisiana: durante a Revolução Americana, os soldados franceses aí
estacionados costumavam ir aos cais (aux quais) à procura de sexo com mulheres locais. Outra versão ainda, radica a origem da locução no mesmo lugar, mas derivaria de ‘au quai’ (para o cais) escrito nos fardos de algodão após estes eram aprovados pelo inspector.
Todavia, a grande maioria destas explicações não merece grande aceitação geral. O certo é que, passado bastante mais de século e meio daquele artigo de jornal - a verdadeira origem, para muitos - a expressão continua a ser usada em todo o mundo.
----------------------
FONTE: "Repositório do conhecimento inútil", de Alvarinho Dias.
quinta-feira, agosto 18, 2022
Lugares, monumentos e sítios de Penacova (7): Monte da Senhora da Guia
Conta Alves Mendes que um emigrante penacovense radicado no Brasil quis construir no Monte do Castelo uma igreja dedicada a S. Pedro.
As obras ter-se-ão iniciado, mas pelo que consta não foram além das quatro paredes, dado que o Pároco de então “esbanjou” o avultado donativo em obras de caridade.
Só mais tarde, em 1783, D. Tomás Patrício dos Santos, presbítero natural da Cheira, mandou construir “entre duas gigantescas muralhas, a rica e elegante capela que dedicou à Senhora da Guia”.
Ocupando o sítio do antigo castelo, a capela apresenta uma “agradável composição de fachada em cuja janela se lê o milésimo 1783”.
Aquando da construção do Preventório, no início da década de trinta, manteve-se apenas a fachada onde, sob a cruz terminal, dois anjos seguram uma coroa, ao mesmo tempo que, sobre os cunhais, podemos observar esguios fogaréus. Com a desafectação da capela original o retábulo (de finais do séc. XVIII) foi deslocado para uma nova capela, entretanto construída nas imediações.
É tradição que a Capela de N. Sra. da Guia começou por ser Igreja Matriz, mas a análise da sua história não o parece comprovar.
Escreveu nos anos 40 o Dr. José Albino Ferreira: "Foi esta capela construída depois do meado do século XVIII, aproveitando-se em parte as paredes do castelo. Levou assim o castelo um grande rombo. O que sobrou dele ficou a ser explorado como pedreira, até que todo ele desapareceu. Os terraços do castelo ficaram com o nome de "Largo do Castelo" e eram pontos obrigatórios, de dia para os passeantes desocupados, e de noite para os descantes e serenatas da rapaziada da Vila. À capela foi dado, há pouco tempo, outro destino, como é sabido, construindo-se capela nova a pouca distância."
De 2002 a 2007 funcionou neste local, após reconversão total do antigo Preventório, o Hotel "Palacete do Mondego". Fechado há 15 anos, o edifício encontra-se abandonado e vandalizado. De igual modo, estão as instalações do antigo hospital da Misericórdia que entretanto havia passado a Centro de Saúde.
Também neste monte se situou o cemitério da vila até à construção do actual, na Eirinha, no início do séc. XX.
domingo, agosto 14, 2022
O castelo de Penacova: um poema de Alfredo da Cunha
A existência de um Castelo em Penacova é comprovada por diversos documentos que a ele (ou às suas ruínas) se referem (veja-se por exemplo o site do município)*.
A juntar aos testemunhos referidos, publicamos um poema, algo desconhecido para os penacovenses, escrito por Alfredo da Cunha **, uma das personalidades da elite lisboeta - director do "Diário de Notícias" - que esteve na inauguração do Mirante em 1908.
O poema não refere expressamente o local deste castelo. No entanto, no livro "Versos II" (1912) o mesmo aparece incluído num capítulo intitulado "No Bussaco" e a seguir a um outro poema com o título "Penacova". Olhando em redor que outro castelo poderia ser? Cremos ser de concluir que seria o de Penacova, à época em ruínas.
domingo, agosto 07, 2022
Locuções populares (XI) : Cheio(a) de nove horas...
As nove horas foram durante muito tempo o limite convencionado para as visitas sociais. Era também essa hora a que começavam os espectáculos frequentados pelas elites.
A expressão tem o significado de cerimonioso, vaidoso, presunçoso, petulante, complicado, meticuloso, emproado.
