Pinho Leal, militar, ficou conhecido pela publicação (entre 1873 e 1890) da obra em 12 volumes intitulada «Portugal Antigo e Moderno», uma espécie de dicionário sobre “todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal.” Nesta obra de finais do século XIX podemos encontrar muitas referências às principais localidades que hoje fazem parte do concelho de Penacova.
Já fizemos referência à vila de Farinha Podre e às localidades de Travanca e de S. Paio. Apresentaremos agora Carvalho, Figueira de Lorvão, Friúmes, Lorvão, Oliveira do Cunhedo, Paradela e Sazes. Terras que se situavam, à época, não na Beira Litoral, mas na província do Douro. Concluiremos oportunamente com a vila e freguesia de Penacova.
CARVALHO
Esta vila dista 24 quilómetros de Coimbra
e 228 ao Norte de Lisboa e situa-se “nas abas da serra do Carvalho, à qual se
chama também serra do Cântaro.”
Tem 320 fogos (em 1757 tinha 224).
Orago: Nossa Senhora da Conceição. “O morgado do Carvalho, e depois Condes de Oeiras
e Marqueses de Pombal, apresentavam aqui o prior, que tinha 200$000 réis."
Acrescenta o Dicionário que “havia
aqui próximo uma albergaria, chamada de Santo António do Cântaro, com três
camas permanentes e com a obrigação de ter nos meses de Julho, Agosto e Setembro,
um cântaro cheio de água e um púcaro para se beber, na dita serra, à qual por
isso se dá também o nome de Cântaro.”
Segue-se a referência à antiquíssima
albergaria:
“Na larga doação que D.
Bartolomeu Domingues fez à Albergaria do Cântaro, junto à vila, em 1215, se
determina que todo o que for contra aquela doação, pague o dobro do dano que
causar. Esta obra caritativa foi instituída por uma senhora de apelido
Carvalho, que atravessando esta serra (do Carvalho ou do Cântaro) lhe morreu um
criado à sede. Já se vê que é muito antiga, pois em 1215 já existia esta
albergaria. Esta senhora é ascendente dos atuais srs. condes de Oeiras,
marqueses de Pombal, por casar em Sernancelhe Diogo de Carvalho com D. Filipa
de Seixas, filha e herdeira de João de Figueiredo e de Maria Seixas.”
Refere-se ainda que morgado de
Carvalho “foi instituído em 1178 por Domingos Feyo de Carvalho”, sendo “terra
realenga” e “governava-se por um juiz ordinário e câmara, confirmada pelo
corregedor de Coimbra.”
A serra do Carvalho (ramo da
Alcoba, que é ramo da Estrela) é “abundante de árvores e ervas medicinais, e
diz Grisley[1] no seu Herbolario,
que nela encontrará todas as ervas que Laguna descreve”, apesar de ser “terra
pouco fértil.”
Por fim, regista-se que “D. Manuel lhe deu foral em Lisboa, a 8 de Junho de 1514.”
FIGUEIRA DE LORVÃO
Esta freguesia é referida como
estando a 12 quilómetros de Coimbra e a
215 ao Norte de Lisboa. Apresentava 400 fogos (em 1757 registaria 228).
Salienta-se que é uma terra muito fértil.
S. João Baptista era o Orago da
freguesia. Figueira pertencia ao Bispado e Distrito Administrativo de Coimbra.
Eram as freiras de Lorvão que
apresentavam o vigário, que tinha 60$000 réis, e o pé d'altar.
O nome Luiza de Jesus é aqui recordado. Diz-se que aqui nasceu, em 1750, “uma mulher (um monstro) chamada Luiza de Jesus. Em 1772, tendo apenas 22 anos de idade (!) foi por muitas vezes à Roda de Coimbra buscar grande número de expostos, dos quais envenenou 34, só para adquirir 600 réis e o enxoval que a Roda dava a quem levava cada criança! Foi presa e sentenciada à morte, mas parece que morreu na prisão, pois não consta que morresse no patíbulo.”
Como
sabemos, por outras fontes, foi condenada à morte. Depois de “atazanada” pelas ruas de Lisboa,
foram-lhe cortadas as mãos ainda em vida, foi garrotada e queimada em 1 de
Julho de 1772.
FRIÚMES
A freguesia de Friúmes pertenceu ao concelho de
Poiares até 1855 e, desde então, ao concelho de Penacova. Àquela data pertencia à comarca
de Coimbra. O dicionário diz que se
situa a 24 quilómetros de Coimbra e a 215 ao Norte de Lisboa, sendo uma “terra
fértil”.
