sábado, março 26, 2016
segunda-feira, março 21, 2016
Luís Pais Amante: conectado com a terra, com o rio, com os locais onde trabalhou, passeou e foi feliz
Luís Pais Amante, advogado e consultor em Lisboa, é natural de Penacova. No dia 12 de Março, apresentou no Centro Cultural o livro de poesia a que deu o título de “Conexões”. É o próprio autor que esclarece que o título foi escolhido “por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.”
Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:
Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!
O Dr. Luís Amante revela-nos, de coração aberto, o seu percurso de vida e ajuda-nos a compreender melhor este “seu trabalho para além do trabalho” – a escrita poética.
“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”
“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.
Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!
Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.
Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.
Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.
Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.
E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.
Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.
Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.
Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!
Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.
E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinteressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.
Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.
Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liberdades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reformados, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.
Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guardando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus sentimentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.
Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.
Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, principalmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.
Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tempos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.
O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, também, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.
O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.
Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.
Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.
Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Margarida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bondade e conhecimento.
Bem hajam todos.
Aos meus leitores, bom proveito.
A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!
Do amigo, Luís Pais Amante
Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:
Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!
“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”
“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.
Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!
Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.
Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.
Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.
Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.
E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.
Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.
Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.
Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!
Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.
E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinteressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.
Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.
Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liberdades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reformados, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.
Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guardando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus sentimentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.
Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.
Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, principalmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.
Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tempos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.
O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, também, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.
O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.
Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.
Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.
Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Margarida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bondade e conhecimento.
Bem hajam todos.
Aos meus leitores, bom proveito.
A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!
Do amigo, Luís Pais Amante
--------------------
Fotos: Penacova Eventos
Fotos: Penacova Eventos
quarta-feira, março 09, 2016
Apontamento e homenagem aos penacovenses mortos na I Grande Guerra (no dia em que faz 100 anos que a Alemanha declarou guerra a Portugal)
CEMITÉRIO DE RICHEBOURG ONDE SE ENCONTRAM OS RESTOS MORTAIS DE MILITARES PENACOVENSES |
Faz hoje 100 anos
que Portugal entrou na Primeira Guerra
Mundial. Em Fevereiro de 1916, a Inglaterra pediu ao Estado português o
apresamento de todos os navios alemães e austro-húngaros que estavam ancorados
na costa portuguesa. Uma vez acatado esse pedido, a Alemanha declarou guerra ao
nosso país em 9 de Março de 1916 (apesar
dos combates que se vinham já travando em África desde 1914).
Em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo
Expedicionário Português, seguiam para a guerra na Europa, em direcção à
Flandres.
Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase
200 mil homens.
As perdas atingiram milhares de mortos e feridos, além de custos económicos e sociais muito superiores à capacidade
nacional.
Penacova também teve as suas vítimas: no Memorial dedicado
aos “FILHOS DA NOSSA TERRA SOLDADOS DE PORTUGAL MORTOS DA GRANDE GUERRA” e que
se encontra ao fundo da Pérgola, constam os nomes de Eduardo Pereira Viseu (Penacova),
João dos Santos (Carvoeira), António Couceiro (Ronqueira), Alípio da Cruz (Riba
de Baixo), Domingos Serafim Henriques (Carregal), António Carvalho (Rebordosa),
Daniel Alves (Aveleira), Artur Branco (Cácemes), Manuel da Costa (Cácemes) e
Manuel Alves (Palheiros).
Nos arquivos militares constam cerca de 120 sargentos e
praças naturais dos mais diversos lugares de Penacova e que pertenceram ao
Corpo Expedicionário Português.É também possível consultar muitos Boletins
Individuais destes militares. Aí, somos confrontados com o seu percurso desde a
data do embarque até ao momento do desembarque. Louvores, mas também punições.
Tudo aí está registado.
Por exemplo, sobre o malogrado combatente Daniel Alves,
soldado nº 432 do 2º Batalhão de Infantaria / Infantaria 35, sabe-se que era
casado com Maria de Jesus e filho de Estêvão Alves e Bernarda de Nossa Senhora.
Natural da Aveleira, embarcou em Lisboa em 15 de Abril de 1917 e morreu em
França em Agosto desse mesmo ano.
“Faleceu na 1ª linha, por virtude de ferimentos recebidos em combate em 14 de
Agosto de 1917, sendo sepultado no cemitério de Pont du Hem” – refere o Boletim
Individual. Recorde-se que mais tarde os restos mortais de muitos militares
portugueses foram trasladados para o Cemitério Português de Richebourg. É precisamente aí que podemos encontrar actualmente a campa deste soldado, conforme se
pode ver na gravura.