Saber que as nove horas eram, mais ou menos, a hora estabelecida para o recolhimento, não explica o sentido do epíteto de ‘cheio de nove horas’
Como acontece com muitas locuções existentes na linguagem popular, também para a origem do ‘cheio de nove horas’ existem diferentes versões.
Sendo antigamente o jantar bastante cedo, por volta das 18 horas, de modo a aproveitar ao máximo a luz do dia, as normas da boa educação impunham que, quando se ia a casa de alguém, aí não se permanecesse até depois das nove horas. Era a hora clássica do século XIX, regulando o final das visitas, ditando o momento das despedidas.
Porém, há outra possibilidade para a origem da expressão. Muitas vezes, era às nove horas que se iniciavam os espectáculos (ópera, teatro e mais tarde o cinema) e outros acontecimentos sociais nocturnos (bailes, festas), para os quais os frequentadores se vestiam a rigor. Ao verem que damas e cavalheiros passavam, a essa hora, ricamente vestidos e com modos a condizer, o povo teria começado a dizer que iam ‘cheios de nove horas’, ou seja, com aspecto de que iam à ópera, ao teatro, ao baile ou a uma festa.
sexta-feira, agosto 05, 2022
Penacovenses ilustres: Homero Pimentel
Homero António Daniel José Pimentel, nasceu em Penacova em 19 de Maio de 1914 e aqui faleceu no dia 10 de Fevereiro de 1987.Nesta vila fez a instrução primária. Em 1932 ingressou no Seminário de Évora, que frequentou até ao Natal de 1935. Em Coimbra, passou a frequentar o Colégio Progresso e fez os exames do ensino secundário no Liceu D. João III. Em 1940 /41 concluiu, em Lisboa e com alta classificação, o Curso de Filologia Clássica que encetara na Universidade de Coimbra em 1937.
Em Outubro de 1941 iniciou a carreira docente no Colégio de Vila do Conde, seguindo-se o Colégio de Mirandela e o Colégio Nun’Álvares, em Tomar, onde deu aulas até 1944/45. No ano de 1948 fundou em Arganil o Externato Nossa Senhora do Montalto, mais tarde Externato Alves Mendes, que funcionou até 1970 / 71 para dar lugar ao Ciclo Preparatório. Em 1983 foi agraciado com a Medalha de Ouro do município arganilense. O seu nome faz parte da toponímia daquela vila, tendo sido também erigido um busto em sua homenagem.
Em Penacova, a Homero Pimentel se deve o Externato Príncipe das Beiras, que funcionou até 1973, outro colégio de referência na região, continuador do Externato Nossa Senhora da Esperança, por si, entretanto, adquirido. De 1973 a 1984, Homero Pimentel leccionou no Ensino Oficial, nas Escolas de Penacova, Arganil e Tábua.
Em 2008 foi atribuído, na terra natal, o seu nome à artéria até aí designada por Rua das Escolas e nova homenagem, agora em 14 de Maio de 2016, lhe foi prestada. Na Pérgola de Cima foi erigido um busto como reconhecimento pelas distintas qualidades de pedagogo e humanista e pelo papel de extrema relevância que teve na educação de muitas gerações de jovens dos concelhos da região, num tempo em que Portugal possuía sérias deficiências no querespeita à formação escolar, à cultura e às condições de vida das populações.
Homero Pimentel foi também benemérito. Cedeu terrenos à autarquia para abertura e alargamento de estradas e outras melhorias e da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Penacova recebeu o Diploma de Sócio Benemérito.
Sobre este Professor e Pedagogo, publicamos hoje, complementando as muitas referências que o Penacova Online tem vindo a fazer, um conjunto de versos, partilhados connosco por Palmira Pimentel:
Lugares, monumentos e sítios de Penacova (6): Casa Azul
"Uma das casas mais importantes do edificado da Vila, quer pela escala, quer pela cor que a demarca das restantes, é a designada “Casa Azul”. O edifício, de manifesto interesse arquitectónico, necessitava de profunda reabilitação (1).
Entretanto, o edifício, que tem a frente principal voltada para a Rua Fernando de Melo e faz esquina para o início da Rua da Costa do Sol, foi adquirido por Luís Amante e Esposa, Ana Marques Lito, que lançaram mãos à obra e avançaram com um projecto arrojado de reabilitação, mantendo a cor azul forte que há muitos anos ostentava, destacando-a harmoniosamente do casario do núcleo histórico da vila.
