domingo, novembro 04, 2018

Penacova na pintura de Eugénio Moreira


Penacova - Vista do Rio Mondego
1905
De acordo com Abel Salazar, Eugénio Moreira foi um dos maiores paisagistas portugueses. Penacova ocupou um importante lugar no conjunto das suas obras. Fernando Ferrão Moreira, seu sobrinho, escreveu que Eugénio Moreira se "empenhou no estudo da paisagem e dos tipos portugueses, principalmente o vale de Penacova” e que “foi nessas terras do Mondego onde mais demoradamente se deteve". 

"Ferreirinha "
retrato a óleo 73 x 93
Museu Nacional Soares dos Reis
“Ferreirinha-Tricana de Penacova” é um dos quadros emblemáticos deste pintor. Em 1902 esta obra já esteve presente na exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes, ombreando com os trabalhos de muitos outros pintores. Uma referência curiosa: nesta exposição o quadro esteve à venda por quinhentos mil réis, o que na época e em comparação com quadros de outros pintores de renome já era uma importância avultada. “Vale da Ribeira de Penacova no Outono” e “Luar no Mondego, Penacova” foram outras das obras expostas. 

Auto-retrato [Eugénio Moreira]
Museu Soares dos Reis
O retrato “Ferreirinha”, ficamos a saber, com as dimensões 73x93, tornou-se famoso e é hoje pertença do Museu Nacional Soares dos Reis. Este museu possui ainda um auto-retrato inacabado, bem como a segunda das suas obras mais elogiadas (a par da “Ferreirinha”) a paisagem “Vale de Penacova”, considerada a sua obra prima. Este quadro, esteve patente na Grande Exposição do Norte de Portugal de 1933 e na 1.ª Exposição de Arte Retrospectiva (1880-1933) da Sociedade Nacional de Belas Artes em 1937; o retrato “Ferreirinha” foi também exposto em Lisboa, em 1937. 

A propósito do retrato da “tricana de Penacova” e referindo-se ao testemunho da paisagem envolvente, as casas, os montes graníticos “que, para lá dos elevados cumes, fazem adivinhar os planos que se sucedem, escreveu Ferrão Moreira que aquela “perspectiva magnífica” nos dá “numa profundidade que permite aos nossos olhos atravessar o vale, depois de passar o rio, penetrar na pequena aldeia e subir as encostas cheias de socalcos e pinheiros, onde leves sombras, são dadas pelos reflexos das pequenas nuvens que passam." Refere também a "harmonia cromática” da paisagem, “que pouco ultrapassa o castanho, o azul e o verde” e forma um “ conjunto directo e harmónico, favorecido por uma subtil luz fluídica que abrange céu e terra". 

Eugénio Moreira, na sua vida um pouco errante, deteve-se algum tempo por Penacova. Em 1907, por ocasião do primeiro aniversário da morte prematura do Conselheiro Artur Ubaldo Correia Leitão, a Câmara deliberou colocar o seu retrato na Sala de Sessões. Na acta respectiva diz-se que o retrato "fora feito a óleo pelo notável pintor Eugénio Moreira, residente nesta Vila". Um parentesis: que paradeiro terá tido este quadro, exposto em 1907 no salão da Câmara (onde mais tarde foi instalado o Tribunal)?

Catálogo  SNBA 1902
Eugénio Moreira nasceu no Porto em 1871. Frequentou a Escola Médico Cirúrgica daquela cidade e a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Aqui, conviveu com o grupo da Boémia Nova, mantendo relações de amizade com os escritores portuenses António Nobre, Alberto de Oliveira  e, em especial, com Agostinho de Campos. Regressou ao Porto sem ter concluído o curso, matriculando-se na Academia Portuense de Belas Artes. Porém, não chegou a diplomar-se. Viveu alguns anos em Paris, onde foi discípulo de Jean Paul Laurens e de Benjamin Constant e recebeu influências de pintores dos movimentos impressionista, fauvista e Nabis. Visitou museus e templos italianos, registando as suas impressões em guias de viagem. De regresso a Portugal, estudou paisagem e figuras portuguesas. Percorreu o Minho, em especial a zona de Vila Praia de Âncora, e o Vale de Penacova. Morreu em Fevereiro de 1913, com 42 anos de idade, vítima de doença mental.


"Vale de Penacova"
Museu Soares dos Reis

Quadro de Eugénio Moreira 1906
Coleção Particular [Penacova]
Autógrafo do quadro acima

1 comentário:

  1. O quadro "Penacova - Vista do Rio Mondego", de 1905, encontra-se numa coleção particular no Norte do país.

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