O Inventário Artístico de
Portugal (volume relativo ao distrito de Coimbra, publicado em 1952)
menciona que a Igreja de Sazes tinha “muitas esculturas espalhadas pelos altares e arrecadações, obra do pároco,
Padre António Abílio dos Santos”.
Assinatura do Pe António Abílio dos Santos quando, em 1890, era pároco de Sazes |
Na Exposição Distrital de 1884 pôde ser apreciado pelos visitantes uma imagem de S. João, “pequena escultura em madeira”, tendo como autor “o reverendo António Abílio dos Santos, cura na paróquia de Sazes”. A estatuária religiosa de Sazes adquirira já alguma projeção regional. É numa publicação que descreve aquele certame que se pode ler uma curiosa referência a esta arte tradicional arreigada naquela freguesia:
“Naquela pitoresca aldeia das
vertentes ocidentais da serra do Bussaco é tradicional nos seus diretores
espirituais a tendência para a estatuária. Durante muitas gerações ali tem
existido, junto da singela e rústica igreja, uma modestíssima oficina de
modelação e estátuas religiosas.”
A origem desta arte, poderíamos
dizer indústria, estaria relacionada com o Convento do Bussaco: “Neste
eremitério dos Carmelitas Descalços houve alguns monges que se dedicaram à arte
escultural e que legaram àquele convento algumas obras de merecimento”. Sazes fica muito próximo do Bussaco e, provavelmente,
foram aqueles “frades-artistas”, ao visitarem com alguma assiduidade as
aldeias circunvizinhas, a origem da indústria de imagens existente em Sazes e
muito conhecida não só no concelho de Penacova mas também no de Mortágua e na
região da Bairrada. [1]
Nestas terras “o prior de Sazes e
o seu cura são conhecidos e apontados como artistas estimáveis, e as suas obras
por lá figuram em muitas capelinhas, ermidas e paroquias.” Esta indústria de
Sazes assumiu alguma dimensão e “as encomendas” passaram a ser muitas “ porque
a obra agrada[va] ao consumidor e os preços [eram] modicíssimos”.
A arte terá passado de uns
párocos para os outros: “Terminados os ofícios divinos, o pároco despe as
vestes sacerdotais, adorna-se com a simpática blouse do artista, e ei-lo que nos surge um verdadeiro operário,
modelando ou esculpindo as obras que lhe são encomendadas!”
[1] “O sr. padre A. Abílio dos Santos esculpiu
uma imagem do Senhor morto que se venera na Igreja de Sangalhos, próximo a
Oliveira do Bairro, uma do Senhor crucificado na capela do cemitério de S.
Martinho da Cortiça, concelho de Arganil, outra dita na Igreja de Alvaiázere, outra de Nossa
Senhora na capela do lugar de Monte-Novo, junto ao Bussaco, outra dita em uma
capela do Souto, freguesia de Espinho, de Mortágua. É também autor de duas de
Santo António, uma na Igreja da Brenha nas proximidades da Figueira da Foz, e
outra n’uma capela próximo a Vale da Mó, concelho de Anadia, além de muitas
outras em capelas e casas particulares.”- pormenoriza aquele documento que
descreve a Exposição Distrital de 1884.
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