A avaliar por algumas construções ainda existentes, pode-se deduzir que a vila de Penacova teria registado um surto de renovação e desenvolvimento no início do século XVII. Ao longo da rua principal sucedem-se algumas casas características, provavelmente do século XVII e XVIII , cheias de tradição e pitoresco como é a “Casa da Freira” e aquela outra que ostenta sobre a porta dois brasões manuelinos, com armas do reino e da vila, onde se localiza hoje a Junta de Freguesia e terá sido, em tempos, a Casa da Câmara."
(1) Foi incluído, com o nº 149, na planta geral, da” Operação de Reabilitação Urbana (ORU)”, aprovada em 2016 pelo Município de Penacova.
David Almeida, in PENACOVA (IN)TEMPORAL,
livro de poesia de Luís Pais Amante
Deste Autor e Amigo, acabamos de receber uma poesia inédita, oferecida ao Penacova Online e ao seu Administrador. Obrigado Dr. Luís!
terça-feira, agosto 02, 2022
Lugares, monumentos e sítios de Penacova (5): Reconquinho
A Praia do Reconquinho é reconhecida como uma das mais bonitas do país.
Foi considerada até, pela National Geographic, como uma das nove praias mais bonitas de Portugal, numa lista de cem praias localizadas de norte a sul do nosso país.
Galardoada, pela primeira vez em 2013 com a Bandeira Azul, ostenta também agora a Bandeira de Praia Acessível, dispõe de bar, apoios de praia, fluvioteca e animação ao longo de toda a época balnear, proporcionando todas as condições de lazer e diversão.
O funcionamento desta praia fluvial remonta a 1964. Nesses tempos, os “aristas” iam ali dar o seu passeio, tomar o seu banho e dar uma volta de barco.
Em 1970 nasce, ali ao lado, o Parque de Campismo, por iniciativa da Sociedade de Propaganda e Progresso de Penacova, com o apoio da Câmara Municipal.
Surgiu também uma Escola de Natação e a praia fluvial foi requalificada, acorrendo aí, já nessa altura, “muitos milhares de pessoas de todas as classes”.
É no Reconquinho que se situa o centro de Trail Running Carlos Sá, sendo este local o ponto de partida para todos os percursos de trail existentes no concelho de Penacova.
Também o projecto “Serranas do Mondego” passou a proporcionar, nas águas do Mondego, um passeio de Barca Serrana tendo como pano de fundo o Reconquinho, o Penedo da Carvoeira e a altiva Penacova, encimando o Olival do Mondego.
Existe uma lenda que faz parte das colectâneas de lendas de Portugal e foi magistralmente recontada por Martins da Costa. https://penacovaonline2.blogspot.com/2014/03/as-bruxas-do-reconquinho.html
POEMA de Luís Pais Amante (in Penacova [In]temporal, 2022)
OH RECONQUINHO
Comecei a olhar para ti, cá de cima,
pela manhã Amiguinho
Num dia em que estiveste de sol raiado
Com a luz a bater na tua curva ideal
Igual à minha
E a refletir-se no teu areal
Entranhando-se na áurea dos veraneantes
Que por cá vão ficando ainda radiantes
A tua praia aristocrática está bonita
Arejada, emproada
Parecendo-nos mais suculenta desde que falam nela por aí
Ou o Presidente Marcelo tirou um selfie para ti
Sempre serás um espaço d’encantar
Uma revista enlaçada num cenário de cobiça
A fotografia que te tiro, agora, mais pela tarde
Capta embevecidos os forasteiros d’outrora
Que pairam no teu bom ar
como se fossem fantasmas feitos de doce de amora
Aristas d’antigamente, dizem hoje
Gente que por aí foi sendo diligente
Os miúdos a nadar
Correndo sempre em liberdade
Os biquínis a espraiar
Inquietando sempre, mas sempre, a nossa mocidade
Uns espreguiçavam-se, outras enguiçavam-se
Já é noite, entretanto e agora estou na Pérgola
Não estão cá só as caras d’antigamente
Nem só as pessoas da minha juventude
Está cá Povo inteligente
Que gosta de ouvir poesia
E que vem absorvê-la, criticá-la, senti-la
Povo
que sabe o que é ter Penacova na sua fantasia
Que te ama, Reconquinho,
como se fosses uma grande epifania
Que te vai vendo mudar ao sabor do tempo
Sem já seres só local mítico ao relento
Gente
Que te discute só por te querer bem
E que sonha com uma ponte
Fixa
Fixe
... Que não saia da fotografia no Inverno
... Nem se escape como a enguia quando foge do inferno!