Lápide da sepultura de Daniel Alves em Richebourg |
No referido monumento, existente em Penacova, consta, como
referimos, o nome de Manuel Alves, natural dos Palheiros. No entanto, nos
documentos de arquivo, encontramos um
mesmo nome com a mesma naturalidade, mas que terá desembarcado com vida em
Lisboa em 15 de Junho de 1919. Era solteiro, filho de António Alves e Maria de
Jesus. Tratar-se-á da mesma pessoa?
Falemos também de Artur Branco. Primeiro Cabo, nº 50 da 4ª
Companhia, embarcou em Maio de 1917. Faleceu em Pont du Hem “por ter sido
ferido involuntariamente por um seu camarada em 2 de Junho de 1917, sendo
sepultado no cemitério daquela localidade, coval A8."
Era solteiro, natural de Lorvão, filho de Caetano Branco e
de Joaquina das Neves.
Boletim de Daniel Alves |
Recorde-se que além de defenderam o território nacional,
incluindo as ilhas atlânticas, os soldados portugueses estiveram presentes na
frente de Angola (18 000) em 1914-1915; em Moçambique, (30 000) entre 1914 e
1918; e em França, (mais de 56.000) em 1917 e 1918. Em todas as frentes se
travaram combates, mas os efectivos portugueses só participaram numa batalha, a
Batalha de La Lys, na Flandres, no dia 9 de Abril de 1918.
No total, Portugal perdeu cerca de 8 000 homens, a que se somam mais
de 16.000 feridos e mais de 13.000 prisioneiros e desaparecidos.
Neste Centenário da I Grande Guerra (1914/18-2014/18)
prestemos homenagem a todos os portugueses - e em especial aos penacovenses -
que se bateram nos campos de batalha deste trágico conflito.
segunda-feira, março 07, 2016
Penacova na Literatura Portuguesa
Está a Literatura Portuguesa (principalmente a Literatura de Viagens) semeada de referências a Penacova. Um levantamento que, segundo cremos, está
por fazer. Existe de facto material suficiente para coligir numa antologia o
muito que se escreveu sobre este recanto que viu nascer muitos de nós. Nem
todas as terras deste nosso Portugal se poderão orgulhar do mesmo. E, se
alargarmos o conceito estrito de literatura aos textos publicados, em prosa e
em verso, em revistas e jornais, locais
e nacionais, o volume aumenta significativamente. Algumas dessas referências a
Penacova são já conhecidas dos penacovenses, como será o caso do trecho que de
seguida publicamos, mas muitas outras haverá que são quase ou totalmente
desconhecidas. Quem sabe um dia consigamos ter tempo e engenho para levar por
diante uma obra que inclua estes e muitos outros aspectos da vida de Penacova (concelho) ao longo dos tempos e que permanecem por aí, dispersos, em letra de imprensa, seja
em livros, seja em muitos jornais e revistas.
ANTERO DE FIGUEIREDO (1866-1953) |
Agora, desde o leito do rio,
trepa-se sempre por uma estrada às laçadas, sob árvores, como a da Ribeira de
Santarém à cidade, como a de Tondela, pelo vale de Besteiros, ao Caramulo.
+++
Que extraordinário assunto para pintar
que não é este vale de Penacova, visto do Penedo do Castro, da Carvoeira, da
Senhora do Monte Alto; vasto, luminoso, colorido, com seu rio, campos, montes e
serras ; ou, mais simples e ameno, visto da Senhora da Guia, capelinha no alto
de um cone de verduras de árvores e de socalcos de campos, sobre farta várzea
de milheirais de ouro e olivedos de cinzas prateadas, que vão, uns e outros,
longe, até às colinas de lá , onde, a meia encosta, pousa o lugar da Carvoeira
— manchas de casais brancos, esparsos entre verdes postos na tinta estamenha
dos montes nus que, por esse lado, confinam a paisagem. De cá, nos
longes, - pinhais de alto a baixo; próximo, - cumiadas com pinheiros ralos a
escalarem lombas de margaças lilases, que a luz poente pintará com a tinta das
copas das olaias floridas. Em baixo, panos azuis de um rio, quási sem água,
parado num areal amarelo. Defronte, descendo até o Mondego, a pique, como os
penedos das Portas do Rodam, sobre o Tejo, formidáveis rochas estratificadas.
Amarelentas e musgosas, o sol da tarde transformá-las há num colossal «bloco»
de ouro esverdinhado. Na campina, fitas de estradas; nos altos, riscos vermelhos - carreirinhos - a
subir os montes, por entre penedos e pinheiros de troncos ardosiados; E
aqueles moinhos, a um de fundo, como monges de longada (para onde ?) na crista
da serra, além ! ...
