Todo jovem, todo ledo
A Coimbra a estudar.
Levou os livros no intento
De passar bem o seu tempo
Se tivesse de parar.
Longa via já andada
Toda a roupa ensopada
No suor do corpo seu
Ali, na falda da serra
Deitou os livros em terra
E à fadiga se rendeu.
Lá do Céu meigo luar
Já cuidava em pratear
As negras cristas dos montes,
E o Mondego já tremia
Do medo que então sentia
Do rumor surdo, das fontes.
Temeroso ajoelhou
E de mãos postas rezou
Ao Senhor de quanto havia,
Que do Céu prestes mandasse
Um Anjo que lhe falasse
E fizesse companhia.
E o Senhor atento ouvia
E depois pena sentia
Do seu amargo penar…
Seu pedido despachou
E um anjo, prestes mandou
Num raio do seu lar.
E nessa noite distante
Jovem Mondego estudante
Dormindo naquela cova
Dos livros fez livraria
Da pena fez alegria
Da Cova fez Penacova
E o anjo da caridade,
Todo amor, todo bondade,
todo puro e sem labéu
Em sua visão infinda
Achou a terra tão linda
Que não mais voltou ao Céu
E quando um beijo de amor
Quis dar ao seu protector
No momento de partir
O anjo tornou-se astro
E sobe ao monte do Castro
E a meio pôs-se a sorrir
Não posso subir ao Monte
Para pôr na tua fronte
O meu beijo apaixonado?!
Ficarei aqui, ao fundo
Enquanto o mundo for mundo
Dizendo muito obrigado!
E a promessa do Mondego
Todo jovem todo ledo
Foi promessa de valor.
Sabe a gente velha e nova
Que o rio de Penacova
Nunca mais se fez Doutor!
P.e Agostinho
In Notícias de Penacova ,1950
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