Luís Pais Amante
17Jul19, 18h30
Preparando a Tertúlia da Poesia que hoje vai acontecer na Pérgola Raul Lino, em Penacova
terça-feira, julho 19, 2022
Alfredo Fonseca apresentou o seu décimo livro de Memórias
Depois de constituída a mesa de honra, deu-se início à sessão tendo David Almeida traçado alguns dados biográficos do autor e da sua produção literária trazida a público não apenas nos muitos livros já editados, mas também na imprensa local e regional. Destacou ainda as qualidades de cidadão empenhado e interventivo em muitos outros domínios, tendo mesmo sugerido a atribuição da Medalha de Mérito Municipal, acto de inteira justeza. Referiu-se ainda a alguns pormenores da personalidade do autor, na perspectiva de muitas das pessoas que ao longo dos anos foram assinando os prefácios das obras e que são unânimes em reconhecer que Alfredo Fonseca é uma pessoa e um cidadão que se distingue pelas suas qualidades de excepção.
De seguida, usou da palavra Vítor Cordeiro, reconhecendo em Alfredo Fonseca "um grande homem, um distinto ex-autarca, um amigo e um grande Sãopedralvense." Usaram ainda da palavra Álvaro Coimbra e Humberto Oliveira que, de improviso, enalteceram a vida e a obra do autor e manifestaram a sua satisfação pelo apresentação de mais este livro.
Por último, Alfredo Fonseca dirigiu-se aos presentes, afirmando que este livro "tem a dupla finalidade" de ser a sua "despedida", não só "da escrita, mas também como cidadão activo", dada o peso dos seus setenta e oito anos. Fez questão de não esquecer os amigos, dizendo que no seu "percurso de vida" fizera muitos amigos, os quais têm sido a sua "maior riqueza. Este livro é, pois, uma maneira de lhes dirigir "um terno e emocionante muito obrigado" e um pedido de desculpas por eventuais falhas que todos temos. Terminou com um agradecimento à família, ao prefaciador, ao Presidente da Câmara e a todos quantos contribuíram para que o livro e a sua apresentação fossem uma realidade.
Para memória futura e para conhecimento de quem não teve a possibilidade de estar presente, achamos pertinente transcrever as intervenções de fundo deste evento.
PALAVRAS DO APRESENTADOR, DAVID ALMEIDA
"(...) Recorde-se que este livro hoje apresentado é a décima obra de Alfredo Fonseca. Se fizermos uma pesquisa no Catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal vamos encontrar devidamente registados e catalogados todos eles. São mais de 1500 páginas! É obra! Recordemos: "Memórias do Sofrimento na Guerra de Moçambique" (2001); "Pegadas dos Meus Pés" (2006); "(Farinha Podre) S. Pedro de Alva. Figuras e Factos para a sua História" (2011); "História do Batalhão de Artilharia 1885" (2010); "Os Sampedralvenses da Diáspora" (2012); "Divagação sobre a Génese das Nossas Gentes"(2015); "Memórias Imperfeitas de um Ex-Autarca" (2016); "Casa do Povo de S. Pedro de Alva" (2018); "Episódios na Guerra do Ultramar (Moçambique) vol II" (2022) e "Tarde é o que Nunca se Faz" (2022)
Vejamos um pouco quem é Alfredo Fonseca. Em todos os seus livros faz questão de incluir uma nota biográfica mais ou menos extensa, onde além da sua infância nos conta a entrada no mundo do trabalho - a profissão de alfaiate - depois a vida militar em Moçambique e, ao regressar, a vida passada em S. Pedro de Alva, 30 anos como Autarca com grandes responsabilidades, não esquecendo o seu papel crucial na vida da Casa do Povo bem como a sua vida de empresário de sucesso.