(...)
Excerto de obra de 1919
domingo, fevereiro 28, 2016
VELAS AO VENTO...O MOINHO DO SENHOR LINO
Moinho do Sr. Lino Branco, em Gavinhos Foto de José Alexandre Henriques (2010) |
Ainda com a recente passagem pela Portela da Oliveira no pensamento,
pesquisámos na internet “história dos moinhos de vento em Portugal”. Foi assim
que nos cruzámos com esta interessante reportagem sobre os moinhos de Gavinhos,
feita em 2010 e intitulada "Velas ao Vento". Sabendo que o autor (que não conhecemos pessoalmente) apenas pede,com toda a justeza, que se indique a respectiva fonte, não resistimos a publicar aqui este apontamento.
No seu blogue CANDEIA VERDE, José Alexandre Rodrigues Henriques começa por salientar que no distrito de Coimbra
existem muitos moinhos de vento, principalmente no concelho de Penacova e explica, de seguida, algumas diferenças que se verificam entre os moinhos desta
zona e os da parte mais a sul da Beira Litoral.
“Os moinhos de Penacova são
bastante diferentes dos que se podem encontrar noutras partes do distrito, mais
a sul, como por exemplo os moinhos de Monte de Vez em Penela, na serra de
Janeanes, ou em Santiago da Guarda, estes últimos já no concelho de Ansião,
distrito de Leiria. Enquanto os moinhos das serras de Penacova são construídos
em pedra, de forma redonda, os outros de que faço referência são totalmente em
madeira e de formato triangular. Outra diferença significativa é o modo de
fazer o posicionamento do mastro de forma a colocar as velas de acordo com a
direcção e força do vento, de modo tirar o maior rendimento possível do mesmo
quando ele sopra de forma suave ou moderada, ou fazer diminuir a sua incidência
directa nas velas, quando é muito forte o que poderia fazer rodar as
engrenagens do moinho com velocidade excessiva. Para efectuar esta manobra, nos
moinhos de Penacova, o moleiro faz rodar o capelo ou cúpula do moinho, enquanto
nas estruturas de madeira todo o corpo do moinho gira em volta de um eixo
cravado no solo, tendo duas rodas de pedra que rodam num círculo também
construído em pedra, podendo assim as suas quatro velas triangulares receberem
o vento de frente”.
Dos poucos moinhos que ainda se estão em pleno funcionamento, conforme
reconhece José Alexandre, foi ainda possível encontrar um a funcionar em pleno: “Este
moinho situa-se em Gavinhos, numa elevação rochosa de quartzito fronteira à
localidade e de onde se avista através de um vale comprido e profundo, a vila
de Penacova.”
Conta-nos de seguida como se desenrolou este contacto quer com o moinho
quer com o moleiro.
“Não foi fácil encontrar o moinho a funcionar, sendo necessário deslocar-me
três vezes ao local, não tendo na primeira visita obtido qualquer sucesso, pelo
que voltei lá uma segunda vez, encontrando nessa altura o moleiro a fazer a
manutenção do seu moinho, mais precisamente a picar as mós, pelo que decidi
voltar lá mais tarde. À terceira foi de vez e pude, finalmente, ao som do vento
a bater nas velas e do ruído da mó a girar, apreciar detalhadamente todo o
funcionamento do moinho, ouvindo as explicações do moleiro, o senhor Lino, uma
pessoa simpática que gosta de partilhar os seus conhecimentos e os transmite
com gosto aos visitantes.
Quando o inquiri sobre o passado do lugar, quando todos aqueles moinhos
funcionavam, notei alguma nostalgia nas suas palavras: “Nessa altura é que era bom, fazíamos companhia uns aos outros e havia
trabalho para todos. Só aqui eram catorze, vinte e seis em Portela de Oliveira
e muitos outros espalhados por aí. Hoje sou só eu que faço este trabalho”.
Essa intensa actividade dos moinhos, conheceu-a em miúdo, tendo entretanto
trabalhado na área construção civil e sido emigrante, tendo voltado ao seu
moinho por gosto a esta arte.
Despedi-me do senhor Lino. Cá fora uma brisa ligeira fazia rodar suavemente
as velas do moinho; uma imagem de rara beleza, enquadrada pela magnífica
paisagem e pelo céu azul de um entardecer calmo e quente de Julho. Naquele
momento já não se encontrava ninguém no monte e o grande número de pessoas que
ali tinham chegado durante a tarde, em dois autocarros, já tinha abandonado o
local.