Teria 230 fogos (contra os 133 em
1757).
Pertencendo
ao Bispado e Distrito Administrativo de Coimbra tinha como Orago S. Mateus. Era
o prior de Penacova que apresentava anualmente o Cura, que tinha 30$000 réis de
rendimento.
LORVÃO
Lorvão é situa-se a Este de Coimbra,
distando 12 quilómetros desta cidade e 215 de Lisboa. Tinha 600 fogos (em 1757 apresentava
380). O Orago é Nossa Senhora da
Esperança, mas havia sido Nossa Senhora da Expectação. Bispado e Distrito
Administrativo de Coimbra.
As religiosas de S. Bernardo, “do
real mosteiro de Lorvão”, apresentavam o cura (anualmente) e este tinha 80$000
réis de rendimento – refere o Dicionário.
Acrescenta -se aí que esta
freguesia, “posto ser um terreno acidentado” era “muito fértil.
“A aldeia é situada em um vale,
dividido por um pequeno ribeiro, em cujas margens está também assente o famoso
mosteiro.”
De salientar a referência à
produção de palitos:
“Fazem-se n'esta freguesia
anualmente três a quatro mil cruzados de palitos, para o reino e exportação.
Crianças, adultos e velhos, trabalham nesta indústria, e faz pasmar a ligeireza
e perfeição com que a executam.”
Segue-se um extenso historial do Mosteiro.
OLIVEIRA DE CUNHEDO
Freguesia da província do
Douro, concelho e comarca de Penacova, distrito administrativo e bispado de
Coimbra. Orago: Santa Marinha.
A 30 quilómetros desta cidade e a
240 de Lisboa. Em 1757 tinha 91 fogos.
“Foi antigamente da comarca
d'Arganil e do concelho de Farinha Podre. Depois passou para o concelho da
Tábua, comarca de Midões, até que passou para o concelho de Penacova, da
comarca de Coimbra.
Era o Prior de Penacova que “apresentava
anualmente o Cura, que tinha 20$000 réis de côngrua e o pé de altar. É terra
fértil.
O Dicionário destaca também o
lugar da RAIVA, dizendo que era um aldeia da freguesia de Farinha Podre, no
concelho de Penacova, comarca de Coimbra, distando 35 quilómetros desta cidade.
“Situada à beira do Mondego, em lugar bastante agradável, é o termo ordinário da navegação do Mondego, no Estio; mas no Inverno, enquanto há abundância de águas, vão os barcos até à Foz do Dão. Da Raiva, “em carros e em cargas se conduzem os objectos de comércio até ao centro da Beira Baixa.”
PARADELA
À época, Paradela pertencia ao
concelho de Arganil, bem como à Comarca desta mesma vila, depois de ter sido do
concelho de Farinha Podre, entretanto extinto.
Dista 30 quilómetros de Coimbra e
210 de Lisboa. Tem 150 fogos. Em 1757 tinha apenas 80.
Orago: S. Sebastião, mártir. Bispado
e Distrito Administrativo de Coimbra. “O vigário de S. Pedro de Farinha Podre
apresentava o cura, que tinha 50$000 réis e o pé de altar.”
É terra fértil.
SAZES
A 18 quilómetros de
Coimbra e a 220 de Lisboa. Tinha 220 fogos (em 1768 teria 160). Orago, Santo
André, apóstolo. As “freiras bernardas” de Lorvão, e a Sé Apostólica,
apresentavam o prior, que tinha 190$000 réis de rendimento.
O dicionário destaca que “para a diferençar da freguesia seguinte
[Sazes da Beira], se diz Sazes de Lorvão."
“É povoação muito antiga, mesmo
como paróquia. Em 1152, D. João d'Anaya, bispo de Coimbra, e seu cabido,
confirmaram a D. Pedro Gavino e sua mulher, D. Ero Nunes, a doação e liberdade
da terça pontifical que a igreja de Sazes lhes tinha feito”, mas “com a
proibição de testarem esta terça a qualquer mosteiro ou convento, que não fosse
a sua catedral, sob pena de tornar a dita terça para a Sé de Coimbra.”
À semelhança da maioria das terras do concelho, também Sazes é tido como “ terra fértil”.
[1] Simões de Castro escreveu no seu “Guia histórico do viajante no Bussaco” que “Grisley, insigne herbolário italiano, em um Tratado que da matéria compôs, afirma que, havendo peregrinado a maior parte da Europa, encontrara na serra do Bussaco quási todas as ervas que descreve Laguna sobre Dioscórides, com a excelência de serem vigorosas, sobre as que a herbolária conhece.”
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