Alfredo dos Santos Fonseca nasceu na freguesia de S. Paio do Mondego (à época, S. Paio de Farinha Podre) no dia 30 de Maio de 1944. Frequentou o Ensino Primário nas Escolas das Ermidas e da Atouguia. Feita a 4ª classe e o Exame de Admissão ao Liceu, viu-lhe cerceada a possibilidade de prosseguir estudos. Aprendeu a arte de alfaiate e no dia 27 de Abril de 1966 partiu para a Guerra do Ultramar. Regressou no dia de Santo António de 1968, casou em S. Pedro de Alva e aí tem vivido até ao presente. Foi agente da "Singer", correspondente de diversos Bancos, representante da Esso Gás e igualmente de cinco Companhias de Seguros.
Aos 27 anos passou a exercer o cargo de Secretário da Junta de Freguesia. Estávamos em 1972. Daí, até 2001, cumpriu 3 mandatos como Secretário, 3 como Presidente e 1 como Presidente da Assembleia de Freguesia. Depois de deixar a vida autárquica foi "atraído" para a Direcção da Casa do Povo. A par de toda esta actividade conseguiu conciliar a sua vida de comerciante na área do mobiliário e electrodomésticos, revelando o seu espírito empreendedor.
Agora aposentado, dedica-se à família, aos amigos e à escrita, onde desde sempre se revelou como grande comunicador, crítico e interventivo, quer nos seus livros, quer, não esqueçamos, na imprensa regional. E neste domínio, deixo aqui um repto: vamos organizar - disponibilizo-me para nisso colaborar - mais um livro, agora com uma seleção das muitas centenas de crónicas publicadas em jornais locais e regionais?
Grande comunicador, contador de histórias, no seu sentido mais nobre, empreendedor, confiante (auto-estima elevada), resiliente, como agora se diz, inconformado, líder nato...enfim, um conjunto de adjectivações que poderíamos apontar.
Em muitos dos seus escritos, Alfredo Fonseca faz questão de salientar: "Sou apenas um autodidacta, apaixonado pela leitura e pela escrita, por narrativas históricas e ainda por tudo o que diga respeito ao progresso da terra que me adoptou.) (in Divagação sobre a Génese das nossas Gentes). Por sua vez, em "Pegadas dos meus Pés", livro onde já aparecem muitas partes em verso, escreveu:"Não sou pessoa letrada / Nem muito bem preparada/ No condão da literatura/Tenho uma devoção / Escrever é uma paixão / Lições para a vida futura." No livro hoje apresentado, define-se como "um terra-a-terra", um humilde "Zé Ninguém" e escreve em verso "Não sou uma pessoa muito culta / a cultura em mim foi comedida / Pois o que sei aprendi-o / na 'Universidade da Vida'."
Também a sua motivação profunda para escrever nos é apresentada em vários locais da sua obra. A propósito de um dos seus grandes temas de escrita, as Vivências da Guerra, escreveu no seu primeiro livro: "Este e outros escritos do género são necessários para que o alheamento (...) para coma Guerra do Ultramar não se transforme em esquecimento." A propósito dessa guerra é de salientar que esse seu 1º livro resultou de um conjunto de 316 versos que o autor foi registando dia-a-dia. No livro " Farinha Podre / S. Pedro de Alva: pessoas e factos para a sua história" escreveu que "a vida de um cidadão é efémera (...) descrevê-la é um dever de todo o ser humano, porque só assim se saberá na posteridade quem foram essas pedras ancestrais (...). Essas "figuras cairão no esquecimento e as suas memórias passaram sem deixar rasto, como uma cortiça na corrente de um rio".
E o que escreveram outros sobre o Sr. Alfredo e a sua Obra? - "Alfredo Fonseca escreve como pensa, isto é, com autenticidade" - Ruy Miguel, cronista da Beira-Serra. Por sua vez, Luís Adelino, num dos prefácios: "Um sincero obrigado ao autor que em muito contribuiu nas últimas décadas para manter a originalidade e identidade das gentes do Alto Concelho." Noutro prefácio, agora assinado pelo saudoso Dr. Eurico Almiro Menezes e Castro, são destacadas as qualidades de trabalho, de luta, de esforço, a vontade de vencer e de aprender cada vez mais. Salienta ainda "a sua alegria de viver e ser útil", bem como o seu dinamismo, capacidade de trabalho" e grande " afectividade pelos lugares e pelas pessoas."
Muitas outras referências podíamos fazer. No prefácio ao livro "Memórias Imperfeitas de um Ex-Autarca", Teodoro Antunes Mendes recorda a frase de Ghandi: "Quem não vive para servir, não serve para viver."