Sentei-me numa pedra e fiquei durante alguns minutos a observar o moinho e
a paisagem, sentindo o agradável sopro da brisa fresca, que atenuava os efeitos
do sol, cujos raios, naquele momento, tinham já os reflexos com a tonalidade
própria do entardecer…
Foi então, naquele momento, que o ambiente no local se transfigurou
completamente: Os moinhos estavam todos
com as suas velas desfraldadas e a rodar movidos pelo vento que, subitamente,
parecia ter passado a soprar com mais força! Estavam a chegar ao monte carroças
carregadas com sacos de milho e trigo que eram descarregadas por camponeses de
braços fortes e tez escurecida pelo sol, protegidos por enormes chapéus de
palha. Partiam burros com sacos de farinha pendurados nas albardas. Os
moleiros, com a sua roupa branca e os braços nus e enfarinhados, conversavam
com os camponeses que iam chegando e partindo, trazendo e levando notícias…
De repente estremeci e regressei à realidade. O moinho do senhor Lino,
que continuava a trabalhar, era o único testemunho vivo daquele passado que,
por momentos, foi real na minha imaginação. Abandonei o local, feliz por
aqueles bons momentos ali passados.
Clique na imagem para visualizar vídeo |
Refere o autor do blogue: Neste vídeo pode ver-se o engenho em movimento. O movimento de rotação do
mastro é trasmitido, através das engrenagens do moinho, à mó de cima, chamada andadeira.
O cereal é depositado no tegão (espécie de gamela, situada por cima
da mó) e passa pela calha de madeira, a quelha. O cereal vai
caindo no olho da andadeira, por acção do chamadouro (a
pequena roda que gira em cima da mó), que faz vibrar a quelha, fazendo
cair o cereal para ser esmagado de acordo com a velocidade da mó, uma vez que a
rotação da andadeira é variável, consoante a força
com que o vento sopra nas velas.
VER TEXTO ORIGINAL AQUI
sexta-feira, fevereiro 26, 2016
Museu do Moinho Vitorino Nemésio reabriu depois de importantes obras de remodelação e musealização
Foi em 2000 que foi inaugurado o Museu do Moinho Vitorino Nemésio, tendo, como grande impulsionador o Dr. Leitão Couto, enquanto assessor cultural da Câmara Municipal, presidida pelo Engº Maurício Marques.
Na ocasião esteve o Professor José Hermano Saraiva, que no livro de visitas deixou escrito:
“Agradeço a Penacova este reencontro com um amigo que foi dos mais primorosos lapidadores da palavra portuguesa”.
”Agradeço esta piedosa recolha de recordações que evocam o pão das hóstias que comungamos e também as côdeas do pão que o Diabo amassou.”
Ontem, o Museu reabriu depois de sofrer obras de remodelação e musealização que vieram trazer uma nova imagem àquele espaço e certamente atrair ainda mais visitantes.
Penacova possui um extraordinário património molinológico, felizmente preservado em grande parte. Que mais este passo nesse sentido tenha continuidade pois muito há ainda a fazer para recuperar e promover esta riqueza que temos nas nossas mãos.
O Museu pode ser visitado todos os dias das 10 às 18,entre 16 Outubro e 14 de Março, e das 10 às 17, entre 15 de Março e 15 de Outubro.
Tivémos a honra e o privilégio de sermos convidados para este acto de (re)inauguração. Partilhamos com os nossos leitores as imagens que captámos.
Na ocasião esteve o Professor José Hermano Saraiva, que no livro de visitas deixou escrito:
“Agradeço a Penacova este reencontro com um amigo que foi dos mais primorosos lapidadores da palavra portuguesa”.
”Agradeço esta piedosa recolha de recordações que evocam o pão das hóstias que comungamos e também as côdeas do pão que o Diabo amassou.”
Ontem, o Museu reabriu depois de sofrer obras de remodelação e musealização que vieram trazer uma nova imagem àquele espaço e certamente atrair ainda mais visitantes.
Penacova possui um extraordinário património molinológico, felizmente preservado em grande parte. Que mais este passo nesse sentido tenha continuidade pois muito há ainda a fazer para recuperar e promover esta riqueza que temos nas nossas mãos.
O Museu pode ser visitado todos os dias das 10 às 18,entre 16 Outubro e 14 de Março, e das 10 às 17, entre 15 de Março e 15 de Outubro.
Tivémos a honra e o privilégio de sermos convidados para este acto de (re)inauguração. Partilhamos com os nossos leitores as imagens que captámos.
