”A revolução dos cravos foi
recebida com grande júbilo, pelo menos, por parte das pessoas com quem eu
contactava. Claro que esse sentimento positivo não era unânime, havia pessoas
que estavam mais identificadas com o ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao
antigo regime e, naturalmente, tinham as suas próprias ideias que não
coincidiam com as que tinham levado à revolta de Abril.”
Teófilo Luís Alves Marques da Silva, in Jornal de Penacova, 2002
As manifestações públicas mais
significativas só aconteceram no dia 1 de Maio. A seguir à concentração em frente da
Câmara Municipal teve lugar uma sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho
onde foi eleita uma Comissão para gerir o Município.
Dessa Comissão faziam parte
Fernando Ribeiro Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel
Sales Guedes Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da
Silva, Américo Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel
Sales Guedes Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa. A 2 de Maio tomou
posse e de entre os seus elementos foi escolhido presidente Teófilo Luís Alves
Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António de Sousa. Teófilo
Marques da Silva, natural do Porto, licenciado em História, militante do
Partido Comunista Português, era professor e, desde 1971, director do Ciclo
Preparatório de Penacova.
Esta Comissão acabou por apresentar
a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se, entretanto, em funções por mais
algum tempo. Reunida com os representantes locais dos Partidos, a Comissão indigitou
para Gestor Municipal o 1º Sargento de Infantaria José Alberto Costa, que
exerceu essas funções entre 24 de Abril
e 31 de Dezembro de 1976.
Em Dezembro de 1976 têm lugar as
primeiras eleições para as Autarquias Locais, saindo vencedor o Partido
Socialista, passando a presidir à Câmara Municipal Artur Manuel Sales Guedes
Coimbra e à Assembleia Municipal Eurico Almiro Meneses e Castro. Nesse acto
eleitoral, nas listas para a Câmara, o Partido Socialista obteve 2081 votos, o
Partido Popular Democrático 2029, o Centro Democrático Social 1302 e a Frente
Eleitoral Povo Unido 550 votos.
Recorde-se que nas eleições
legislativas de 25 de Abril de 1976 o Partido Popular Democrático havia vencido
com 3041 votos, seguido do Partido Socialista com 2884, Centro Democrático Social
com 978 e Partido Comunista Português com 515 intenções de voto.
Recordemos mais um ou dois episódios que se encontram registados na imprensa local. No dia 6 de Outubro de 1974, milhares de pessoas em todo o pais decidiram responder ao apelo para a realização de um dia de trabalho voluntário para a Nação.
Também em Penacova a iniciativa foi bem acolhida. Escreveu “Luineses” no Notícias de Penacova:
“Mostrar desta maneira que comungamos num Portugal ressurgido (…) que ajudamos de alguma maneira a economia nacional com o produto do nosso esforço. Procedendo assim mostramos obras e não paleio que disso está o mundo cheio. É assim que se vê quem são os Democratas”.
Outro apontamento refere-se ao assalto
ao “Lar das Enfermeiras” em Lorvão para servir de Casa do Povo. Estávamos em Agosto
de 1975: “O Povo entusiasmado com o que ouve na rádio e lê nos jornais,
resolveu tomar uma atitude, tomando as instalações do lar”.
De referir, por último, que a
imprensa local, mais propriamente o Notícias de Penacova, dirigido por
Joaquim de Oliveira Marques, foi cautelosa face aos acontecimentos. Só no dia 4
de Maio aquele jornal dá algum destaque ao Movimento das Forças Armadas. O
editorial, intitulado “Mudança de Rumo”, mantém ainda muitas reticências quanto
ao correcto uso da liberdade restituída ao povo português.
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