Na obra hoje apresentada, Arlindo Cunha (ex-ministro da Agricultura, deputado, empresário e professor) escreve igualmente no prefácio: "Alfredo Fonseca constitui também um exemplo vivo de que se pode ter uma vida digna, coerente, feliz, pessoal e profissionalmente realizada, em qualquer contexto social, económico ou geográfico". E acrescenta: "Revela-se um autodidacta, exibindo consideráveis conhecimentos, especialmente no que respeita à sua região, em matérias como a história, a geografia, a agricultura, ou a etnografia, a política, a cultura e a sociedade em geral (...) graças à sua inteligência, sagacidade, espírito de observação e muito trabalho."
Vejamos agora alguns aspectos do livro de hoje. Em nota ao título, o Autor sublinha que se trata de uma "forma singela mas afectuosa" de "atribuir" o seu "sincero obrigado" a quem tanto "o tem estimado". Esta mesma ideia aparece a seguir, agora em verso: "Dou hoje por satisfeito / um desejo acalentado / saudando as gentes deste jeito / que tanto me têm estimado." E ainda: "Este meu décimo livro / tem uma nobre missão / dizer um terno obrigado / a quem me tratou com educação."
A obra começa com cerca de 40 páginas em prosa, onde se faz uma breve descrição autobiográfica. Seguem-se 30 páginas em verso. Em primeiro lugar, sobre o seu percurso de vida, seguindo-se um conjunto de estrofes sobre lugares /localidades da União de Freguesias: Vimieiro, Hombres, Laborins, Bêco, Carvalhal, Arroteia e Vale da Serra, Vale da Vinha, Ribeira, Silveirinho, Quintela, Zarroeira, Castinçal, Sobral, Parada, Vale do Barco, Cruz do Soito, Lufreu, Cavaleiro, S. Pedro de Alva, S. Paio do Mondego, Ermidas, Estrela de Alva e S. Paio do Mondego.
Muito mais haveria a dizer. Obrigado Sr. Alfredo por ter partilhado connosco todas estas vivências e experiências de vida. Obrigado pelo seu testemunho de vida, de uma vida que não se fechou nos legítimos interesses pessoais, mas se dedicou á freguesia de S. Pedro de Alva, ao Alto Concelho, a Penacova. Que Penacova, no seu todo, saiba reconhecer o seu valor e um dia destes lhe seja atribuída a Medalha de Mérito Municipal. Bem o merece. Muita saúde e que Deus o conserve por muitos anos mais no nosso convívio."
PALAVRAS DO PRESIDENTE DA UNIÃO DE FREGUESIAS, VÍTOR CORDEIRO
"(...) Cumprimento de forma muito especial o autor da obra, o Sr. Alfredo Santos Fonseca, por ser um grande homem, um distinto ex-autarca, um amigo e um grande Sãopedralvense. Antes de mais quero agradecer-lhe o convite que me endereçou para estar aqui presente, dando-me assim, a oportunidade de pela sexta vez, partilhar consigo a apresentação de mais uma obra, das onze já escritas. [No prelo está já um pequeno livro sobre a história do Vimieiro].
Por isso, é com imenso prazer que aqui estou, como amigo e em representação da União das Freguesias de S. Pedro de Alva e S. Paio de Mondego, para o felicitar e parabenizar, mas acima de tudo, para contribuir, ainda que modestamente, para que este acto seja para si um momento de alegria e em especial um encontro de amigos.
É sem dúvida um orgulho que sinto, em fazer parte deste grupo de amigos, oriundos das várias vivências, das várias circunstâncias e de vários locais do Concelho. Se é verdadeira a expressão de que “a grandeza de um homem se mede pelo número de amigos que tem”, não restam dúvidas quanto à dimensão humana do autor.
Pois é sempre com agrado que vemos nascer obras literárias e mais ainda, quando essas obras têm um conteúdo referente ao território em que habitamos e do qual fazemos parte integrante. Este facto leva-nos à conclusão de que o que for escrito hoje perdurará para sempre, serão as nossas memórias futuras.
Contudo, não são as obras em si que devemos relevar, porque essas cada um dirá sobre elas coisas diferentes, mas sim, o homem que está por trás delas.
