Alves Mendes é tido por muitos como uma “figura eminente das
letras portuguesas”. No entanto, este penacovense continua a ser um “ilustre
desconhecido” na terra que o viu nascer. Dele se sabe o nome e pouco mais. Um
exemplo? O site da Câmara tem um espaço designado por “Gente com História”.
Sobre Alves Mendes nem uma palavra!
À
sua “pátria”, onde tinha casa e propriedades, vinha com bastante frequência convivendo abertamente com os seus amigos e conterrâneos como atestam inúmeros testemunhos escritos de pessoas que com ele conviveram.
Em 1902, a 4 de Janeiro, a Câmara de Penacova, presidida
pelo Dr. Daniel da Silva, prestou-lhe homenagem, atribuindo o seu nome à
artéria que ia “da casa de José Leitão até à da D. Maria Altina”. A “Rua
Arcediago Alves Mendes” ainda hoje existe. Não teve, felizmente, o azar do Dr. Paiva Pita, que não se sabe
porquê viu desaparecer da toponímia da vila o seu nome. O mesmo aconteceu ao
Largo Dr. Joaquim Correia que também “saiu do mapa”.
Existem muitos escritos sobre Alves Mendes (note-se que em
qualquer boa enciclopédia em formato papel consta a sua biografia). Transcrevemos do jornal Voz Portucalense o artigo “Alves
Mendes e a Capela das Almas” assinado por Alexandrino Brochado e que traça uma síntese biográfica deste penacovense ilustre:
“Alves Mendes é uma
figura eminente das letras portuguesas. Nasceu em Penacova e morreu em 4 de
Julho de 1904, no Porto. Está sepultado no cemitério do Prado do Repouso.
Formado em Teologia, foi cónego da Sé do Porto e professor
do Seminário Maior desta cidade. A sua fama de orador sagrado firmou-se
principalmente desde que, em Lisboa pronunciou a oração fúnebre de Alexandre
Herculano, por ocasião da transladação dos restos mortais do grande historiador
para os Jerónimos. Pregou depois em idênticas solenidades, comemorando a morte
de vultos insignes como Fontes Pereira de Melo e Barros Gomes. Uma das suas
orações mais notáveis foi pronunciada no Mosteiro da Batalha, quando para ali
se fez a transladação dos restos mortais do príncipe de Avis.
Além dos discursos Alves Mendes publicou um livro de
viagens, "Itália", que originou uma polémica, tendo sido acusado de
plagiário de E. Castelar, escritor espanhol que publicou "Recuerdos de
Itália". Em discussão acesa com Almeida Silvano sobre filosofia tomista,
escreveu: "Um Quadrúpede à Desfilada" e "Tomista ou
Tolista", obras que, no género, são verdadeiramente notáveis pelo vigor e
sarcasmo da linguagem. Além de orador sagrado, Alves Mendes foi um burilador
de frases e um joalheiro de linguagem. Basta atentar nas frases escritas no seu
túmulo, no Cemitério do Repouso.
Pois este escritor notável está duplamente ligado à Rua de Santa Catarina: pelo
casamento de Camilo aqui realizado e porque desempenhou o lugar de Provedor da
Irmandade das Almas, erecta na Capela das Almas, da mesma rua. Lê-se no
Livro das Actas da Capela das Almas que "No dia 8 de Maio de 1899, pelas
oito horas da noite, foi eleito Provedor o Doutor Cónego Alves Mendes". Em
21 de Maio de 1900 volta a ser eleito para o triénio de 1900-1902, o Cónego
António Alves Mendes da Silva Ribeiro, Arcediago d'Oliveira (a primeira vez que
aparece este título honorífico). Em 2 de Maio de 1903, o Cónego Doutor Alves
Mendes, Arcediago d'Oliveira, é reeleito, pela última vez, Provedor da
Irmandade das Almas. E a partir deste momento não aparece mais qualquer alusão
ao notável orador sacro que faleceu em 4 de Julho de 1904.
Pareceu-nos que uma referência a este escritor e orador sacro, célebre no seu
tempo, não ficaria mal, já que o tempo vai diluindo a memória de todos, mesmo
dos vultos mais eminentes. O tempo atreve-se a tudo.”
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