Fernanda Veiga, Vereadora da Cultura,
conduziu esta primeira visita ao novo espaço
|
Da esq. para a d.ta:
Presidente da Junta de Sazes, Presidente da Assembleia
Municipal, Presidente da Câmara, Director do Museu da
Presidência da República e Vereadora da Cultura.
Da mesa fez também parte
uma representante da Direcção Regional da Cultura.
No Moinho Vitorino Nemésio o Sr. Lino,
veterano dos moleiros penacovenses,
fez uma demonstração...apesar de o vento não ter
ajudado...
O nosso antigo colega de estudos e amigo,
Fernando Lopes,
Presidente da Câmara de Castanheira de Pera
Mesmo com pouco vento, as velas ainda exerceram a sua função... |
segunda-feira, fevereiro 22, 2016
Cartas Brasileiras: recolhendo os tapetes
Quando
minha mãe vinha nos visitar - foram tão poucas vezes, porque morávamos longe,
em outra cidade – minha mulher recolhia os tapetes, para evitar que ela pudesse
tropeçar e cair.
E
chegou nosso primeiro neto. Assim que ele começou a andar, trocamos as
maçanetas das portas, optamos por outras menos perigosas, mais abauladas, e
novamente ela recolheu os tapetes do chão.
Minha
mãe se foi, nosso neto cresceu.
sexta-feira, fevereiro 12, 2016
Doçaria Conventual de Lorvão em livro de Nelson Correia Borges
Os Claustros do Mosteiro de Lorvão acolheram no dia 17 de Julho de 2013 o lançamento deste livro que muitos penacovenses já conhecem. Uma obra valiosíssima para a preservação e divulgação do nosso património e que, por isso, nunca é de mais referir.
A apresentação deste livro do Professor da Universidade de Coimbra, Nelson Correia Borges, esteve a cargo da Professora da Faculdade de Letras, Maria José Azevedo Santos. Também se encontra-se disponível em linha (clique AQUI para aceder) uma recensão sobre esta obra, por si assinada e que nos oferece uma excelente síntese do livro. Desse texto destacamos o seguinte:
(...) o livro ora em apreço insere-se numa contínua linha de investigação, que tem dado os melhores frutos. Na verdade, dotado de fina sensibilidade estética, exímio burilador da palavra, investigador probo e deveras exigente consigo próprio, o doutor Nelson Correia Borges brindou-nos agora com uma obra que não hesitarei em classificar de preciosa: pelo rigor da escrita, pela densidade e oportunidade do conteúdo, pela invulgar beleza do conjunto em que, inclusive, as ilustrações cumprem o que sempre lhes é pedido mas raramente se consegue – ilustram, documentam, embevecem! E a escolha do vocábulo «embevecer» resulta – perdoe-se-me! – do real prazer que advém do simples manusear do volume, até!
(...)
Num momento em que o património gastronómico se assume como património imaterial a proteger (a urgência das certificações, por exemplo) e a divulgar (vejam-se as determinações da Resolução do Conselho de Ministros n.º 96/2000, de 26 de Julho, que «considera a gastronomia portuguesa como um bem imaterial integrante do património cultural de Portugal»); em que a palavra «sabores» surge a cada esquina e em todas as épocas do ano e sob os mais diversos pretextos (Sabores do Mar, em Peniche; Sabores da Tapada Real, em Mafra; Sabores do Caldeirão, em S. Brás de Alportel… e tantos outros!); em que ao turista se faz questão em servir não apenas sol e mar ou monumentos de pedra e cal mas também esses saborosos «monumentos» fruto de ancestral labor – justifica-se que possamos qualificar de bem oportuna a edição deste volume.(...)
------
Convidamos também os nossos leitores a visitar o blogue de uma investigadora da Universidade do Minho, no qual se faz detalhada referência a este livro de Nelson Correia Borges.
Clique AQUI para aceder ao mesmo.
terça-feira, fevereiro 09, 2016
Bombeiros de Penacova: António Simões assumiu Comando há 20 anos
Mais um recorte de jornal: "Novo Comandante dos Bombeiros de Penacova". Foi em Fevereiro de 1996. Vinte anos não são dois dias, tal como soi dizer-se... [são precisamente dez vezes mais]... Por isso, voltaremos oportunamente a este tema.
Por hoje, trazemos um recorte do jornal "Nova Esperança".
Ficam também dois cartazes de eventos a realizar mais para o final deste mês em que se celebram os 86 anos da Corporação.
Ficam também dois cartazes de eventos a realizar mais para o final deste mês em que se celebram os 86 anos da Corporação.
A seguir:
cartazes de eventos a realizar
no contexto do 86º Aniversário
--------------------------------------------
Subscrever:
Mensagens (Atom)