Importante será referir, as origens humildes do autor, homem de muito valor na nossa comunidade, que desde muito novo se começou a destacar pela sua vontade de vencer e empenho nos projectos que foi abraçando ao longo da sua vida, dando muito de si, quer à comunidade, quer até mesmo à sua pátria, ao fazer parte de uma Companhia de Combatentes em Moçambique.
É dessas vivências que o autor tem escrito as suas memórias, as suas experiências, os seus sentimentos e os seus sofrimentos, narrando-os na primeira pessoa.
Volvidos alguns anos, ao sabor da vida, o Sr. Alfredo, quando começou a ter um pouco mais de tempo para si, começou a sentir uma necessidade tremenda, não pela escrita em si, mas pelo que ela podia representar no sentido de poder dar continuidade a um sonho que sempre alimentou e que de certeza ainda traz no coração…o de perpectuar para sempre a sua terra, as suas gentes, os momentos mais importantes, por vezes na vida de cada um.
Nessa sua caminhada, por vezes sentiu-se apolítico e protestou por causa da guerra do Ultramar, outras foi mesmo político na verdadeira acepção da palavra e lutou. Lutou por aquilo em que acreditava, lutou pelos sonhos, lutou pela vida, lutou pelos filhos e família e assim conforme talhava os fatos, cortava e os fazia por medida, também talhou a sua própria vida, deixando um espólio bastante considerável.
Em jeito de conclusão, um homem sem memórias não é homem, um homem sem moral e sem respeito não é homem, um homem que não guarda as suas raízes não é homem... mas um homem que reuna estes predicados nunca será esquecido. Bem-haja Sr. Alfredo!"
PALAVRAS DO AUTOR, ALFREDO FONSECA
"É para mim uma sublime honra ter-vos aqui nesta apresentação deste meu décimo livro. Muito obrigado por terem vindo pois a vossa presença é para mim motivo de muita satisfação.
Conforme facilmente se aperceberão, na leitura desta modesta obra, ela tem a dupla finalidade de ser a minha despedida, não só da escrita mas também como cidadão activo, pois apercebo-me constantemente das minhas mazelas que me anunciam poder estar perto o fim da minha caminhada, embora não tenha pressa nenhuma, agora que ela está certa, isso é que está e os meus setents e oito anos não me deixam muitas dúvidas e são como que um aviso para arrumar a casa e as minhas contas com Deus.
No meu percurso de vida fiz muitos amigos, os quais tem sido a minha maior riqueza, pois ajudaram-me muito a vencer os obstáculos que se me depararam na vida, sempre com uma amizade, estima, consideração e respeito fora de série.
Pesava na minha consciência o dever de lhe atribuir um terno e emocionante muito obrigado e pedido de desculpas pelos meus desleixos e imprecisões que, se aconteceram, foram sempre involuntários e nãopropositados.
De todas as hipóteses que afloraram à minha mente, naqueles cerca de dois meses em que estive retido em casa, para ver se enganava o Covid19 no seu maior pico, escrevi não só este livro, mas também outro intitulado "Episódios na Guerra do Ultramar-Niassa-Moçambique" fazendo uma cronologia verdadeira do que eu e os meus companheiros lá passámos.
Não me alongo mais, pois como dizia um africano "se falas, muito erras" e eu quero evitar isso. Muito obrigado por terem vindo e que a vossa vida vos sorria e se prolongue por muitos e felizes anos.
Agradeço ao senhor Presidente da Câmara não só o apoio dado para que a edição deste livro fosse possível, como também o ter integrado o seu lançamento nas festas do Município e neste lugar nobre deste maravilhoso largo. Muito obrigado senhor Presidente.
Agradeço também à minha querida família o apoio que sempre me deram. Lembro aqui a impossibilidade de estar presente um grandeamigo, que até foi o autor do brilhante e muito eloquente prefácio, que enriqueceu sobremaneira esta obra. Ele é o Senhor Doutor Arlindo Cunha, que foi proeminente Ministro da Agricultura e é actualmente professor na Universidade Moderna no Porto e também Presidente da Comissão Vitivinícola do Dão. Além de ser um grande produtor de vinho numa propriedade com mais de seis hectares em S. João da Boavista, no concelho de Tábua. A sua ausência é porque se encontra neste momento nos Açores.
Agradeço as palavras elogiosas, mas de certa forma imerecidas, que me foram dirigidas. Também por elas o meu muito obrigado. Muito obrigado a todos."